quinta-feira, 25 de agosto de 2022

PARNAMIRIM HÁ 50 ANOS

 

Em 1972 o município de Parnamirim contava apenas 14 anos de sua autonomia. Pela sua localização invejável e pelo seu desenvolvimento, conseguiu se localizar com destaque na escala dos municípios que mais cresciam no Estado naquele ano.

         Contando com o apoio do Comandante do Centro de Formação de Pilotos Militares, o brigadeiro Everaldo Breves,e da Câmara de Vereadores, o prefeito Antenor Neves esperava que até o final da sua administração dotar o município  de uma serie de melhoramentos, interagindo-o cada vez mais no ritmo de progresso que vinha sendo desenvolvido pelo Rio Grande do Norte desde a Revolução de 31 de março de 1964.

Parnamirim nasceu da ideia firme do coronel Guerreiro que motivou a instalação da Companhia de Aviação Air France,razão porque aquele militar seria considerado o padrinho do município.Aplaudindo a iniciativa do historiador Câmara Cascudo,o prefeito Antenor Neves de Oliveira já iniciara a construção de uma praça triangular no centro da cidade que seria batizada com nome de Guerreiro.

O município localizado a 18 km de Natal tinha em 1972 uma população de 14.833 habitantes e possuia uma área de 96.120 km².Servido pelas BR 101  e 226, foi premiado com a escolha para a instalação do Distrito Industrial e possuia o Parque de Exposição Aristofanes Fernandes, onde anualmente se realizava a exposição de gado, minérios, aspectos comerciais,industriais e educacionais do Estado, atraindo um grande numero de pessoas de outras cidades.

Parnamirim era igualmente servido pela RFFSA e tinha o privilégio de ser a única cidade do Rio Grande do Norte que possuia um aeroporto internacional, o Aeroporto Augusto Severo, de importante atuação durante a Segunda Guerra Mundial.

De acordo com o plano de ação prefeito Antenor Neves de Oliveira Parnamirim seria beneficiada ainda no primeiro semestre de 1972 com um programa de saneamento básico que seria executado com o apoio da CAERN.

A administração municipal estava realizando naquele município em 1972 uma série de obras que visavam o seu embelezamento e o bem-estar da comunidade.

Em apenas 2 anos de gestão o prefeito Antenor Neves de Oliveira conseguiu aparelhar e colocar em funcionamento o poço artesiano Santos Dumont, que tinha uma capacidade de 26 mil litros de água por hora, realizou melhoramentos nas instalações do matadouro público municipal oferecendo-lhe condições higiênicas;promoveu o calçamento do largo 31 de março onde funcionava a feira livre e de parte da rua Presidente Vargas, chegando até o acostamento da BR 101, ampliou o mercado municipal e construiu um galpão com cobertura metálica medindo 50 metros de comprimento por 6 de largura para  a feira livre de cereais.

Segundo o Diário de Natal o prefeito de Parnamirim era um homem calmo e um administrador consciente do dever, sempre preocupado em promover a sua cidade. Na sua luta em busca do progresso ele entendia que nada podia ser feito sem o desenvolvimento do nível educacional do seu povo.Por isto, o setor educacional vinha sendo a grande meta da sua administração .Durante a sua gestão foram criadas várias escolas municipais que representaram um aumento de cerca de 1.500 vagas.

A maioria das escolas estavam em pleno funcionamento e outras seriam inauguradas durante as comemorações da Revolução de 31 de março.

Ao todo eram os seguintes os estabelecimentos de ensino mantidos pela prefeitura de Parnamirim: Escola Municipal São Geraldo (na fazenda Boa Esperança), Escola Isolada Municipal Manuel Machado (no distrito de Pitimbu), Grupo Escolar Osmundo Faria (em Passagem de Areia), Escola Municipal Joana Alves (no bairro de Santos Reis), Escola Municipal Jornalista Expedito Silva (no bairro da Liberdade), Escola Municipal São Sebastião (distrito de Pirangi do Norte), Escola Municipal de Pium (no distrito de mesmo nome), Grupo Escolar Municipal Presidente Costa e Silva (sede do município), Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima (sede),Escola Municipal Santa Luzia (distrito de Jiqui), Escola Municipal Santa Teresinha (sede), Escola Municipal Professora Maria do Carmo (bairro Boa Esperança),além de 13 postos onde funcionavam cursos de alfabetização de adultos em convenio com o MOBRAL.

Entre outras realizações do prefeito Antenor Neves podia ser enumerada ainda a criação da Biblioteca Rômulo Wanderley, na sede municipal, um posto médico em Pirangi e a construção de uma casa para a professora da Escola Manuel Machado no distrito de Pititinga, obras que seriam inauguradas durante o aniversário da Revolução Democrática.

Conforme indicava o Diário de Natal esse era o moderno prédio da Câmara Municipal de Parnamirim que foi construído durante a administração do prefeito

 

Aqui se vê o prédio onde funcionava a Biblioteca Romulo Wanderley que fora concluída e faria um convenio com o Instituto Nacional do Livro em 1972.

 

     Esta era a escola Manuel Machado que seria inaugurada pela administração de Parnamirim naquele ano de 1972.

 

 

                Também foi realizada a urbanização da entrada da cidade.

                O prefeito Antenor Neves de Oliveira,prefeito de Parnamirim em 1972.




Fonte: Diário de Natal, 31/03/1972, p.10.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

SOBRE COMO ALUÍZIO ALVES MELHOROU AS CONDIÇÕES DE INFRAESTRUTURA EM TOUROS E MAXARANGUAPE EM 1962


         O município de Touros juntamente com o de Barra de Maxaranguape serviu de campo de ação do Comando da Esperança, um programa do governador Aluizio Alves que durante 150 dias promoveu ações de melhoramentos nos setores de saneamento, educação, comunicações, água, saúde pública e assistência social em 1962.Naquele ano o governo do Estado inaugurava a sua primeira realização no campo da descentralização administrativa com os serviços em Touros e Barra de Maxaranguape, onde atuou durante 150 dias o Comando da Esperança, sob a supervisão direta do Conselho Estadual de Desenvolvimento.

       A promoção constituiu um verdadeiro teste para a  capacidade daquele novo órgão da administração estadual, posto que foi incumbido de operar em uma das áreas mais subdesenvolvidas do Rio Grande do Norte, a despeito de suas vastas possibilidades naturais.

Estagnação

        Possuindo  alguns vales úmidos e terras laboráveis com bons índices de produtividade a agricultura da região e das mais incipientes, moldadas ainda nos métodos mais primitivos.

         A outra área de atividade – a pesca – se bem que exercida numa das mais ricas faixas pesqueiras, sem a rentabilidade de esperar dados os recursos rudimentares que vem retardando o desenvolvimento do homem rumo ao progresso.

Aspectos sanitários

         A situação sanitária era das piores, alcançando a esquissostomose nível dos mais elevados de par com outros males oriundos da verminose, malária e outras enfermidades que agravadas pela sub-alimentação proliferavam em grande escala.Com a criação do Comando da Esperança os técnicos do CED se transportaram para a região e ali iniciaram o levantamento da área sob os seus múltiplos aspectos, implantando em pouco mais de 4 meses novas condições para o desenvolvimento de Touros e Barra de Maxaranguape.

Saneamento

         Foram implantados dois sistemas de saneamento: o primeiro em Touros (2.200 habitantes) do tipo usual nas grandes cidades com depuradora OMS ligada a rede coletora e instalação de WC nos prédios da cidade que passou a ser a única cidade do Brasil totalmente saneada; o segundo, em Barra de Maxaranguape, constituído por fossas individuais, atendendo a 172 residenciais.

Educação

         O setor educacional mereceu particular atenção, com a recuperação do G.E Gen. Florêncio do Lago, em Touros e das escolas rurais de Vila de Maxaranguape (Pureza), Boacica, Maracajaú e Barra de Maxaranguape, conclusão e ampliação das escolas de Cajueiro e Peroba, melhoramentos nas escolas de Carnaubinha, Cana Brava, Tabua, Boqueirão, São José do Sal e Zumbi, instalação de escolas em Bebida Velha, Reduto, Rio do Fogo e Pititinga e adaptação de um prédio para a escola de Baixinha.

O CED passou no primeiro teste

         Por outro lado, confeccionou-se 25 birôs e 170 carteiras, enquanto outras 250 eram recuperadas nas oficinas do Comando.

Comunicações

         Intensivo trabalho foi feito para o melhoramento da rede de estradas carroçáveis da região, com o piçarramento e outros serviços nas seguintes estradas: Touros-Cajueiro-São Miguel dos Gostoso-Parazinho; Touros-Boacica-Vila de Maxaranguape-Ceará-Mirim; Touros-Punaú-Ceará-Mirim;Touros-Boqueirão-Rio do Fogo-Santa Luzia; Pititinga-Maracajaú-Paz e Barra de Maxaranguape-Muriú, abrangendo um total de mais de 350 km.

Dragagem

         Tendo em vista a pequena área cultivada do município o Comando procedeu a abertura do escoadouro da lagoa Boqueirão, com o aproveitamento dos mais de 120 hectares de terra cultiváveis.

Poços tubulares

         Em colaboração com órgãos federais foram recuperados ou perfurados poços tubulares em Barra de Maxaranguape, Maracajaú, Pititinga, Rio do Fogo e Touros, para garantir o abastecimento d’água a população.

Saúde pública

         Face a inexistência de qualquer assistência médica, o Comando da Esperança, a titulo provisório fez instalar um Posto de Saúde em prédio da Divisão de Caça e Pesca, que seria posteriormente substituído por um dos postos moveis que haviam sido recentemente adquiridos pelo Governo, com gabinete médico e dentário, possibilitando assistência mais eficiente às populações rurais.

Assistência

         Embora em número limitado concedeu-se financiamento a pequenos lavradores e pescadores, a titulo de incentivo a melhoria de sua produtividade, enquanto 74 máquinas foram distribuídas a costureiras pobres com financiamento em 15 meses.Vestuário e calçado foram distribuídos a 750 alunos do Grupo Escolar de Touros e das Escolar Reunidas de Boacica, Maracajaú, Vila de Maxaranguape e Barra de Maxaranguape.

Touros

      De acordo com Gileno Fernandes, enviado especial do Jornal do Brasil, 35 anos depois da construção de um grupo escolar, única presença do Governo Estadual na região, a cidade de Touros estava sendo revolucionada por 90 homens que, trabalhando em mutirão, sob a supervisão do Comando da Esperança lançavam as bases de uma comunidade prospera e feliz.

         Com 95% de sua população atacada pela esquistossomose, uma economia primária de subsistência e sem nenhuma assistência do Governo, a cidade de Touros foi escolhida como teste decisivo para o primeiro Comando da Esperança do Governo Aluizio Alves que “no peito e na raça” iria transformá-la em 3 meses numa cidade saneada, abastecida, com escolas, saúde e estradas transitáveis o ano inteiro.

         Touros tinha uma população que vivia da pesca,pela pesca e para a pesca, a cidade porém,havia parado no tempo e no espaço.Três ruas principais e alguns aglomerados de casas de barro era o que compunha a Cidade onde viviam cerca de 2.000 pessoas em condições subumanas de existência.

         A última presença do Governo Estadual havia sido em 1927, quando o então governador José Augusto Bezerra de Medeiros construiu um grupo escolar que em 1962 estava em ruínas.Desde 1927, os pescadores de Touros só recebiam visitas de autoridades e candidatos a autoridades nas épocas de eleições.E, desde então, viviam de promessas e esperanças.

Em 30 dias, no entanto, as esperanças estavam se transformando em realidade, com o Comando da Esperança, do Conselho Estadual de Desenvolvimento. Após um levantamento da região,os jovens de Geraldo José de Melo atacaram as obras e estavam realizando-as “com a cara e a coragem”.

         As 04h00 da madrugada até as 19h00, trabalhavam sem parar, construindo estradas, furando poços artesianos, abrindo valas para o saneamento, reconstruindo grupos escolares e, principalmente, dando um novo sentido de vida aos pescadores de Touros, a Cidade abandonada.

Maxaranguape

       O mesmo fenômeno atingiu a Cidade de Maxaranguape que era ainda menor do que Touros.Em Maxaraguape, haviam 800 habitantes que viviam praticamente da pesca.Duas ruas formavam o quadro urbano.A semelhança de Touros, seus habitantes raramente viam dinheiro.A economia funcionava quase exclusivamente na base do escambo, da troca de gêneros alimentícios.

         E, como Touros, não tinha o menor vestígio de presença do Governo Estadual. Sua rede escolar era a pior possível,não havia postos de saúde , água só em cacimbas e as estradas carroçáveis só funcionavam no verão.

      Enquanto Touros havia juiz promotor, padre e delegado, em Maxaranguape nada disso havia.E, como o juiz, o promotor e o padre de Touros moravam fora da Cidade, os dois Municipios ficavam sem qualquer assistência material ou espiritual.

Filosofia de ação

         Foi essa a situação encontrada pelos jovens do Conselho Estadual de Desenvolvimento (onde a média de idade era de 26 anos) ao ser instalado o Comando da Esperança nas sedes dos dois municípios.E essa era também a razão da dedicação e do entusiasmo que guiavam os trabalhos do Comando: salvar essa população da miséria, do analfabetismo da doença.Dar um novo sentido aos pescadores que pareciam conformados “com a miséria que Deus nos deu”.

Para os jovens do Comando da Esperança, a vitória de Aluzio Alves rompeu toda a tradicional estrutura política do Estado, onde o coronelismo imperava, dominando a enxada e comprando o voto. Foi essa vitória que possibilitou uma experiência revolucionária como a de Touros e Maxaranguape em que todos os métodos e padrões normais de administração era postos de lado em favor da execução.E eles sabiam que essa era a grande oportunidade de se firmarem como técnicos, fazendo algo pelo Rio Grande do Norte e pelo Governo Aluizio Alves.Daí o entusiasmo com que se dedicavam a luta pela libertação de Touros da miséria e do analfabetismo, trabalhando até gratuitamente no mutirão, abrindo fossas ou reconstruindo estradas.

Sob a supervisão direta do Secretário-Executivo da Comissão Estadual de Desenvolvimento, trabalham em Touros e Maxaranguape dez funcionários e técnicos e 80 trabalhadores, 3 jipes, 1 trator e 1 patrol constituíam a maquinaria pesada da equipe.De um escritório central ao lado da igreja matriz de Touros, saiam as ordens para os comandos que trabalhavam na recuperação das rodovias e para as equipes que executavam o saneamento, o abastecimento de água e a recuperação dos grupos escolares em todo o Municipio.

         A ideia do Comando da Esperança partiu do próprio Aluizio Alves que resolveu encarregar a Comissão Estadual de Desenvolvimento da sua execução.Em 30 dias foram iniciados os trabalhos e afirmaram seus administradores que antes do prazo fixado pelo governador Aluizio Alves que era 13/05/1963.

As metas

         Até o dia 30/04/1963 esperava-se que o Comando da Esperança entregasse as seguintes obras executadas em Touros, nos setores de educação, saúde e transportes:

1) trabalhos de terraplenagem, alargamento e outros melhoramentos em cerca de 300 km de estradas.

2) reparos em 7 grupos escolares, conclusão de duas escolas, construção de 4 novos grupos e melhoramento em outros 4.

3) construção de poços tubulares em 8 vilas do município e recuperação de 4 já existentes.

4) saneamento para a cidade de Touros (seria o mais moderno do Estado,instalado por uma firma do Recife).

5) instalação de um posto de saúde em Touros;

6) vendas de máquinas de costura a crédito, já tendo sido iniciado o alistamento dos interessados.

7) empréstimos até Cr$ 50 mil feitos pelo Banco do Estado do Rio Grande do Norte para pequenos produtores (lavradores) e pescadores.

Em Maxaranguape

         Em Maxaranguape estavam previsto melhoramentos em 4 grupos escolares, instalação de um posto de saúde, perfuração de 4 poços tubulares e recuperação de 4 rodovias.

O que se fez

Das  metas acima enunciadas, algumas já haviam sido totalmente, ou parcialmente, como os reparos nos grupos escolares de Touros, Maxaranguape, Boacica, Maracajaú, Perobas e Cajueiro, cujas obras estavam quase prontas.no setor de estradas a que ia de Touros para Ceará-Mirim já estava terraplenada e piçarrada numa extensão de 10 km; a estrada  Touros- Punaú-Ceará-Mirim já havia sido terraplenada até Punaú;a de Touros-Cajueiro-Gostos-Parazinho foi terraplenada até Gostoso.

         Os serviços de saneamento de Touros e Maxaranguape já havia sido iniciados e deveriam estar prontos até fins de abril de 1963.E um posto de saúde já havia sido instalado em Touros.Por outro lado, o Banco do Estado do Rio Grande do Norte iniciou a concessão de empréstimos para os pescadores e pequenos agricultores locais, para compra de material de trabalho.A importância total dos empréstimos foi de Cr$ 2 milhões com teto de Cr$ 50 mil.

Além desses trabalhos de desenvolvimento econômico, tinha o Governador Aluizio Alves uma meta especial que considerava a principal, a criação de um Conselho Municipal de Cooperação que teria dois objetivos bem definidos.O primeiro era despertar o sentimento de comunidades nos dois Municipios.O segundo era fiscalizar as obras realizadas e zelar pela sua conservação.O Conselho de Cooperação seria formado pelas pessoas mais importantes dos dois Municipios e mensalmente redigiria um relatório contando o que havia, como estava e o que faltava.Acreditava o Governador Aluizio Alves que o Conselho conservaria o espírito pioneiro do Comando da Esperança e daria novo sentido de vida aos lavradores e pescadores dos dois municípios abandonados. (JORNAL DO BRASIL, 21/03/1962, p.14).





Tipo de sanitário público dos que foram construídos pelo governo Aluizio Alves na cidade de Touros. Sanitários constituíam das maiores necessidades do município, no campo da saúde pública, como meio de evitar a propagação do schistossoma.


Monumento comemorativo do Comando da Esperança em Touros assinalando os importantes melhoramentos de assistência social, instrução e saúde pública, realizados pelo governo Aluizio Alves até então esquecido município. o Poti,23/09/1962,p.8.


O Grupo Escolar Coronel Florêncio do Lago, na cidade de Touros, recuperado e melhorado pelo Comando da Esperança. Segundo O Poti a instrução pública voltou a poder funcionar bem equipado em Touros.


Caixa  d’água, catavento e poço tubular público de Rio do Fogo, município de Maxaranguape, construído pelo Comando da Esperança em cooperação com o SESP. p. 2.




terça-feira, 23 de agosto de 2022

SOBRE AS PRIMEIRAS COLÔNIAS DE PESCADORES CRIADAS NO RIO GRANDE DO NORTE

 

         Em 1920 aportou pelo litoral do Rio Grande do Norte o cruzador José Bonifácio que tinha por finalidade organizar colônias de pescadores ao longo da costa potiguar e incorporar essas mesmas colônias a reserva naval do País, podendo ser considerada o inicio de um vasto aproveitamento dos recursos da economia litorânea, e da própria defesa marítima.

         Não era, aliás, essa a finalidade única que convinha ter em vista o cruzador, era de considerar o coeficiente de riqueza que a indústria piscicola que deveria ser constituída e explorada racionalmente, por pessoal idôneo, e amparada ela previdência oficial. (HOJE: PERIÓDICO DE AÇÃO SOCIAL (RJ) – 1920, p. 16).

Comandante Frederico Villar

         O comandante do cruzador José Bonifácio era Frederico Villar, ele quem tinha a incumbência de fundar as colônias de pescadores ao longo da costa potiguar.

A primeira Colônia

Assim foi que em 22/05/1920 o comandante Frederico Villar chegou a Caiçara onde pretendia constituir ali uma Colônia de Pescadores, conforme consta no seguinte telegrama que ele expediu dando ciência do acontecimento ao Almirante de portos e costas do Arsenal da Marinha: “Rio.Em 22 de maio de 1920: 443.-Fundeamos Caiçara depois de excelente viagem.Numerossimos pescadores esperamos fazer aqui obra magnífica.Peço consultar carta oitocentos e oitenta oito Almirantado.Saudações respeitosas. (a) Villar. –Bonimar.”.

Já ao governador do Rio Grande do Norte, Antonio de Souza o comandante Frederico Villar expediu um telegrama em 24/05/1920 no qual dizia com prazer tinha ele a honra de comunicar a inauguração da  primeira colônia cooperativa com cerca de 500 pescadores em Caiçara e também a fundação de uma escola primária que até aquela data ali inexistia, havendo ele encontrado 98 % de analfabetos.Reinava em Caiçara a varíola.Foram vacinados e socorridos com medicamentos numerosos pescadores “que dos poderes públicos só conhecem os mais inacreditáveis impostos”,escreveu Frederico Villar.

Afirmar o comandante do cruzador José Bonifácio que esperava ter inaugurado uma era de liberdade e riqueza para os pescadores do querido estado potiguar chamando a comunhão brasileira milhares de compatriotas até aquele momento esquecidos cruelmente nas curvas da costa.

Segundo Frederico Villar o Governo Federal acreditava que os pescadores potiguares eram valiosíssimos elementos para a grandeza e prosperidade da pátria e todos confiavam no patriotismo e larga visão do governador do Estado para que o programa do Presidente da República fosse realizado com todo o brilho no Rio Grande do Norte.(HOJE: PERIÓDICO DE AÇÃO SOCIAL (RJ), 1920, p.16).

A época Caiçara era uma das inúmeras povoações litoranea do municipio de Touros.

A segunda Colônia

No dia seguinte, ou seja, 23/05/1920 seria fundada a segunda Colônia de Pescadores no Rio Grande do Norte que foi a de Touros.

         Segundo Frederico Villar o entusiasmo pela criação das Colônias de Pescadores era um grande obra cívica, pois as mesmas almejava libertar os pescadores míseros e analfabetos dos inacreditáveis impostos estaduais e municipais e torções diversas.

        Sobre a fundação das Colonias de Caiçara e Touros escreveu o comandante do cruzador José Bonifácio:” vale a pena tudo sacrificar para concluir esse serviço de valor imenso para o futuro da nossa pátria”.

A terceira Colônia

         Já a terceira Colônia de Pescadores criada no Rio Grande do Norte foi a que abrangia as praias de Perobas, Garças e Rio do Fogo em 24/05/1920, tendo sido criada igualmente a escola primária que foi denominada Tenente Gumercindo Loretti.

        De acordo com o comandante Frederico Villar reinava grande satisfação dos pescadores. Esperava ele realizar em 25/05/1920 a fundação da Colônia de Pescadores de Pititinga e de lá partir para Natal. (HOJE: PERIÓDICO DE AÇÃO SOCIAL (RJ), 1920, p.17). Assim, a Colônia de Pescadores de Pititinga foi a quarta a ser criada no Rio Grande do Norte.

         A época todas essas localidade pertenciam ao municipio de Touros.



Cidade de Caiçara do Norte onde foi criada a primeira Colônia de Pescadores do RN.



Comandante Frederico Villar.
Fundador das primeriras Colônias de Pescadores no Rio Grande do Norte


O Cruzador José Bonifácio.


SOBRE A ENSEADA DE PITITINGA


         Todo lugar tem sua história. Eis um apanhado histórico da aprazível Pititinga, distrito litorâneo do município de Rio do Fogo, no litoral norte.

Histórico                  

         O navegador Fernão Vaz Dourado em 1580 registrou “Impuama” ao sul de São Roque e Juan Martinez em 1582 assinalava ‘Puimitingo” numa grande baía ao sul da baía da Tartarugas, parecendo que se trata da vasta enseada de Pititinga. (DIÁRIO DE NATAL, 12/06/1949, p.3).

         Há registro de uma carta de 1799 dirigida ao rei de Portugal em que se cita a enseada de Pititinga como um dos portos existentes na então Capitania do Rio Grande. (in: A REPÚBLICA,12/07/1907,p.1).

         A Revista Maritima Brasileira assim descreveu Pititinga em 1883:”...e assim passar-se-á uma Enseada denominada da Petitinga, assaz conhecida pela aluvião de coqueiros espalhados por entre muitas pequenas casas, que forma uma povoação muito pitoresca.A ponta da Enseada da Petitinga está 1 ¹/² milha distante da Ponta de Maracajaú”.(REVISTA MARITMA BRAZILEIRA, 1883, p.634).

         Já num relato de viagem entre o Pará e o Sul do País passando pelo litoral potiguar o viajante fez essa descrição de Pititinga: “ao norte desta acha-se a Ponta Pititinga, que termina o declive das montanhas arenosas com um pequeno morro isolado no topo do qual vegeta uma árvore solitária – chama-se  morro de Santa Cruz.Toda esta costa é definida pelo recife coralino, que se estende desde Pernambuco até aqui, obra da natureza feita com tal capricho, que em parte parece ter sido constituída com todo o rigor da arte, tal como só a mão humana executa com uniformidade”. (FOLHA DO NORTE 04/05/1897, p.1).

         Pitintinga figurava a época destes relatos como uma das inúmeras povoações litorâneas do município de Touros.

         A partir de 1959 passou a condição de distrito do município de Barra de Maxaranguape vigente até 1997 quando foi criado o município de Rio do Fogo a qual pertence presentemente.

A casa do faroleiro

         De acordo com o Correio da Manhã em 29/07/1913 achava-se em estudos no Tesouro Nacional os documentos referentes a compra do sitio Pititinga no Estado do Rio Grande do Norte, destinado a residência do 3º faroleiro das boias iluminativas de Teresa Pança e Rio do Fogo. (CORREIO DA MANHÃ, 29/07/1913, p.5).

Aviso ao navegantes

         O Correio da Noite, publicou em 1914 o seguinte aviso aos navegantes que passavam pela costa do  Rio Grande do Norte:“Aviso aos navegantes nº 9.Estado do Rio Grande do Norte.Proximidades da entrada do canal de Pititnga.Avisa-se aos navegantes, segundo publica o Notice to Mariners, sob Nº 527 , de 1914, a existência de duas lajes com menos de 1,80m de água na baixa mar cujas posições são: A) Lat.5º, 181,40’’S – Long. 35º,11’,30’’ W gr. B) Lat. 5º, 21’,00’’ S – Long. 35º,03’,40’’ W gr.,  e que estão assinaladas em algumas cartas com a nota P.D.”. (CORREIO DA NOITE, 26/05/1914, p.4).

       Assinava o aviso Jorge M. de Castro e Abreu, capitão de corveta, diretor interino da diretoria de hidrografia em 20/05/1914.

         Aviso idêntico forma publicados em diversos outros jornais de circulação nacional.

A colônia de pescadores de Pititinga

         Em 26/05/1920 foi fundada a Colônia de Pescadores de Pititinga por Frederico Villar comandante do cruzador José Bonifácio. (HOJE:PERIODICO DE AÇÃO SOCIAL (RJ), 1920, p.17). Em tal colônia foi criada uma escola primária para os filhos dos pescadores.

O farol

         De acordo como jornal A Nação em 15/02/1933 foram inaugurados os faroletes de Gameleira, Rio do Fogo e Pititinga, no canal de São Roque.(A NAÇÃO, 15/02/933, p.5).

Escola subvencionada

         Segundo o jornal A Ordem em 1936 havia uma escola subvencionada pelo governo do estado em Pititinga cuja professora era Adelaide Costa. (A ORDEM, 25/12/1936, p.1).

A Colônia de Pescadores Z-5

Em 1936 a revista A Voz do Mar assim descreveu a Colônia de Pescaores Z-5 de Pititinga: “Pititinga, município deTouros, sed em Pititinga,zona : margem esquerda do rio Punaú, toda a costa até a margem esquerda do rio Piracabu.Mantém duas escolas primárias, está nas mesmas condições da Z13 , tendo safra de tresmalho nos meses de outubo a março.Existe tabém uma lagoa nas mesmas condições que a Z-3, um verdadeiro viveiro”. (A VOZ DO MAR, 1936, p.18).

Já no ano seguinte a mesma revista assim descreveu A Z-5: Situada na praia de Pititinga, sede alugada, essa colônia mantinha uma escola para filhos de pescadores, que ultimamente não tem remetido os seus mapas, ignorando-se esta Federação o motivo.É constituída pelo número de 211 pescadores matriculados e tem um cardeneta do B.B com a importância de 1: 129$500, está organizada”. ( A VOZ DO MAR, 1937, p.16).

A escola isolada

         Conforme registrou o jornal A Ordem o interventor federal no Rio Grande do Norte havia assinado em 19/06/1946 o decreto pelo qual era criada a Escola Isolada de Pititinga. (A ORDEM, 21/06/1946, p.4).

Toponímia

         Pititinga é uma palavra de origem tupi “PI – ti - tinga” cujo significado é pele alva-alva, pele alvíssima. É uma espécie de sardinha, a Menidia brasilienses, chamada também e mais comumente de Manjuba.Seu nome antigo é Piquitinga, “peixe-branco”, “peixinho branco”. (A VOZ DO MAR, 1940, p.46).

         Pequitinin, registrou Gabriel Soares, já Marcgrav chamou-a Pititinga.No Amazonas dizem Piquiti (Tastevin). A.Couto de Magalhães indicou a Eugraulis tricolor comos endo a Piquitinga. Nessa versão seria ‘Peixinho branco”.O Potitinga, camarão branco, também é conhecido por Pititinga.

Frei Damião em Pititinga

         Em junho de 1947 o missionário capuchinho Frei Damião esteve pregando suas santas missões na paróquia de Touros, tendo visitado a povoação de Pititinga que segundo o jornal A Ordem obteve ali idêntico movimento religioso e grande sucesso como se verificara na sede da paróquia. (A ORDEM, 07/07/1947, p.4).

         Em Pititinga frei Damião foi auxiliado pelo vigário de Touros, Pe. Antonio Antas, onde realizou inúmeros casamentos, batizados, comunhões, crismas, tendo pronunciado proveitosa prática (sermão) acompanhadas de procissão, cânticos e benção do santíssimo.

O subdelegado

         Em 17/07/1948 o governador do estado havia assinado o decreto nomeando diversas autoridades policiais do estado dentre os quais estava Domingos Cavalcanti de Farias como subdelegado de policia em Pititinga. (A ORDEM, 17/07/1948, p.4).

Casa de moradia de faroleiros

         Em 1949 foi construída uma nova casa para moradia do foroleiro de Pititinga. (REVISTA MARITMA BRASILEIRA, 1949, p.48).

Abastecimento de água

         Com a cooperação do Serviço Especial de Saúde Pública, achava-se em fase de conclusão 5 poços tubulares em Touros, Barra de Maxaranguape,Maracajaú,Pititinga e Rio do Fogo. (DIÁRIO DE NATAL, 17/07/1962, p.2).

O submarino que apareceu em Pititinga

    Em 1970 o Comando Naval de Natal estava investigando o misterioso aparecimento de um submarino não identificado na praia de Pititinga, no município de Barra de Maxaranguape, que emergiu diante de vários pescadores assustados.

         De acordo com o Diário de Natal o súbito aparecimento do barco a tona foi presenciado pelo pescador Raimundo Grande e seus companheiros que pescavam e foram surpreendidos pelo acontecimento. Os tripulantes do submarino chegaram a dialogar com os pescadores, que não entenderam a língua falada por eles. (DIÁRIO DE NATAL, 19/08/1970, p.1).

Capela de Pittinga, google earth, 2022.

Aspecto de Pititinga, google earth, 2022.

Mapa da enseada de Pittinga, google earth, 2022.


sábado, 20 de agosto de 2022

O BISPO DA PARAÍBA NO TREM DA GWBR EM VISITA AO RIO GRANDE DO NORTE

 

O relato da visita pastoral de Dom Adauto de Miranda Henriques, bispo de Diocesano da Paraíba realizada no Rio Grande do Norte entre os dias 10 e 13/01/1900 nos fornece informações das quais se pode reconstruir memória ferroviária da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz.

Dom Adauto, bispo da Paraiba (1894-1935)

         De acordo com o Diário de Pernambuco o bispo da Paraíba chegou ao Rio Grande do Norte por Nova Cruz de onde partiu em trem expresso as 11h00 do dia 10/01/1900.

         Partindo o trem de Nova Cruz a primeira parada ocorreu em Montanhas “onde grande massa de povo esperava o Sr. Bispo, que foi ali muito saudado”.

         Em seguida o trem partiu para Cuitezeira, atual Pedro Velho. “Na parada de Curimatau, que servia a vila de Cuitezeira, estava também grande multidão aglomerada aclamando o ilustre viajante.A estação estava vistosamente embandeirada”.Ali naquela estação tomou o trem o padre Francisco de Almeida, vigário da Penha (Canguaretama).

Estação de Nova Cruz


Estação de Montanhas.

          Partindo o trem a estação seguinte foi Piquiri.

         Tanto na estação da Penha como na de Piquiri o bispo Dom Adauto foi muito festejado e acolhido pela população dali.

Estação de Canguaretama, antiga Penha.


         Na estação de Goianinha o prelado foi saudado pelo Pe. Floriano de Queiroz, vigário da freguesia e por grande número de pessoas. Dali o referido vigário tomando o trem acompanhou a comitiva do bispo.

A estação de Goianinha a época da visita de dom Adauto

         Em São José de Mipibu foi imensa a concorrência de pessoas para saudar o bispo diocesano da Paraíba. “Naquela estação o muito popular e estimado pastor, vigário Antonio de Paiva esperava S. Exc., a frente de seu numeroso rebanho, oferecendo-lhe ali ao Sr. Bispo um bem servido lanche as 2 horas e ½ da tarde”.Ainda de acordo com o Diário de Pernambuco Dom Adauto recebeu significativas aclamações ali em São José de Mipibu.

         Em todas as estações do percurso dom Adauto saltou, falava ao povo,  agradecia e o abençoava. O trem chegou a estação central de Natal as 16h10.

         Ao saltar o bispo se encontravam em sua comitiva o cônego Sabino Coelho, reitor do Seminário da Paraíba, o vigário da Serra da Raiz, Aprígio Espínola, o vigário da Penha, Francisco de Almeida, o vigário de Goianinha, Floriano de Queiroz, o vigário de Papari (Nísia Floresta), Irineu Sales; o vigário de São José de Mipibu, Antonio de Paiva; o vigário de Macaíba, Marcos Santiago; o vigário de Natal, João Maria Cavalcante de Brito, o Pe. Alfredo Pegado e também os seminaristas Ismael Justianiano de Carvalho e Silva, Moisés Coelho e Bernardino Vieira.

A estação de Natal a época

         O representante da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz também acompanhou o bispo durante toda a viagem.

         De acordo com o Diário de Pernambuco era enorme a concorrência de pessoas, do povo e de todas as classes sociais que se fizeram presente na estação da Ribeira aguardando a chegada do bispo diocesano da Paraiba que pela segunda vez veio visitar o Estado do Rio Grande do Norte o qual integrava o território do seu bispado.

        Em perfeita ordem seguiu em procissão encabeçada pelas senhoritas, seguindo o prestito pelas diversas ruas da capital potiguar até chegar a igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação na Cidade Alta. Seguiu-se a cerimônia religiosa achando-se repleta a igreja e conservando-se grande massa de povo em seus arredores.

         No percurso da Estação Central até a Matriz foram atiradas flores sobre o dom Adauto, partindo de diversas casas expressivas manifestações de regojizo, entre outras do chalé do finado Pe. Antonio de Oliveira Antunes.

Segundo o citado jornal eram talvez 200 as senhoritas e outras tantas meninas vestidas todas de branco, erguendo faixa, que abriam as duas imponentes alas marcando a frente do itinerário do prelado.Seguia-se a multidão calculada em cerca de 8 mil pessoas.

A noite a matriz estava iluminada em forma de cruzeiro por todos os lados e na frente.

O bispo diocesano foi muito visitado desde o dia de sua chegada “a esta parte de sua amada Dioceses”.

Com os predicados que o distinguiam, de trato delicado e cativante, Dom Adauto recebia a todos quantos o procurava, atendendo todos os dias em que esteve em Natal na igreja matriz, em cujo consistório ficou hospedado com os demais sacerdotes que o acompanharam em sua visita pastoral ao centro do Estado.

 

Fonte: Diário de Pernambuco, 18/01/1900, p.2.Todas as citações em aspas são do referido jornal.