“Numa
das regiões mais desoladas da costa nordestina, a Petrobrás retomou as
pesquisas abandonadas e encontrou a nova riqueza que transformar a vida de uma
comunidade em declínio”.Era assim que a Revista Manchete destacava numa matéria
sobre a descoberta do petróleo em Macau.
Segundo a mesma revista a cidade de
Macau, no litoral do Rio Grande do Norte, esperava o novo progresso com a
descoberta do petróleo.O prefeito a época, José Heliodoro de Oliveira, já fazia
planos de reurbanizar a cidade.
Na
foto a plataforma de Barreiras, primeiro poço que poderá produzir até 945
barrias por dia.
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.23. |
A descoberta de jazidas de petróleo na
plataforma submarina do Rio Grande do Norte, exatamente a 15 km do porto
salineiro de Macau, ocasionou a transformação completa da fisionomia da região.
A época Macau era uma pequena cidade de
25.000 habitantes, estava em franca decadência econômica “naquele ritmo inexorável
e lento das velhas comunidades coloniais ameaçadas pela morte” dizia a revista
Manchete.
Historicamente a economia macauense
repousava a mais de 300 anos na exploração do sal marinho.
Aspecto da praça principal de Macau
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.22. |
Cercada
pelas águas retidas em cristalizadores e pelas pirâmides brancas de sal, a
velha cidade era vigiada permanentemente pelos cata-vento aposentados, que
pareciam mal assombrados nas noites de lua cheia.
As primeiras descobertas
Na década de 1950 quando uma conjuntura
inesperada para a exploração do sal, os cabarés do final de ruas eram
iluminados pelos faróis dos carros de aventureiros vindos do Recife, Fortaleza
e Natal.
Naquela
época (1974) o parque salineiro da região continuava sendo o maior do Brasil,
produzindo 2/3 do total de sal consumido no país.Os depósitos das salinas de
Macau representavam 95,6% da área do município e 65 % da população ativa
trabalhavam na exploração ou no transporte do sal.”A descoberta do petróleo representa
a nossa salvação, e estamos até pensado, desde já, traçar um plano-diretor para
organizar racionalmente o crescimento de nossa cidade”, disse o então prefeito
José Heliodoro de Oliveira.
Macau esperou mais de 20 anos para
confirmar a existência do petróleo na região. Em 1950, um obstinado pesquisador
de recursos minerais, o professor Joel Dantas, iniciou experiências na área. ”retirei
amostras de água de quase todas as residências da cidade, revelou Joel Dantas,
mostrando os dedos queimados por 40 anos de pesquisas nos laboratórios, e em
todas as amostras pude verificar um alto teor de hidorcabonetos.Um dia cheguei
até a acender uma lamparina com o óleo extraído na costa vizinha.Houve gente
que espalhou que eu era um maluco, dado a pratica diabólicas em cerimônias de
bruxaria.O povo chegava a se benzer quando eu passava pela rua” disse Joel
Dantas.
Por volta de 1955, quando os caminhões constituíam
novidades em Macau, a cidade recebeu a visita de uma equipe da Petrobrás. Eram
25 técnicos, a maioria dos quais estrangeiros e barbudos. A invasão daqueles
estranhos cientistas pôs a cidade em alvoroço, e a boataria tomou conta das
conversas de calçada, ao cair da noite.O único jornalista do lugar, João Bosco
Afonso, redator de um boletim editado esporadicamente pela prefeitura,
relembrava com pormenores os tempos de perfuração , e surgiram os primeiros 60
empregos.” Foi um festa, relembrou, Dilson de Oliveira Ciriaco, secretário de administração
e único filho de Macau a trabalhar no escritório da Petrobras a época.Mas,
quando o primeiro poço já se tinha atingido a profundidade de 1.050 metros, na
localidade de Canto Comprido, a 14 km de Macau, os técnicos receberam
instruções para suspender os trabalhos.”Houve uma imensa desolação entre os
habitantes, contou Bosco Afonso, e muita
gente chegou a uma conclusão definitiva sobre o caso, dizendo que aquilo era
coisa de norte-americano.
Quando as equipes de prospecção
receberam ordem, em 1956 para suspender as pesquisas, a população de Macau
manifestou indignação.
Passados 17 anos, a Petrobras voltou a
realizar prospecções na região. ”Há muito tempo que temos petróleo debaixo de
nossa terra, mas como não havia mais lideres, Macau foi perdendo importância”
disse João Aquino da Silva, a época diretor proprietário do museu da cidade. ”quero
ver o petróleo agora vai mudar a vida intelectual da comunidade, porque aqui ninguém
respeita meu trabalho, e o atual prefeito já chegou até a mandar cortar a luz
do museu por falta de pagamento”.
Em Barreiras
Em
Barreiras, comunidade de pescadores que tinha a época 2.000 habitantes, só se
ouvia perguntas e exclamações.
Ninguém
sabia direito explicar a descoberta do petróleo .O subprefeito e único líder político
da comunidade, Geraldo Magela Ferreira, explicava apenas que “petróleo é sinal
de riqueza, e que agora as coisas vão melhorar por aqui”.Mas João Bosco
criticava o clima de segredo que envolvia as pesquisas: “só conseguíamos noticias
concretas sobre o petróleo quando os pescadores de lagosta que chegavam por
perto da sonda voltavam dizendo que a água azul do mar estava ficando cada vez
mais preta”.
Na
plataforma da Barreiras, o óleo foi encontrado na formação Açu, a 2.435 metros
de profundidade.O teste de avaliação mostrou que o volume inicial da produção
comercial atingiria a 945 barris por dia.Em outro poço perfurado a 4.300 metro
do primeiro, os peritos da Petrobras encontraram a 2.500 metros de
profundidade, arenitos saturados de óleo.A capacidade inicial de produção deste
segundo poço estava avaliada em 2.205 barris por dia.A 700 metros de distância
desta plataforma um terceiro poço estava sendo perfurado.A plataforma de
Barreiras estava equipada com 3 guindastes para a movimentação dos canos e uma
heliponto.
Cada sonda, com capacidade de atingir
até 4.100 metros de profundidade, podia perfurar um poço no período de 30 dias.
Em Natal, a confirmação da descoberta
do petróleo de Macau levou o governador Cortez Pereira a criar um grupo de
trabalho cuja a missão seria de preparar
a instalação de uma refinaria de petróleo no Rio Grande do Norte.O Brasil possuía
11 refinarias naquele ano de 1974 e Petrobras pretendia instalar mais uma no
Nordeste, até 1975.esta refinaria se destinaria a atender toda a área compreendida
entre o Maranhão e Alagoas.
Segundo
um estudo da Federação das Industrias do Rio Grande do Norte-FIERN, o petróleo de
Macau marcaria a arrancada definitiva para o desenvolvimento de toda a
região.com a mecanização das salinas e a
consequente redução do numero de pessoas que ali tinham fonte de emprego, houve
uma queda brusca no recolhimento do INPS , os bancos de Macau viram seus depósitos
caírem verticalmente, o Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte-BANDERN
fechou sua Carteira de Credito Agrícola e cerca de 15 comerciantes se deslocaram
para outras cidades.
Agora a descoberta do petróleo fez
renascer as esperanças. O proprietário da boate Casarão, a única da cidade, já
estava prometendo uma melhoria geral nas instalações e um novo serviço de som, “porque
vai chegar gente de fora para se divertir”.E Geraldo Ferreira da Silva, proprietário
do hotel e restaurante Rio Branco, o melhor da cidade, havia encomendado camas
novas e ventiladores.”Quando vocês voltarem por aqui – promete ele solenemente -
vão poder dormir direito, porque vou acabar com as muriçocas (pernilongos) e
garanto que, de agora em diante, ninguém aqui se deita mais em rede”.
A descoberta do petróleo naquela costa
abandonada do Nordeste já estava começando a dar colorido diferente a paisagem
desolada da antiga Capital do Sal.Os habitantes viviam agora um momento de
enorme esperança, finalizou a citada revista.
Aquino Silva, diretor do
museu da cidade, garantia que “agora Macau para frente”.
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.25. |
João Bosco Afonso, o único jornalista de Macau a época da reportagem da revista Manchete.
Fonte: Revista Manchete, 1974, p.24. |
Prefeito de Macau em 1974 José Heliodoro de Oliveira, tinha um plano de reurbanização da cidade com a descoberta do petróleo.
Fonte: Revista, Manchete, 1974,p.22. |
Dilson Ciriaco, foio único funcionário nascido em Macau que trabalhava no escritório local da Petrobras, lembrava que os peritos tinham provas concretas da existência de petróleo na região.
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.22. |
_____________________
Referência:
Revista Manchete, Editora Bloch, Rio de Janeiro, 1974, p. 22-25.
Nenhum comentário:
Postar um comentário