quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

SOBRE A FREGUESIA DE EXTREMOZ EM 1861




         Em relatório do Presidente da Província  José Bento  da Cunha Figueiredo Junior e reproduzido no jornal Diário de Pernambuco m 1861 temos interessante relato sobre Ceará-Mirim e Extremo, vejamos.
       Segundo se lia no citado relatório “A florescente vila de Ceará-Mirim apenas tem uma capela  pequena onde celebram-se os atos religiosos” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/11/1861, p. 2).Observando isso quando ali esteve  o presidente da província nomeou uma comissão de 8 membros, incluindo neste número o respectivo pároco  da freguesia , a fim de promover o andamento da obra da matriz com as somas concedidas  pelos cofre público ou pela piedade dos particulares.
     Em 2 de julho o presidente recomendou  de novo que se desse a conveniente aplicação  da quantia de  774$080 réis que  ainda restava da que fora concedida pelo seu antecessor para essa obra, “cujos os alicerces estão feitos, assim como parte da capela-mor, avaliando a câmara municipal  em réis  10$000,000 a despesa necessária para ficar aquele templo em estado de prestar-se a celebração dos ofícios religiosos” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/11/1861, p. 2).

Sobre a igreja de Extremoz
A igreja matriz situada na povoação de Extremoz, a 3 léguas de distância da Vila de Ceará-Mirim, carece de pequenos  reparos urgentes no teto e no frontispício, alem de outras obras mais dispendiosa, tais como o ladrilho no corredor esquerdo, a colocação do sino e a construção de uma escada para subir ao campanário (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/11/1861, p. 2).O pároco comunicou ao presidente da província sobre a noticia de uma subscrição que estava promovendo entre o seus fregueses para proceder com os concertos mais precisos como havia recomendado o referido presidente da província.
       Sobre o convento se lia “O próprio nacional que outrora serviu de convento aos jesuítas naquela povoação continua em progressiva deterioração” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/11/1861, p. 2). O presidente da província determinou  ao subdelgado de Extremoz  que tivesse sob sua guarda as chaves do edifício e que o visitasse frequentemente “para não só conservá-lo ao maior asseio possível como preservá-lo  dos estragos do cupim solicitando deste governo os meios precisos qualquer reparo indispensável” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/11/1861, p. 2).Ao engenheiro deu  ordem para examinar o estado da igreja e do convento, a fim de apresentar os orçamentos, em separado, dos melhoramentos e consertos mais necessários para evitar  maior aumento nas ruínas desses edifícios.
       Do relato a cima ficamos sabendo que:
     A igreja matriz era ainda em  1861 a igreja de São Miguel Arcanjo em Extremoz, distante 18 km [ 3 léguas] da sede municipal a vila de Ceará-Mirim que por sua vez tinha apenas uma pequena capela ainda em construção.A transferência da sede municipal ocorreu em 1858
     O convento dos jesuítas estava servindo de prédio público pelo governo da província e ao que tudo indica sem finalidade aparente pois estava em estado de abandono conforme se vê a cima.
               
               
Fonte: Diário de Pernambuco (PE), 26/11/1861, p. 2.


"Tudo conhecer, nada desdenhar" (São Paulo).

A VISITA DO CONDE D'EU AO RIO GRANDE DO NORTE




O Conde d'Eu, esposo da Princesa Isabel, genro de Dom Pedro II, foi o único representante da família imperial brasileira a visitar a Província do Rio Grande do Norte, visita esta ocorrida em 1889.
No jornal Gazeta do Natal em 19/06/1889 se lia: "consta que partirá da Corte com destino aos portos do Norte [nordeste] S.A o Sr. Conde d'Eu no paquete nacional Alagoas, saído do Rio de Janeiro dia 12 deste mês".Tratava-se de uma viagem oficial do representante imperial ao norte e nordeste do Brasil para visitar as respectivas províncias dessa parte do império.O consorte imperial chegaria ao Rio Grande do Norte no dia 21 de junho daquele ano.
A comissão nomeada para se encarregar da recepção do Augusto viajante estava composta por: Dr. Moreira Brandão, presidente da Assembleia provincial, Dr. Carvalho e Souza, 1º secretário da assembleia, o engenheiro Thompson Viegas, engenheiro da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz e o tenente coronel  José Domingos de Oliveira.

A chegada
No dia 21/06/1889, as 15h00 chegou a  capital potiguar Sua Alteza o Sr. Conde d'Eu, que foi recebido com as honras que lhe eram devidas.O Conde d’Eu veio acompanhado do ilustre militar  Barão de Corumbá, dentre outros que compunham a comitiva da viagem.
“Logo que a fortaleza dos Reis Magos deu sinal de achar-se ancorado fora da barra, o Paquete Maranhão seguiu daqui ao encontro do augusto viajante, diversos escaleres vistosamente embandeirados, entre os quais o da presidencia, da policia e 5 da agência da companhia de vapores nesta provincia, dos quais partiram entusiásticas saudações e S.A que a elas correspondeu com os mais vivos sinais de agradecimento” (GAZETA DO NATAL, 17/08/1889, p.1 ).

No desembarque no cais Pedro de Barros se achava posta uma guarda de honra, seguindo o ilustre viajante dali para o Palácio da Presidência da Província, no qual a comissão de recepção resolvera hospedá-lo "não poupando esforços, alguns de seus membros, para fazê-lo de modo brilhante e condigno” (GAZETA DO NATAL, 17/08/1889, p.1 ).
Ao desembarque do Conde afluíra grande concurso de pessoas, o Presidente da Província, chefe de policia, os membros da comissão de recepção, magistrados, chefes de diversas repartições públicas, além de outras pessoas, sendo Sua Alteza por todos saudado e tendo a todos correspondido com afabilidade.
Depois de alguns momentos de descanso no palácio, o Conde d’Eu subiu da Ribeira até o bairro da Cidade Alta dirigindo-se a estação telegráfica, entrou na matriz de Nossa Senhora da Apresentação onde fez oração e visitou ainda alguns estabelecimentos públicos.
As 17h00 voltou S.A ao palácio, pernoitando nele, depois de lhe ter sido servido um lauto e escolhido jantar ao qual assistiram diversos membros da comissão e outros convidados.
 No dia seguinte, as 05h00 o Conde d'Eu, acompanhado de sua comitiva, seguiu até Pequeri (distrito de Canguaretama), em trem expresso da Imperial Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz.
 Na cidade de São José de Mipibu o Conde d'Eu foi condignamente recebido pelo juiz de direito Jerônimo  Américo e outros membros da comissão ali organizada para tal finalidade de recepção ao conde d'Eu (GAZETA DO NATAL, 17/08/1889, p.1 ).Em São José de Mipibu foi também oferecido um delicado e profuso almoço tendo se renovado ali as saudações sempre dirigidas ao conde segundo o mesmo jornal.
Regressando a capital potiguar o conde d'Eu visitou ainda outras repartições públicas entre estas a alfândega.Depois de ter tido alguns momentos de descanso no palácio seguiu a bordo do paquete nacional Maranhão sendo-lhe feitas  novamente as honras devidas.
O vapor da companhia pernambucana São Francisco que estava ancorado  no porto conduziu a seu bordo grande número de pessoas até fora da barra onde se achava  ancorado o paquete Maranhão, contornando-o em homenagem ao ilustre viajante, dando este ainda  mais uma vez expressivas mostras de agradecimento.
O São Francisco voltou ao porto “prendendo a todos a gentileza dispensada por seu digno comandante Joaquim José Esteves Junior” (GAZETA DO NATAL, 17/08/1889, p.1 ).
Na capital a comissão de recepção cuja a frente se estavam o Dr. Calistrato, o Cap. Odilon, como é por todos reconhecido, “desempenhou de modo cabal a incumbência que lhe fora comentida” (GAZETA DO NATAL, 17/08/1889, p.1 ).
O relato da viagem oficial do Principe Consorte, o Sr. Conde d’eu, encerrava dizendo “Fazemos votos para que prósperos ventos conduzam o ilustre príncipe ao porto de seu destino, regressando em breve a Corte ao seio da augusta família imperial, continuando a receber as sinceras manifestações de que tem sido alvo, em sua excursão ao norte do  império”.
De Natal o Conde d’Eu seguiu para Fortaleza, capital da província do Ceará.
Cinco meses após a visita do Príncipe Consorte o Império declinou após o golpe militar orquestrado por Deodoro da Fonseca, amigo pessoal de Sua Majestade o Sr. Pedro II, Imperador do Brasil.
O que teria ido fazer Sua Alteza no distrito de Pequeiri em Canguaretama? nunca saberemos, pois como visto a cima o relato não diz maiores informações sobre a ilustre visita do Conde D'Eu aquela comunidade.
Na capital potiguar o que ainda remete ao império são as ruas Dom Pedro I e rua Princesa Isabel na Cidade Alta e a praça Dom Pedro II no Alecrim, em frente a igreja de São Pedro onde há um busto do imperador brasileiro.




FonteGazeta do Natal, 17/08/1889, p.1.

domingo, 28 de janeiro de 2018

A INAUGURAÇÃO DO TRECHO ENTRE TAIPU E BAIXA VERDE




        Eis a baixo o relato da inauguração do trecho da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte entre Taipu e Baixa Verde conforme publicado no jornal A República em 13/10/1910, p.1:

        As 07h30 partiu de Natal o trem inaugural conduzindo além do Dr. Alberto Maranhão, Governador do Estado, Drs. Costa Junior e Décio Fonseca, engenheiro chefe e subchefe, da firma construtora, respectivamente, e comissão fiscal do governo formada composta do Drs. Veras, Benevides e Cartaxo, grande número de convidados, representando esta folha o nosso companheiro Dr. Salomão Filgueira.
         No Ceará-Mirim o trem recebeu ainda muitos excursionistas, chegando a Baixa Verde, a estação a ser inaugurada As 11h15 ao espocar de uma grande girandola de foguetes.
         No trecho inaugurado o trem se deteve por várias vezes, a fim de serem admirados os trabalhos realizados ao longo da linha que são numerosos.
        A obra de arte mais importante do trecho é a ponte sobre o rio Ceará-Mirim com cinco vãos de 30 metros cada um, formando um vão de 150 metros. Os encontros e os pilares são construídos de alvenaria ordinária rejuntada, sendo de cantaria os capeamentos e pedras de
viga. Na altura de 6 metros está assentada a superestrutura metálica.
        Existe ainda no trecho inaugural um aponte de 8 metros sobre o rio Bravo, 2 pontilhões sobre o riacho Carrapicho e Salambaia [Sic] e 37 bueiros todos construídos de pedra e dois açudes que foram construídos ao longo da linha, sendo que o situado em Melancias tem bastante água.
     Cerca do meio-dia, num galpão rustico, armado a beira da estrada foi servido um opíparo banquete aos convidados. Au champagne , ergueu-se o Dr. Sá e Benevides, da comissão fiscal e declarou inaugurada a estação de Baixa Verde.
        O discurso do Dr. Benevides foi entusiástico, salientando o esforço da firma
construtora em prol do progresso riograndense e sábia orientação dos políticos de nossa terra Dr. Alberto Maranhão e Tavares de Lyra, aos quais saudou.O Dr. Alberto Maranhão pronunciou em seguida eloquentes palavras de aplauso aos engenheiros da Estrada de Ferro Central.
    Foram erguidos vários brindes, do Dr. Virgilio Bandeira ao Dr. Alberto Maranhão e Tavares de Lyra, do Dr. Décio Fonseca agradecendo em nome da empresa Dr. Alfredo Arduini, ao Dr. João Proença, etc.
       O trem, terminando o almoço regressou a estação da Coroa, onde chegou as 17h30. Era grande a concorrência de povo em Baixa Verde notando-se geral contentamento pela inauguração.
       O trem inaugural achava-se festivamente ornamentado sendo puxado pela grande locomotiva 'Afonso Pena' com a velocidade de 15 km/h.
        A empresa pretende inaugurar em dezembro mais um grande trecho.

Fonte: A República, 13/10/1910, p. 1.
        

Notas: 
       A época a palavra champagne ainda não havia sido aportuguesada, razão pela qual foi grafada a expressão em francês do qual deriva.
      O riacho Salambaia, se refere a Samanbaia, devido ter ocorrido erro de tipografia.
     A ponte sobre o rio Ceará-Mirim cuja a descrição foi feita é a ponte do distrito do Umari em Taipu.
   A tese de que a estação de Baixa Verde teria sido inaugurada improvisadamente num vagão de trem não se sustenta conforme visto no relato a cima, pois não teria sentido haver uma festa solene para se inaugurar uma estação provisória num vagão de trem tendo sido inclusive convidado o governador do estado, além disso, o governo federal não autorizaria a inauguração de uma obra provisória, pois segundo o contrato de arrendamento as inaugurações seriam realizadas mediantes a conclusão das obras efetivamente, ao passo que seria no minimo vergonhoso para a empresa construtora convidar o governador do estado para inaugurar uma obra provisória e improvisada.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O DIA EM QUE O BISPO RESIGNADO DE NATAL FOI EXPULSO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO NO RIO DE JANEIRO

Esta é daquelas histórias em que a Igreja Católica ao invés de se mostrar uma mãe protagoniza uma madrasta impiedosa, senão vejamos se o meu juízo está errado.
Um bispo brasileiro, enfermo “é convidado” a se retirar a desocupar uma cela do Mosteiro de São Bento, era assim estampada a matéria a qual se lia no jornal A Noite (RJ) em edição do dia 21/10/1915 a qual passamos a narrar.
O Mosteiro de São Bento! Quem não conhecia sua história? Ali tiveram asilo centenas de necessitados. Reconhecida era a tradicional hospitalidade dos seus frades. Sob a carinhosa tutela dos irmãos de São Bento, dentro daquele vetusto casarão quantos homens se fizeram! Quem procurasse abrigo, alimentação, ensinamentos não deixava de encontra-los no mosteiro, onde sobrepujando a do resto da comunidade havia a bondade paternal de Dom João das Mercês Ramos (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
       Quando morreu o venerando frade o mosteiro teve nova direção e, com ela, um contraste de hábitos e costumes foram completamente diferentes implantados.
      Dom Joaquim de Almeida, bispo brasileiro quando dirigia a diocese de Natal, no Rio Grande do Norte, foi acometido em julho de 1915 de uma congestão parcial, que o fez resignar o bispado.Pobre, cego e paralitico, necessitando de tratamento mais qualificado “num meio onde não houvesse a carência de recursos médicos como em Natal” (A NOITE, 21/10/1915, p.1), o infeliz prelado lançou o seu pensamento para a cidade do Rio de Janeiro. Quem, porém, poderia protegê-lo ali?
    Lembrou-se Dom Joaquim de Almeida de que existia no Rio de Janeiro o mosteiro de São Bento, cuja hospitalidade afamada ele conhecia e de que já houvera recebido provas em duas vezes que precisara ir ao Rio. Escreveu ao prior, o frade alemão D. Pedro que lhe respondeu “bem-vindo sejais”.
    Acompanhado de um sobrinho, chegou ao Rio de Janeiro Dom Joaquim de Almeida em 26/07/1915, recolhendo-se imediatamente ao convento. A princípio tudo foram flores. Dom Joaquim, embora afastado dos membros da confraria, recolhido numa das celas dos fundos do convento tinha um tratamento regular dado pela instituição religiosa “até D. Pedro descendo de suas altas funções de prior da rica e poderosa irmandade visitara-o por duas vezes” (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
    A amável hospitalidade deferida a Dom Joaquim durou apenas dentro um mês, porque “findo o trigésimo dia de permanência no mosteiro, já a hospedagem de Dom Joaquim pesava aos cofres da confraria de São Bento...” (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
O sobrinho de Dom Joaquim foi perguntado amavelmente pelo vice prior D. Menandro, se ele sabia quando seu tio tencionava deixar o convento. Tomando conhecimento disso, Dom Joaquim, falou a D. Menandro: -padre, minha pessoa aqui incomoda? Embora pobre, talvez pedindo, me sejam dados recursos lá fora (A NOITE, 21/10/1915, p.1) e dom Menandro, que era um tipo boníssimo, apenas era ali apenas um fiel cumpridor das ordens do seu superior, procurou carinhosamente dissipar apreensões que pudessem fazer piorar o estado de saúde do pobre prelado. E Dom Joaquim continuou no seu retiro no mosteiro.
       Passou-se, porém, o segundo mês de hospedagem. Acabrunhado e sentido a desumanidade da intimação de que fora portador, dom Menandro procurou na sua cela o bispo resignado de Natal e  procurando amenizar os efeitos do terrível golpe, o vice prior de São Bento mostrou ali a olho nu, a real situação de Dom Joaquim de Almeida, na qual “O superior do mosteiro, ‘precisando da cela que habitava dom Joaquim para fazer umas obras’ dava aos seu infeliz hospede 15 dias para deixar o convento” (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
       Ainda entrevado e muito doente, Dom Joaquim de Almeida teve que cuidar de sua angustiosa situação. Quase sem amigos que soubessem de sua presença no Rio de Janeiro e naquele estado de saúde, o bispo resignatário de Natal lembrou-se do vigário da igreja da Candelária, seu amigo de bom coração e escrevendo-lhe contou de sua desdita.
      No dia 04/10/1915 apoiado aos braços pelos padres Antônio de Almeida e Álvaro Cesar, vigários da Candelária e Vila Isabel, respectivamente, dom Joaquim de Almeida deixou o mosteiro, a caminho da pensão Oceânica (A NOITE, 21/10/1915, p.1).
    O vigário da Candelária expondo a vários sacerdotes a situação de Dom Joaquim, conseguira o necessário para o seu sustento naquele hotel, de propriedade do padre Clementino, que também como auxilio, fizera ao bispo brasileiro um preço módico.
     Dom Joaquim se achava melhor aos cuidados dos médicos Aloisio de Castro e Abreu Fialho e rodeado de sacerdotes que procuravam distrai-lo e atenuar-lhes os desgostos.
    A manutenção de Dom Joaquim de Almeida estava sendo provida pelos vigários da Candelária, Santo Antônio, Glória, Espirito Santo e Vila Isabel e a Irmandade de São Pedro (A NOITE, 21/10/1915, p.1) todas da capital fluminense.
      Dom Joaquim de Almeida, o infeliz bispo potiguar, tinha a época 47 anos de idade e tinha um passado cheio de serviços prestados a Igreja Católica, como por exemplo, no seminário da Paraíba, onde esteve 11 anos como reitor, o qual apresentou a ordenação cerca de 50 sacerdotes, entre os quais se destacavam naquele ano os atuais bispos de Aracaju SE, Ilhéus-BA, Cajueiros [?] e de Olinda-PE, além do Vigário Geral de da diocese de Natal, monsenhor Alfredo Pegado. O clero paraibano e potiguar foi quase todo discípulo seu.
    Dom Joaquim foi o primeiro bispo da diocese do Piauí, atual arquidiocese de Teresina, entre 1904 e 1912 e igualmente de Natal entre 1912 e 1915, foi por esse motivo o primeiro potiguar a ascender a dignidade de bispo da Igreja Católica.Resignado o bispo do Natal, dom Joaquim de Almeida era naquele ano bispo de Lari[1].
   Depois da renúncia, Dom Joaquim residiu em Goianinha-RN, em Bom Conselho-PE e em Macaíba-RN, com sua irmã, Doroteia de Macedo, e onde um sobrinho. Retornaria ao trabalho na Paraíba e em Pernambuco. Em 1944 voltou a Goianinha onde celebrou a missa comemorativa dos 50 anos do seu apostolado, no mesmo ano era grave estado de saúde de Dom Antônio de Almeida, residente em Bom Conselho-PE.
   Dom Joaquim Antônio de Almeida faleceu em 30/03/1947, tendo óbito ocorrido em Macaíba-RN na Fazenda Macedo de propriedade de seu sobrinho Antônio Almeida de Macedo. O sepultamento ocorreu no dia seguinte as 10h da manhã com o comparecimento de autoridades civis e eclesiásticas, ordens e associações religiosas e grande massa de fieis, que foram prestar as últimas homenagens aquele que fora o seu primeiro pastor.

Resumo biográfico Joaquim Antônio de Almeida
      Dom Joaquim Antônio de Almeida, nasceu em Goianinha-RN, a 17/08/1868. Fez o curso secundário no Colégio Diocesano de Olinda e ordenou-se em Fortaleza (1894). Celebrou sua primeira missa na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, Padroeira em sua terra, naquele mesmo ano.
      Foi professor, diretor espiritual e Reitor do Seminário da Paraíba; monsenhor (1904); sagrado bispo e nomeado para a Diocese do Piauí pelo papa Pio X através da bula Cunctis ubique  pateat, em 14/12/1905 e governou esta diocese de 12/03/1906 a 02/11/1910; transferido para Natal, assumiu a Diocese a 15/06/1911 e aí permaneceu até 1915, afastando-se por motivo de saúde. Foi Dom Joaquim de Almeida o 1º bispo de Natal. Foi um notável orador sacro e nos últimos anos de sua vida de dedicou-se a pregação de modo particular.
     Até onde eu sei Dom Joaquim Antônio de Almeida é homenageado com o nome de escola estadual em São Gonçalo do Amarante-RN.      


Imagem de dom Joaquim de Almeida que ilustrou a matéria narrada a cima no jornal A Noite.A NOITE, 21/10/1915, p.1



Dom Joaquim de Almeida.Foto: Arquidiocese de Natal.





Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro onde se deu a infausta estadia do antiste potiguar em 1915. Foto: Pintirest.




Fonte: A NOITE, 21/10/1915, p.1
Fundação José Augusto através do seu Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL
http://arquidiocesedenatal.org.br/especiais/historia.

Nota: Segundo o Código de Direito Canônico no Cân. 401:
1. Roga-se ao Bispo diocesano, que tiver completado setenta e cinco anos de idade, que apresente a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, o qual providenciará depois de examinadas todas as circunstâncias.§2. Roga-se instantemente ao Bispo diocesano que, em virtude da sua precária saúde ou outra causa grave, se tenha tornado menos apto para o desempenho do seu ofício, que apresente a renúncia".No caso de Dom Joaquim Antônio de Almeida o paragrafo 2 foi aplicado para a aceitação de sua renúncia ao governo da diocese de Natal tornando-se assim bispo resignado que é o mesmo que bispo emérito











[1] Diocese extinta em Cartago no norte da África. É costume na Igreja Católica quando o sacerdote é elevado a dignidade do episcopado atribuir-lhe um titulo de uma diocese extinta que remonta a igreja  primitiva.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

SOBRE O ATAQUE AO TREM DA EFSC EM JOÃO CÂMARA


    Um trem da EFSC foi atacado em João Câmara quando se dirigia para a cidade de São Rafael em 16/02/1959.Uma multidão de populares comandada pelo jornalista Geraldo Melo, que concitou o povo a retirar a água existente num dos vagões tanques e ainda toda a lenha existente na fornalha da composição.
      A multidão obstruiu a linha com dormentes impedindo o avanço do comboio e depois colocaram novos dormentes do lado oposto ao maquinista, prendendo o trem evitando que prosseguisse viagem.

O motivo do ataque
   Segundo informações preliminares do jornal Diário de Natal a atitude verificada em João Câmara foi uma represália em consequência da suspensão d’água que a EFSC fazia para a cidade de João Câmara, fornecimento que havia sendo feito a algum tempo por preço irrisório. Com a encampação da EFSC a Rede Ferroviária S.A, houve um reajuste dos preços.
      A água era vendida pela prefeitura com grande margem de lucro, segundo o jornal Diário de Natal (DIÁRIO DE NATAL, 16/02/1959, p. 2) e depois do reajustamento a própria prefeitura tratou de triplicar o preço do liquido.
   Ainda segundo o mesmo jornal “Depois percebendo que não existia a necessidade imprescindível do fornecimento da água para Baixa Verde, que possui açudes e não se ressentiria da falta do liquido e ainda porque o abastecimento pela Rede provocava prejuízos a ferrovia, resolveu a administração local suspender a ida do vagão tanque para a cidade referida”.

A interferência do deputado Aluízio Alves
      Surgiu o deputado Aluízio Alves que interferiu junto ao presidente da RFFSA Renato Feio solicitando a reconsideração da medida conseguindo que o vagão tanque da EFSC voltaria a abastecer João Câmara.
     Como a autorização demorou a chegar, o povo passou a assaltar os trens roubando toda a água que levavam, sempre obstruindo a linha férrea com dormentes, naquele ano de 1959 já haviam sido 3 assaltos a trens em João Câmara, tendo sido o dia 16/02/1959 o que teve maior gravidade o qual determinou a suspensão dos trens para João Câmara pela diretoria da RFFSA, ficando os trens estacionados em Ceará-Mirim.
   Segundo o Diário de Natal o delegado regional da RFFSA tomou as providencias imediatas ao tomar conhecimento do fato e denunciando os revoltosos a polícia.

Fonte: DIÁRIO DE NATAL, 16/02/1959, p. 2.
    
     Parece que as informações publicadas pelo jornal citado não foram bem explicadas tanto que o diretor da RFFSA escreveu ao jornal para que fosse publicada uma nova reportagem desta vez esclarecendo os fatos ocorridos em João Câmara conforme veremos a seguir.

Esclarecimento da   diretoria da RFFSA   sobre o ataque do trem
    O delegado regional da RFFSA em Natal escreveu ao diário de Natal para esclarecimento do que ocorrera em Baixa Verde sobre os ataques aos trens que transportavam água para a cidade.
      Transcrevemos na integração que foi publicado a pedido pelo referido diretor no jornal citado.
      Título de introdução da matéria de esclarecimento
    “ABASTECIMENTO D’ÁGUA PELA RFN A BAIXA VERDE SEMPRE FOI NORMAL”.
      Subtítulo “Carta de esclarecimento do delegado em Natal”
      Introdução da retificação do jornal: “Recebemos com pedido de publicação a seguinte carta:”
      Texto do delegado regional da RFFSA José Manoel Vanderlei Filho:
      Natal, 18 de fevereiro de 1959
   Sr. Diretor do jornal “DIÁRIO DE NATAL”, li na última página do vosso conceituado jornal no número do dia 17 do corrente um artigo intitulado “distúrbios em Baixa Verde...” diversos tópicos que não correspondem as informações prestadas por telefone a esse jornal, quando me foi pedido explicasse  o que ocorrera.
   Assim, para esclarecer-vos, bem como ao público em geral, peço seja publicado no mesmo local as seguintes informações:
      Sobre o tópico represália “segundo informações da própria Sampaio Correia, a atitude verificada ontem foi uma represália em consequência da suspensão no fornecimento d’água que aquela ferrovia fazia para Baixa Verde”, desejo seja esclarecido que não houve interrupção do fornecimento d’água para Baixa Verde, e que  não sei se o assalto ocorreu a titulo de represália, pois nada foi feito que pudesse dar lugar a tal violência, uma vez que o fornecimento d’água vinha sendo feito normalmente (um tanque por diariamente).
    Mais adiante apareceu no artigo do dia 17 : “depois percebendo que não existia a necessidade imprescindível do fornecimento da água para Baixa Verde que possuía açudes e não se ressentiria da falta do liquido e ainda porque o abastecimento pela Rede provocaria prejuízo a Ferrovia, resolveu a Administração local suspender a ida do vagão tanque para a cidade referida”. Esclareço que não foi sustada a ida do vagão tanque para Baixa Verde em tempo algum, os fornecimentos continuaram normais.  Somente agora após o terceiro assalto ao trem é que foi interrompido porque houve não houve mais trem para aquela localidade.
   Mais adiante: “surge o deputado Aluízio Alves que interfere junto ao Dr. Renato Feio, solicitando a reconsideração da medida conseguindo que o vagão tanque da Sampaio Correia voltasse a abastecer Baixa Verde. Como a autorização demorasse a chegar o povo passou a assaltar os trens roubando-lhes toda a água que levava”. Peço seja retificado o tópico a cima esclarecendo que não foi bem que o dr. Aluízio  Alves solicitou a presidência da Rede Ferroviária Federal S.A, talvez fosse sobre o abastecimento de 50% no valor do frete da água e sobre o aumento dos vagões tanques.
     Durante o ano de 1958 até o fim de janeiro de 1959 vinha a Estrada de Ferro fornecendo um tanque de dois em dois dias, e, as vezes diariamente.Recebi aqui, então, (talvez em consequência da atuação do Dr. Aluízio Alves) ordem para conceder o abatimento de 50% no frete da água, e depois para fornecermos de qualquer forma um vagão tanque diariamente, referida ordem foi cumprida imediatamente desde o dia 3 do corrente.
     Para atender esta ordem fui forçado a mandar retirar um dos carros de passageiros do trem de Baixa Verde, substituindo por um vagão tanque. É conveniente salientar que aos domingos não há trem para Baixa Verde e por isso não se remete vagão tanque para ali.
       A seguir dou a baixo um resumo estatístico do fornecimento d’água feito a  Baixa Verde em 1958 comparativamente com anos anteriores:

Ano
Nº de tanques
Litros
1953
363
5.570,000
1954
318
6.558,000
1955
315
3. 802,000
1956
267
4.007,000
1957
225
4.177,000
1958
273
5.330,000

     Desejo adiantar que tendo recebido hoje dia 18, solicitação do prefeito de Baixa Verde para fornecimento d’água determinei ida para ali de um trem conduzindo exclusivamente água, sendo dois tanques de 30.000 litros para a prefeitura local.
       Infelizmente não pude ainda ser restaurado o trafego dos trens, por não ter o sr. Secretário de Estado da Segurança Pública, tomado até o momento qualquer providencia no sentido de garantir a segurança do trafego ali.
   Certo de vossa atenção, neste ensejo subscrevo-me com estima e consideração.
                             José Manoel Vanderlei Filho
                                 Delegado regional

Fonte: Diário de Natal, 19/02/ 1959, p. 2 e 8.

 Considerações do autor do blog
     Pelo exposto a cima ficamos sabendo dos fatos ocorridos naquele ano de  1959 em que se deu ao menos 3 ataques a trens pela população que protestava pelo acesso água potável, o último desses ataques foi incitado pelo então jornalista Geraldo Melo que viria a ser governador do estado em 1986, a época do fato ocorrido em João Câmara ligado politicamente a Aluízio Alves.
    Interessante notar que o serviço de abastecimento de água por meio de vagões tanques ocorriam regulamente para João Câmara desde 1953 conforme se deduz dos dados estatísticos apresentados pelo diretor regional da RFFSA citado a cima.

     Mais digno de nota ainda é a afirmação do jornal Diário de Natal de que a prefeitura de João Câmara procurava lucrar com a miséria da população revendendo o precioso liquido pelo preço 3 vezes mais que o frete cobrado pela RFFSA.


Siglas usadas nesse texto

EFSC-Estrada de Ferro Sampaio Correias.Usada por nós.
RFFSA-Rede Ferroviária Federal S.A.Usada por nós.
RFN-Rede Ferroviária do Nordeste.Usada uma vez pelo jornal citado.
    As respectivas siglas se referem a uma mesma empresa  ferroviária, ou seja a estrada de ferro que ligava Natal a São Rafael denominada Estrada de Ferro Sampaio Correia, a época encampada pela Rede Ferroviária Federal S.A.