Na memória da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz de hoje trazemos o relato a seguir trata da visita de inspeção realizada pelo então presidente da província
do Rio Grande do Norte Sátiro de Oliveira Dias que desejou antes da inauguração
da 1ª seção conhecer e examinar os trabalhos da estrada e os diversos vales e
outros terrenos cortados pela mesma, assim como visitar as povoações que ficavam
a margem.
Em
14 e 15/09/1881 o presidente da província Sátiro de Oliveira Dias acompanhado
do engenheiro fiscal do Governo Imperial, Coelho Cintra e do superintendente da
Companhia contratante da estrada de ferro Natal a Nova Cruz Jason Rigby,
realizaram uma visita de inspeção para examinar os trabalhos de construção da
ferrovia.
A
excursão partiu as 07h00 do dia 14/09/1881 e regressou no dia 15 as 16h00.
O presidente Sátiro de Oliveira Dias
esteve na cidade de São José de Mipibu e nas vilas de Goianinha e Penha onde
nesses lugares visitaram as escolas, igrejas, casa de Câmara e cadeia pública.
Em São José de Mipibu encontrou um edifício
apropriado para a escola e reunindo todas as condições de higiene e comodidade
dos alunos, que são espaço, claridade e ventilação, sendo reparável que um edifício
dessa ordem não tenha mobília correspondente, esse edifício foi uma doação a
instrução pública do finado Barão de Mipibu.
Achava-se também numa das salas do edifício
uma biblioteca, que precisava ser animada.
A igreja matriz de Mipibu era um edifício
limpo e asseado e que demonstrava o zelo do seu vigário o cônego Lustosa.
Em
São José o presidente Sátiro de Oliveira Dias demorou 4 horas onde também visitou
a casa de câmara e cadeia, o mercado e a aula pública de latim e francês.
Na visita a cadeia ouviu o chefe de
policia a todos os presos em numero de 36 tomando notas de algumas reclamações
para sobre elas providenciar.
A
13h20 tomou o presidente o trem com destino a vila de Goianinha, aonde chegou
as 14h00 sendo recebido pelo juiz municipal, o vigário e outras pessoas gradas
da localidade.
Ali visitou a igreja matriz, o
cemitério, a casa de câmara, a casa que servia de prisão e as escolas primárias
de ambos os sexos, descansando depois na casa do juiz municipal onde lhe foi
oferecido um delicado copo d´água.
Já o jornal Diário de Pernambuco dizia
que “em Goianinha e Penha nada havia que prendesse a atenção de quem visita
aqueles lugares: péssimas cadeias, em que detentos achavam-se condenados a
morte lenta, tal era o ar que ali se respirava”. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO,
26/09/1881, p.1-2).
As 16h25 tomando o trem em direção a
vila da Penha em cuja estação chegou depois das 17h00, tendo sido recebido pelo
juiz de direito, juiz municipal, promotor público e outros cidadãos distintos.
Depois de visitar a matriz em
construção e a cadeia, não fazendo o mesmo nas escolas, descansou em casa do
juiz de direito, que obsequiou com um lanche assim como as pessoas da comitiva.
Da vila da Penha seguiu o presidente
para o lugar denominado Piquiri, tomando o trem novamente as 18h30, chegando
depois das 19h00 a Piquiri onde, pernoitou na casa do engenheiro encarregado
dos trabalhos da última seção da estrada, depois de ser-lhe oferecida uma
profusa ceia pela respectiva empresa.
Nesse
dia percorreu o presidente até o Piquiri 86 km de linha, sendo do Natal a São
José 42 km de linha definitiva, de São José de Mipibu a Penha 38 km de linha
provisória e da Penha a Piquiri 6 km de linha definitiva.
No
dia seguinte as 08h00 da manhã tomou o presidente o trem num vagão puxado por
uma pequena maquina e percorreu toda a linha em construção desde Piquiri até
Lagoa de Montanha, na extensão de 18 a 20 km.
Neste ponto do km 105 estavam os
trabalhos de assentamento de trilhos achando-se preparado o resto do leito da
estrada até Nova Cruz.
Só ao meio-dia o presidente esteve de
volta a Piquiri, pois teve que andar diversos pedaços da estrada a pé, como por
exemplo a porção da ponte do Curimatau, que tem 42,5 metros de vão e era a mais
importante de toda a linha.
Nesta última parte da excursão o
presidente foi acompanhado pelo representante da empresa o engenheiro Jason
Rigby, pelo engenheiro da seção, pelo engenheiro fiscal Coelho Cintra e por
outras poucas pessoas.
De volta de Lagoa de Montanha seguiu o
trem para Natal onde chegou as 16h00 tendo parado alguns minutos em São José de
Mipibu para deixar o juiz de direito daquela comarca, o vigário Lustosa, o dr.
Souto, o padre Vicente e outros cavalheiros que ali havia seguido em companhia
do presidente.
Nessa execução teve ocasião o
presidente de ver a grande pedreira de onde estava sendo retirada toda a pedra
para a construção da ponte que se tinha que se construir sobre o rio Curimatau
e ficando satisfeito pro se ter empregado pedra de granito da província, a
pedreira de onde se tirava a cantaria a ser empregada era abundante e diziam os
entendidos ser melhor que a do Rio de Janeiro.
Em todos os lugares percorridos foi o
presidente recebido não pelas autoridades, como pelos habitantes dos lugares.
A inauguração da ferrovia na seção que
compreendia entre a capital e São José foi marcada para ocorrer no dia 28/09/1881.
Segundo o jornal Reforma “a respectiva
empresa tem sido solicita em empregar todos os meios para que se realize com o
maior brilhantismo a festa da inauguração” (REFORMA 24/09/1881, p.4).
O
presidente mostrou-se muito satisfeito com os trabalhos da estrada de ferro (DIÁRIO
DE PERNAMBUCO, 26/09/1881, p.1).
Consta que em consequência da visita do
presidente foram tomadas diversas providências em beneficio das localidades
percorridas, especialmente com relação as escolas e as prisões (REFORMA,24/09/1881,
p.4).
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