O município de Touros juntamente com o de Barra de Maxaranguape serviu de campo de ação do Comando da Esperança, um programa do governador Aluizio Alves que durante 150 dias promoveu ações de melhoramentos nos setores de saneamento, educação, comunicações, água, saúde pública e assistência social em 1962.Naquele ano o governo do Estado inaugurava a sua primeira realização no campo da descentralização administrativa com os serviços em Touros e Barra de Maxaranguape, onde atuou durante 150 dias o Comando da Esperança, sob a supervisão direta do Conselho Estadual de Desenvolvimento.
A promoção constituiu um verdadeiro teste para a capacidade daquele novo órgão da
administração estadual, posto que foi incumbido de operar em uma das áreas mais
subdesenvolvidas do Rio Grande do Norte, a despeito de suas vastas possibilidades
naturais.
Estagnação
Possuindo alguns vales úmidos e terras laboráveis com
bons índices de produtividade a agricultura da região e das mais incipientes,
moldadas ainda nos métodos mais primitivos.
A outra área de atividade – a pesca – se bem que exercida
numa das mais ricas faixas pesqueiras, sem a rentabilidade de esperar dados os
recursos rudimentares que vem retardando o desenvolvimento do homem rumo ao
progresso.
Aspectos
sanitários
A situação sanitária era das piores, alcançando a esquissostomose nível dos mais elevados de par com outros males oriundos da verminose, malária e outras enfermidades que agravadas pela sub-alimentação proliferavam em grande escala.Com a criação do Comando da Esperança os técnicos do CED se transportaram para a região e ali iniciaram o levantamento da área sob os seus múltiplos aspectos, implantando em pouco mais de 4 meses novas condições para o desenvolvimento de Touros e Barra de Maxaranguape.
Saneamento
Foram implantados dois
sistemas de saneamento: o primeiro em Touros (2.200 habitantes) do tipo usual
nas grandes cidades com depuradora OMS ligada a rede coletora e instalação de
WC nos prédios da cidade que passou a ser a única cidade do Brasil totalmente
saneada; o segundo, em Barra de Maxaranguape, constituído por fossas
individuais, atendendo a 172 residenciais.
Educação
O setor educacional mereceu
particular atenção, com a recuperação do G.E Gen. Florêncio do Lago, em Touros
e das escolas rurais de Vila de Maxaranguape (Pureza), Boacica, Maracajaú e
Barra de Maxaranguape, conclusão e ampliação das escolas de Cajueiro e Peroba,
melhoramentos nas escolas de Carnaubinha, Cana Brava, Tabua, Boqueirão, São
José do Sal e Zumbi, instalação de escolas em Bebida Velha, Reduto, Rio do Fogo
e Pititinga e adaptação de um prédio para a escola de Baixinha.
O
CED passou no primeiro teste
Por outro lado, confeccionou-se 25 birôs e 170 carteiras,
enquanto outras 250 eram recuperadas nas oficinas do Comando.
Comunicações
Intensivo trabalho foi feito para o melhoramento da rede de
estradas carroçáveis da região, com o piçarramento e outros serviços nas
seguintes estradas: Touros-Cajueiro-São Miguel dos Gostoso-Parazinho;
Touros-Boacica-Vila de Maxaranguape-Ceará-Mirim; Touros-Punaú-Ceará-Mirim;Touros-Boqueirão-Rio
do Fogo-Santa Luzia; Pititinga-Maracajaú-Paz e Barra de Maxaranguape-Muriú,
abrangendo um total de mais de 350 km.
Dragagem
Tendo em vista a pequena
área cultivada do município o Comando procedeu a abertura do escoadouro da
lagoa Boqueirão, com o aproveitamento dos mais de 120 hectares de terra
cultiváveis.
Poços
tubulares
Em colaboração com órgãos federais foram recuperados ou
perfurados poços tubulares em Barra de Maxaranguape, Maracajaú, Pititinga, Rio
do Fogo e Touros, para garantir o abastecimento d’água a população.
Saúde
pública
Face a inexistência de
qualquer assistência médica, o Comando da Esperança, a titulo provisório fez
instalar um Posto de Saúde em prédio da Divisão de Caça e Pesca, que seria
posteriormente substituído por um dos postos moveis que haviam sido
recentemente adquiridos pelo Governo, com gabinete médico e dentário,
possibilitando assistência mais eficiente às populações rurais.
Assistência
Embora em número limitado concedeu-se financiamento a pequenos lavradores e pescadores, a titulo de incentivo a melhoria de sua produtividade, enquanto 74 máquinas foram distribuídas a costureiras pobres com financiamento em 15 meses.Vestuário e calçado foram distribuídos a 750 alunos do Grupo Escolar de Touros e das Escolar Reunidas de Boacica, Maracajaú, Vila de Maxaranguape e Barra de Maxaranguape.
Touros
De acordo com Gileno Fernandes, enviado especial do Jornal
do Brasil, 35 anos depois da construção de um grupo escolar, única presença do
Governo Estadual na região, a cidade de Touros estava sendo revolucionada por
90 homens que, trabalhando em mutirão, sob a supervisão do Comando da Esperança
lançavam as bases de uma comunidade prospera e feliz.
Com 95% de sua população atacada pela esquistossomose, uma
economia primária de subsistência e sem nenhuma assistência do Governo, a
cidade de Touros foi escolhida como teste decisivo para o primeiro Comando da
Esperança do Governo Aluizio Alves que “no peito e na raça” iria transformá-la
em 3 meses numa cidade saneada, abastecida, com escolas, saúde e estradas
transitáveis o ano inteiro.
Touros tinha uma população que vivia da pesca,pela pesca e
para a pesca, a cidade porém,havia parado no tempo e no espaço.Três ruas
principais e alguns aglomerados de casas de barro era o que compunha a Cidade
onde viviam cerca de 2.000 pessoas em condições subumanas de existência.
A última presença do Governo Estadual havia sido em 1927,
quando o então governador José Augusto Bezerra de Medeiros construiu um grupo
escolar que em 1962 estava em ruínas.Desde 1927, os pescadores de Touros só
recebiam visitas de autoridades e candidatos a autoridades nas épocas de
eleições.E, desde então, viviam de promessas e esperanças.
Em 30
dias, no entanto, as esperanças estavam se transformando em realidade, com o
Comando da Esperança, do Conselho Estadual de Desenvolvimento. Após um
levantamento da região,os jovens de Geraldo José de Melo atacaram as obras e
estavam realizando-as “com a cara e a coragem”.
As 04h00 da madrugada até as 19h00, trabalhavam sem parar,
construindo estradas, furando poços artesianos, abrindo valas para o
saneamento, reconstruindo grupos escolares e, principalmente, dando um novo
sentido de vida aos pescadores de Touros, a Cidade abandonada.
Maxaranguape
O mesmo fenômeno atingiu a Cidade de Maxaranguape que era
ainda menor do que Touros.Em Maxaraguape, haviam 800 habitantes que viviam
praticamente da pesca.Duas ruas formavam o quadro urbano.A semelhança de
Touros, seus habitantes raramente viam dinheiro.A economia funcionava quase
exclusivamente na base do escambo, da troca de gêneros alimentícios.
E, como Touros, não tinha o menor vestígio
de presença do Governo Estadual. Sua rede escolar era a pior possível,não havia
postos de saúde , água só em cacimbas e as estradas carroçáveis só funcionavam
no verão.
Enquanto Touros havia juiz promotor, padre
e delegado, em Maxaranguape nada disso havia.E, como o juiz, o promotor e o
padre de Touros moravam fora da Cidade, os dois Municipios ficavam sem qualquer
assistência material ou espiritual.
Filosofia de ação
Foi essa a situação encontrada pelos jovens do Conselho
Estadual de Desenvolvimento (onde a média de idade era de 26 anos) ao ser
instalado o Comando da Esperança nas sedes dos dois municípios.E essa era
também a razão da dedicação e do entusiasmo que guiavam os trabalhos do
Comando: salvar essa população da miséria, do analfabetismo da doença.Dar um
novo sentido aos pescadores que pareciam conformados “com a miséria que Deus
nos deu”.
Para
os jovens do Comando da Esperança, a vitória de Aluzio Alves rompeu toda a
tradicional estrutura política do Estado, onde o coronelismo imperava,
dominando a enxada e comprando o voto. Foi essa vitória que possibilitou uma
experiência revolucionária como a de Touros e Maxaranguape em que todos os
métodos e padrões normais de administração era postos de lado em favor da
execução.E eles sabiam que essa era a grande oportunidade de se firmarem como
técnicos, fazendo algo pelo Rio Grande do Norte e pelo Governo Aluizio
Alves.Daí o entusiasmo com que se dedicavam a luta pela libertação de Touros da
miséria e do analfabetismo, trabalhando até gratuitamente no mutirão, abrindo
fossas ou reconstruindo estradas.
Sob
a supervisão direta do Secretário-Executivo da Comissão Estadual de
Desenvolvimento, trabalham em Touros e Maxaranguape dez funcionários e técnicos
e 80 trabalhadores, 3 jipes, 1 trator e 1 patrol constituíam a maquinaria
pesada da equipe.De um escritório central ao lado da igreja matriz de Touros,
saiam as ordens para os comandos que trabalhavam na recuperação das rodovias e
para as equipes que executavam o saneamento, o abastecimento de água e a recuperação
dos grupos escolares em todo o Municipio.
A ideia do Comando da Esperança partiu do próprio Aluizio
Alves que resolveu encarregar a Comissão Estadual de Desenvolvimento da sua
execução.Em 30 dias foram iniciados os trabalhos e afirmaram seus administradores
que antes do prazo fixado pelo governador Aluizio Alves que era 13/05/1963.
As
metas
Até o dia 30/04/1963
esperava-se que o Comando da Esperança entregasse as seguintes obras executadas
em Touros, nos setores de educação, saúde e transportes:
1) trabalhos de
terraplenagem, alargamento e outros melhoramentos em cerca de 300 km de
estradas.
2) reparos em 7 grupos
escolares, conclusão de duas escolas, construção de 4 novos grupos e
melhoramento em outros 4.
3) construção de poços
tubulares em 8 vilas do município e recuperação de 4 já existentes.
4) saneamento para a cidade
de Touros (seria o mais moderno do Estado,instalado por uma firma do Recife).
5) instalação de um posto
de saúde em Touros;
6) vendas de máquinas de
costura a crédito, já tendo sido iniciado o alistamento dos interessados.
7) empréstimos até Cr$ 50
mil feitos pelo Banco do Estado do Rio Grande do Norte para pequenos produtores
(lavradores) e pescadores.
Em
Maxaranguape
Em Maxaranguape estavam
previsto melhoramentos em 4 grupos escolares, instalação de um posto de saúde,
perfuração de 4 poços tubulares e recuperação de 4 rodovias.
O
que se fez
Das
metas acima enunciadas, algumas já
haviam sido totalmente, ou parcialmente, como os reparos nos grupos escolares
de Touros, Maxaranguape, Boacica, Maracajaú, Perobas e Cajueiro, cujas obras
estavam quase prontas.no setor de estradas a que ia de Touros para Ceará-Mirim
já estava terraplenada e piçarrada numa extensão de 10 km; a estrada Touros- Punaú-Ceará-Mirim já havia sido terraplenada
até Punaú;a de Touros-Cajueiro-Gostos-Parazinho foi terraplenada até Gostoso.
Os serviços de saneamento de Touros e Maxaranguape já havia
sido iniciados e deveriam estar prontos até fins de abril de 1963.E um posto de
saúde já havia sido instalado em Touros.Por outro lado, o Banco do Estado do
Rio Grande do Norte iniciou a concessão de empréstimos para os pescadores e
pequenos agricultores locais, para compra de material de trabalho.A importância
total dos empréstimos foi de Cr$ 2 milhões com teto de Cr$ 50 mil.
Além
desses trabalhos de desenvolvimento econômico, tinha o Governador Aluizio Alves
uma meta especial que considerava a principal, a criação de um Conselho
Municipal de Cooperação que teria dois objetivos bem definidos.O primeiro era
despertar o sentimento de comunidades nos dois Municipios.O segundo era
fiscalizar as obras realizadas e zelar pela sua conservação.O Conselho de
Cooperação seria formado pelas pessoas mais importantes dos dois Municipios e
mensalmente redigiria um relatório contando o que havia, como estava e o que
faltava.Acreditava o Governador Aluizio Alves que o Conselho conservaria o
espírito pioneiro do Comando da Esperança e daria novo sentido de vida aos
lavradores e pescadores dos dois municípios abandonados. (JORNAL DO BRASIL, 21/03/1962,
p.14).
Tipo de sanitário público
dos que foram construídos pelo governo Aluizio Alves na cidade de Touros. Sanitários
constituíam das maiores necessidades do município, no campo da saúde pública,
como meio de evitar a propagação do schistossoma.
O Grupo Escolar Coronel
Florêncio do Lago, na cidade de Touros, recuperado e melhorado pelo Comando da
Esperança. Segundo O Poti a instrução pública voltou a poder funcionar bem
equipado em Touros. |
Caixa d’água, catavento e poço tubular público de Rio
do Fogo, município de Maxaranguape, construído pelo Comando da Esperança em
cooperação com o SESP. p. 2. |
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