Uma
mania de remodelação de prédios antigos, incluindo igrejas coloniais estava se
propagando no Brasil pelos idos da década de 1930 e o Rio Grande do Norte não escapou
ileso a esse (des)movimento em desfavor da arte.
Com essa onda de reformas as igrejas do
interior passaram a não apresentar mais a fisionomia de suas arquiteturas
originais.
Em 1934 Câmara Cascudo em companhia da
caravana do então Interventor Federal (governador) Mário Câmara esteve em
visita ao interior do estado, ao retornar escreveu no jornal A República uma
serie de crônicas de sua viagem nas quais falou sobre as igrejas potiguares de então.
Eis o que ele escreveu:
De todos os templos que visitei no
Estado (nos 37 municípios que conheço quase todos são incaracterísticos e já não podem ser apontados como estilos. São
testemunhas de várias tarefas de conserto onde as mais mãos desviaram de seu
trilho o espírito arquitetural daquelas capelas seculares.
A igreja de Patu é ainda uma capelinha,
mas sem fisionomia. A de Augusto Severo[1] severa,
pesada, maciça, recorda o românico em sua fase inicial. A de Caraúbas é tipo
comum das igrejas “conservadas”. É moderna. As de Luis Gomes e Pau dos Ferros guardam
traços deliciosos. A primeira é interessante com suas torres quase quandragular
e lisas, sem ornato, nuas e álgidas, dando um aspecto de sisudez hirta. A de
Pau dos Ferros é mais imponente com seu frontão singelo mais equilibrado.
A imponência da igreja de São Sebastião[2]
não encontra rivalidades nem com a Matriz de Mossoró. Todas perdem para a nobre
simplicidade da capelinha de Nossa Senhora dos impossíveis, no cimo da Serra do
Lima (em Patu), barroco pobre, sem decoração, sem enfeite, sem conchas e
golfinhos, com um recorte triste numa frontaria branca e melancólica de ermida colonial.Mas é acolhedora em sua
pobreza mística.Sente-se a atmosfera pura da linhas erguidas com o desejo religioso.Vê-se que foi um trabalho
feito por promessa e modificado posteriormente sem que a construção perdesse a
seu ar recatado e humilde de eremitério cenobitico e de pouso de oração
silenciosa.
Com relação a outras igrejas do
interior do Rio Grande do Norte disse Câmara Cascudo: Assu, Ceará-Mirim,
Mossoró, Caicó, não tem história em suas paredes, vinte vezes alteradas.Tanto
podiam estar no nordeste brasileiro como na Austrália.Nada tem de nós porque as
despojaram de sua herança de cem anos.
Basta recordar que Natal só possui uma
igreja digna de conservação. É a igreja de Santo Antônio, feita em 1766, num
barroco jesuítico impressionante e distinto. Vivo tremendo com a ideia de uma “reforma”,
de uma “melhoria”, naquele frontão que viu o amanhecer da Cidade.
O enxerto dessa crônica de Câmara
Cascudo foi publicado no jornal Diário de Pernambuco na edição do dia 22.06.1934,
p.3.
A baixo algumas igrejas citada por
Câmara Cascudo nesse texto e como ele as viu na época em que fez a referida
viagem.
Catedral de Mossoró
Justamente no ano da viagem e da publicação da crônica cascudiana a igreja matriz de Mossoró foi elevada a dignidade de catedral diocesana com a criação da Diocese de Mossoró em 1934.A arquitetura da igreja, no entanto, já havia sofrido as modificações de que fala Cascudo como o frontão, as torres e o acréscimo da cúpula, são as "vinte vezes remodeladas" que fala Câmara Cascudo.ao visitar a cidade de Mossoró em 1934 a igreja em nada parecia com a igreja original da cidade de outrora.
igreja matriz de Assu
Catedral de Caicó
A época da viagem de Câmara Cascudo o bispado de Caicó ainda não havia sido criado.Esta é a igreja matriz de Caicó em 1936, 3 anos antes de ser elevada a dignidade de catedral diocesana.A arquitetura ainda era a anterior as reformas por qual passaria posteriormente, exibindo nessa imagem a configuração românica colonial na fachada e apenas uma torre ( na década de 1940 foi erguida a segunda torre). foi dessa forma que Câmara Cascudo a viu em sua viagem que segundo ele a matriz de Caicó também já havia sido "vinte vezes alterada".
Matriz de Caraúbas
Segundo Câmara Cascudo a igreja matriz de Caraúbas é (era) tipo comum das igrejas “conservadas”.supomos que a expressão usada por Cascudo se refira ao fato de a igreja ainda conservar seus traços arquitetônicos originais.No entanto a igreja de São Sebastião nem sempre teve essa conformação sendo visíveis os acréscimos que nelas foram postos como o aumento do corpo da igreja, a torre sineira e a outra torre "falsa" inacabada.
igreja matriz de Ceará-Mirim
Outra igreja que segundo a expressão cascudiana foi "vinte vezes alterada".De fato a igreja de Nossa Senhora da Conceição teve alterações em suas características arquitetônicas.O frontão e a fachada neoclássicas contrastam com as torres góticas em formato de agulhas.Nem por isso tira dela o esplendor de sua imponência.
igreja matriz de Luís Gomes
Esta foi a antiga igreja matriz de Luis Gomes vista por Câmara Cascudo em sua viagem em 1934.Apesar de ser uma igreja matriz a conformação arquitetônica mais lembrava uma capela.As características arquitetônicas são conflitantes percebendo que também esta foi alterada ao longo do tempo.
Matriz de Pau dos Ferros
Esta é a antiga igreja de Pau dos Ferros que
segundo Câmara Cascudo "é (era) mais imponente com seu frontão singelo mais equilibrado"[3].
Igreja matriz de Augusto Severo (Campo Grande)
A igreja matriz de Santana de Campo Grande é antiga também, aqui vista da mesma forma que foi vista por Câmara Cascudo em sua viagem em 1934.
[1] Atualmente Campo Grande.
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