Quando você acha que nada mais há sobre o que você mais pesquisa eis que surge como por encanto as imagens a seguir, raridades raríssimas ( com o perdão do pleonasmo) sobre a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.As imagens foram postadas na página de Junior Oliveira a quem agradecemos pela pesquisa e achamento dessas relíquias.
Para se entender as imagens a seguir necessário se faz o texto a baixo para situar o dileto leitor no contexto.
A
estrada de ferro do Ceará-Mirim
Uma ferrovia que ligasse a capital ao vale do rio Ceará-Mirim era uma aspiração
antiga dos produtores da região.
Inicialmente foi levantada a hipótese de
se construir a ferrovia como um ramal da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz
ainda no período imperial, tendo sido aprovado o projeto, porém nenhuma empresa
se habilitou a construir o ramal mesmo com as garantias de juros de 7% dado
pelo governo imperial.
Já na República o governo estadual do
Rio Grande do Norte deu uma concessão para se construir a Estrada de Ferro do
Ceará-Mirim.O projeto da Estrada de
Ferro de Ceará-Mirim achava-se aprovado em 1890 e pronto para começarem os
serviços de sua construção (GAZETA DO NATAL, 16/08/1890 p. 2).
A
ferrovia teria 43,12 km e ligaria a capital potiguar ao vale do Ceará-Mirim, vale este
de aptidão agrícola da cultura da cana-de açúcar e que naquele vale era
plantada e beneficiada em diversos engenhos e usinas.Segundo dados oficiais o vale do
Ceará-Mirim era em todo Rio Grande do Norte a região que concentrava maiores
elementos de prosperidade agrícola.
Características técnicas
Segundo o projeto da estrada de ferro
de Ceará-Mirim a ferrovia constava de estações em Natal, na margem esquerda do
rio Potengi, Ceará-Mirim e Paraíso e paradas em Aldeia Velha, vila de Extremoz,
Raposa e Cruzeiro.Em Ceará-Mirim seriam construídas as oficinas.
Haveria na ferrovia obras de arte
importantes tais como: ponte-trapiche na Coroa com 100 metros de comprimento e
10 de largura onde os navios poderiam atracar e serem abastecidos, uma ponte
viaduto em Extremoz e ponte sobre o rio Ceará-Mirim.O orçamento da construção
foi de 1.405:000$000.
A Comissão de Construções, empresa que
havia ganhado a concessão pouco avançou nos trabalhos o que ocorreu a rescisão do
contrato por que a empresa não cumpriu o prazo para finalizar a obra.A
construção da ferrovia ficou então paralisada.
A Estrada de Ferro Central do Rio
Grande do Norte
A
lei 1.145, de 31 de dezembro de 1903, autorizou o governo a mandar proceder aos
estudos duma estrada que, partindo do ponto mais conveniente do litoral do
estado do Rio Grande do Norte, fosse ter aos sertões desse estado, penetrasse
nos da Paraíba, Pernambuco e Ceará, e aí, ligando-se à Estrada de Ferro de
Baturité, no ponto mais conveniente, completasse em parte o plano geral de
viação férrea do Norte do Brasil.
Feitos esses estudos, verificou o
governo que a linha férrea de penetração que mais convinha aos interesses
gerais era a que fosse construída em
prolongamento da antiga Estrada de Ferro de Natal a Ceará-Mirim, já então
estudada, não só por ser o porto de Natal o mais apropriado para centro de
convergência da futura rede de estradas de ferro do Rio Grande do Norte, como
também por ser esse traçado o que
melhores condições técnicas apresentavam, como se verificou dos estudos de
reconhecimento efetuados em diversos vales dos principais rios da região.
Pelo decreto nº 5.703 de 4 de outubro
de 1905, foram então aprovados o projeto geral da Estrada de Ferro Central do
Rio Grande do Norte e os estudos definitivos do primeiro trecho, cuja
construção foi imediatamente iniciada pelo governo.
A
intenção do governo federal ao criar a
Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte era fornecer trabalho aos
retirantes que se amontoavam em Natal fugidos da grande seca daquele ano.
Uma
comissão chefiada pelo engenheiro Sampaio Correia chegou a Natal em 1904 para
se iniciar a elaboração do projeto da ferrovia.
A comissão achou que o traçado mais viável
para a EFCRN seria o traçado que já havia sido iniciado pela Estrada de Ferro
de Ceará-Mirim, ou seja, partindo da margem esquerda do rio Potengi passando
por Igapó ou Aldeia Velha atingindo Extremoz e chegando ao vale do Ceará-Mirim
na cidade homônima. O que a comissão de Sampaio Correia fez foi apenas
acrescentar o traçado além de Ceará-Mirim projetando a ferrovia para alcançar a
região do seridó tendo como ponto final a cidade de Caicó
A comissão de construção da EFCRN havia
executado até o mês de julho de 1905 obras importantes para o assentamento do
leito da estrada de ferro de Ceará-Mirim.
A construção da Coroa estava avançada e
deveria em breve ficar pronta, foram concluídas as muralhas do aterro do
Salgado, ficaram prontos bueiros na estaca 618x13 e o pontilhão do sangradouro
do açude do Vilar na estaca 379x45 (A NOTICIA, 22/08/1905, p. 2).
No km 4 foi construída uma caixa d’água
com moinho de vento para acionamento da bomba de alimentação de fornecimento de
agua. A ponte de Extremoz foi concluída e iniciada a colocação do estrado menor
já bem adiantado. Do corte nº 1 foi extraído cerca de 4,5 toneladas de terras (A
NOTICIA, 22/08/1905, p. 2).
A
Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte foi oficialmente inaugurada em
13/06/1906 com a presença do então presidente da República Afonso Pena.
Como
visto a EFRCN aproveitou a estrutura já iniciada da Estrada de Ferro do
Ceará-Mirim[1].
A
estação de Extremoz
A
estação de Extremoz foi construída no km 21 da Estrada de Ferro Central do Rio
Grande do Norte tendo sido inaugurada em 13/06/1906.
A
época Extremoz era um distrito de Ceará-Mirim, embora sua edificação remontasse
ao século XVII, quando ali foi criada uma aldeia missionária pelos padres da
Companhia de Jesus, os jesuítas, com o intuito de catequizar os índios que
tinha ali suas tabas.
Extremoz alcançou autonomia política e
administrativa somente em 1963, de modo que a estação passa a ser efetivamente
deste município a partir desse ano, antes disso era pertencente ao município de
Ceará-Mirim.
Os seus habitantes mantinham-se de
pequenas lavouras cultivadas a margem da lagoa que lhe dava nome. Já havia
alcançado a condição de vila e sede do município, na época da chegada da
ferrovia, achava-se em decadência.
A lagoa de Extremoz era o principal
atrativo do então distrito de mesmo nome, com seus 18 km de extensão. As
construções antigas do século XVII, como
a igreja e o antigo convento dos jesuítas estavam em ruínas, causado
pelo a abandono, fruto da transferência da sede municipal e da paróquia.
Sobre a inauguração da estação
ferroviária de Extremoz
A
estação de Extremoz fazia parte da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do
Norte-EFCRN, posteriormente Estrada de Ferro Sampaio Correia-EFSC, e está
situada no km 21 da ferrovia. A inauguração ocorreu em 13/06/1906, na época
Extremoz ainda era distrito de Ceará-Mirim.
A
solenidade de inauguração do trecho entre Natal e Ceará-Mirim na qual foi
inaugurada a estação de Extremoz teve início as 09h30min do dia 13/06/1906, ao
ato esteve presente o então Presidente Afonso Pena e assistido pelo governador,
chefes de repartições públicas e grande número de convidados.
Do
relato da inauguração de Extremoz nos jornais locais tem-se o seguinte “O ato
teve lugar na parada de Extremoz, onde serviu-se uma mesa de finas massas,
doces, vinhos, champanhe, café etc” (DIÁRIO DO NATAL, 14/06/1906, p. 1). O
engenheiro Carneiro da Rocha proferiu importante discurso findo o qual declarou
inaugurada a estrada.
Depois
de inaugurada a estação e Extremoz partiu o trem para a cidade de Ceará-Mirim e
de lá a comitiva retornou a Natal as 16h30min.
A estação de Ceará-Mirim
A estação da cidade de Ceará-Mirim foi
inaugurada em 13 no km 39 da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.
O
município compreendia os distritos de Ceará-Mirim, Extremoz, Capela, Genipabu,
Carnaubal e Muriú. A paróquia dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Sede
comarca. Cultivava-se extraordinariamente a cana de açúcar. A população era de
26.000 habitantes e 796 eleitores.
A cidade sede do município, se situa a
margem direita do rio com o mesmo nome, foi elevada a esta categoria em
09/07/1882, tinha 680 casas, 2.720 habitantes.
Os distritos tinham a seguinte demografia:
Extremoz: 60 casas e 300 habitantes; Genipabu: 30 casas e 180 habitantes
aproximadamente; Jacumã: 42 casas e 220 habitantes; Muriú: 55 casas e 330
moradores; Queri: 31 casas e 150 moradores; Capela: 40 casas e 26 moradores e
Jacoca: 35 casas e 180 moradores.
O município possuía 2.800 km² de extensão.
Limitava-se a época com Touros ao norte, a leste com Oceano Atlântico, São
Gonçalo a sul e Taipu a oeste.
Economia
O
município era considerado o mais fértil do estado, onde se cultiva em grande
escala além da cana de açúcar, feijão, milho e algodão.
O
grande vale do Ceará-Mirim devidamente cultivado seria uma fonte perene de
recursos para os sertanejos nos tempos de calamidade, porém, havia grande falta
de investimentos, sobretudo de capitais, onde a lavoura se achava em verdadeira
penúria de longo tempos.
No vale
havia 51 engenhos onde se fabricavam açúcar, rapadura, mel e aguardente,
destes, 34 eram movidos a vapor e 17 por tração animal. Havia 100 casas de
farinha e uma fabrica de descaroçar algodão movido a vapor. O plantio de
cereais e outras culturas era feito em cerca de 400 roçados que em épocas de
invernos regulares a safra atingia a marca de 200 mil sacos, a de algodão 2.000
sacos, 2.000 de milho e feijão.
Com relação ao comércio havia a importação de
fazendas, ferragens e gêneros de estivas, com movimentação em torno de 300
contos. Existiam 35 estabelecimentos comerciais e uma fundição.
Estação Natal
Imagem original da estação Natal |
Imagem editada para mostrar melhor os detalhes da estação |
imagem original da estação Natal |
imagem editada da estação Natal |
A estação
Natal era a estação inicial da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte,
localizada na margem esquerda do rio Potengi, como visto nas imagens ela ficava
sobre um aterro que foi feito no mangue de onde partia o leito da ferrovia em
direção a então vila de Igapó ou Aldeia Velha como também era conhecida Igapó.
A estação Natal também era conhecida como estação da Pedra Preta, do Padre ou
Coroa.
A estação Natal foi inaugurada em 08.12.1890 conforme indica o jornal Gazeta de Natal, segundo o qual no ato da inauguração da Estrada de Ferro de Ceará-Mirim "a concorrência de povo e de cidadãos importantes à estação da Coroa foi enorme ou antes foi esplendida"( GAZETA DO NATAL, 1890,p.2), ainda segundo o mesmo jornal ali foi servido um "lauto almoço oferecido a todos os convivas que se dignaram assistir aquela ruidosa festa do trabalho, progresso e civilização"( GAZETA DO NATAL, 1890,p.2)
A estação Natal foi inaugurada em 08.12.1890 conforme indica o jornal Gazeta de Natal, segundo o qual no ato da inauguração da Estrada de Ferro de Ceará-Mirim "a concorrência de povo e de cidadãos importantes à estação da Coroa foi enorme ou antes foi esplendida"( GAZETA DO NATAL, 1890,p.2), ainda segundo o mesmo jornal ali foi servido um "lauto almoço oferecido a todos os convivas que se dignaram assistir aquela ruidosa festa do trabalho, progresso e civilização"( GAZETA DO NATAL, 1890,p.2)
Para fazer a travessia da margem esquerda para a
margem direita (cais da Tavares de Lira na Ribeira) a EFCRN adquiriu um balsa
onde eram feitos os traslados dos passageiros de uma margem a outra, assim como
as mercadorias.Essa situação vigorou até a inauguração da ponte de Igapó em 1916.
Estação Igapó
Imagem original da estação Igapó |
Imagem editada da estação Igapó. |
Segundo
o site http://www.estacoesferroviarias.com.br
a estação de Igapó foi inaugurada em
1915 localizada em terra firme no alto de uma colina na zona norte de Natal, no
entanto, o jornal A República já cita a estação da Aldeia Velha em 1907 como
parada da EFCRN (A REPÚBLICA, 1907, p.1), ou seja já havia uma estação no Igapó
anterior a 1915.
Ponte sobre o rio Salgado
Imagem original |
imagem editada |
Estação Extremoz
Imagem original |
Imagem editada. |
Como
visto a cima na inauguração da estação de Extremoz serviu-se uma mesa de finas
massas, doces, vinhos, champanhe, café etc” (DIÁRIO DO NATAL, 14/06/1906, p. 1).Na
imagem a cima vê-se que há apenas uma estrutura de cobertura em madeira sobre
uma plataforma onde se indica que não seria adequado servir um banquete no ato
da inauguração que contaria com a presença do presidente da República.
A conclusão que se chega é que se trata
de uma estação ‘provisória’, em construção anterior a inauguração de 13.06.1906.
Viaduto de Extremoz
Imagem original |
Imagem editada. |
O viaduto da EFCRN em Extremoz foi erguido no sangradouro da lagoa de Extremoz.Notem ao lado a caixa d'água onde eram abastecidos os trens de locomotiva a vapor e mais tarde com vagões que levavam água para o ser~toa em períodos de secas.A caixa d'água da EFCRN também a tendia a população de Extremoz que foi uma das primeiras localidades do interior do RN a ter um sistema de abastecimento de água feito pelo engenheiro Sampaio Correia da EFCRN com a intenção de se candidatar a deputado federal como de fato o foi e se elegeu.
Imagem original |
Imagem editada. |
Igualmente com a de Extremoz a
estação de Ceará-Mirim foi inaugurada em 13.06.1906.Notem que os trilhos e os
dormentes ainda estavam sendo colocados, de onde podemos concluir que se trata
de uma imagem anterior a inauguração.
[1] “do Ceará-Mirim” porque se
refere ao vale e não só a cidade, ou seja, a ferrovia seria para todo o vale do
rio Ceará-Mirim.
Belíssima informações, parabéns.
ResponderExcluirGrato Amaral.
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