segunda-feira, 12 de abril de 2021

O ROUBO DA COROA DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO CONVENTO SANTO ANTONIO


         Segundo o jornal A Ordem mais uma profanação das coisas sagradas vinha testemunhar a “nossa católica cidade de Natal”. (A ORDEM, 28/07/1943, p.1).

         De acordo com o citado jornal “mãos sacrílegas, num desrespeito à casa de Deus, arrombaram a porta do lado esquerdo do Convento Santo Antonio, dos capuchinhos e da lá roubaram a coroa de Nossa Senhora Imaculada Conceição” (A ORDEM, 28/07/1943, p.1).

         O ato criminoso foi realizado na madrugada de sábado para domingo de 28/07/1943, quando se constatou a porta arrombada e pegada do assaltante nas toalhas do altar.A coroa, toda em prata e ouro, era uma das preciosidades do histórico templo, mas que o profanador não deixou em paz, lamentou o jornal citado (A ORDEM,28/07/1943,p.1).

         A polícia estava já no encalço do criminoso e sobre o resultado das diligencias iria informando aos leitores o jornal A Ordem, contudo nada mais se publicou a respeito, o que se supõe não endo os paraninfos convidados e ambas esposas (A ORDEM, 15/10/1939, p.1).ter sido recuperada a coroa da imagem de Nossa Senhora da Conceição da igreja Santo Antonio. Teria sido o mesmo larápio que roubou a coroa de ouro da imagem de Santa Rita de Cássia em Santa Cruz? Ambos os roubos ocorreram na mesma época.


Altar de Nossa Senhora da Conceição da igreja Santo Antonio


A REMODELAÇÃO INTERNA DA IGREJA SANTO ANTONIO

 

Em 1939 os frades capuchinhos estavam remodelando a velha igreja de Santo Antonio, a mais antiga da cidade depois da Catedral.

Além dos melhoramentos a que aludia o jornal A Ordem em noticia anterior, salientava o mesmo jornal a pintura do altar-mor com os respectivos consertos, emassamentos, etc.,  ”é hoje o altar mais lindo da cidade pelos desenhos que o ornam, todos gravados na madeira” (A ORDEM, 10/10/1939,p.1).

A época o altar mor da igreja Santo Antonio contava quase dois séculos e se constituía de relíquia e valor histórico para Natal.

 A pintura do referido altar até então era de ouro, sendo na remodelação preferida a prata nos desenhos.

Os trabalhos da remodelação foram confiados ao Sr. Dourado Neto, perito nesse tipo de pintura segundo o jornal A Ordem, o mesmo fez também outras pinturas muito bem feitas na arcada central e na barra da mesma igreja.

Na remodelação interna da igreja Santo Antonio naquele ano de 1939 foram substituídos ainda os altares laterais por altares novos e simples, de apreciável beleza litúrgica, disse o jornal A Ordem.

O forro da igreja iria ser enriquecido por uma gradne quadro religioso que representaria a “Aparição do Menino Jesus a Santo Antonio”, sendo  esse “trabalho de extraordinário efeito de autoria do prof. Hostilio Dantas”. Esse quadro seria inaugurado no dia 15/10/1939 solenemente oficiado pelo bispo diocesano, Dom Marcolino Dantas, sendo paraninfos da mesma cerimônia o interventor federal Rafael Fernandes e o prefeito Gentil Ferreira (A ORDEM, 10/10/1939,p.1).

         Conforme foi anunciado pelo jornal A Ordem a igreja de Santo Antonio, sob os cuidados dos frades capuchinhos, estava passando por grandes melhoramentos em 1939.No dia 15/10/1939 as 17h realizou-se a inauguração de um desses melhoramentos que foi  o impressionante quadro da Aparição do Menino Jesus a Santo Antonio, trabalho executado com muita arte pelo professor Hostilio Dantas, destinado ao forro da igreja, e o novo altar-mor de artístico efeito, recomposto e pintado de novo pelo Sr. Dourado Neto.

         Na mesma cerimônia houve também a benção das imagens de Nossa Senhora da Salete e Santa Teresinha, que seriam colocadas no altar-mor, comparecendo os paraninfos convidados e ambas esposas (A ORDEM, 15/10/1939, p.1).


Altar-Mor da igreja Santo Antonio

Aspecto interno da igreja Santo Antonio

Aspecto interno da igreja Santo Antonio

Alta-Mor da igreja Santa Antonio.


domingo, 11 de abril de 2021

O CONVENTO SANTO ANTONIO


Prolegômenos

         A igreja de Santo Antônio é a segunda igreja mais antiga de Natal construída no século XVIII estando situada na rua homônima na Cidade Alta. É também conhecida por Igreja de Santo Antônio dos Militares e Igreja do Galo por ter sem sua torre um galo metálico.

         Em 1902 foi criado o Colégio Diocesano Santo Antônio, estabelecimento de ensino confessional católico, criado pelo bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, cuja jurisdição eclesiástica abrangia também todo estado do RN. Coube ao Pe. João Maria dá inicio a construção do prédio anexo a igreja de Santo Antônio destinado a abrigar o referido colégio que foi inaugurado em 02/03/1903. Até 1930 o Colégio Diocesano Santo Antônio foi dirigido por padres diocesanos, quando naquele ano o bispo Dom Marcolino Dantas entregou a direção do mesmo aos Irmãos Maristas, que construíram na av. Deodoro da Fonseca o imponente prédio destinado ao colégio em 1937, que apesar de ser conhecido por Colégio Marista nunca mudou de nome e continua sendo Santo Antônio.




         Naquele mesmo ano vieram de Recife os capuchinhos da Basílica da Penha e passaram a ocupar o antigo prédio do Colégio Santo Antônio fazendo ali uma residência que não era propriamente um convento segundo as normas vigentes da igreja católica. A ideia da remodelação do prédio e construção do claustro destinado a servir de convento aos capuchinhos se iniciou em 1944 e só chegou a se concretizar em 1948 quando foi definitivamente inaugurado.

Igreja e Convento Santo Antonio.

Conforme anunciava o jornal A Ordem aproximava-se os festejos de inauguração do prédio do convento Santo Antonio dos Militares que de acordo com o referido jornal não deixaria de ser um acontecimento de grande relevância social e religiosa, pois o povo de Natal, desde muito meses, vinha acompanhando com viva simpatia o desenvolvimento da obra, sendo pois motivo de grandes alegrias a noticia que se espalhava da aproximação da data de inauguração definitiva da obra.

Comissão de honra: Dom Marcolino Dantas, bispo diocesano. Dr. José Varela, governador do Estado, Des. Tomás Salustino, vice-, Des. Feliz Bezerra, Dr. Silvio Piza Pedroza, prefeito da Capital, comandante Roberto Castilho, cel. Rubens Cunha, Major José Vaz, Cel. Aluizio Moura, Tte.Cel. Solon Andrade, Prof. Severino Bezerra, Dr. Pedro Amorim, Des. Antonio Soares, Prof. Ulisses de Góis, Dr. Luis da Câmara Cascudo, Dr. Oto Guerra, Dr. Edilson Varela.

Comissão executiva: Pe. Francisco da Chagas Neves Gurgel, secretário do bispado, Pe. Eymard L’E. Monteiro, Frei Agatangelo, Cap. Dr. José Ivo, Luis Lopes Varela, Sr. Cristovão Bezerra, Sr. Leon Josua, Sr. Sandoval Vanderlei, Prof. Acrisio Freire, Sr. Manoel Andrade, Sr. Pedro Cavalcanti, senhoras e senhorinhas: Leticia Garcia, Margarida Filgueira, Palmira Vanderlei de França, Clarice Palma, Noilde Ramalho, Vanda Gurgel, Belita Ferreira, Alice de Góis, Alice Fernandes, Maria da Glória Navarro, Marta Barreto, Cencinha Miranda, Josefina Mora Cavalcanti, Elisa Brasil, Maria do Carmo Aguiar, Conceição Morais, Asta Bandeira de Melo, Maurilia Viveiros, Cecilia de Oliveira, Adelaide Cavalcanti, Sinhá Oliveira, Sinhazinha Vanderelei, Maria do Carmo Soares, Berta Guilerme, Vanda Mussi, Alzenir de Oliveira, Zenaide Soares, Umbilina Pinheiro, Bernadete Cabral, Dulce Sá, Alvanir Navarro, Eli Villar, Maria Augusta de Melo, Maria Varela, Dorinha Varela e Eunice Duarte.

Comissão de imprensa e divulgação: Romildo Gurgel, Jaime Vanderlei, Dr. Américo de Oliveira, Dr. Kerginaldo Cavalcanti, José Nazareno Aguiar.

Comissão de recepção: os marianos.

Comissão de organização: A Ordem Terceira de S. Francisco de Assis.

Parte religiosa

De 27 a 31/01 as 18h30 pregação de frei Damião no pátio da igreja Santo Antonio ao microfone gentilmente cedido pelo prof. Severino Bezerra, diretor do Departamento de Educação do Estado.

O1/02 encerramento as 08h00 miss cantada solene em ação de graças, seguindo-se a benção do novo convento pelo bispo diocesano, acolitado pelos Superiores da Ordem, e a inauguração da placa pelo escritor Luiz da Câmara Cascudo.

As 19h00, imponente procissão de ramos e velas em que será levada em triunfo pelas principais ruas da Capital, a venerável e histórica imagem de Santo Antonio, seguindo-se a benção do SS. Sacramento.

A música sacra esteve a cargo de um coro formado de sacerdotes missionários capuchinhos.

Após o termino dos festejos, as 24h00, ao repique festivo dos sino e a o estrugir dos foguetes,começará a vigorar a Clausura Papal no Convento Santo Antonio.

Festa externa

28/01 festas esportivas.

29/01 fita cinematográfica em todos os cinemas da Capital.

30/01 dia da Medalha.

31/01 Teatro.

Festa do interno do quintal do convento

As festas no pátio interno do quintal do novo convento (o claustro) começaria a 30/01 até 01/02, e constaria de concurso, telégrafo, correio aero, bar, jogos, leilão, barracas, exposição de um artístico presépio em tamanho natural.

         A banda da F.P abrilhantaria as festas a começar do dia 27/01, havendo na procissão do 01/02. (A ORDEM, 09/01/1948, p.4).

Conforme vinha sendo amplamente divulgado, grandes festas assinalariam na capital potiguar a partir de 27 de janeiro a inauguração solene do novo prédio onde funcionaria o Convento Santo Antonio e a respectiva Clausura Papal.

De acordo com o jornal A Ordem numerosa comissão constituída de senhoras, senhorinhas, senhores estava encarregada de levar a efeito o grande programa das festas, já do conhecimento público (A ORDEM, 17/01/1948, p.6).

Intensificavam-se os preparativos para a realização de 21 a 31/01 em Natal a grande festa que assinalaria a inauguração do novo prédio do Convento Santo Antonio construído pelos frades capuchinhos com o auxílio do povo potiguar.

O programa era amplo, constando de várias festividades, tanto religiosa como recreativas, e a noite em frente a igreja de Santo Antonio, o renomado missionário franciscano Frei Agatalgelo faria pregações. (A ORDEM, 23/01/1948,p.4).

         Foram iniciadas em 27/01/1948 as santas missões de Frei Damião em Natal e de acordo com o jornal A Ordem compareceu a igreja de Santo Antonio grande multidão para ouvir a palavra eloquente e cheia de fé do vibrante pregador, que utilizou um microfone, pois o povo enchia literalmente todo o pátio externo do templo, ficando o transito interrompido.

         Enquanto o missionário se encarregava da parte religiosa  comemorativa da inauguração do novo Convento Santo Antonio, as diversas comissões percorreram as ruas da cidade angariando donativos e passando ingressos para a quermesse dos dia 30, 31/01 e 01/02.

         Em 28/01 foi o dia da medalha, onde a comissão de senhoras e senhorinhas e crianças percorreram as ruas da cidade colocando medalhas de N. S. das Graças, e m beneficio do Convento.

         Em 29/01 conforme entendimento com a empresa de cinema REX, a renda liquida das sessões cinematográficas naquele dia seria em beneficio do Convento, o mesmo acontecendo no Cine Alecrim, e no Cine São Luis (A ORDEM, 28/01/1948, p.4).

Por Fernando de Oliveira

Vamos assistir, finalmente, à inauguração do prédio do Convento Santo Antonio de Natal. Um prédio novo e vistoso, construído com as esmolas do povo, católico e generoso desta terra boa, católica e generosa.

         Para os missionários capuchinhos isso é o mesmo que um belo triunfo. Parece um sonho. Quem diria que eles pudessem ter, algum dia o seu prédio moderno e amplo? Além de todas as vantagens que trouxe a construção do Convento podemos ainda salientar a de ter concorrido para o embelezamento da cidade. Aquele casarão antigo, com as paredes ameaçando ruína, não servia para nada. Veio a vontade franciscana e persistente de Frei Agatangelo e transformou-o num instante, no belo edifício que agora recebe as honras de clausura papal. Depois do dia dois de fevereiro, nenhuma mulher poderá mais cruzar a sala de visitas... e passar adiante.


Igreja e Convento Santo Antonio, década de 1950.


Este acontecimento passará para a história de Natal. Há um chamado livro de ouro, uma espécie de coletânea de tudo o que se publicou a respeito da obra. Este livro ficará no altar da portaria, guardando em suas páginas a lembrança de uma época de tormenta para os que meteram ombros a uma empresa de tanta responsabilidade.

         Estamos solidários com os trabalhadores missionários de Francisco de Assis, esforçado batalhadores da boa causa. Admiramos a tenacidade de sua perseverança e desejamos mais progressos e mais vitórias para o completo triunfo do nome de Cristo.

E contemplem os que auxiliaram a obra, a grande realização dos missionários de Natal e vejam o valor da cooperação. Tantos mil cruzeiros juntos... Provindos de esmolas tão pequenas (A ORDEM, 29/01/948, p.2).

Sobre a inauguração

O povo católico de Natal viveu, ontem, um dos seus maiores dias, com as grandes festas de inauguração do novo Convento de Santo Antonio, construído nesta cidade pelos frades capuchinhos de São Francisco de Assis.

Não é exagero dizer-se que do inicio ao fim daquela obra, verdadeiras bênçãos dos céus derramaram-se sobre todos, sem distinção de classes, que cooperaram para o êxito do notável empreendimento, pois numa fase difícil por que passava o Estado, foi lançada a ideia da construção do novo Convento precisamente há um ano e 4 meses, e joje finalmente o temos erguido junto a histórica igreja de Santo Antonio dos Militares.Com pequenos recursos, adquiridos graças à generosidade do nosso povo, desde o tostão do humilde operário até o conto do abastado, foi possível ao dedicado Frei Agatangelo, levar a bom termo a iniciativa, embora ainda hoje lhe pesem sobre os ombros pesados encargos para o pagamento total das despesas, mas que com as graças de Deus ele há de pagar.

As festas de inauguração

As grandes festas de inauguração no novo convento foram precedidas de santa missões pregadas em frente a Igreja pelo renomado e virtuoso missionário capuchinho Frei Damião, comparecendo todos as noites enorme multidão, de milhares de fiéis vindos de todos os recantos da cidade.

Ontem as 8 horas, foi cantada a missa solene da festa, em ação de graças, oficiando o frei Eugenio Nova Cruz, filho deste Estado, acolitado pelos padres Neves Gurgel, cônego Luis Adolfo e pe. Eimar L’E. Monteiro, que falou ao Evangelho.Ao coro, fez-se ouvir um conjunto formado por diversos frades, tendo a Igreja ficado literalmente cheia de família e cavalheiros, tocando a banda dos Escoteiros do Alecrim.

Em seguida, o bispo D. Marcolino Dantas, deu a benção  da Igreja ao novo edifício, pronunciando depois, ao pé do altar de Santo Antonio, na entrada do convento, vibrante alocução, na qual ressaltou o grande significado daquela solenidade, prestando, sincera homenagem aos dedicados missionários pelos bem espiritual que vêm fazendo ao povo do Rio Grande do Norte, como do Brasil inteiro. Falou, depois, declarando inaugurada a placa comemorativa, o escritor Luis da Câmara Cascudo, cuja oração teve profunda repercussão entre todos os que ouviram. Falaram ainda, em nome da cidade, o prefeito Silvio Pedroza, e em nome da Comunidade de São Francisco de Assis, o frei Tomé, que agradeceu a cooperação  das autoridades e do povo para a realização da obra. Depois o prédio foi franqueado a visita do numerado público, tendo ao meio dia se realizado um almoço intimo.

A grande procissão noturna

As festas continuaram a noite, tendo as 19h00, imponente e impressionante procissão de velas percorrendo as principais ruas da cidade, que ficaram com seu aspecto transformado, dada o clarão das lanternas, e as vozes de milhares e milhares de fiéis entoando hinos de louvor à SS Virgem Maria e ao glorioso Santo Antonio, patrono do Convento, cuja imagem, em artístico andor, era levado aos ombros de militares. Dentre aos fiéis, viam-se autoridades civis, militares e eclesiásticas, notando-se a presença do governador José Varela, acompanhado do seu ajudante de ordens e auxiliares.

Ao chegar ao Convento, falaram à multidão Frei Damião, Frei Agatangelo, Frei Tomé, além de Frei Fernando e Frei Eugenio, que serviram de locutores e dirigiram os cânticos. A multidão vivou, entusiasmada, o bispo, o clero, os católicos de Natal e do Rio Grande do Norte, as autoridades Frei Damião Frei Agatangelo, e aos demais capuchinhos, tocando as bandas de música da Policia Militar e do exercito, enquanto espocavam foguetes.

A quermesse em favor do convento

Desde o dia 30/01 vinha funcionando no pátio interno do Convento, animada quermesse, organizada por numerosas senhoras e senhorinhas da sociedade natalense, que apresentaram perfeito serviço de bar e restaurante, barracas de prendas, leilões, surpresas, tudo em beneficio da construção. Também muito concorreu para o êxito da quermesse o artístico Presépio, de autoria do nosso conterrâneo Manoel Andrade, que apresentou as figuras daquele histórico quadre em tamanho natural.

As 23h30 o jornalista Nazareno Aguiar, nosso companheiro de redação dirigiu uma saudação ao público presente agradecendo, em nome da comissão promotora da festividade, a cooperação das senhoras, senhorinhas e rapazes que auxiliaram na quermesse, bem como as autoridades militares, as firmas comerciais, aos representantes do Melhoral, cujo carro com alto falante, muito contribuiu para a animação da festa. E a meia-noite, ao repicar dos sinos e debaixo do espoucar de foguetes, terminava a festa de inauguração do novo Convento, que passou a ser a Clausura Papal, destinada à formação de novos missionários de Nosso Senhor Jesus Cristo.




No concurso para a escolha da rainha da festa foram classificadas em 1º, 2º e 3º lugares, respectivamente, as senhorinhas Consuelo Pinto, Maria Augusta Severo e Ione Campos, que receberam prêmios das mãos das senhoras que constituíam a comissão julgadora.

Durante as festas estiveram presentes os seguinte frades capuchinhos, além de vários sacerdotes do Estado: Frei André, Provincial no norte do país, Frei Damião, Frei Agatangelo, Frei Cipriano, o iniciador e organizador do Convento de Santo Antonio, que aqui chegou em 1938, Frei Bernardino, Frei Tito, Frei Fernando, Frei Eduardo, Frei Jorge, Frei Eugenio Nova Cruz, Frei Tomé e Frei José.

O Cine Alecrim

O cine Alecrim exibiria em 02/02/1948 a sessão cinematográfica daquela noite com a renda destinada ao Convento, por gentileza do Sr. Cristovam Bezerra, proprietário do cinema. Seria exibido o filme Cleópatra.Esperava-se que um grande número de público comparecesse naquele dia para ajudar a pagar os últimos compromissos e grande obra recém construída (A ORDEM,02/02/1948,p.4).

Na simplicidade do ato de que se revestiu a benção inaugural do convento Santo Antonio dos Militares, dada pelo bispo diocesano D. Marcolino Dantas, o povo de Natal viu patentando o valor moral e espiritual desses apóstolos insignes que são os capuchinhos da Custódia de Pernambuco.

         A cerimônia de domingo, unida aos festejos realizados no pátio interno do mesmo convento, deixaram nos presentes um misto de alegria e saudade da convivência daqueles frades que algumas horas mais iam ficar sob a clausura papal. E ao repicar festivo dos sinos e do espocar dos foguetes encerrou-se o grande sonho dos franciscanos que sem o auxilio do Sr. bispo, permaneceria no impossível.

         Ele soube sentir bem as necessidades daqueles missionários pobres que aqui vieram com o fim de beneficiar a gente da terra potiguar.

         A história singela dos capuchinhos remonta de muitos anos.Ainda ouvimos como em todos contos de fadas contadas por nossos antepassados à vinda em nossa terra dos pioneiros do catolicismo, Frei Serafim, Frei Caetano e tantos outros que aqui se instalaram deixaram impressas nas paredes enegrecidas dos templos o engenho de sua arte construtora e o espírito religioso, marco inquebrantável da fé cristã do Brasil.

         O edifício que ora vemos inaugurado é a expressão máxima do trabalho desses benfeitores da humanidade.

         Frei Agatangelo coube a glória de ser o dirigente dessa obra de arte que é o convento Santo Antonio, o qual se ergue como um forte na conquista de novas gerações.Outrora dele saíram nomes dignos, verdadeiras capacidades, que na vida prática souberam honrar com a sua inteligência e honradez o velho colégio e mestres.

         Estávamos em 1937, quando frei Damião surge ao lado de Frei Cipriano e outros nas suas pregações.

         Pelos sertões longínquos do Rio Grande do Norte ecoam os sons harmoniosos do “vinde pais e vinde mães” cantado pelo povo que contrito escutava a palavra do pregador querido.

         Esse eco chegou até nós e em breve ei-o bem perto implantado com sua fé a seu exemplo, o marco glorioso da religião cristã.

         Frei Cipriano um dos iniciadores da “Ordem Terceira” esteve presente aos festejos, compartilhando com todos a alegria e o desejo que sempre acalentou na função de um convento que o futuro viesse completar o trabalho dos missionários.

         Faltaram os outros. Um Frei Bento, que a morte o levou tão cedo, e os outros, Antonio e Roberto, que as responsabilidades do trabalho não lhes deram tempo para assistir a maravilhosa festa, que apesar da simplicidade, não deixou de ter inúmeras concorrência.




         Que o pai dos pobrezinhos lá do céu, nesse dia haja derramado a flux as graças não aos seus devotos, porém a todos que de boa vontade concorreram com o seu generoso óbolo. E aos jovens a nele serem educados, para em breve vestirem as vestes sacerdotais, as luzes da sabedoria evangélica e da verdadeira caridade do pai São Francisco de Assis, a fim de caminharem seguros na santidade que espiram. 01/02/1948. (DIÁRIO DE NATAL, 11/02/1948, p.3).

Segundo Fernando de Oliveira

Finalmente o Convento de Santo Antonio foi inaugurado. Todo mundo em Natal assistiu ao imponente espetáculo religioso, quando uma grande multidão de fiéis acorreu a pátio do garboso edifício para ouvir a palavra quente e cheia de convicções de Frei Damião. Hoje estamos cantando as aleluias do triunfo, enquanto o velho casarão de outrora apenas perdura na memória dos que o conheceram.

Sem falar na primeira família que aqui chegou em 1936 para ocupar o prédio do antigo Colégio Marista, constando de Frei Agatangelo, atual guardião, Frei Bento e Frei Damião, não poderíamos esquecer a figura simpática de santo e de asceto do Revmo. Frei Cipriano, atual superior do Convento da Penha, de Recife. Quem não conhece o Frei Cipriano em Natal? Aqui derramou ele alguns anos dedicados de sua vida. Foi ele o primeiro capuchinho que aqui chegou. Foi ele quem recebeu as chaves do prédio que futuramente iria transformar-se no moderno convento dos nossos dias. Foi ainda o Frei Cipriano quem deu inicio as missões em nossa terra, muito merecendo =, portanto, no dia de hoje uma referencia destacada. Justamente no dia da inauguração do novo prédio, fez 10 anos que aquele fiel discípulo de Francisco de Assis havia pisado o colo da nossa encantadora Natal.

Revolvendo as páginas do Livro de Ouro, qualquer um poderá encontrar lá a referencia dos trabalhos de Frei Cipriano, o missionário que deixou o nome escrito na lembrança de tantos fiéis admiradores potiguares.

Ao lado de Frei bento, Frei Damião e Frei Agatangelo, este último, o realizador da imponente obra. Frei Cipriano forma a coroa dos missionários de Natal, agora aumentada coma presença de tantos outros filhos capuchinhos, como Frei Fernando de exemplares virtudes.

Trazendo para o jornal o nome de Frei Cipriano não fiz mais do que cumprir um dever de gratidão para com aquele que tanto tempo viveu no nosso meio, amando a nossa gente (A ORDEM, 06/02/1948,p.2).









SOBRE COMO UM TURISTA COSMOPOLITA VIU NATAL EM 1895

 

Com o título “O Pensamento em Viagem” Benvenuto de Oliveira, um viajante que se autodenominou um cosmopolita, esteve em Natal em 1895 e fez uma descrição da Capital potiguar o qual escreveu sob forma de crônicas no jornal Oásis. Vindo de Belém do Pará, Benvenuto aportou no Potengi e permaneceu 5 dias em Natal de onde rumou para Recife.

Eis a seguir o teor das crônicas publicadas pelo “turista cosmopolita”.

         Natal, situada à margem direita do rio Potengi e a 3 milha do famoso forte dos Três Reis Magos, inexpugnável baluarte que, na foz do citado rio, assenta sobre arrecifes, que emergem de mil ondas encapeladas, divide-se em dois bairros: Cidade Alta e Ribeira.

         Habituado e familiarizado com o bulício infernal das grandes cidades, fatigado pelas reiteradas vicissitudes e eventualidades de uma longa e penosa viagem, conhecedor de um sem número de climas, costumes e condições mesológicas de um porção de gênero humano, tendo finalmente presenciado vaidades, preconceitos e misérias, que se estendem, desde o pobre e modesto pardieiro do proletário, até o os ricos e dourados salões do “grand monde”; senti, não sei que irresistível imã, que invencível atração para a vida de Natal, que, embora pequena, é todavia de alguma importância.

         Quase rodeada de alvíssimas dunas, cujas areias são vagarosamente impelidas pelas virações amenas do Atlântico, dotada de um clima admiravelmente sadio, parecendo inocular diariamente no orgnismo daquela feliz população a seiva vivificante da mais desejável e ambicionada saúde, a heroica e risonha capital do futuroso Estado do Rio Grande do Norte deixou-me as mais gratas recordações.

         Capital de um Estado essencialmente agrícola e criador, a cidade de Natal, cujos primeiros fundamentos foram lançados em 1599 pelo então governador Jerônimo de Albuquerque, demonstra grande aperfeiçoamento e incontestável desenvolvimento, quer cientifico, quer material. Possui edifícios importantes, como sejam: o palácio do governo, o tesouro estadual, o Atheneu, a alfândega, a fábrica de fiação de tecidos e muitos outros de reconhecida elegância, os quais se salientam em todo o perímetro da cidade.

         Cinco dias apenas demoramos em Natal, e, pela primeira vez, após a minha partida, pude, naquela cidade, onde a tranquilidade pública, a honradez, a hospitalidade e a salubridade oferecem ao estranho as mais amplas garantias, descansar das ilimitadas fadigas de meu longo e penoso cosmopolitismo.

         As diversões do mais indizível deleite, a agradável convivência da sociedade, o ar puro e saudável que respirava, continuamente convidavam-me a percorrer as diversas ruas e arrabaldes da esperançosa capital da heroica Potiguarania (OASIS, 15/07/1895, p.3).

Movido  pela natural simpatia que me inspirava a bela capital, ora percorri vagarosamente os encantadores medôes, que a contornam ao Norte e a Leste; ora contemplava, dos pontos mais elevados da Cidade Alta, os quadros altamente sublimes do Atlântico, que em ósculos gigantescos e fosforescente, vinha beijar as areias movediças do poético litoral.

         Uma noite, que bela note?! Eu descia vagarosamente a “ladeira” que comunica os dois bairros da aprazível cidade. O grande relógio do campanário da Matriz, em sua interminável vigília, acabava de soar compassadamente onze horas e o silêncio da noite era apenas interrompido pelo ribombo continuo do Morcego.

Aspectos de Natal no inicio do século XX.
Ao fundo as dunas que circundavam a cidade e deleitou o Turista Cosmopolita.


         A formosa Diana, a namorada Artemisa, quem raia do Levante, assentava-se em deslumbrante dossel de prata, espargia sobre a hospitaleira pátria de Camarão, de Miguelinho e de André de Albuquerque, mil catadupas de luz argêntea.

         O ar puro e saudável, impregnado das ambrosias silvestres, bafejavam-me brandamente o rosto, e, não podendo resistir ao espetáculo divino e sublime, que me convidava a parar, subi a elevada calçada do Liceu e ali detive-me por longo tempo.

Elevado aos paramos infinitos do mais sedutor extasiamento, senti minha alma evolar-se ao incognoscível, a cata de satisfatória explicação para tanto encanto, tanta poesia, tanta luz, e finalmente para o quadro portentoso que feria os meus olhares.

Embevecido pela contemplação do conjunto majestosamente deslumbrante das belezas que naquele instante me faziam perplexo, comecei a desfrutar os soberbos panoramas que, em noites enluaradas, soe oferecer aos olhos de um excursionista noturno a poética cidade.

Ao Norte, onde o luar brincava a tona de um mar de cristal, via-se o vetusto forte dos Reis Magos, colossal gigante de pedra, que além, por trás do imenso lenço das brancas areias, aprecia velar pela tranquilidade e sossego da cidade, que dormia. A leste, via-se a pudica e formosa namorada de Endimião, a qual subindo airosamente os degraus do firmamento, derramava, com profusão a sua frouxa claridade por sobre a natureza.

Ao Sul, como que meio empanados pelo lençol prateado, com que envolvia o espaço a formosa filha de Latona, lobrigava-se os quatro pontos brilhantes do Cruzeiro, que, girando em órbita longínqua, parecia alheio ao panorama que, naquela noite, se desenrolava sobre a face da terra feliz e poética dos Potiguares. E ao Oeste, onde Apolo, havia longas horas, se tinha atufado, Vésper risonha e altiva fechava o circulo dos poéticos encantos (OASIS,02/08/1895,p.2).

Aspectos de Natal no inicio do século XX.
Em primeiro plano a Praça André de Albuquerque na Cidade Alta e ao fundo o rio Potengi e o porto.
Esta paisagem foi vista e descrita pelo Turista Cosmopolita que esteve em Natal em 1895.


Meia noite acabava de soar, quando os acordos melodiosos de bem executado instrumental chegaram até mim, e, em poucos minutos, as harmonias de sibilantes flautas, de saudosos violões e queixosos violinos, que em concerto celestial, perdiam-se em no espaço, fazendo honras aos seus destros executores, acabaram de transporta-me à mais indizível admiração e perplexidade.

         Deitei-me tarde, e, naquela noite ao amanhecer o dia ainda conservava na imaginação, repassada de gratas reminiscências, os momentos felizes da mais elevada poesia, que, por algumas horas, proporcionou-me aquela noite, em que, por assim dizer, passei os mais agradáveis momentos de minha extensa jornada.

         Era por uma dessas manhas poéticas e amenas, em que o loiro Apolo, rasgando vagarosamente a tela avermelhada do Levante, espargia por sobre o belo continente, a sua imensa como de ouro. Candido e corrediço nevoeiro, erguia-se dispersadamente na raia do horizonte e percorrendo com rapidez o anilado céu da pátria de Camarão, perdia-se em demanda dos ínvios sertões. As oficinas, que, há duas horas, haviam chamado ao trabalho, por meio de prolongados apitos, os seus infatigáveis operários, atiravam para o espaço longas aspirais de pardacento fumo, e, já o estridulo do martelo confundia-se com o estalar continuo dos teares, quando o “Scholar”, após as visitas do estilo, deixou com galhardia, as águas tranquilas da formosa baia do Potengi.

         De bruços na amurada, eu contemplei saudoso o desaparecimento rápido dos viçosos coqueirais, das cúpulas dos altos edifícios, e, em breve o vetusto forte dos Reis Magos desenhava-se à nossos olhos como um pequeno arrecife prestes a ser tragado pelas vagas.

         Em vinte e quatro horas de uma viagem feliz, demos entrada no porto da cidade do Recife [...] (O OASIS,15/08/1895,p.2).

Aspectos de Natal no inicio do século XX.
A paisagem foi vista e descrita pelo Turista Cosmopolita que esteve na Capital potiguar em 1895.


Aspectos de Natal no início do século XX.
Vista do Porto de Natal por onde chegou o Turista Cosmopolita em 1895.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

SOBRE O COLÉGIO DIOCESANO DE MOSSORÓ


        O Colégio Diocesano de Santa Luzia foi fundado por Dom Adauto de Miranda Henriques, bispo da Paraíba, em 1901, destinado a educação masculina. Já o Colégio do Sagrado Coração de Maria na mesma cidade de Mossoró foi criado para a educação feminina. Foram os primeiros colégios católicos da região oeste.

         O Colégio Diocesano de Santa Luzia em Mossoró destinado a educação de meninos foi o primeiro estabelecimento de ensino confessional de orientação católica criado no Estado do Rio Grande do Norte, tendo sido o mesmo criado pelo então bispo diocesano da Paraíba, dom Adauto de Miranda Henrique, cuja jurisdição eclesiástica abrangia também o estado do Rio Grande do Norte.

         Esse Colégio tem sido, desde 1901, de muita utilidade à zona do centro do Estado, dizia o relatório do governo do Estado em 1904. Ainda de acordo com o mesmo relatório, nos exames de preparatórios compareciam muitos moços preparados nesse estabelecimento.

         Naquele ano de 1904 o Colégio Diocesano de Mossoró na direção do estabelecimento de ensino estava o cônego Estevam Dantas “que possui as qualidades indispensáveis aos estabelecimentos desse gênero”. Segundo o mesmo relatório o Colégio Diocesano de Mossoró não deixava de ser um ponto importante de educação moral.

         Naquele ano de 1904, no segundo semestre, a matricula elevou-se a 58 alunos e frequência de 47.

         Apesar dos efeitos climáticos e da falta de recursos à muitos chefes de família, que tinham seus filhos matriculados no Colégio Diocesano de Mossoró “não desapareceu, como se esperava, cumprindo sempre, seu digno Diretor, as obrigações impostas pelo Regulamento Geral da Instrução Pública” (RELATÓRIO DO GOVERNO DO ESTADO, 1904, p.177).

Colégio Diocesano de Mossoró em 1932.