quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O DIA EM QUE O BISPO RESIGNADO DE NATAL FOI EXPULSO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO NO RIO DE JANEIRO

Esta é daquelas histórias em que a Igreja Católica ao invés de se mostrar uma mãe protagoniza uma madrasta impiedosa, senão vejamos se o meu juízo está errado.
Um bispo brasileiro, enfermo “é convidado” a se retirar a desocupar uma cela do Mosteiro de São Bento, era assim estampada a matéria a qual se lia no jornal A Noite (RJ) em edição do dia 21/10/1915 a qual passamos a narrar.
O Mosteiro de São Bento! Quem não conhecia sua história? Ali tiveram asilo centenas de necessitados. Reconhecida era a tradicional hospitalidade dos seus frades. Sob a carinhosa tutela dos irmãos de São Bento, dentro daquele vetusto casarão quantos homens se fizeram! Quem procurasse abrigo, alimentação, ensinamentos não deixava de encontra-los no mosteiro, onde sobrepujando a do resto da comunidade havia a bondade paternal de Dom João das Mercês Ramos (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
       Quando morreu o venerando frade o mosteiro teve nova direção e, com ela, um contraste de hábitos e costumes foram completamente diferentes implantados.
      Dom Joaquim de Almeida, bispo brasileiro quando dirigia a diocese de Natal, no Rio Grande do Norte, foi acometido em julho de 1915 de uma congestão parcial, que o fez resignar o bispado.Pobre, cego e paralitico, necessitando de tratamento mais qualificado “num meio onde não houvesse a carência de recursos médicos como em Natal” (A NOITE, 21/10/1915, p.1), o infeliz prelado lançou o seu pensamento para a cidade do Rio de Janeiro. Quem, porém, poderia protegê-lo ali?
    Lembrou-se Dom Joaquim de Almeida de que existia no Rio de Janeiro o mosteiro de São Bento, cuja hospitalidade afamada ele conhecia e de que já houvera recebido provas em duas vezes que precisara ir ao Rio. Escreveu ao prior, o frade alemão D. Pedro que lhe respondeu “bem-vindo sejais”.
    Acompanhado de um sobrinho, chegou ao Rio de Janeiro Dom Joaquim de Almeida em 26/07/1915, recolhendo-se imediatamente ao convento. A princípio tudo foram flores. Dom Joaquim, embora afastado dos membros da confraria, recolhido numa das celas dos fundos do convento tinha um tratamento regular dado pela instituição religiosa “até D. Pedro descendo de suas altas funções de prior da rica e poderosa irmandade visitara-o por duas vezes” (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
    A amável hospitalidade deferida a Dom Joaquim durou apenas dentro um mês, porque “findo o trigésimo dia de permanência no mosteiro, já a hospedagem de Dom Joaquim pesava aos cofres da confraria de São Bento...” (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
O sobrinho de Dom Joaquim foi perguntado amavelmente pelo vice prior D. Menandro, se ele sabia quando seu tio tencionava deixar o convento. Tomando conhecimento disso, Dom Joaquim, falou a D. Menandro: -padre, minha pessoa aqui incomoda? Embora pobre, talvez pedindo, me sejam dados recursos lá fora (A NOITE, 21/10/1915, p.1) e dom Menandro, que era um tipo boníssimo, apenas era ali apenas um fiel cumpridor das ordens do seu superior, procurou carinhosamente dissipar apreensões que pudessem fazer piorar o estado de saúde do pobre prelado. E Dom Joaquim continuou no seu retiro no mosteiro.
       Passou-se, porém, o segundo mês de hospedagem. Acabrunhado e sentido a desumanidade da intimação de que fora portador, dom Menandro procurou na sua cela o bispo resignado de Natal e  procurando amenizar os efeitos do terrível golpe, o vice prior de São Bento mostrou ali a olho nu, a real situação de Dom Joaquim de Almeida, na qual “O superior do mosteiro, ‘precisando da cela que habitava dom Joaquim para fazer umas obras’ dava aos seu infeliz hospede 15 dias para deixar o convento” (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
       Ainda entrevado e muito doente, Dom Joaquim de Almeida teve que cuidar de sua angustiosa situação. Quase sem amigos que soubessem de sua presença no Rio de Janeiro e naquele estado de saúde, o bispo resignatário de Natal lembrou-se do vigário da igreja da Candelária, seu amigo de bom coração e escrevendo-lhe contou de sua desdita.
      No dia 04/10/1915 apoiado aos braços pelos padres Antônio de Almeida e Álvaro Cesar, vigários da Candelária e Vila Isabel, respectivamente, dom Joaquim de Almeida deixou o mosteiro, a caminho da pensão Oceânica (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
    O vigário da Candelária expondo a vários sacerdotes a situação de Dom Joaquim, conseguira o necessário para o seu sustento naquele hotel, de propriedade do padre Clementino, que também como auxilio, fizera ao bispo brasileiro um preço módico.
     Dom Joaquim se achava melhor aos cuidados dos médicos Aloisio de Castro e Abreu Fialho e rodeado de sacerdotes que procuravam distrai-lo e atenuar-lhes os desgostos.
    A manutenção de Dom Joaquim de Almeida estava sendo provida pelos vigários da Candelária, Santo Antônio, Glória, Espirito Santo e Vila Isabel e a Irmandade de São Pedro (A NOITE, 21/10/1915, p.1) todas da capital fluminense.
      Dom Joaquim de Almeida, o infeliz bispo potiguar, tinha a época 47 anos de idade e tinha um passado cheio de serviços prestados a Igreja Católica, como por exemplo, no seminário da Paraíba, onde esteve 11 anos como reitor, o qual apresentou a ordenação cerca de 50 sacerdotes, entre os quais se destacavam naquele ano os atuais bispos de Aracaju SE, Ilhéus-BA, Cajueiros [?] e de Olinda-PE, além do Vigário Geral de da diocese de Natal, monsenhor Alfredo Pegado. O clero paraibano e potiguar foi quase todo discípulo seu.
    Dom Joaquim foi o primeiro bispo da diocese do Piauí, atual arquidiocese de Teresina, entre 1904 e 1912 e igualmente de Natal entre 1912 e 1915, foi por esse motivo o primeiro potiguar a ascender a dignidade de bispo da Igreja Católica.Resignado o bispo do Natal, dom Joaquim de Almeida era naquele ano bispo de Lari[1].
   Depois da renúncia, Dom Joaquim residiu em Goianinha-RN, em Bom Conselho-PE e em Macaíba-RN, com sua irmã, Doroteia de Macedo, e onde um sobrinho. Retornaria ao trabalho na Paraíba e em Pernambuco. Em 1944 voltou a Goianinha onde celebrou a missa comemorativa dos 50 anos do seu apostolado, no mesmo ano era grave estado de saúde de Dom Antônio de Almeida, residente em Bom Conselho-PE.
   Dom Joaquim Antônio de Almeida faleceu em 30/03/1947, tendo óbito ocorrido em Macaíba-RN na Fazenda Macedo de propriedade de seu sobrinho Antônio Almeida de Macedo. O sepultamento ocorreu no dia seguinte as 10h da manhã com o comparecimento de autoridades civis e eclesiásticas, ordens e associações religiosas e grande massa de fieis, que foram prestar as últimas homenagens aquele que fora o seu primeiro pastor.

Resumo biográfico Joaquim Antônio de Almeida
      Dom Joaquim Antônio de Almeida, nasceu em Goianinha-RN, a 17/08/1868. Fez o curso secundário no Colégio Diocesano de Olinda e ordenou-se em Fortaleza (1894). Celebrou sua primeira missa na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, Padroeira em sua terra, naquele mesmo ano.
      Foi professor, diretor espiritual e Reitor do Seminário da Paraíba; monsenhor (1904); sagrado bispo e nomeado para a Diocese do Piauí pelo papa Pio X através da bula Cunctis ubique  pateat, em 14/12/1905 e governou esta diocese de 12/03/1906 a 02/11/1910; transferido para Natal, assumiu a Diocese a 15/06/1911 e aí permaneceu até 1915, afastando-se por motivo de saúde. Foi Dom Joaquim de Almeida o 1º bispo de Natal. Foi um notável orador sacro e nos últimos anos de sua vida de dedicou-se a pregação de modo particular.
     Até onde eu sei Dom Joaquim Antônio de Almeida é homenageado com o nome de escola estadual em São Gonçalo do Amarante-RN.      


Imagem de dom Joaquim de Almeida que ilustrou a matéria narrada a cima no jornal A Noite.A NOITE, 21/10/1915, p.1



Dom Joaquim de Almeida.Foto: Arquidiocese de Natal.





Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro onde se deu a infausta estadia do antiste potiguar em 1915. Foto: Pintirest.




Fonte: A NOITE, 21/10/1915, p.1
Fundação José Augusto através do seu Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL
http://arquidiocesedenatal.org.br/especiais/historia.

Nota: Segundo o Código de Direito Canônico no Cân. 401:
1. Roga-se ao Bispo diocesano, que tiver completado setenta e cinco anos de idade, que apresente a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, o qual providenciará depois de examinadas todas as circunstâncias.§2. Roga-se instantemente ao Bispo diocesano que, em virtude da sua precária saúde ou outra causa grave, se tenha tornado menos apto para o desempenho do seu ofício, que apresente a renúncia".No caso de Dom Joaquim Antônio de Almeida o paragrafo 2 foi aplicado para a aceitação de sua renúncia ao governo da diocese de Natal tornando-se assim bispo resignado que é o mesmo que bispo emérito











[1] Diocese extinta em Cartago no norte da África. É costume na Igreja Católica quando o sacerdote é elevado a dignidade do episcopado atribuir-lhe um titulo de uma diocese extinta que remonta a igreja  primitiva.

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