sábado, 2 de dezembro de 2017

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO TEODORICO MIRANDA ZELADOR DA CAPELA DE GALINHOS


     Esta é daquelas histórias cujo roteiro daria um filme. Trata-se da história do velho Antônio Teodorico Miranda, zelador da capela de Galinhos.
     Galinhos era uma povoação destinada a desaparecer sob as areias que iam a cada dia sepultando o povoado com avanço dos morros sobres as casas e expulsando impiedosamente os moradores da localidade.
    Certo dia quando não mais era possível impedir a marcha areias jogadas pelos fortes ventos o Apostolado da Oração da capelinha se reuniu com o vigário de Macau para tirar um retrato de despedida.
      Na semana seguinte muitas famílias começariam a se retirar em busca de outras praias. Galinhos ficaria entregue a ação dos ventos e dos morros. Na orla do mar os pescadores iam construindo seus ranchos.
       Entre os que teimaram em ficar estava Antônio Teodorico de Miranda, velho e aleijado em virtude do reumatismo, morando distante, todos os dias ia a capela para rezar o terço e para varrer das portas a areia que o vento juntava a noite.
     Aquela capela fazia parte de sua vida. Fora ele quem comprara todos os utensílios e paramentos litúrgicos necessários as celebrações das missas com a ajuda dos pescadores locais.
    A capela tinha cálice, missal, ambula, ornamentos de todas as cores litúrgicas, tudo em bom estado de conservação, limpos e espanados diariamente. Além do zelo pela capela Antônio Teodorico ministrava as aulas de catecismo para as crianças daquela comunidade.
       A morte o alcançou em 1941.Não lhe abatia o reumatismo, não o venceu as areias, venceu a morte.
        Porém, o velho Teodorico morreu vencendo, porque seu nome ficou ligado a história religiosa da linda praia e de boa gente de Galinhos. O povo haveria de lhe eternizar sua memória.
        A capelinha, com seus santos bonitos e com seus paramentos que faziam inveja a muitas igrejas matrizes recordaria sempre o apostolo, o homem de ação católica, o zelador e o catequista, o devoto de Nossa Senhora que todas as tardes repicava os sinos convocando os fiéis para o terço que ali se rezava.
      O exemplo de Antônio Teodorico Mirando mostra o quanto é possível a vontade fortalecida pela graça, seu apostolado humilde é uma lição para todos. O que ele fez podia ser imitado. O trabalho do velho zelador da capela de Galinhos deveria servir de modelo de encorajamento a tantas pessoas que desanimam diante das dificuldades.
        Antônio Teodorico Miranda foi um exemplo magnifico de apostolado leigo na igreja católica exercendo a função de zelador e catequista da capela da então povoação de Galinhos.

Fonte: A Ordem, 09/09/1941, p.1.


     Não sei se a atual cidade de Galinhos faz de alguma forma homenagem a memória do velho zelador e catequista Antônio Teodorico Miranda. A capela também não é a mesma que era zelada por ele. Uma nova igreja foi construída na cidade. Galinhos é atualmente capela sufragânea da paróquia de Jandaira.

      O município de Galinhos é dos menores contingente populacionais do estado do Rio Grande do Norte com  seus 2.150 habitantes segundo IBGE/2010 e está distante até 166 km de Natal.





Igreja atual de Galinhos.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SOBRE OS ESTRONDOS DE BAIXA VERDE EM 1949


      Há muitos anos se ouviam falar nos estrondos de Baixa Verde que se faziam ouvir algumas vezes por ano.Os moradores mais antigos de Baixa Verde afirmavam que os estrondos eram ouvidos desde 1915, desde então, em anos intercalados eram ouvidos tais estrondos.
     Em noites de muita calma, ouvia-se ao longe, um barulho como um tiro de canhão, que cresciam em intensidade, a tal ponto das pessoas afirmarem de estarem sentindo a terra tremer.
     Certo morador de João Câmara afirmava ter ouvido no dia 24 de dezembro de 1946 aproximadamente as 7h30 um grande estrondo acompanhado de tremor de terra. Disse ele ter tido a impressão de que fora um tambor de 2 a 3 mil quilos que tinha arriado de uma certa altura, a uns 500 metros de distância.
   A população de Baixa Verde e redondezas testemunhavam tais fatos amedrontada pois que os estrondos a cada dia se faziam mais frequentes e aumentando igualmente de intensidade.
      Em 1949, por exemplo, novos casos de estrondos e abalos foram relatados pelos moradores de Baixa Verde trazendo grande pavor e nervosismo a população.Em 19 de abril de 1949 um sábado, das 8h da manhã até a madrugada foram ouvidos cerca de 11 estrondos na cidade de Baixa Verde todos acompanhados de tremores de terra.
      No dia 22/04/1949 a partir das 20h começou a estrondar até altas horas da madrugada, onde foram contados até 19 estrondos, ora fracos, ora fortíssimos.
      Varias famílias ficaram sobressaltadas e altas horas da madrugada valera-se de suas orações para se tranquilizar.A situação parecia aterradora, haviam familias já se retirando do município com receio de acontecer algo mais grave.O certo era que a população desconhecia a origem daqueles fenômenos até então.
    A população enviou um telegrama ao governador José Augusto Varela no sentido de se tomar providencias para investigar os fenômenos geológicos que estavam ocorrendo em Baixa Verde, a intenção era que o governador entrasse em contato com técnicos do governo federal intendidos do assunto para investigar tal casos, no entanto até aquele momento não havia sido dada resposta alguma por parte do governador.
    A solução encontrada pelo povo de Baixa Verde foi apelar a imprensa para que se divulgasse a situação caótica que se verificava na cidade a fim de sensibilizar o governador para se tomara as devidas providências para tranquilizar as famílias que lai residiam.




A Ordem, 03/03/1949, p. 6.

SOBRE A CONSTRUÇÃO DO AÇUDE PEDRA D’ÁGUA EM BAIXA VERDE PELA FIRMA JOÃO CÂMARA & IRMÃO EM 1947


        A firma João Câmara & Irmão estava construindo um açude em Baixa Verde em 1947 e conforme se li ano jornal a Ordem “ merece aplausos da população de Baixa Verde a firma João Câmara & Irmão que dentro de poucos meses terminará a construção de um grande açude capaz de resolver toda a situação angustiosa da população baixa-verdense nos anos secos”.
           Desde o ano de 1945 a firma estava empenhada na construção do açude de Pedra d’água com capacidade para 3.700,00 m³ de água, situado ao sul da cidade. A obra estava sob a responsabilidade do engenheiro agrimensor Francisco Alves Maia, o qual estava “desempenhando os serviços com competência”.
        Na construção desse açude a firma já havia contribuído com mais Cr$ 400.000,00 e pretendia ainda canalizar a água para a cidade, pois “somente assim ficará resolvido o grande problema de água de Baixa Verde que a poucos anos passados a população viveu dias amargurados a espera do precioso líquido[...]”.A iniciativa da firma João Câmara & Irmão era louvável porque em tempos de seca a população tinha que se deslocar até 4,5 km para conseguir encontrar água para consumo e também esperar até dias pela chegada do trem da Estrada de Ferro Sampaio Correia que trazia água da lago de Extremoz para ser distribuída na cidade.
         Além dessa auspiciosa noticia a população de Baixa Verde também tinha outras razões para comemorar naquele ano, pois “as vazantes colossais que desde agora estarão fornecendo batas e no próximo verão termos milho, feijão, o jerimum etc”. Acrescente-se também que foram colocados uma grande quantidade de curimatãs para produção que seriam colhidos em no máximo um ano.



Fonte: a ordem, 31/03/1947, p.2.

SOBRE O GRUPO ESCOLAR CAPITÃO JOSÉ DA PENHA DE BAIXA VERDE EM 1947


    Sobre o grupo escolar capitão José da Penha escreveu o engenheiro agrônomo Álvaro Ferreira Neves em 1947 quando esteve visitando Baixa Verde:
    “Este modelar estabelecimento é dirigido pela ilustre professora Maria Guimarães, que alia à sua reconhecida capacidade profissional, uma superior educação cívica, manifestada para com as colegas, os visitantes e seus alunos. Ela acumula a direção do Grupo à cátedra do 5º ano cuja turma conta com 19 alunos de ambos os sexos.
    Entre suas auxiliares destaca-se a prof. Maura Santos, que é daquelas capacidades profissionais apaixonadas pela profissão. Ela leciona o 1º ano cuja turma consta 43 alunos de ambos os sexos.
       A disciplina da turma chama a atenção imediatamente; o progresso de seus alunos entusiasma a qualquer visitante, notando-se mesmo, um esforço titânico dos alunos em aprender o que ensina a extraordinária Mestra. Mas há um tal de Raul, espécie de azougue sobre papel que causaria inveja até ao CAPIROTO...
     A turma do 2º ano é dirigida pela prof. Maria Fernandes da Mota e Silva; a do 3º e 4º ano pela prof. Glaucia Amélia de Paiva. A 1ª consta de 31 alunos, a 2ª de 51.Numa ligeira demonstração, feita em minha presença, provaram serem detentoras de capacidade profissional superior ao cargo. Tive vontade de ser alunos daquele Grupo, ao menos para ajudar ao Raul a quebrar os vidros e as telhas...
    O estabelecimento está dotado de abundante e moderno material escolar, afirmando a Diretora que todos os pedidos feitos o Diretor Geral do Departamento de Educação tem sido satisfeito com toda a presteza.
   O curso de alfabetização está funcionando sob orientação técnica da Sta Engracia Varela, cuja a frequência, porém, deixa a desejar.
   A visita do engenheiro agrônomo Álvaro Ferreira Neves ocorreu em 17 de junho de 1947 já a publicação do seu relato no jornal A Ordem ocorreu em 08 de julho de 1947.


  Fonte: A Ordem, 08/07/1947, p. 4.




      O quadro resumo foi elaborado por mim a partir das informações a cima.

Quadro resumo
Perfil do Grupo escolar Capitão José da Penha de Baixa verde em 1947
Ano
Professora
Nº de alunos
Maura Santos
43
Maria Fernandes da Mota e Silva
31
3º e 4º
Glaucia Amélia de Paiva
51
Maria Guimarães
19
Curso de alfabetização
Engracia Varela
Não informado
Total de alunos
------------------
144


Fonte: elaborado a partir das informações do relato do engenheiro Álvaro Ferreira Neves in: A Ordem, 08/07/1947, p. 4.



     O grupo escolar Capitão José da Penha foi inaugurado em 1927, está vivenciando este ano de 2017 seu 90º aniversário.Vida longa a esta que é a segunda casa de educação mais antiga da região do Mato Grande, sendo o posto de primeiro destinado ao Grupo escolar Joaquim Nabuco de Taipu inaugurado em 1919.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

NÃO HÁ PERIGO DE VULCÃO NEM TERREMOTO EM BAIXA VERDE: MAIS UMA EXPLICAÇÃO PARA OS ABALOS


      Os estrondos continuaram a serem sentido em Baixa Verde no ano de 1952. Conforme se lia no jornal A Ordem “nos últimos dias [...] fortes estrondos têm sido ouvidos em todos os recantos da cidade de Baixa Verde, fazendo com que as casas estremeçam caindo barro das paredes” (A ORDEM, 04/03/ 1952, p. 4).     A população ficou inquieta registrando-se novamente a saída de várias famílias da cidade. Os técnicos que examinaram os casos de abalos sísmicos registrados anteriormente afirmaram que a ocorrência não deveria causar preocupações na população porque eram fenômenos explicados cientificamente (A ORDEM, 04/03/ 1952, p. 4). Em agosto novas repetições de estrondos no Torreão.

Não há perigo de vulcão nem terremoto em baixa verde: mais uma explicação para os abalos
    eis a seguir o relatório apresentado pelo Dr. Wilhem Kegel sobre os fenômenos de Baixa Verde dizia:
    É claro que os estrondos que neste município por vezes acontecem, assustam o povo que não conhece as causas do fenômeno.
    Sem duvidas são produzidos por movimentos no subsolo. Não existindo, aqui galerias e poços de minas, nem grandes pedreiras, estes movimentos devem ser causas naturais.
  Pode-se absolutamente excluir a possiblidade, que os estrondos sejam causados por atividades vulcânicas, agora subterrânea, mas talvez no futuro, seguidos por extrusões superficiais em maior escala. Os vulcões são localizados em todo o mundo, nas regiões da crosta da terra é fraca, como nos Andes, no México, no Japão e em outros lugares. Por isso não existe nenhum vulcão no território do país e não há motivos nenhum que no futuro esta situação possa mudar, sendo pois, qualquer medo neste sentido de maneira alguma admitido.
   A situação é semelhante com respeito aos grandes terremotos. São muito raros nesse país, mesmo os de pequena intensidade ao passo que nos estados dos Andes acontecem de vez em quando de maneira catastrófica. A estrutura interna da crosta terrestre nesta região do nordeste, a firmeza e estabilidade até grande profundidade, excluem inteiramente a probabilidade de um terremoto catastrófico.

Explicação
     A única solução do problema é a seguinte: ao norte de Baixa Verde estende-se a vasta região onde o subsolo até mais de 200 metros de profundidade, consiste em calcário. Ele é depositado em camadas horizontais e cortado por fendas mais ou menos verticais.
   A substancia do calcário é solúvel na água, motivo por que a água desta região em geral é dura e pesada e não sempre potável. A permeabilidade das camadas calcaria a água é maior que das demais pedras e rochas, por isso a água meteórica inflltra-se rapidamente no subsolo, um fenômeno bem conhecido, por exemplo, no curso do Riacho Seco. A água continua seu caminho no calcário até um lugar muito baixo onde reaparece uma fonte. Para a região norte de Baixa Verde, esta fonte é a de Pureza. Tal regime de água é bem conhecido em todo mundo.
  No seu caminho através das camadas calcarias, a água dissolve muita substancia delas, processo este observável, por exemplo, na Casa de Pedra ou na própria fonte de Pureza. Esta perda de substancia leva à formação de buracos, de fendas abertas, de cavernas e grutas. Em outras regiões são conhecidas cavernas e vazios de um comprimento de muitos quilômetros.
     Aqui, a formação de grandes cavidades torna-se difícil, por causa do grande numero de fendas verticais que cortam as camadas.
    Sendo assim, a situação subterrânea, o teto de uma cavidade não mais trazendo o peso das camadas sobrepostas cai. Este processo é acompanhado por um barulho e as vezes por um ligeiro abalo do subsolo.
   Este fenômeno causa os estrondos, que mostram certas diferenças da intensidade, naturalmente, segundo a quantidade de pedras desmoronada.
   Sendo aqui as condições pouco favorável para a formação de grandes cavernas, este processo não pode se tornar se tornar demais extenso. Entretanto é possível que um abalo desata outro o que parece ter sido realizado no passado.
      Destarte, na superfície podem formar-se pequenas cavidades, em geral não imediatamente depois do estrondo, mas de pouco em pouco, é o grande numero dos sumidouros, existindo no areal calcário, deve resultar pelo menos parcialmente, deste processo.

Não há perigo
      Não se tem notícia alguma, que por este processo qualquer homem sofreu um dano. No futuro também não se dará. Em resumo, é inteiramente excluído, que nesta região formar-se-á um vulcão ou que acontecerá um terremoto catastrófico. Os estrondos continuarão; podem interromper-se por anos, mas devem repetir-se. Entretanto, é totalmente improvável que se tornem bem mais intenso que no passado.
      Por isso, o povo pode tranquilizar-se. Não há motivo nenhum de medo ou de desconfiança no futuro.ao contrário, parece que o município, sendo as condições favoráveis, está marchando para uma grande prosperidade”. Baixa Verde, 28 de março de 1952. Wilhem Kegel, geólogo da divisão do Departamento Nacional de Produção Mineral.



 Fonte: A Ordem, 03/03/1952, p. 4.