segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A VIAGEM DE INSPEÇÃO NA ESTRADA DE FERRO NATAL A NOVA CRUZ EM 1881


Na memória da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz de hoje trazemos o relato a seguir trata da visita de inspeção realizada pelo então presidente da província do Rio Grande do Norte Sátiro de Oliveira Dias que desejou antes da inauguração da 1ª seção conhecer e examinar os trabalhos da estrada e os diversos vales e outros terrenos cortados pela mesma, assim como visitar as povoações que ficavam a margem.
Em 14 e 15/09/1881 o presidente da província Sátiro de Oliveira Dias acompanhado do engenheiro fiscal do Governo Imperial, Coelho Cintra e do superintendente da Companhia contratante da estrada de ferro Natal a Nova Cruz Jason Rigby, realizaram uma visita de inspeção para examinar os trabalhos de construção da ferrovia.
A excursão partiu as 07h00 do dia 14/09/1881 e regressou no dia 15 as 16h00.
        O presidente Sátiro de Oliveira Dias esteve na cidade de São José de Mipibu e nas vilas de Goianinha e Penha onde nesses lugares visitaram as escolas, igrejas, casa de Câmara e cadeia pública.
       Em São José de Mipibu encontrou um edifício apropriado para a escola e reunindo todas as condições de higiene e comodidade dos alunos, que são espaço, claridade e ventilação, sendo reparável que um edifício dessa ordem não tenha mobília correspondente, esse edifício foi uma doação a instrução pública do finado Barão de Mipibu.
      Achava-se também numa das salas do edifício uma biblioteca, que precisava ser animada.
         A igreja matriz de Mipibu era um edifício limpo e asseado e que demonstrava o zelo do seu vigário o cônego Lustosa.
Em São José o presidente Sátiro de Oliveira Dias demorou 4 horas onde também visitou a casa de câmara e cadeia, o mercado e a aula pública de latim e francês.
         Na visita a cadeia ouviu o chefe de policia a todos os presos em numero de 36 tomando notas de algumas reclamações para sobre elas providenciar.
A 13h20 tomou o presidente o trem com destino a vila de Goianinha, aonde chegou as 14h00 sendo recebido pelo juiz municipal, o vigário e outras pessoas gradas da localidade.
         Ali visitou a igreja matriz, o cemitério, a casa de câmara, a casa que servia de prisão e as escolas primárias de ambos os sexos, descansando depois na casa do juiz municipal onde lhe foi oferecido um delicado copo d´água.
         Já o jornal Diário de Pernambuco dizia que “em Goianinha e Penha nada havia que prendesse a atenção de quem visita aqueles lugares: péssimas cadeias, em que detentos achavam-se condenados a morte lenta, tal era o ar que ali se respirava”. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/09/1881, p.1-2).
         As 16h25 tomando o trem em direção a vila da Penha em cuja estação chegou depois das 17h00, tendo sido recebido pelo juiz de direito, juiz municipal, promotor público e outros cidadãos distintos.
       Depois de visitar a matriz em construção e a cadeia, não fazendo o mesmo nas escolas, descansou em casa do juiz de direito, que obsequiou com um lanche assim como as pessoas da comitiva.
         Da vila da Penha seguiu o presidente para o lugar denominado Piquiri, tomando o trem novamente as 18h30, chegando depois das 19h00 a Piquiri onde, pernoitou na casa do engenheiro encarregado dos trabalhos da última seção da estrada, depois de ser-lhe oferecida uma profusa ceia pela respectiva empresa.     
Nesse dia percorreu o presidente até o Piquiri 86 km de linha, sendo do Natal a São José 42 km de linha definitiva, de São José de Mipibu a Penha 38 km de linha provisória e da Penha a Piquiri 6 km de linha definitiva.
No dia seguinte as 08h00 da manhã tomou o presidente o trem num vagão puxado por uma pequena maquina e percorreu toda a linha em construção desde Piquiri até Lagoa de Montanha, na extensão de 18 a 20 km.
         Neste ponto do km 105 estavam os trabalhos de assentamento de trilhos achando-se preparado o resto do leito da estrada até Nova Cruz.
         Só ao meio-dia o presidente esteve de volta a Piquiri, pois teve que andar diversos pedaços da estrada a pé, como por exemplo a porção da ponte do Curimatau, que tem 42,5 metros de vão e era a mais importante de toda a linha.
         Nesta última parte da excursão o presidente foi acompanhado pelo representante da empresa o engenheiro Jason Rigby, pelo engenheiro da seção, pelo engenheiro fiscal Coelho Cintra e por outras poucas pessoas.
         De volta de Lagoa de Montanha seguiu o trem para Natal onde chegou as 16h00 tendo parado alguns minutos em São José de Mipibu para deixar o juiz de direito daquela comarca, o vigário Lustosa, o dr. Souto, o padre Vicente e outros cavalheiros que ali havia seguido em companhia do presidente.
         Nessa execução teve ocasião o presidente de ver a grande pedreira de onde estava sendo retirada toda a pedra para a construção da ponte que se tinha que se construir sobre o rio Curimatau e ficando satisfeito pro se ter empregado pedra de granito da província, a pedreira de onde se tirava a cantaria a ser empregada era abundante e diziam os entendidos ser melhor que a do Rio de Janeiro.
       Em todos os lugares percorridos foi o presidente recebido não pelas autoridades, como pelos habitantes dos lugares.
      A inauguração da ferrovia na seção que compreendia entre a capital e São José foi marcada para ocorrer no dia 28/09/1881.
        Segundo o jornal Reforma “a respectiva empresa tem sido solicita em empregar todos os meios para que se realize com o maior brilhantismo a festa da inauguração” (REFORMA 24/09/1881, p.4).
O presidente mostrou-se muito satisfeito com os trabalhos da estrada de ferro (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/09/1881, p.1).
    Consta que em consequência da visita do presidente foram tomadas diversas providências em beneficio das localidades percorridas, especialmente com relação as escolas e as prisões (REFORMA,24/09/1881, p.4).

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