sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A DESCOBERTA DO PETRÓLEO EM MACAU





“Numa das regiões mais desoladas da costa nordestina, a Petrobrás retomou as pesquisas abandonadas e encontrou a nova riqueza que transformar a vida de uma comunidade em declínio”.Era assim que a Revista Manchete destacava numa matéria sobre a descoberta do petróleo em Macau.
         Segundo a mesma revista a cidade de Macau, no litoral do Rio Grande do Norte, esperava o novo progresso com a descoberta do petróleo.O prefeito a época, José Heliodoro de Oliveira, já fazia planos de reurbanizar a cidade.
Na foto a plataforma de Barreiras, primeiro poço que poderá produzir até 945 barrias por dia.

Fonte: Revista Manchete, 1974,p.23.

         A descoberta de jazidas de petróleo na plataforma submarina do Rio Grande do Norte, exatamente a 15 km do porto salineiro de Macau, ocasionou a transformação completa da fisionomia da região.
         A época Macau era uma pequena cidade de 25.000 habitantes, estava em franca decadência econômica “naquele ritmo inexorável e lento das velhas comunidades coloniais ameaçadas pela morte” dizia a revista Manchete.
         Historicamente a economia macauense repousava a mais de 300 anos na exploração do sal marinho.

                                     Aspecto da praça principal de Macau
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.22.

Cercada pelas águas retidas em cristalizadores e pelas pirâmides brancas de sal, a velha cidade era vigiada permanentemente pelos cata-vento aposentados, que pareciam mal assombrados nas noites de lua cheia.

As primeiras descobertas
         Na década de 1950 quando uma conjuntura inesperada para a exploração do sal, os cabarés do final de ruas eram iluminados pelos faróis dos carros de aventureiros vindos do Recife, Fortaleza e Natal.
Naquela época (1974) o parque salineiro da região continuava sendo o maior do Brasil, produzindo 2/3 do total de sal consumido no país.Os depósitos das salinas de Macau representavam 95,6% da área do município e 65 % da população ativa trabalhavam na exploração ou no transporte do sal.”A descoberta do petróleo representa a nossa salvação, e estamos até pensado, desde já, traçar um plano-diretor para organizar racionalmente o crescimento de nossa cidade”, disse o então prefeito José Heliodoro de Oliveira.
         Macau esperou mais de 20 anos para confirmar a existência do petróleo na região. Em 1950, um obstinado pesquisador de recursos minerais, o professor Joel Dantas, iniciou experiências na área. ”retirei amostras de água de quase todas as residências da cidade, revelou Joel Dantas, mostrando os dedos queimados por 40 anos de pesquisas nos laboratórios, e em todas as amostras pude verificar um alto teor de hidorcabonetos.Um dia cheguei até a acender uma lamparina com o óleo extraído na costa vizinha.Houve gente que espalhou que eu era um maluco, dado a pratica diabólicas em cerimônias de bruxaria.O povo chegava a se benzer quando eu passava pela rua” disse Joel Dantas.
         Por volta de 1955, quando os caminhões constituíam novidades em Macau, a cidade recebeu a visita de uma equipe da Petrobrás. Eram 25 técnicos, a maioria dos quais estrangeiros e barbudos. A invasão daqueles estranhos cientistas pôs a cidade em alvoroço, e a boataria tomou conta das conversas de calçada, ao cair da noite.O único jornalista do lugar, João Bosco Afonso, redator de um boletim editado esporadicamente pela prefeitura, relembrava com pormenores os tempos de perfuração , e surgiram os primeiros 60 empregos.” Foi um festa, relembrou, Dilson de Oliveira Ciriaco, secretário de administração e único filho de Macau a trabalhar no escritório da Petrobras a época.Mas, quando o primeiro poço já se tinha atingido a profundidade de 1.050 metros, na localidade de Canto Comprido, a 14 km de Macau, os técnicos receberam instruções para suspender os trabalhos.”Houve uma imensa desolação entre os habitantes, contou  Bosco Afonso, e muita gente chegou a uma conclusão definitiva sobre o caso, dizendo que aquilo era coisa de norte-americano.
         Quando as equipes de prospecção receberam ordem, em 1956 para suspender as pesquisas, a população de Macau manifestou indignação.
         Passados 17 anos, a Petrobras voltou a realizar prospecções na região. ”Há muito tempo que temos petróleo debaixo de nossa terra, mas como não havia mais lideres, Macau foi perdendo importância” disse João Aquino da Silva, a época diretor proprietário do museu da cidade. ”quero ver o petróleo agora vai mudar a vida intelectual da comunidade, porque aqui ninguém respeita meu trabalho, e o atual prefeito já chegou até a mandar cortar a luz do museu por falta de pagamento”.

Em Barreiras
Em Barreiras, comunidade de pescadores que tinha a época 2.000 habitantes, só se ouvia perguntas e exclamações.
Ninguém sabia direito explicar a descoberta do petróleo .O subprefeito e único líder político da comunidade, Geraldo Magela Ferreira, explicava apenas que “petróleo é sinal de riqueza, e que agora as coisas vão melhorar por aqui”.Mas João Bosco criticava o clima de segredo que envolvia as pesquisas: “só conseguíamos noticias concretas sobre o petróleo quando os pescadores de lagosta que chegavam por perto da sonda voltavam dizendo que a água azul do mar estava ficando cada vez mais preta”.
Na plataforma da Barreiras, o óleo foi encontrado na formação Açu, a 2.435 metros de profundidade.O teste de avaliação mostrou que o volume inicial da produção comercial atingiria a 945 barris por dia.Em outro poço perfurado a 4.300 metro do primeiro, os peritos da Petrobras encontraram a 2.500 metros de profundidade, arenitos saturados de óleo.A capacidade inicial de produção deste segundo poço estava avaliada em 2.205 barris por dia.A 700 metros de distância desta plataforma um terceiro poço estava sendo perfurado.A plataforma de Barreiras estava equipada com 3 guindastes para a movimentação dos canos e uma heliponto.
         Cada sonda, com capacidade de atingir até 4.100 metros de profundidade, podia perfurar um poço no período de 30 dias.
         Em Natal, a confirmação da descoberta do petróleo de Macau levou o governador Cortez Pereira a criar um grupo de trabalho cuja a missão  seria de preparar a instalação de uma refinaria de petróleo no Rio Grande do Norte.O Brasil possuía 11 refinarias naquele ano de 1974 e Petrobras pretendia instalar mais uma no Nordeste, até 1975.esta refinaria se destinaria a atender toda a área compreendida entre o Maranhão e Alagoas.
Segundo um estudo da Federação das Industrias do Rio Grande do Norte-FIERN, o petróleo de Macau marcaria a arrancada definitiva para o desenvolvimento de toda a região.com a mecanização  das salinas e a consequente redução do numero de pessoas que ali tinham fonte de emprego, houve uma queda brusca no recolhimento do INPS , os bancos de Macau viram seus depósitos caírem verticalmente, o Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte-BANDERN fechou sua Carteira de Credito Agrícola e cerca de 15 comerciantes se deslocaram para outras cidades.
         Agora a descoberta do petróleo fez renascer as esperanças. O proprietário da boate Casarão, a única da cidade, já estava prometendo uma melhoria geral nas instalações e um novo serviço de som, “porque vai chegar gente de fora para se divertir”.E Geraldo Ferreira da Silva, proprietário do hotel e restaurante Rio Branco, o melhor da cidade, havia encomendado camas novas e ventiladores.”Quando vocês voltarem por aqui – promete ele solenemente - vão poder dormir direito, porque vou acabar com as muriçocas (pernilongos) e garanto que, de agora em diante, ninguém aqui se deita mais em rede”.
         A descoberta do petróleo naquela costa abandonada do Nordeste já estava começando a dar colorido diferente a paisagem desolada da antiga Capital do Sal.Os habitantes viviam agora um momento de enorme esperança, finalizou a citada revista.

  Apareceram na matéria da revista Manchete




        Aquino Silva, diretor do museu da cidade, garantia que “agora Macau para frente”.
Fonte: Revista Manchete, 1974,p.25.
         

          João Bosco Afonso, o único jornalista de Macau a época da reportagem da revista Manchete.

Fonte: Revista Manchete, 1974, p.24.
       Prefeito de Macau em 1974 José Heliodoro de Oliveira, tinha um plano de reurbanização da cidade com a descoberta do petróleo.


Fonte: Revista, Manchete, 1974,p.22.


       Dilson Ciriaco, foio único funcionário nascido em Macau que trabalhava no escritório local da Petrobras, lembrava que os peritos tinham provas concretas da existência de petróleo na região.

Fonte: Revista Manchete, 1974,p.22.
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Referência:
Revista Manchete, Editora Bloch, Rio de Janeiro, 1974, p. 22-25.







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