segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A VIAGEM DE INSPEÇÃO NA ESTRADA DE FERRO NATAL A NOVA CRUZ EM 1881


Na memória da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz de hoje trazemos o relato a seguir trata da visita de inspeção realizada pelo então presidente da província do Rio Grande do Norte Sátiro de Oliveira Dias que desejou antes da inauguração da 1ª seção conhecer e examinar os trabalhos da estrada e os diversos vales e outros terrenos cortados pela mesma, assim como visitar as povoações que ficavam a margem.
Em 14 e 15/09/1881 o presidente da província Sátiro de Oliveira Dias acompanhado do engenheiro fiscal do Governo Imperial, Coelho Cintra e do superintendente da Companhia contratante da estrada de ferro Natal a Nova Cruz Jason Rigby, realizaram uma visita de inspeção para examinar os trabalhos de construção da ferrovia.
A excursão partiu as 07h00 do dia 14/09/1881 e regressou no dia 15 as 16h00.
        O presidente Sátiro de Oliveira Dias esteve na cidade de São José de Mipibu e nas vilas de Goianinha e Penha onde nesses lugares visitaram as escolas, igrejas, casa de Câmara e cadeia pública.
       Em São José de Mipibu encontrou um edifício apropriado para a escola e reunindo todas as condições de higiene e comodidade dos alunos, que são espaço, claridade e ventilação, sendo reparável que um edifício dessa ordem não tenha mobília correspondente, esse edifício foi uma doação a instrução pública do finado Barão de Mipibu.
      Achava-se também numa das salas do edifício uma biblioteca, que precisava ser animada.
         A igreja matriz de Mipibu era um edifício limpo e asseado e que demonstrava o zelo do seu vigário o cônego Lustosa.
Em São José o presidente Sátiro de Oliveira Dias demorou 4 horas onde também visitou a casa de câmara e cadeia, o mercado e a aula pública de latim e francês.
         Na visita a cadeia ouviu o chefe de policia a todos os presos em numero de 36 tomando notas de algumas reclamações para sobre elas providenciar.
A 13h20 tomou o presidente o trem com destino a vila de Goianinha, aonde chegou as 14h00 sendo recebido pelo juiz municipal, o vigário e outras pessoas gradas da localidade.
         Ali visitou a igreja matriz, o cemitério, a casa de câmara, a casa que servia de prisão e as escolas primárias de ambos os sexos, descansando depois na casa do juiz municipal onde lhe foi oferecido um delicado copo d´água.
         Já o jornal Diário de Pernambuco dizia que “em Goianinha e Penha nada havia que prendesse a atenção de quem visita aqueles lugares: péssimas cadeias, em que detentos achavam-se condenados a morte lenta, tal era o ar que ali se respirava”. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/09/1881, p.1-2).
         As 16h25 tomando o trem em direção a vila da Penha em cuja estação chegou depois das 17h00, tendo sido recebido pelo juiz de direito, juiz municipal, promotor público e outros cidadãos distintos.
       Depois de visitar a matriz em construção e a cadeia, não fazendo o mesmo nas escolas, descansou em casa do juiz de direito, que obsequiou com um lanche assim como as pessoas da comitiva.
         Da vila da Penha seguiu o presidente para o lugar denominado Piquiri, tomando o trem novamente as 18h30, chegando depois das 19h00 a Piquiri onde, pernoitou na casa do engenheiro encarregado dos trabalhos da última seção da estrada, depois de ser-lhe oferecida uma profusa ceia pela respectiva empresa.     
Nesse dia percorreu o presidente até o Piquiri 86 km de linha, sendo do Natal a São José 42 km de linha definitiva, de São José de Mipibu a Penha 38 km de linha provisória e da Penha a Piquiri 6 km de linha definitiva.
No dia seguinte as 08h00 da manhã tomou o presidente o trem num vagão puxado por uma pequena maquina e percorreu toda a linha em construção desde Piquiri até Lagoa de Montanha, na extensão de 18 a 20 km.
         Neste ponto do km 105 estavam os trabalhos de assentamento de trilhos achando-se preparado o resto do leito da estrada até Nova Cruz.
         Só ao meio-dia o presidente esteve de volta a Piquiri, pois teve que andar diversos pedaços da estrada a pé, como por exemplo a porção da ponte do Curimatau, que tem 42,5 metros de vão e era a mais importante de toda a linha.
         Nesta última parte da excursão o presidente foi acompanhado pelo representante da empresa o engenheiro Jason Rigby, pelo engenheiro da seção, pelo engenheiro fiscal Coelho Cintra e por outras poucas pessoas.
         De volta de Lagoa de Montanha seguiu o trem para Natal onde chegou as 16h00 tendo parado alguns minutos em São José de Mipibu para deixar o juiz de direito daquela comarca, o vigário Lustosa, o dr. Souto, o padre Vicente e outros cavalheiros que ali havia seguido em companhia do presidente.
         Nessa execução teve ocasião o presidente de ver a grande pedreira de onde estava sendo retirada toda a pedra para a construção da ponte que se tinha que se construir sobre o rio Curimatau e ficando satisfeito pro se ter empregado pedra de granito da província, a pedreira de onde se tirava a cantaria a ser empregada era abundante e diziam os entendidos ser melhor que a do Rio de Janeiro.
       Em todos os lugares percorridos foi o presidente recebido não pelas autoridades, como pelos habitantes dos lugares.
      A inauguração da ferrovia na seção que compreendia entre a capital e São José foi marcada para ocorrer no dia 28/09/1881.
        Segundo o jornal Reforma “a respectiva empresa tem sido solicita em empregar todos os meios para que se realize com o maior brilhantismo a festa da inauguração” (REFORMA 24/09/1881, p.4).
O presidente mostrou-se muito satisfeito com os trabalhos da estrada de ferro (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/09/1881, p.1).
    Consta que em consequência da visita do presidente foram tomadas diversas providências em beneficio das localidades percorridas, especialmente com relação as escolas e as prisões (REFORMA,24/09/1881, p.4).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A DESCOBERTA DO PETRÓLEO EM MACAU





“Numa das regiões mais desoladas da costa nordestina, a Petrobrás retomou as pesquisas abandonadas e encontrou a nova riqueza que transformar a vida de uma comunidade em declínio”.Era assim que a Revista Manchete destacava numa matéria sobre a descoberta do petróleo em Macau.
         Segundo a mesma revista a cidade de Macau, no litoral do Rio Grande do Norte, esperava o novo progresso com a descoberta do petróleo.O prefeito a época, José Heliodoro de Oliveira, já fazia planos de reurbanizar a cidade.
Na foto a plataforma de Barreiras, primeiro poço que poderá produzir até 945 barrias por dia.

Fonte: Revista Manchete, 1974,p.23.

         A descoberta de jazidas de petróleo na plataforma submarina do Rio Grande do Norte, exatamente a 15 km do porto salineiro de Macau, ocasionou a transformação completa da fisionomia da região.
         A época Macau era uma pequena cidade de 25.000 habitantes, estava em franca decadência econômica “naquele ritmo inexorável e lento das velhas comunidades coloniais ameaçadas pela morte” dizia a revista Manchete.
         Historicamente a economia macauense repousava a mais de 300 anos na exploração do sal marinho.

                                     Aspecto da praça principal de Macau
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.22.

Cercada pelas águas retidas em cristalizadores e pelas pirâmides brancas de sal, a velha cidade era vigiada permanentemente pelos cata-vento aposentados, que pareciam mal assombrados nas noites de lua cheia.

As primeiras descobertas
         Na década de 1950 quando uma conjuntura inesperada para a exploração do sal, os cabarés do final de ruas eram iluminados pelos faróis dos carros de aventureiros vindos do Recife, Fortaleza e Natal.
Naquela época (1974) o parque salineiro da região continuava sendo o maior do Brasil, produzindo 2/3 do total de sal consumido no país.Os depósitos das salinas de Macau representavam 95,6% da área do município e 65 % da população ativa trabalhavam na exploração ou no transporte do sal.”A descoberta do petróleo representa a nossa salvação, e estamos até pensado, desde já, traçar um plano-diretor para organizar racionalmente o crescimento de nossa cidade”, disse o então prefeito José Heliodoro de Oliveira.
         Macau esperou mais de 20 anos para confirmar a existência do petróleo na região. Em 1950, um obstinado pesquisador de recursos minerais, o professor Joel Dantas, iniciou experiências na área. ”retirei amostras de água de quase todas as residências da cidade, revelou Joel Dantas, mostrando os dedos queimados por 40 anos de pesquisas nos laboratórios, e em todas as amostras pude verificar um alto teor de hidorcabonetos.Um dia cheguei até a acender uma lamparina com o óleo extraído na costa vizinha.Houve gente que espalhou que eu era um maluco, dado a pratica diabólicas em cerimônias de bruxaria.O povo chegava a se benzer quando eu passava pela rua” disse Joel Dantas.
         Por volta de 1955, quando os caminhões constituíam novidades em Macau, a cidade recebeu a visita de uma equipe da Petrobrás. Eram 25 técnicos, a maioria dos quais estrangeiros e barbudos. A invasão daqueles estranhos cientistas pôs a cidade em alvoroço, e a boataria tomou conta das conversas de calçada, ao cair da noite.O único jornalista do lugar, João Bosco Afonso, redator de um boletim editado esporadicamente pela prefeitura, relembrava com pormenores os tempos de perfuração , e surgiram os primeiros 60 empregos.” Foi um festa, relembrou, Dilson de Oliveira Ciriaco, secretário de administração e único filho de Macau a trabalhar no escritório da Petrobras a época.Mas, quando o primeiro poço já se tinha atingido a profundidade de 1.050 metros, na localidade de Canto Comprido, a 14 km de Macau, os técnicos receberam instruções para suspender os trabalhos.”Houve uma imensa desolação entre os habitantes, contou  Bosco Afonso, e muita gente chegou a uma conclusão definitiva sobre o caso, dizendo que aquilo era coisa de norte-americano.
         Quando as equipes de prospecção receberam ordem, em 1956 para suspender as pesquisas, a população de Macau manifestou indignação.
         Passados 17 anos, a Petrobras voltou a realizar prospecções na região. ”Há muito tempo que temos petróleo debaixo de nossa terra, mas como não havia mais lideres, Macau foi perdendo importância” disse João Aquino da Silva, a época diretor proprietário do museu da cidade. ”quero ver o petróleo agora vai mudar a vida intelectual da comunidade, porque aqui ninguém respeita meu trabalho, e o atual prefeito já chegou até a mandar cortar a luz do museu por falta de pagamento”.

Em Barreiras
Em Barreiras, comunidade de pescadores que tinha a época 2.000 habitantes, só se ouvia perguntas e exclamações.
Ninguém sabia direito explicar a descoberta do petróleo .O subprefeito e único líder político da comunidade, Geraldo Magela Ferreira, explicava apenas que “petróleo é sinal de riqueza, e que agora as coisas vão melhorar por aqui”.Mas João Bosco criticava o clima de segredo que envolvia as pesquisas: “só conseguíamos noticias concretas sobre o petróleo quando os pescadores de lagosta que chegavam por perto da sonda voltavam dizendo que a água azul do mar estava ficando cada vez mais preta”.
Na plataforma da Barreiras, o óleo foi encontrado na formação Açu, a 2.435 metros de profundidade.O teste de avaliação mostrou que o volume inicial da produção comercial atingiria a 945 barris por dia.Em outro poço perfurado a 4.300 metro do primeiro, os peritos da Petrobras encontraram a 2.500 metros de profundidade, arenitos saturados de óleo.A capacidade inicial de produção deste segundo poço estava avaliada em 2.205 barris por dia.A 700 metros de distância desta plataforma um terceiro poço estava sendo perfurado.A plataforma de Barreiras estava equipada com 3 guindastes para a movimentação dos canos e uma heliponto.
         Cada sonda, com capacidade de atingir até 4.100 metros de profundidade, podia perfurar um poço no período de 30 dias.
         Em Natal, a confirmação da descoberta do petróleo de Macau levou o governador Cortez Pereira a criar um grupo de trabalho cuja a missão  seria de preparar a instalação de uma refinaria de petróleo no Rio Grande do Norte.O Brasil possuía 11 refinarias naquele ano de 1974 e Petrobras pretendia instalar mais uma no Nordeste, até 1975.esta refinaria se destinaria a atender toda a área compreendida entre o Maranhão e Alagoas.
Segundo um estudo da Federação das Industrias do Rio Grande do Norte-FIERN, o petróleo de Macau marcaria a arrancada definitiva para o desenvolvimento de toda a região.com a mecanização  das salinas e a consequente redução do numero de pessoas que ali tinham fonte de emprego, houve uma queda brusca no recolhimento do INPS , os bancos de Macau viram seus depósitos caírem verticalmente, o Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte-BANDERN fechou sua Carteira de Credito Agrícola e cerca de 15 comerciantes se deslocaram para outras cidades.
         Agora a descoberta do petróleo fez renascer as esperanças. O proprietário da boate Casarão, a única da cidade, já estava prometendo uma melhoria geral nas instalações e um novo serviço de som, “porque vai chegar gente de fora para se divertir”.E Geraldo Ferreira da Silva, proprietário do hotel e restaurante Rio Branco, o melhor da cidade, havia encomendado camas novas e ventiladores.”Quando vocês voltarem por aqui – promete ele solenemente - vão poder dormir direito, porque vou acabar com as muriçocas (pernilongos) e garanto que, de agora em diante, ninguém aqui se deita mais em rede”.
         A descoberta do petróleo naquela costa abandonada do Nordeste já estava começando a dar colorido diferente a paisagem desolada da antiga Capital do Sal.Os habitantes viviam agora um momento de enorme esperança, finalizou a citada revista.

  Apareceram na matéria da revista Manchete




        Aquino Silva, diretor do museu da cidade, garantia que “agora Macau para frente”.
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.25.
         

          João Bosco Afonso, o único jornalista de Macau a época da reportagem da revista Manchete.

Fonte: Revista Manchete, 1974, p.24.
       Prefeito de Macau em 1974 José Heliodoro de Oliveira, tinha um plano de reurbanização da cidade com a descoberta do petróleo.


Fonte: Revista, Manchete, 1974,p.22.


       Dilson Ciriaco, foio único funcionário nascido em Macau que trabalhava no escritório local da Petrobras, lembrava que os peritos tinham provas concretas da existência de petróleo na região.

Fonte: Revista Manchete, 1974,p.22.
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Referência:
Revista Manchete, Editora Bloch, Rio de Janeiro, 1974, p. 22-25.







quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O DIA EM QUE O MÁGICO FU-MANCHU ESTEVE EM NATAL



Quem danado era Fú-Manchú?
David Tobias Bamberg (*19/02/1904 Derby, Irlanda +19/08/1974, Buenos Aires, Argentina) foi um ilusionista britânico conhecido sob o pseudônimo de "Fu Manchu".
Seu show eram um sucesso desde o início de sua carreira. Com o tempo, suas produções se tornaram o espetáculo mais extravagante e excepcional do mundo. Fu-Manchú foi reconhecido em todo o mundo por seu show "Bazar de magia", que ele realizava com a presença de atores, acrobatas e mágicos conhecidos internacionalmente.

David Tobias Bamberg (Fú-Manchú)

O ato consistia em representar uma loja de magia, na qual um comprador solicitou vários efeitos mágicos, que foram feitos por Fu-Manchú.
Segundo o jornal A Ordem estava marcada para o dia 18/07/1948 a visita a Natal da Companhia de Ilusionismo que trazia como principal figura Fú-Manchú “mágico e ilusionista de fama mundial”, dizia o jornal.A apresentação seria realizada no Teatro Carlos Gomes, atual Alberto Maranhão.
O jornal fez questão de lembrar ao natalenses quem era o mágico que estaria ao vivo e em cores na capital potiguar.
        Conforme se lia no jornal A Ordem: Fú-Manchú, para que se tenha maior exatidão dos seus dotes artísticos, filmou ante as câmaras da cinematografia americana, 42 películas, tendo há pouco tempo exibido ao público natalense através do celulose em serie “os seis tambores de Fun Manchú”, rodada pelos projetores do Cine Teatro São Luiz.Portanto, já que os natalenses estão a par das atividades artitisco-cinematrográficas de Fú-Manchú presenciarão uma interessante sequência de espetáculos na ribalta do Teatro Carlos Gomes em que será figura central das exibições o ilusionista Fú-Manchú em carne e osso (a ordem, 10/06/1948,p.8).

A Chegada a Natal
         Pelo trem interestadual da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte de 05/07/1948 procedente de João Pessoa chegou a Natal a Companhia de Maravilhas de Fú-Manchú para apresentação no Teatro Carlos Gomes na capital potiguar tendo como espetáculo de abertura da temporada a fantasia “O dragão de fogo” no qual tomariam parte além de Fú-Manchú, com números de ilusionismo, um elenco de, aparecendo a figura de Micalé, cômico que tem uma série de películas na cinematografia americana. ( a ordem, 06/07/1948,p.8).
         Não encontramos nada a respeito da apresentação realizada no teatro Carlos Gomes.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

UMA CIDADE REVOLTADA COM O ROUBO DAS IMAGENS


O caso ocorrido na pequena cidade de Vila Flor, situada a 10 km de Canguaretama e 90 km de Natal, é digno daqueles roteiros de filme que misturam suspense, mistérios e drama.
Trata-se do fato da população que estava revoltada com o sumiço misterioso das 3 imagens  de santos da igreja local, inclusive  a da padroeira Nossa Senhora do Desterro.
         As outras imagens roubadas foram as de Nossa Senhora do Rosário e São Joaquim, tendo os ladrões deixado o templo praticamente vazio, o que levou a população a tomar a decisão de conjunta de ninguém trabalhar para forçar a tomada de providencias enérgicas das autoridades competentes.
        A medida levou o prefeito, Cristovão Fagundes a distribuir uma nota oficial repudiando o roubo e apelando no sentido de que o crime fosse reparado, a fim de ser preservado o sentimento de religiosidade que estreitava a comunidade inteira, abençoando e conduzindo-a aos seus caminhos de progresso e de paz.
       Também o Sr. Osvaldo de Souza, representante do Patrimônio Histórico no Rio Grande do Norte informou que as imagens não estavam tombadas, sendo que apenas a antiga Casa  da Câmara e Cadeia pertenciam ao IPHAN, disse ainda que o roubo das imagens era uma constatação de negligência do próprio  povo de Vila Flor, como também do vigário de Canguaretama, a quem pertencia a capela, que era cuidada por uma moradora da localidade.
      Disse também que se imagens fossem do século XVIII e no estilo barroco, deviam valer uma fortuna (naquela época os ladrões de imagens sacras constituíam verdadeiras quadrilhas especializadas em furtar santos de valor histórico inestimáveis e conhecedoras dos valores das peças roubadas).

A movimentação em Vila Flor
         O repicar de sinos foi o primeiro ato dos protestos da população, que estava disposta mobilizar todas as forças para recuperar as imagens centenárias. Depois foi realizada reuniões, enquanto vários telegramas eram expedidos a todas as autoridades do Rio Grande do Norte solicitando providências.
        A baixo Dom Nivaldo Monte  (ao centro de terno) e o padre Pedro a direita.O arcebispo metropolitano de Natal foi a Vila Flor tentar acalmar os ânimos da população mas só encontrou um clima de hostilidade para com o padre Pedro acusado pelo roubo das imagens junto com a freira alemã.Ao fundo a igreja de Vila Flor do século VXIII de onde as imagens foram roubadas.


         Em Vila Flor compareceram imediatamente o arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte e o tenente Belmiro de Medeiros, delegado da DIRFD e o próprio padre José Pedro, este estava sendo acusado pelo povo de ter participado doa to criminoso que provocou a movimentação fora do comum no pacato vilarejo de Vila Flor.
         Uma grande multidão de homens, mulheres e crianças se concentravam em frente a igreja do século XVII chegando mesmo a ameaçar o vigário José Pedro ,  a quem foram dirigidas palavras hostis por alguns mais revoltados, “esse padre só não apanha porque veio em companhia do bispo” dizia o povo.
Consciência tranquila
         O padre José Pedro, de 35 anos, que estava sendo acusado juntamente com a freira alemã Ana Elizabeth Lenzie, de 40 anos, pelo roubo das imagens, afirmava por sua vez que a verdade haveria de surgir, para então o  povo de Vila Flor verificar como foi ingrato para com ele, porém o  padre afirmava que não desejava o mal aqueles moradores pois o importante era perdoar sempre.
      Ele dizia ainda que o arcebispo iria tomar as providências e durante muito tempo de frequentar a igreja de Vila Flor quase como um castigo, pois o povo de teria que se deslocar até Canguaretama para assistir atos religiosos e dizia ainda que estava com a consciência tranquila.
      Também a freira declarava ser um absurdo e não tinha nada a dizer sobre as acusações infundas e maldosas.
     Um dos fatores que fez a população de Vila Flor acreditar que a missionária alemã estivesse envolvida no desaparecimento das imagens foi que ela, em visita a igreja, se entusiasmou muito com a beleza dos santos, examinando-os detalhadamente e revelando que eram de grande valor artístico.
      Comentava-se ainda que o padre  José Pedro estaria conivente com a freira.Também na madrugada do roubo foi ouvido barulho de Volks nas proximidades  da igreja sendo que a freira realmente possuía um automóvel da mesma marca, por sua vez o Sr. João Felinto, suplente do delegado afirmava ter sido apenas a freira a autora material ou intelectual da imagens.Corroborava para essa afirmação do delegado o fato de que há alguns dias antes ela esteve na cidade em companhia de um senhor de barba e os dois ficaram entusiasmados com as imagens.
      O roubo foi percebido quando a zeladora Lindalva de Oliveira abriu a igreja a pedido de uma mulher que desejava pagar uma promessa. O alarme foi dado e mais 80 homens queria caminhar até a cidade de Canguaretama,onde morava o padre e a catequista acusados para vasculhar  as casas dos dois.Com muito esforço, no entanto, o prefeito conseguiu demover dessa intenção.
     Em Vila Flor o clima era de tensão e revolta que aumentava a medida que se aproximava a data da festa da Padroeira no dia 12 de fevereiro, pois as imagens foram roubadas quando o município se preparava para o acontecimento cujos os planos foram mudados.
       E o pior é que já se tinha um clima de guerra santa entre a população de Vila Flor e Canguaretama, pois o povo desta cidade estaria disposto a levar o padre José Pedro até a primeira arrumado para rezar uma missa, afirmando que o vigário não seria molestado.Mas o povo de Vila Flor garantia por sua vez, que se os moradores de Canguaretama realmente fizessem essa provocação  seriam recebidos com pancadaria.
         Ante a eminência de surgir um atrito de graves consequências  entre as populações das duas cidades, o tenente Belmiro Medeiros da DRPR deslocou-se novamente para a região,onde procurou sanar os ânimos  dos exaltados e conseguir uma solução pacifica para o impasse.Para tanto, ele prometia que as diligencias seriam realizadas com rigor.
       Mas no semblante de cada um dos moradores de Vila Flor notava-se a profunda tristeza de que todos estavam tomados, querendo as imagens de volta, pois acreditavam que era a própria segurança da localidade e que sem elas haveria seca, miséria e sofrimento.
        O clima era tenso naqueles dias de janeiro e fevereiro de 1972 na pacata Vila Flor, que havia renascido das cinzas depois de ter sido suprimida como município e permanecer mais de um século como distrito de Canguaretama. Seus pouco mais de 2.000 habitantes a época viram de repente suas vidas transformadas bruscamente pelo sumiço das imagens e colocar a cidade nas primeiras páginas dos jornais locais e nacionais.
Epilogo
         As imagens nunca foram recuperadas.O caso jamais foi solucionado.O padre José Pedro da Silva algum tempo depois deixou o sacerdócio, casou e exerceu o cargo de secretário de educação em Macaíba.A irmã retornou a Alemanha.
         O roteiro do filme já está feito, basta alguém querer produzi-lo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

NATAL NA DÉCADA DE 1950


   A seguir algumas imagens extraídas das revistas Careta de 1954 e 1956 e Manchete de 1957 que mostram aspectos de Natal nos referidos anos.

    A Avenida Getúlio Vargas, atualmente chamada de Ladeira do Sol
Fonte: Careta, 1954.
     A imponência da Maternidade de Natal, atual Maternidade Januário Cicco perdida em meio aos sítios que existiam no bairro do Tirol em 1954.
Fonte: Careta,1954.
        O prédio do Hospital Miguel Couto, atual Onofre Lopes, servia também de hotel em Natal onde lá havia os melhores quartos para se hospedar na capital potiguar.
Fonte: Careta,1956.
       O porto de Natal as margens do rio Potengi visto do mirante do cruzeiro em frente a igreja de Nossa Senhora do Rosário na Cidade Alta.
Fonte: Careta, 1956.
    A sede do Instituto de Proteção a Infância de Natal, atual Hospital Infantil Varela Santiago, situado na Avenida Deodoro da Fonseca no centro.
Fonte: Careta, 1954.
       O Paço da Pátria (ou seria Passo da Pátria?) o antigo porto de desembargue de passageiros que chagavam a capital potiguar por navios ou hidroaviões que ancoravam no rio Potengi.Já apresentava sinais de decadência e miséria em 1956 segundo o escritor Humberto Peregrino em crônica sobre a cidade de Natal na revista Careta em 1956.
Fonte: Careta, 1956.
 A avenida circular na Praia do Meio.
Fonte: Careta, 1956.
       O forte dos Reis Magos com o frontão de entrada e o farol que lá havia.
Fonte: Careta, 1954.
   As famosas lavadeiras da Quintas lavando as roupas no riacho que cortava aquele bairro, atualmente o riacho da Quintas foi reduzido a um canal de esgotos.
Fonte: revista Manchete, 1957.

  Continuação da foto anterior que mostrava as roupas estendidas nas margens do riacho das Quintas.
Fonte: Revista Manchete, 1957.