terça-feira, 23 de agosto de 2022

SOBRE A ENSEADA DE PITITINGA


         Todo lugar tem sua história. Eis um apanhado histórico da aprazível Pititinga, distrito litorâneo do município de Rio do Fogo, no litoral norte.

Histórico                  

         O navegador Fernão Vaz Dourado em 1580 registrou “Impuama” ao sul de São Roque e Juan Martinez em 1582 assinalava ‘Puimitingo” numa grande baía ao sul da baía da Tartarugas, parecendo que se trata da vasta enseada de Pititinga. (DIÁRIO DE NATAL, 12/06/1949, p.3).

         Há registro de uma carta de 1799 dirigida ao rei de Portugal em que se cita a enseada de Pititinga como um dos portos existentes na então Capitania do Rio Grande. (in: A REPÚBLICA,12/07/1907,p.1).

         A Revista Maritima Brasileira assim descreveu Pititinga em 1883:”...e assim passar-se-á uma Enseada denominada da Petitinga, assaz conhecida pela aluvião de coqueiros espalhados por entre muitas pequenas casas, que forma uma povoação muito pitoresca.A ponta da Enseada da Petitinga está 1 ¹/² milha distante da Ponta de Maracajaú”.(REVISTA MARITMA BRAZILEIRA, 1883, p.634).

         Já num relato de viagem entre o Pará e o Sul do País passando pelo litoral potiguar o viajante fez essa descrição de Pititinga: “ao norte desta acha-se a Ponta Pititinga, que termina o declive das montanhas arenosas com um pequeno morro isolado no topo do qual vegeta uma árvore solitária – chama-se  morro de Santa Cruz.Toda esta costa é definida pelo recife coralino, que se estende desde Pernambuco até aqui, obra da natureza feita com tal capricho, que em parte parece ter sido constituída com todo o rigor da arte, tal como só a mão humana executa com uniformidade”. (FOLHA DO NORTE 04/05/1897, p.1).

         Pitintinga figurava a época destes relatos como uma das inúmeras povoações litorâneas do município de Touros.

         A partir de 1959 passou a condição de distrito do município de Barra de Maxaranguape vigente até 1997 quando foi criado o município de Rio do Fogo a qual pertence presentemente.

A casa do faroleiro

         De acordo com o Correio da Manhã em 29/07/1913 achava-se em estudos no Tesouro Nacional os documentos referentes a compra do sitio Pititinga no Estado do Rio Grande do Norte, destinado a residência do 3º faroleiro das boias iluminativas de Teresa Pança e Rio do Fogo. (CORREIO DA MANHÃ, 29/07/1913, p.5).

Aviso ao navegantes

         O Correio da Noite, publicou em 1914 o seguinte aviso aos navegantes que passavam pela costa do  Rio Grande do Norte:“Aviso aos navegantes nº 9.Estado do Rio Grande do Norte.Proximidades da entrada do canal de Pititnga.Avisa-se aos navegantes, segundo publica o Notice to Mariners, sob Nº 527 , de 1914, a existência de duas lajes com menos de 1,80m de água na baixa mar cujas posições são: A) Lat.5º, 181,40’’S – Long. 35º,11’,30’’ W gr. B) Lat. 5º, 21’,00’’ S – Long. 35º,03’,40’’ W gr.,  e que estão assinaladas em algumas cartas com a nota P.D.”. (CORREIO DA NOITE, 26/05/1914, p.4).

       Assinava o aviso Jorge M. de Castro e Abreu, capitão de corveta, diretor interino da diretoria de hidrografia em 20/05/1914.

         Aviso idêntico forma publicados em diversos outros jornais de circulação nacional.

A colônia de pescadores de Pititinga

         Em 26/05/1920 foi fundada a Colônia de Pescadores de Pititinga por Frederico Villar comandante do cruzador José Bonifácio. (HOJE:PERIODICO DE AÇÃO SOCIAL (RJ), 1920, p.17). Em tal colônia foi criada uma escola primária para os filhos dos pescadores.

O farol

         De acordo como jornal A Nação em 15/02/1933 foram inaugurados os faroletes de Gameleira, Rio do Fogo e Pititinga, no canal de São Roque.(A NAÇÃO, 15/02/933, p.5).

Escola subvencionada

         Segundo o jornal A Ordem em 1936 havia uma escola subvencionada pelo governo do estado em Pititinga cuja professora era Adelaide Costa. (A ORDEM, 25/12/1936, p.1).

A Colônia de Pescadores Z-5

Em 1936 a revista A Voz do Mar assim descreveu a Colônia de Pescaores Z-5 de Pititinga: “Pititinga, município deTouros, sed em Pititinga,zona : margem esquerda do rio Punaú, toda a costa até a margem esquerda do rio Piracabu.Mantém duas escolas primárias, está nas mesmas condições da Z13 , tendo safra de tresmalho nos meses de outubo a março.Existe tabém uma lagoa nas mesmas condições que a Z-3, um verdadeiro viveiro”. (A VOZ DO MAR, 1936, p.18).

Já no ano seguinte a mesma revista assim descreveu A Z-5: Situada na praia de Pititinga, sede alugada, essa colônia mantinha uma escola para filhos de pescadores, que ultimamente não tem remetido os seus mapas, ignorando-se esta Federação o motivo.É constituída pelo número de 211 pescadores matriculados e tem um cardeneta do B.B com a importância de 1: 129$500, está organizada”. ( A VOZ DO MAR, 1937, p.16).

A escola isolada

         Conforme registrou o jornal A Ordem o interventor federal no Rio Grande do Norte havia assinado em 19/06/1946 o decreto pelo qual era criada a Escola Isolada de Pititinga. (A ORDEM, 21/06/1946, p.4).

Toponímia

         Pititinga é uma palavra de origem tupi “PI – ti - tinga” cujo significado é pele alva-alva, pele alvíssima. É uma espécie de sardinha, a Menidia brasilienses, chamada também e mais comumente de Manjuba.Seu nome antigo é Piquitinga, “peixe-branco”, “peixinho branco”. (A VOZ DO MAR, 1940, p.46).

         Pequitinin, registrou Gabriel Soares, já Marcgrav chamou-a Pititinga.No Amazonas dizem Piquiti (Tastevin). A.Couto de Magalhães indicou a Eugraulis tricolor comos endo a Piquitinga. Nessa versão seria ‘Peixinho branco”.O Potitinga, camarão branco, também é conhecido por Pititinga.

Frei Damião em Pititinga

         Em junho de 1947 o missionário capuchinho Frei Damião esteve pregando suas santas missões na paróquia de Touros, tendo visitado a povoação de Pititinga que segundo o jornal A Ordem obteve ali idêntico movimento religioso e grande sucesso como se verificara na sede da paróquia. (A ORDEM, 07/07/1947, p.4).

         Em Pititinga frei Damião foi auxiliado pelo vigário de Touros, Pe. Antonio Antas, onde realizou inúmeros casamentos, batizados, comunhões, crismas, tendo pronunciado proveitosa prática (sermão) acompanhadas de procissão, cânticos e benção do santíssimo.

O subdelegado

         Em 17/07/1948 o governador do estado havia assinado o decreto nomeando diversas autoridades policiais do estado dentre os quais estava Domingos Cavalcanti de Farias como subdelegado de policia em Pititinga. (A ORDEM, 17/07/1948, p.4).

Casa de moradia de faroleiros

         Em 1949 foi construída uma nova casa para moradia do foroleiro de Pititinga. (REVISTA MARITMA BRASILEIRA, 1949, p.48).

Abastecimento de água

         Com a cooperação do Serviço Especial de Saúde Pública, achava-se em fase de conclusão 5 poços tubulares em Touros, Barra de Maxaranguape,Maracajaú,Pititinga e Rio do Fogo. (DIÁRIO DE NATAL, 17/07/1962, p.2).

O submarino que apareceu em Pititinga

    Em 1970 o Comando Naval de Natal estava investigando o misterioso aparecimento de um submarino não identificado na praia de Pititinga, no município de Barra de Maxaranguape, que emergiu diante de vários pescadores assustados.

         De acordo com o Diário de Natal o súbito aparecimento do barco a tona foi presenciado pelo pescador Raimundo Grande e seus companheiros que pescavam e foram surpreendidos pelo acontecimento. Os tripulantes do submarino chegaram a dialogar com os pescadores, que não entenderam a língua falada por eles. (DIÁRIO DE NATAL, 19/08/1970, p.1).

Capela de Pittinga, google earth, 2022.

Aspecto de Pititinga, google earth, 2022.

Mapa da enseada de Pittinga, google earth, 2022.


sábado, 20 de agosto de 2022

O BISPO DA PARAÍBA NO TREM DA GWBR EM VISITA AO RIO GRANDE DO NORTE

 

O relato da visita pastoral de Dom Adauto de Miranda Henriques, bispo de Diocesano da Paraíba realizada no Rio Grande do Norte entre os dias 10 e 13/01/1900 nos fornece informações das quais se pode reconstruir memória ferroviária da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz.

Dom Adauto, bispo da Paraiba (1894-1935)

         De acordo com o Diário de Pernambuco o bispo da Paraíba chegou ao Rio Grande do Norte por Nova Cruz de onde partiu em trem expresso as 11h00 do dia 10/01/1900.

         Partindo o trem de Nova Cruz a primeira parada ocorreu em Montanhas “onde grande massa de povo esperava o Sr. Bispo, que foi ali muito saudado”.

         Em seguida o trem partiu para Cuitezeira, atual Pedro Velho. “Na parada de Curimatau, que servia a vila de Cuitezeira, estava também grande multidão aglomerada aclamando o ilustre viajante.A estação estava vistosamente embandeirada”.Ali naquela estação tomou o trem o padre Francisco de Almeida, vigário da Penha (Canguaretama).

Estação de Nova Cruz


Estação de Montanhas.

          Partindo o trem a estação seguinte foi Piquiri.

         Tanto na estação da Penha como na de Piquiri o bispo Dom Adauto foi muito festejado e acolhido pela população dali.

Estação de Canguaretama, antiga Penha.


         Na estação de Goianinha o prelado foi saudado pelo Pe. Floriano de Queiroz, vigário da freguesia e por grande número de pessoas. Dali o referido vigário tomando o trem acompanhou a comitiva do bispo.

A estação de Goianinha a época da visita de dom Adauto

         Em São José de Mipibu foi imensa a concorrência de pessoas para saudar o bispo diocesano da Paraíba. “Naquela estação o muito popular e estimado pastor, vigário Antonio de Paiva esperava S. Exc., a frente de seu numeroso rebanho, oferecendo-lhe ali ao Sr. Bispo um bem servido lanche as 2 horas e ½ da tarde”.Ainda de acordo com o Diário de Pernambuco Dom Adauto recebeu significativas aclamações ali em São José de Mipibu.

         Em todas as estações do percurso dom Adauto saltou, falava ao povo,  agradecia e o abençoava. O trem chegou a estação central de Natal as 16h10.

         Ao saltar o bispo se encontravam em sua comitiva o cônego Sabino Coelho, reitor do Seminário da Paraíba, o vigário da Serra da Raiz, Aprígio Espínola, o vigário da Penha, Francisco de Almeida, o vigário de Goianinha, Floriano de Queiroz, o vigário de Papari (Nísia Floresta), Irineu Sales; o vigário de São José de Mipibu, Antonio de Paiva; o vigário de Macaíba, Marcos Santiago; o vigário de Natal, João Maria Cavalcante de Brito, o Pe. Alfredo Pegado e também os seminaristas Ismael Justianiano de Carvalho e Silva, Moisés Coelho e Bernardino Vieira.

A estação de Natal a época

         O representante da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz também acompanhou o bispo durante toda a viagem.

         De acordo com o Diário de Pernambuco era enorme a concorrência de pessoas, do povo e de todas as classes sociais que se fizeram presente na estação da Ribeira aguardando a chegada do bispo diocesano da Paraiba que pela segunda vez veio visitar o Estado do Rio Grande do Norte o qual integrava o território do seu bispado.

        Em perfeita ordem seguiu em procissão encabeçada pelas senhoritas, seguindo o prestito pelas diversas ruas da capital potiguar até chegar a igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação na Cidade Alta. Seguiu-se a cerimônia religiosa achando-se repleta a igreja e conservando-se grande massa de povo em seus arredores.

         No percurso da Estação Central até a Matriz foram atiradas flores sobre o dom Adauto, partindo de diversas casas expressivas manifestações de regojizo, entre outras do chalé do finado Pe. Antonio de Oliveira Antunes.

Segundo o citado jornal eram talvez 200 as senhoritas e outras tantas meninas vestidas todas de branco, erguendo faixa, que abriam as duas imponentes alas marcando a frente do itinerário do prelado.Seguia-se a multidão calculada em cerca de 8 mil pessoas.

A noite a matriz estava iluminada em forma de cruzeiro por todos os lados e na frente.

O bispo diocesano foi muito visitado desde o dia de sua chegada “a esta parte de sua amada Dioceses”.

Com os predicados que o distinguiam, de trato delicado e cativante, Dom Adauto recebia a todos quantos o procurava, atendendo todos os dias em que esteve em Natal na igreja matriz, em cujo consistório ficou hospedado com os demais sacerdotes que o acompanharam em sua visita pastoral ao centro do Estado.

 

Fonte: Diário de Pernambuco, 18/01/1900, p.2.Todas as citações em aspas são do referido jornal.

 

quarta-feira, 6 de julho de 2022

A IGREJA DO PE. JOÃO MARIA


A Rua 2 de Novembro no Alto Juruá no bairro de Petrópolis, zona leste da capital potiguar está situada a igreja de Nossa Senhora de Lourdes ou com a Igreja do Pe. João Maria, por está nela os restos mortais do grande sacerdote vigário de Natal lembrado com devoção pela população potiguar como um santo.

Igreja de Nossa Senhora de Lourdes.Fonte: Google Earth, 2022.

Eis a seguir alguns apanhados históricos que remontam a construção dessa igreja e da atual paróquia de Nossa Senhora de Lourdes do Alto Juruá.

A construção da igreja de Nossa Senhora de Lourdes se iniciou em 1950, antes disso havia naquela região pobre do bairro de Petrópolis uma intensa atividade pastoral desenvolvida pelos jovens moços da Congregação Mariana da Catedral que iniciaram ali um trabalho de catequese de crianças e assistência educacional com a construção de uma escola além da assistência social realizada pelo Centro Social Nossa Senhora da Lourdes da qual tornou-se a padroeira da igreja em tela.

         De acordo com o jornal A Ordem em 10/01/1951 estava encontrando impressionante aceitação dos amigos do Pe. João Maria no local onde havia morrido o querido sacerdote de Natal. A frente da construção estava o Pe. Emerson Negreiros. ( A ORDEM,10/01/1951,p.4).

         O mesmo jornal publicou naquele dia a relação das pessoas que já estavam ajudando para a construção do templo no Alto Juruá, que foram os que estão listados a seguir.

Doador (a)

Valor em Cr$

Francisca Freire

500,00

Amélia Machado

500,00

Festival do Grupo A.Torres

500,00

Omar Furtado

200,00

Dr. Pedro S. de Aráujo Amorim

100,00

Maria Nila de Paula

100,00

Leocádio de Oliveira

100,00

Dr. Nestor Lima

100,00

Raimundo Miranda

100,00

D. Sinhá Galvão

100,00

Des. Adalberto Amorim

100,00

Francisco Alves Maia

100,00

Candido Lucas de Sena

100,00

Osvaldo Guedes de Figueiredo

100,00

Pedro Vilela Cid

100,00

Dr. Antonio Soares

50,00

Luis da Cunha Melo

50,00

D. Aurea de Brito

50,00

Múcio Miranda

50,00

Pedro Ramos

50,00

Pe. Benedito Basilio Alves

50,00

Aldemar Miranda

50,00

Hilda Lemos

50,00

Pe.Milton Medeiros

50,00

Inalda Emereciano

50,00

Raimunda Barbalho

50,00

Des. Carlos Augusto

50,00

Dr. Anselmo Cortês

50,00

José de Carvalho Silva

50,00

Dr. Manuel Luis Gomes Neto

50,00

 

         Em reunião da Congregação Mariana em 08/01/1951 o Pe. Emerson Negreiros falou do apostolado que se vinha realizando no Alto Juruá e em prol da construção da capela em honra do Pe. João Maria. (A ORDEM, 08/01/1951, p.4).

No  dia 26/05/1951 seria realizado no Teatro Carlos Gomes um festival artístico em beneficio da capela do Pe. João Maria, que um grupo de católicos estavam construindo no Alto Juruá, na qual se esperava um grande numero de pessoas para assistirem a esse festival artístico. (A ORDEM, 23/05/1951, p.4).

         Em 12/12/1951 o Pe. Emerson Negreiros apresentou no jornal A Ordem o demonstrativo financeiro da campanha em prol da construção da capela do Pe. João Maria. (A ORDEM, 22/12/1951, p.4).

A  devoção ao Pe. João Maria crescia

         De acordo com o jornal A Ordem a medida que anos passavam intensificava-se a devoção do povo pelo antigo vigário de Natal, o virtuoso Pe. João Maria.

         O modesto monumento do busto em bronze a ele dedicado na Praça de mesmo nome da Cidade Alta “jamais deixou de ter uma vela acesa como prova dessa devoção do povo natalense àquele que um exemplo vivo de sacerdote caridoso e dedicadíssimo pastor de almas”.

Muitos milagres já se registravam por intercessão do Pe. João Maria cuja vida os antigos celebravam como uma das mais edificantes que a história da capital potiguar havia registrado.

         A Igreja que sempre olha com cuidado os pedidos de canonização dos seus filhos já possuía valiosos elementos informativos sobre o apostolado do antigo vigário de Natal para cuja canonização os natalenses não se cansavam de implorar a Deus como justo prêmio do apóstolo da caridade em terras potiguares.

         Graças a iniciativa de um grupo de católicos com o apoio da autoridade Arquiepiscopal estava sendo erguida uma capela sob a invocação do Pe. João Maria. O local escolhido foi justamente onde faleceu o virtuoso levita do Senhor na rua 2 de Novembro no Alto Juruá em Petrópolis. A capela estava vinculada a paróquia de Santa Teresinha do Tirol.

O inicio das obras da igreja do Alto Juruá

         Em 07/01/1953 o jornal A Ordem publicou que de acordo com o vigário do Tirol, o Pe. Heitor Sales, os trabalhos de construção da capela do Alto Juruá em breve seriam iniciados para o que o terreno estava sendo nivelado, enquanto chegavam os primeiros materiais para a obra.

         O jornal citado chamava a atenção de todos os católicos para contribuir para a realização dessa obra a fim de que em breve se pudesse ter na capital potiguar um templo sob a invocação do grande amigo da pobreza que foi sem dúvidas o Pe. João Maria. (A ORDEM, 07/01/1953, p.4). Os trabalhos de construção foram pois iniciados de fato em 07/01/1953.

         Em 24/12/1953 teve inicio as festividades promovidas pela Sociedade Beneficente do Alto Juruá, sob a presidência do Sr Pedro Vilela Cid, em beneficio da construção da capela do Pe. João Maria cujos serviços há algum tempo estavam paralisados por falta de recursos. (A ORDEM, 24/12/1953, p.4).

         Um comissão de senhoras residentes da rua 2 de novembro foi  composta por Hagar Bulhões Vilela, Maria Alves e Luzia Câmara, a qual esteve nos dias que antecederam o início do festival beneficente visitando o comércio angariando donativos para o grande leilão que seria ali realizado antes do tradicional Fandango.

         A prefeitura de Natal mandou iluminar aquela rua onde seria realizado o festival para maior brilhantismo das festividades que se prolongariam até do dia 06/01/1954.

A conclusão da obra

          Segundo o jornal O Poti em 1957 continuava a construção da capela Padre João Maria no Alto Juruá, de acordo com o referido jornal "todos nós conhecemos os esforços do Ginásio ara a construção da mesma, salientando-se a ação do seu diretor, Cônego Eymard L'Eralstre Monteiro" ( O POTI, 22/10/1957, p.7).

         Naquel mesmo ano de 1957 o referido jornal  exibiu uma foto da igreja de Nossa Senhora de Lourdes ainda em construção no ponto de alvenaria sem reboco e sem o teto.

Igreja do Alto Juruá em construção. Foto: O Poti, 22/10/1957, p.7.

Ao que parece a igreja do Alto Juruá já estava concluída em 16/10/1959, pois naquele ano seria celebrada missa em ação de graças pela alma do Pe. João Maria  na igreja já denominada Nossa Senhora de Lourdes (DIÁRIO DE NATAL, 15/10/1959, p.8).

Segundo o jornal A Ordem a construção dessa igreja ampla e bonita se deveu ao zelo do trabalho e dedicação do mons. Eimar Monteiro que com a ajuda da população do bairro e depois de toda a cidade de Natal e até de outros Estados do Brasil de onde vinham os mais generosos donativos conseguiu concluir o templo. (A ORDEM, 29/08/1964, p.11).

Depois de pronta igreja foi confiada ao zelo apostólico do Pe. Eládio Monteiro que muito fez para a preparação da comunidade se tornar paróquia, organizando vários movimentos apostólicos no sentido de fazer da nova paróquia uma autentica comunidade de Igreja.

A criação da paróquia

         Em 1964 foi anunciado pela Cúria Metropolitana que seria criada em breve paróquia de Nossa Senhora de Lourdes a qual teria como matriz a igreja de Nossa Senhora de Lourdes do Alto Juruá (A ORDEM, 29/08/1964, p.11). A nova paróquia pertenceria também os habitantes de Mãe Luiza até aquele momento pertencentes a paróquia de Santa Teresinha do Tirol.

A paróquia de Nossa Senhora de Lourdes do Alto Juruá foi criada pelo Administrador Apostólico de Natal, Dom Eugênio de Araújo Sales tendo sido instalada em 14/04/1965.

         Há muitos anos vinha sendo feito um trabalho de comunidade naquele bairro sob a orientação do monsenhor Eimar Monteiro.

Eis o decreto de criação da paróquia do Alto Juruá publicado conforme no jornal A Ordem:

Pelo Decreto Nº 1/1965 da Cúria Metropolitana datado de 07/03/1965, primeiro domingo da quaresma, foi criada por Sua Excia. Revma o Sr. Administrador Apostólico de Natal, Dom Eugênio de Araújo Sales a paróquia de Nossa Senhora de Lourdes no Alto Juruá desmembrada da Paróquia de Nossa Senhora das Graças e Santa Teresinha no Tirol. (A ORDEM, 13/03/1965, p.6).

         Em 10/03/1965 foi nomeado o mons. Emerson Deodato Fernandes de Negreiros como Vigário Ecônomo da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes do Alto Juruá.

A instalação da paróquia foi presidida pelo mons. Eimar Monteiro representante do Administrador Apostólico de Natal na qual deu a posse canônica ao Mons. Emerson Deodato de Negreiros como seu primeiro vigário. (A ORDEM, 13/03/1965, p.2).

Em 1965 figurava como vigário da paróquia do Alto Juruá  o Pe. Aluisio de Souza.

A  casa paroquial

         A casa paroquial da paróquia de Nossa Senhora de Lourdes do Alto Juruá foi inaugurada em 31/10/1965.

         De acordo com o jornal A Ordem a casa paroquial do Alto Juruá foi construída depois de alguns anos de luta tendo recebido grande impulso entre agosto e setembro de 1965, tendo sido a mesma construída com fruto de campanhas, festas e atividades diversas dos paroquianos na luta para verem concretizado a velha aspiração da população dos bairros que integravam a paróquia (Alto Juruá e Mãe Luiza), tendo também o auxilio da Arquidiocese, do comércio de Natal e admiradores do Pe. João Maria.

         O programa elaborado para a inauguração que ocorreria na Solenidade de Cristo Rei contou de missa marcada para ocorrer as 16h00, celebrada pelos benfeitores da paróquia e com a participação do povo e convidados especiais, continuando as 17h00 com a benção das novas instalações da casa paroquial, seguida de coquetel, também com a participação do povo e autoridades civis,militares e eclesiásticas e a noite foram organizados festejos populares com apresentação de números de artes e folclores com participação popular.(A ORDEM, 23/10/1965, p.6).

O padre pedreiro

         Em 1982 a Igreja do Pe. João Maria estava passando por uma reforma tendo em vista que o templo ameaçava desabar.

         Sem condições de contratar operários para as reformas da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, popularmente conhecida como Igreja do Pe. João Maria, o Pe. José Geraldo Ribeiro era quem trabalhava como pedreiro na reforma do teto da igreja, que estava prestes a desabar.A única ajuda que conseguiu o padre foi de dois operários que trabalhavam com o pároco a noite por um preço acessível.

         O Pe. Geraldo disse ao jornal O Poti que estava lutando com muita dificuldade para comprar o material necessário a substituição dos travessões do teto porque os recursos provinham unicamente da colaboração dos paroquianos.Acrescentou ainda que dos 300m² do teto seriam recuperados somente 10m², porque faltava recursos.Mesmo com a igreja em obras, ele continuava a celebrar missas, casamentos e batizados por entre as vigas e caibros. (O POTI, 22/08/1982, p.9).

 Curiosidades

         A igreja de Nossa Senhora de Lourdes foi erguida onde em 1905 havia uma casa de taipa onde o Pe. João Maria havia se retirado por haver contraído a varíola que tanto ajudou a curar aos inúmeros acometidos pela moléstia epidêmica do inicio do século XX em Natal vindo ali a falecer em 16/10/1905.

 Onde se localiza o altar mor da igreja  de Nossa Senhora de Lourdes era exatamente o quarto onde faleceu o Pe. João Maria.

Embora seja conhecida por Igreja do Pe. João Maria a denominação oficial é de Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes, isso porque o Pe. João Maria ainda não foi oficialmente canonizado pela Igreja Católica, embora seu processo de canonização esteja em curso atualmente pela Arquidiocese de Natal.

Os restos mortais do Pe. João Maria foram exumados do cemitério do Alecrim e transladados para a igreja do Alto Juruá em 1977 estando as mesmas expostas em um mausoléu para visitação pública dos fiéis.


Lateral da igreja de Nossa Senhora de Lourdes. Fonte:  Google Earth, 2022.




Altar mor da igreja de Nossa Senhora de Lourdes onde outrora fora o quarto onde morreu o Pe. João Maria. Foto: facebook da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Natal.



segunda-feira, 20 de junho de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE 6) AS IDEIAS DO CONCILIO VATICANO II INFLUEM NA DECISÃO DE SE CONSTRUIR UMA CATEDRAL MODERNA


”No terreno da construção da nova catedral, o sonho mais alto de D. Eugênio, o infatigável no bem, plantaram uma palhoça que vai brotar esperança”. 

(Palmira Wanderley, in: a ordem, 21-22/04/1962,p.3).


         Indagado certa vez por um repórter sobre quais foram os motivos que tinham levado a paralisação dos trabalhos da nova catedral de Natal, Dom Eugenio Sales que: “a nossa Catedral está parada periodicamente. Preferimos ter uma Igreja viva a uma Catedral de pedras frias. Preferimos ter uma emissora de rádio e um jornal que levem uma mensagem evangélica viva e autêntica aqueles que não frequentam a Igreja. E mais formos citados sobre isto no Concilio e vou repetir uma frase que lá ouvi: ‘a mais importante catedral do mundo não está construída, mais importante catedral é a de Natal. Quando foi citada essa frase não aludiram a uma construção de madeira e sim a um trabalho vivo e dinâmico que aqui é realizado’”. (A ORDEM, 13/03/1965, p.8).

        O trabalho citado no Concilio Vaticano II que aludiu Dom Eugenio Sales foi o Movimento de Natal, amplo campo de ação social e pastoral desenvolvido em todo território da arquidiocese de Natal iniciado na década de 1940 e em franca expansão na década de 1960.

Começa a surgir a ideia de uma catedral moderna para Natal

         Em 1966 já começava a desaparecer a ideia da construção da nova catedral de Natal de acordo com planta elaborada no estilo clássico neorromânico.

      A ideia que surgia, conforme o jornal A Ordem, era em torno de uma construção funcional em amplo galpão ao estilo do Palácio dos Esportes, por exemplo, para que pudesse abrigar o maior número de fiéis possível e que por sua vez saísse mais barata sua construção. (A ORDEM, 11/06/1966, p.3).

         Em 20/08/1967 o Arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte, anunciou oficialmente a sua decisão de reiniciar os trabalhos da construção da nova catedral metropolitana, desta vez em moldes modernos e simples com a armação em estrutura metálica.

De acordo com o jornal A Ordem, o anúncio de Dom Nivaldo Monte repercutiu muito bem entre o povo católico de Natal (A ORDEM, 26/08/1967, p.1).


Paláci de Esportes de Natal.A Ordem, 1967.

         Esta era uma das muitas construções em estrutura metálica em Natal. A nova catedral teria formas semelhantes.Contudo, a parte interna seria adaptada a finalidade que se tinha em vista, ou seja, um templo religioso voltado as funções da liturgia católica, num ambiente sagrado que possibilitasse a participação dos fiéis.

O anúncio de Dom Nivaldo Monte 

O anúncio de Dom Nivaldo Monte foi feito durante a homilia da missa das Escolas Radiofônicas que era retransmitida pela Emissora de Educação Rural (Rádio Rural de Natal), o qual lançou a campanha para o reinicio dos trabalhos de construção da nova catedral de Natal.

O evangelho daquele domingo falava justamente da confiança na Providência, por isso dissera Dom Nivaldo: “chegou a hora de construir a nossa Catedral. Quero lançar neste Domingo da confiança a campanha da nova Catedral”. O anúncio foi recebido com alegria e entusiasmo pelo povo católico de Natal que há tempos sonhava com a nova catedral.

O arcebispo de Natal lembrava em sua homilia que esta catedral, antes mesmo de ser construída já era conhecida no mundo inteiro. Falou ainda nos motivos que levaram seu antecessor, Dom Eugênio Sales, a interromper os trabalhos da construção anterior. Estes motivos, por sinal, repercutiram muito bem no exterior, servindo até de projeção do Movimento de Natal.

         Dom Eugênio Sales viu que era necessário primeiro construir a Igreja viva e atuante através da promoção humana e da dinamização dos trabalhos apostólicos e sociais. Aqueles arcos inacabados do terreno da praça Pio X, ao invés de representarem a inépcia do administrador, eram o símbolo de uma igreja vivente que em Natal se formava, havia dito Dom Nivaldo Monte.

         Passados já uma década onde o Movimento de Natal já estava firmado, Dom Nivaldo podia dizer que já estava construída a catedral de amoré agora estava na hora de se construir a catedral de pedra.

Inteiramente adaptada às reformas litúrgicas do Concilio Vaticano II

De acordo com o jornal A Ordem em 1966, Dom Nivaldo Monte em reunião com um grupo de padres da Arquidiocese pediu sugestões para uma nova catedral que fosse inteiramente adaptada às reformas litúrgicas do Concilio Vaticano II.

         Como resultado dessa reunião e de sucessivos encontros com engenheiros surgiu um belíssimo anteprojeto de uma Igreja moderna.Contudo, surgiu um impasse, sairia caríssima e inteiramente acima das possibilidades da Arquidiocese de Natal.

        Dom Nivaldo Monte chegou até a dizer que mesmo com muito dinheiro não conveniente construir uma igreja suntuosa numa região pobre. Mas, a catedral deveria sair do papel de uma maneira ou de outra.Era necessário pensar numa coisa acessível.As inúmeras estruturas metálicas espalhadas pela Capital potiguar especialmente o Palácio dos Esportes que tantas vezes servira de catedral, eram uma tentação e uma sugestão.

     A ideia havia vingado e após reuniões com o clero, leigos e autoridades surgiram propostas de duas fábricas de estruturas metálicas, uma de Fortaleza-CE, outra de Recife-PE, e que foram estes os primeiros passos dados para a concretização do projeto para uma catedral em estilo moderno em Natal.

       Dom Nivaldo Monte esperava que dentro de 15 dias já estivesse com todos os planos em mãos e dar reinicio aos trabalhos. Dom Nivaldo Monte desejava uma igreja ampla com capacidade de pelo menos 2.000 pessoas. A parte interna seria pensada tendo em vista as exigências da reforma litúrgica e uma melhor acomodação dos fiéis, permitindo uma visão perfeita do desenrolar das cerimônias e uma participação ativa de todos.Nada impedia que houvessem bancos ou até mesmo poltronas mais confortáveis como nos cinemas.A fachada moderna e funcional daria um tom de sagrado e ao mesmo tempo embelezaria o conjunto arquitetônico dos belos edifícios já construídos ou a construir no centro da Capital potiguar.

       A catedral, contudo, não seria provisória, mas sim definitiva como templo principal da Arquidiocese, da Capital e do Estado. Porém, em se tratando de uma estrutura metálica, haveria muito maior facilidade na sua remoção, caso se tivesse a possibilidade de melhorá-la ou adaptá-la no futuro.

         Dom Nivaldo Monte renovava o seu apelo a todos os natalenses e aos potiguares em geral para que colaborassem com entusiasmo e perseverança com o grande empreedimento.A Capital potiguar tinha urgência de um grande templo para as solenes celebrações litúrgicas nos dias festivos e mesmo para as missas dominicais.

         Segundo o arcebispo de Natal todo mundo via a grande afluência de pessoas nas igrejas de Natal onde se dizia que o “o povo não está dentro da igreja, mas a igreja dentro do povo”. "Temos fé, disse ainda Dom Nivaldo Monte, que na noite de Natal deste ano celebraremos a Missa na Catedral de aço. Serão mais de duas mil pessoas cantando a uma só voz os louvores de Deus Nosso Senhor”. (A ORDEM, 26/08/1967, p.6).

Começaram logo a surgir as criticas

Porém, antes mesmo de ter em mãos o projeto e dá inicio aos trabalhos da catedral em estilo moderno começaram logo a surgir as criticas, que não foram poucas, e a nova catedral já era objeto de polêmicas, sobretudo da parte da imprensa natalense.

         Segundo o jornal A Ordem, a Igreja recebia com alegria a participação das forças vivas da comunidade cristã, do povo de Deus, dos homens de boa vontade em obra tão importante com era a edificação do templo principal da Capital potiguar.

         A Arquidiocese recebia com boa vontade a opinião popular mas pedia paciência nas opiniões que muitas vezes eram dadas sem conhecimento de causa.

         Os argumentos apresentados giravam em torno de um só ponto, tocando sempre na mesma tecla: uma catedral em estrutura metálica não era uma catedral, mas um galpão, uma praça de esportes ou coisa que o valha.

         A arquidiocese, no entanto, nãovia como uma estrutura metálica fosse necessariamente ligada a essas finalidades. Como se não pudesse dar arte, estética, beleza de linhas a uma construção desse tipo.Gritava-se, segundo a Arquidiocese, que seria um monstro, um absurdo, um abuso.A prefeitura, diziam, não poderia permitir tal aberração numa bela e bem situada praça, que não poderia ser desfigurada por uma construção do tipo que se pretendia erguer ali.

         Em réplica a arquidiocese lembrava que foi a própria prefeitura de Natal que fez erguer uma estrutura metálica, o Palácio dos Esportes, numa das mais belas praças da Capital, a praça Pedro Velho.Além do mais a Arquidiocese não teria a ingenuidade de iniciar um trabalho como estes sem a anuência da prefeitura.

A Arquidiocese achava que era fora de tempo apelar para as catedrais do passado que levavam séculos para serem erguidas, lembrando da catedral de São Paulo que levou 50 anos para ser concluída.Eram estes exemplos que não poderiam ser imitados, sobretudo numa cidade como Natal que não possuia um templo a altura de seu progresso e de sua população.A arquidiocese lembrava que se deveria construir a catedral de Natal no mais breve tempo possível.O que não significava necessariamente improvisação e vulgarização.

         Para a Arquidiocese não era o momento de se ficar discutindo o conceito de “casa de Deus” ou “recinto sagrado”, porque se se fosse levado em consideração tais conceitos nunca se construiria a catedral, posto que casa de Deus era a casa dos homens, era o lugar onde eles se encontravam para cantar os louvores de Deus esse sentiam mais irmãos.Uma casa sagrada seria aquela que permitisse uma participação ativa e consciente na liturgia, não importava que houvesse uma estrutura metálica ou uma cúpula de Michelangelo. (A ORDEM, 09/09/1967, p.3).

        Eis os argumentos da arquidiocese para rebater as criticas suscitadas ao projeto de uma catedral em estilo moderno com estrutura metálica para a nova catedral de Natal.