sábado, 22 de dezembro de 2018

DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE AREZ EM 1881



        Arez (ou Arês) é um município do estado do Rio Grande do Norte localizado na microrregião Litoral Sul a 58 km de distância de Natal.
    Em 02/01/1881 foi enviado um oficio pelo bibliotecário da Biblioteca Nacional Benjamin Franklin Ramiz Galvão a Câmara municipal da então Vila de Arez e recebido pela mesma em 10/05/1881 cujo documento solicitava informações a cerca do município.
       Este oficio  na verdade foi enviado  a todos os municípios da então província do Rio Grande do Norte, porém só 11 responderam a solicitação, dentre eles estava Arez.
      Naquele ano a câmara estava composta pelos seguintes membros:Manoel Joaquim Pessoa de Lima –vice-presidente; Primo Feliciano Mártir; Manoel Januário Bezerra Carvalcanti Sobrinho; Joaquim Sotero da Cunha e Francisco Figueira da Costa.
   O oficio foi remetido pela Câmara municipal de Arez em 31/05/1881.
     O texto da referida descrição do município de Arez em 1881 foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p 237-239 cujo teor transcrevemos a seguir de acordo com o que foi publicado com o referido Anais somente atualizando a ortografia de algumas palavras em desuso. A gramática e a sintaxe foram conservadas segundo o texto publicado nos Anais.Ei-lo:


Província do Rio Grande do Norte
Comarca de São José de Mipibu
Descrição do município de Arez

Aspectos gerais
        Do lado do sul, leste e norte é este município cercado de rios e lagoas, é geralmente plano e coberto de matas as quais sucedem extensos campos com ricas pastagens para a criação de gado.
Ao oeste é plano se compõe de muitos campos que abundam uma excelente pastagem, como também em arvores e arbustos, como mangabeiras, cajueira e jabuletita, de cujo fruto,  extraem os habitantes deste Município um excelente óleo que é alimentício e muito medicinal, de cujo fabrico extraem grande lucro; a mangabeira de cuja casca extraem o leite que da borracha para o que extraem-se muito leite no ano de 1778 de que fez a  exportação para o Recife e Paraíba.
O caju de cujo fruto extraem o vinho de cujo fabrico os habitantes deste Município terão muito lucro.
             A igreja e convento de Arez em 1958
Fonte: enciclopédia dos municípios, IBGE, 1958.

Mar e portos
      Pelo lado oriental é este Município banhado pela lagoa de Guaraira e o mar e apresenta um porto para barcaças e embarcações pequenas o qual fica no lugar Tibau pertencente ao Município de Goianinha e dista desse mesmo porto deste Município 2 léguas.
        A grande lagoa a cuja margem esquerda fica este Município tem 4 léguas de extensão, cujas as margens são assaz férteis , nas quais os habitantes deste Município cultivam a cana de açúcar, mas os lucros que extraem são muito precários  por causa das grandes enchentes que entram na mencionada lagoa, que vazam com grande demora por ser a barra do rio que entra na mesma lago de Guaraira a do rio Traira que banha o município de Papari cujas as enchentes reunidas a do rio Jacu que banha este Município demoram-se muito por causa da barra que é muito estreita e quase entulhada de pedras e fica muito distante quase 5 léguas deste Município.
        O mar que confina com este Município do mesmo lado fica muito contíguo a lagoa Guaraira da qual está separada por uma ponta de terra de extensão em 286 braças de largura de terreno arenoso e coberto de arvores por onde se oferece um esgoto para as enchentes que tanto dano causam não só aos habitantes deste Município como aos dos município limítrofes, o que já projetou levar a efeito um particular, tendo dado principio em 1775 em que houve enchente em que apeledou-se diluvial;  o que não realizou-se por falta de auxilio não só  dos proprietários como do governo.
        Os habitantes deste Município  alimentam a doce de que esta noticia chegando ao alto conhecimento do nosso Augusto Monarca em cujas mãos repousam os destinos da nossa cara Pátria se levará  a efeito este , o qual redundará um tanto proveito não só para os proprietários e sim para o governo  pela grande exportação de açucares que se calcula em 100 mil pás cultivando-se ambas as margens da lagoa.
Rio e lagoas
        Seu território é regado por diversos rios e lagoas, sendo o mais notável o Jacu que despeja na lagoa Guaraira, onde é notável para causas que fabricam os habitantes desta Vila para pescarias dos diferentes peixes tais como: curimã, camorupim, camurim, peba e pecu, carapeba, uburana,  tainha, carapicu, cará, Curimatá, traira, jacunhá, piau, cangati, etc, os quais dão não somente para o consumo diário como para as salgas com destino a exportação  para a província da Paraiba.
        O mesmo rio nascendo em uma serra do sertão desta Província depondo um curso de 50 léguas reúne-se com o rio Carrurú que vem da lagoa de Papary e desemboca no mar estando até o Município em toda sua extensão de sudoeste a leste  e nordeste tomando o território do Município a configuração de uma península.Há também para o lado oeste a 1,5 légua de distancia um rio perene denominado Urucará, cuja a margem serve de divisão deste Município com o da Vila Imperial de Papary até a lagoa Papary onde faz barra o mesmo rio pelo lado norte deste Município servindo o Mara da mesma também de divisão daquele município com este.
                   localização do município de Arez
Fonte: wikipedia, 2018.

História
        A vila de Arez foi primitivamente uma missão jesuítica, aqui fundada para a catequese dos índios chamados ao aldeamento para o qual foi escolhido o local em que se acha a Vila, sendo extinta a mesma missão por alvará de 03 de setembro de 1759, foi convertida em paróquia e teve o predicamento de Vila e Termo a qual por Lei Provincial da Assembleia Provincial, foi suprimida e transferida para a Povoação de Goianinha que foi elevada categoria de Vila e Termo e conservou-se suprimida até o ano de 1755 em que foi instaurada em consequência da Resolução Provincial nº 318 de 30 de agosto de 1862 quando foi novamente suprimida a Freguesia e incorporada como capela filial a Freguesia de Nossa Senhora do Ó da Vila de Papari.
        Outra lei,  ignora-se de que data,  restaurou a Freguesia e elevou a categoria de Vila com a mesma denominação de Arez.
                     Entrada da cidade de Arez e pelourinho


Autoria desconhecida.


Topografia
        Esta vila está situada a margem esquerda da lagoa Guaraira, em terreno plano e bastante elevado donde descortina-se a mais linda passagem de embarcação até de vapor costeiro.
As ruas que forma o quadro da Vila são direitas em número de 3 as quais representam não um quadrado e sim um paralelogramo servindo de lado mesmo a igreja dedicada a São João Batista e contigua a mesma um convento edificado pelos jesuítas, assobradado toda em roda que servia de morada para os mesmos aos quais é devida a boa escolha do lugar em que foi edificado o convento onde se observa uma bela vista do mar.
        Há também um cemitério construído de pedra e rebocado a cal, o qual ocupa uma grande área de terreno e é considerado no número dos melhores.
Salubridade
        O Município é bastante salubre, apenas reina a febre intermitente que é endêmica aqui, máxime na estação invernosa.
Minerais
        Os minerais mais usuais são a pedra de construção  e o barro de olaria de que se fabrica tijolo de alvenaria, telhas, louças de barro e outras obras.
Madeiras
        Há muitas espécies de madeira de construção e marcenaria. As principais são: sucupira, pau d’arco, quiri, piquiá, suruaji, louro, pau santo sapucarana, sapucaia, maçaranduba, pau d’óleo, copaíba, pau Brasil (ibirapitanga), quarubú, imbiriba, oititurubá, turuman, carauba, gitahi, pau sangue, oiticoró, pau ferro, geniparana, cajarana, golandina, jatobá, Angelim, muricim da mata, cupiuba, cupeba, guabiraba, cabuçú, imbiridiba.
Frutas silvestres
     Caju, cajurana, cumboim, ubaia, maracujá, pitomba, goiagiru, araticum, mangubá, maçuranduba, guabiraba.
Animais silvestres
      Veado garapu e arpurouro (?) que é de grande tamanho, cutia, coelho, preá, maracajá, assu e murim, capivara, lontra, que são anfíbias, e paca, quandú, sagui, furão, papa-mel, gato bravo, timbú, tatus, tamanduá, jaguacinim, raposa a que os índios denominam guará.
     Quanto as aves encontram-se nas matas jacu-assu, e pema, aracuã, nambu-apé, zabelê, araponga, trocal, galega, juriti, jaçanã, marreca, maranhão, mergulhão, curão, socó, tamatião, conduca, pecaparu, gaivota, caracará, gavião, colhereira, garça e maçarico.
     As aves cantoras são: canários, cupiro, xéxeu, , coris, bicudo, patativa, coneliz (?), sabiá, pintasilgo. No número de aves grandes entra a seriema.
A igreja Matriz e o antigo convento dos jesuítas de Arez e pelourinho
autoria desconhecida.

População
      Segundo o último recenseamento consta a população 2.500 almas.
Agricultura
    Consiste na cultura de cana de açúcar, tabaco, milho, algodão, mandioca e feijão.Também se cultivam muitas espécies de frutas: laranjas, lima, coco, dendê, bananas, ananaz, melão,melancia e outras hortenses, alem de diversos legumes.
Criação
       A criação consiste em gado vacum e cavalar.
Indústria
      A indústria fabril consiste em açúcar, aguardente, fumo, farinha de mandioca e obras de olaria.
Comércio
     A exportação limita-se ao açúcar, aguardente, fumo, farinha de mandioca. A importação consiste em ferragens, vidro, louças, panos  e outros objetos de fábricas estrangeiras.
Instrução
       Para a instrução há duas aulas primárias para ambos os sexos.
Divisão eclesiástica
     Pertence este Município a Diocese de Olinda e consta de uma só paróquia.
Distâncias
      Dista este Município da Capital da Província 13 léguas ao norte. As distancias às vilas vizinhas  confinantes são as seguinte:
       À vila de Papari 3 léguas ao norte.
       À vila de Goianinha 13 léguas ao sul.
       À cidade de São José de Mipibu 4 léguas ao noroeste.




Fonte: Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p 237-239.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

JASON RIGBY O CONSTRUTOR E PRIMEIRO SUPERINTENDENTE DA ESTRADA DE FERRO NATAL A NOVA CRUZ



Jason Rigby (1846-1910) foi o primeiro superintendente da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz, assim como o engenheiro responsável pela sua construção. Foi um dos muitos ingleses que moraram em Natal no final do século XIX.
Jason Rigby foi engenheiro membro do Institution of civil enginers of england (Instituto dos Engenheiros Civis da Inglaterra, em tradução livre).
Eis sua biografia até ser nomeado superintendente da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz:
Jason Rigby obteve o diploma de engenheiro em 1867, sendo graduado em Artes pela Universidade de Dublin em 1870.
Em 1868 foi discípulo do Sr. James Price, passando depois ao cargo de adido do escritório encarregado dos trabalhos gerais da Estrada de  Ferro Midland Great Western da Irlanda.De 1871 a 1872 foi ajudante do Sr. Tuft, administrador do Condado de Austrin, tendo um distrito a seu exclusivo cargo.Em 1872 partiu para Buenos Aires com outros 13 companheiros, empregando-se com 1º expedição.Em 1875 voltou ao seu país e foi contratado para a Estrada de Ferro Paraná a Mato Grosso, sob a direção do capitão Paim e W. Lloyd.Esteve durante 3 anos nesta comissão, penetrando com seus companheiros em regiões do Brasil onde até então nenhum homem branco havia pisado.
        Com a possibilidade da exceção de um, era ele tido como o único sobrevivente desta expedição.
Em 1876 voltou são ao seu país e casou-se com miss Anne Alice Andrews. Rigby fez-se sócio do Instituto dos Engenheiros Civis em 1876, sendo eleito membro efetivo em 1883. Ainda em 1876 ocupou-se dos trabalhos das estradas de ferro de Lancashire.Voltou no mesmo ano para o Brasil para administrar a construção da  Imperial Brazilian  Natal and Nova Cruz Railwy Company, na província do Rio Grande do Norte.
Em Natal
Segundo o jornal Avulso o engenheiro Jason Rigby chegou a Natal em 05/01/1877 junto com um companheiro para explorarem o terreno e organizar as plantas da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz. Contava a época com 31 anos.
O Brasil não era desconhecido para ele, mas talvez a região nordestina sim. Seria para ele mais um desafio a ser perseguido, comum aos intrépidos engenheiros que se aventuraram pelo Brasil a fora construindo ferrovias na segunda metade do século XIX.
        Ainda segundo o referido jornal “seria impossível descrever os esforços e sacrifícios deste homem trabalhador, em uma região completamente estranha- através das chapadas agrestes, dos paus, das matas sombrias, vencendo tudo dominado sempre da grande ideia” (AVULSO, 27/02/1880, p.1).
        Que emoções não sentira ele, filho da Europa, a braços com esta exuberante natureza americana tão diferente da de sua pátria – desde arvore até o reptil, desde o solo até o céu dizia o jornal citado.
        Seus múltiplos esforços em terras potiguares foram coroados, porquanto organizou ele as plantas, que tiveram o fim destinado e por decreto de 06/04/1878 foram elas aprovadas.
Já segundo o Diário de Pernambuco o nomeado engenheiro chefe da construção da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz Jason Rigby chegou ao Recife em 29/09/1878 no vapor inglês Tagus.Ele seguiu ao seu destino no vapor Pernambuco que vinha do sul, a fim de dar inicio a seus trabalhos em terras potiguares (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 27/09/1878,p.1).O restante do pessoal e o material para a estrada partiria da Inglaterra e em breve estaria em Natal.
Segundo o monitor campista o engenheiro Jason Rigby era um homem ilustrado e de longa prática (MONITOR CAMPISTA, 26/10/1878, p.1).
Já em Natal no dia 30/09/1878 o engenheiro Jason Rigby comunicou ao presidente da província que em 01/10/1878 pelas 16h00 teria lugar a inauguração da estrada no sítio Refoles, o que efetivamente aconteceu em presença de numeroso concurso de pessoas de todas as classes. Era o inicio dos trabalhos de construção da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz.
O presidente da província não compareceu por motivos de saúde.
Depois das formalidades conforme normas protocolares, ao toque do hino nacional, serviu-se todos os que ali se achavam uma mesa de toast, e falaram sobre o esplêndido acontecimento diversas pessoas, a saber: o engenheiro major J. Guilherme, major Pinheiro, Dr. Carvalho, Thomas Gomes e outros, tendo o chefe de policia levantado um brinde ao chefe da nação. A festa foi estrondosa. Houve passeata a noite com musica, foguetes, etc, sendo cumprimentados em sua casas o Dr. Moreira Brandão, Dr. Luis Carlos, Dr. Manoel Quitiliano, vice cônsul Joaquim Inácio e o coronel Bonifácio, reinando  a maior animação  e entusiasmo.
Além dos já citados a cima, o juiz de direito R. Morato, o ajudante de ordens do governo e vice-cônsul Odilon, o presidente da câmara, negociantes, proprietários e todos os funcionários públicos assistiram “a este glorioso festim que é a consagração do trabalho, do progresso e da civilização”. (MONITOR CAMPISTA, 26/10/1878, p.1).
Prometeu o engenheiro Jason Rigby que em 18 meses estaria concluída toda a linha.
        De setembro de 1876 em diante tomou conta da construção da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz até ser nomeado, em 1883 pelo Sr. Douglas Fox e seus associados como engenheiro residente.  Logo depois de concluída a linha e sua inauguração em 28/09/1880 a Administração o convidou para ocupar o cargo de presidente geral, cargo que empenhou até 1885 quando passou o cargo ao engenheiro John Morant que foi nomeado pelo diretor da companhia para o referido lugar em 19/10/1885 (CORREIO DE NATAL, 19/10/1885, p.2).Terminando assim sua presença em terras potiguares.
Outras funções
Conforme o Jornal do Comércio (07/10/1910, p.3) o Sr. Frank Parishi que era presidente da Great Western of Brazil Railway-GWBR ofereceu então a Jason Rigby a diretoria dessa linha, cujas funções exerceu até 1890, vivendo em Pernambuco, onde a febre amarela, de que falecera o seu predecessor, grassava nessa ocasião.
        Deixou a GWBR para assumir a direção da Estrada de Ferro Minas ao Rio para a qual fora nomeado pelo Sr. Edgell Hunt. Pouco tempo depois o Sr. Reginald Neild convidou-o para a Estrada de Ferro Entre Rios, que ele dirigiu durante 3 anos vivendo no Paraná.
        Em 1895 ainda a convite do Sr. Frank Parish foi diretor geral da Estrada de Ferro Buenos Aires e Rosário, na Argentina, quando esta ferrovia se fundiu com a Estrada de Ferro Central da Argentina.
        Ocupou esse lugar até 1899, época em que voltou ao seu país para aceitar em colocação no escritório central da companhia. No mesmo ano foi esteve a frente da Great Souterhern Railway Company e por morte do Sr. Frank Parish foi eleito presidente desta companhia.
        Jason Rigby faleceu em Londres em 15/09/1910 aos 64 anos. Na data do seu falecimento o engenheiro Rigby fazia parte de diversas companhias. Os seus funerais realizaram-se no cemitério de Putney Vale. A morte de Jason Rugby foi noticiada no obituário do jornal Times de Londres.
      Abaixo a capela do cemitério Putney Vale no sudoeste de Londres onde foi enterrado o engenheiro Jason Rigby.



domingo, 9 de dezembro de 2018

REALÇANDO AS BELEZAS DA CAPITAL POTIGUAR EM 1935


      Há quem diga que a capital potiguar se modernizou com a chegada dos americanos durante a Segunda Guerra Mundial a partir de 1942, porém, os registros mostram que a modernização urbana de Natal ocorreu na década precedente como veremos a seguir.

                            Sede da prefeitura da capital potiguar
                                                                             Fonte: A Noite, 19/01/1935, p. 14.

      Em informe publicitário publicado no jornal A Noite se dizia que a “Natal,  a bela capital do Rio Grande do Norte vem passando, durante o atual governo, por uma transformação completa” (a noite, 1935,p.14).Tratava-se do governo do interventor federal Mário Câmara.
   Ainda de acordo com a referida publicação as pessoas que conheciam Natal anteriormente se admiravam do extraordinário surto de progresso que lhe vinha realçando cada vez mais seus encantos naturais.
    Em  1935 a administração da capital potiguar foi confiada pelo interventor ao engenheiro Miguel Bilro que vinha realizando obras de grande vulto dotando-a de aspecto realmente digno dos seus merecimentos.Eis a seguir um resumo das realizações feitas pelo referido prefeito.
      Conclusão da praça Alberto Gomes com a  construção de 2.000 m² de pavimentação a paralelepípedos assentados e rejuntados  com areia sobre base de concreto de pedra preta.
     Inicio e conclusão da Avenida Nísia Floresta, no bairro da Ribeira, obra de grande necessidade para facilitar o trafego na cidade.Para esta obra foram despendido inicialmente 44:000$000 para desapropriação de casas necessário para o alargamento da avenida.Foram executados 5.800 m² de pavimentação a paralelepípedos de granito sobre base de pedra preta britada comprimida; meios fios de cantaria ou passeios e duas ordens de canteiros centrais em cantaria totalizando 1.680 m de meio-fios; arborização dos canteiros centrais sendo empregados o oiti ao invés de fícus para a arborização.
                        Trecho da Avenida Nisia Floresta
Fonte: A Noite, 19/01/1935, p. 14.

Trecho da Avenida Tavares de Lira
Fonte: A Noite, 19/01/1935, p. 14.

Trecho da rua Junaqueira Aires

                                                                             Fonte: A Noite, 19/01/1935, p. 14.
    Calçamento da rua Ferreira Chaves, rua Sachet e rua 15 de Novembro, sendo adotado o mesmo tipo da Avenida Nisia Floresta, totalizando 1.700 m², dos quais 540 m em meio-fio de cantaria dos passeios laterais.
       Iniciada em outubro e 1933 e concluída em abril de 1934 a rampa de acesso entre a rua  Sul e a Juvino Barreto na extensão de 190m e totalizando 3.20 m² de pavimentação a paralelepípedo de granito rejuntado a cimento e assentados sobre concreto virado.
      No final de 1934 foi iniciada a construção da Avenida Rio Branco no trecho entre as ruas Juvino Barreto e Ulisses Caldas no total de 8. 400 m² de pavimentação a paralelepípedos rejuntado de cimento e sobre base de concreto virado.
                         Trecho da Avenida Rio Branco 
                                                                     Fonte: A Noite, 19/01/1935, p. 14.
   Concluído pontilhão do Taborda sobre o rio Cajupiranga com 700 metros de vão  e 5 metros de largura em cimento armado e alas de alvenaria ciclopica.
   Em agosto de 1934 estava em franco andamento a construção da Avenida Deodoro da Fonseca, considerado pela referida publicação como o maior empreendimento da cidade aquela época e que seria concluída em 1935 “dada a magnitude da obra e a escassez de recursos”.
   A avenida Deodoro faria a ligação direta entre os bairros do Alecrim e da Ribeira, alem de servir aos bairros do Tirol e Petropólis, começando na então Praça Alberto Gomes (Praça do Baldo) e terminar na esplanada da Ribeira com 30 metros de largura, passeio de 3,5m em meio fios de cantaria e canteiro central de 4 m de largura, teria todo o piso em paralelepípedo assentados sobre de pedra comprimida.
  Foi iniciada a Praça Pedro Velho em Petrópolis. Era plano do município construir um parque moderno no local que importaria numa despesa de 100:000$000.
    Foi iniciada em setembro e estava em franco progresso a estrada  de rodagem de Parnamirim em direção ao vale do rio Pitimbu margeando sobre o rio após a passagem deste rio sobre um pontilhão de cimento armado de 7 metros de vão e que faria a ligação com a lagoa de Parnamirim e a estrada de rodagem de São José de Mipibu logo após o campo da Late.
   Achava-se em construção desde agosto de 1934 pela prefeitura o prédio de alvenaria  com placas de piso e cobertura em cimento armado, de propriedade do Estado e situadao a Avenida Nisia Floresta que seria destinado ao Departamento de Segurança Pública.Este prédio foi construído com 600 m²  de área de pavimento térreo e 600 m² de pavimento superior.O prédio deveria ser  concluído em janeiro de 1935.
  Em 1934 foi estudado o abastecimento da capital potiguar que dependeria a obra no valor de 4.000:000$000 ( quatro mil contos) as despesas com os serviços.Pela prefeitura foi levantada a planta dos terrenos do Jiqui e lago do mesmo nome, de propriedade do Estado, local onde deveria ser feita a capitação  de água distante 12 km da capital.
    Além destes serviços foram conservados as estradas de rodagem do Tirol, Petrópolis, Alecrim, Areia Preta, realizados reparos de urgência no matadouro público e forno de incineração de lixo, assentados 100 bancos  de cimento armado nos jardins da cidade, aberto trecho na estrada do Tirol para Ponta Negra (povoado e praia do município distante 11 km da capital), serviço de terraplenagem no pátio do quartel da Policia Militar, conservação dos pavimentos atuais e outros inúmeros serviços pequenos.


Fonte: A Noite, 19/01/1935, p. 14.

AS ESTAÇÕES DE PARNAMIRIM, CAJUPIRANGA E PITIMBU



Na memória ferroviária potiguar trazemos hoje a evocação das estações de Parnamirim, Cajupiranga e Pitimbu.
         A estação de Parnamirim foi inaugurada em 1943. Antes, porém, a região era servida pela estação de Cajupiranga e Pitimbu,  ambos os distritos de Natal, a época da inauguração da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz até a emancipação do distrito de Parnamirim.Tratemos inicialmente da estação de Cajupiranga.
A estação da Cajupiranga
     A estação da Cajupiranga foi inaugurada em 28/09/1881 e localizada no km 23 do primeiro trecho da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz. Cajupiranga era uma região banhada pelos rios que lhe denomina e também o Pitimbu. Cajupiranga e Pitimbu, Japecanga  eram distritos de Natal e formavam uma idílica paisagem de canaviais ondulantes e mansas águas correntes produtora de cana-de-açúcar, contando com engenhos a vapor.A região tinha ainda as localidades de Pitimbu de Cima e Pirangi de Dentro.
        As terras ao sul do rio Pitimbu estavam, em 1889, nas mãos do senhor do Engenho Pitimbu, João Duarte da Silva.Posteriormente, o fidalgo comprou a maioria das propriedades vizinhas, incluindo uma grande área de tabuleiro plano ao sul do rio que dava nome à propriedade, distante 18 km de Natal. A área era conhecida como “a planície de Parnamirim” e fazia parte do Engenho Cajupiranga.Na imagem a baixo o horário da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz em 1890 em que constam a estação de Cajupiranga e a parada de Pitimbu.
      
Fonte: A República,1890,p.4.

   Em 1902 o jornal A  República cita Cajupiranga como povoação (A REPUBLICA, 07/07/1902, p.1), ou seja, havia ali certa aglomeração urbana.
Sobre as estações de Cajupiranga e Pitimbu encontramos estas pequenas citações, onde em 1896, todas as estações e paradas da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz haviam sido pintadas e reformadas a exceção das paradas de Pitimbu e Cajupiranga (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1896, p.387).
Em 1907 a receita da estação de Cajupiranga foi de 2:877$$250 (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1907, p.372).
                  Ruínas da estação de Cajupiranga
A plataforma da estação em 2010. Foto Francisco Ricardo de Souza Jr.
Com a inauguração da estação de Parnamirim a estação de Cajupiranga perdeu importância sendo reduzida a parada intermediária e não escapando da ceifa demolidora das paradas na década de 1960 por ser considerada antieconômica tendo sido então demolida.Atualmente as ruínas da plataforma da estação podem ser vistas no local.
A estação da Parnamirim
      Com a criação da Base Aérea de Parnamirim durante a Segunda Guerra Mundial a povoação que ali se estabelecera se tornou vila e a futura cidade começou a se desenvolver.
Como município, Parnamirim só foi emancipado em 1958. Chamou-se Eduardo Gomes de 1973 a 1987, mas voltou a ter o nome original depois disso. Cajupiranga ficou então como distrito do novo município.
O movimento populacional exigia então uma estação em Parnamirim, foi então que atendendo ao que expôs o Departamento Nacional de Estradas de Ferro o Ministro da Viação autorizou a mudança da estação de Cajupiranga para o local em quem se encontrava a Base Aérea de Parnamirim (A ORDEM, 01/09/1943, p.2).
A estação de Parnamirim foi construída no km 17 do trecho da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte embora a referida estação estivesse no trecho da antiga Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz tendo sido esta a ultima estação construída nesse trecho.
Segundo aviso da Diretoria da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte foi entregue no dia 15/09/1943 o trafego ao publico da estação de Parnamirim. Segundo o jornal a Ordem era mais um importante melhoramento introduzido pela Central “sempre empenhada em bem servir ao nosso publico” (A ORDEM, 15/09/1943, p.1).
                     A estação de Parnamirim

A estação, sem data. Autor desconhecido. Cessão Luiz Antonio Coutinho.

A estação original antes da demolição, foto sem data por Prefeitura Municipal.

                       A estação de Parnamirim

A estação original antes da demolição, foto de 1985 por Luiz Antonio Coutinho

Já a estação de Parnamirim sobreviveu até a desativação dos trens de passageiros na década de 1980, em 1986 a antiga estação cedeu lugar a uma nova estação ‘moderna’ para ser a estação terminal da linha sul dos trens metropolitanos da CBTU condição vigente até os dias atuais.

                   A nova estação de Parnamirim
Construção da nova estação de Parnamirim em 1986.Fonte: Diário de Natal,1986.


A estação atual, em 2013. Foto Luizinho/Facebook.


Coberturas parciais na plataforma de Parnamirim. Foto Gunnar Gil em 2/2014.
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A parada de Pitimbu

A parada Pitimbu estava situada no km 13 tendo sido inaugurada em 28/09/1881 no trecho inicial da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz entre Natal e São José de Mipibu.

                                A estação Pitimbu
A estação em 2005. Foto CBTU.
      Hoje é uma estação dos trens metropolitanos de Natal. Construída em estilo moderno, supondo que houve a demolição da estação original.

 Acidentes
   Um grave acidente aconteceu em Cajupiranga em 1952.A composição vinha de Recife com direção a Natal e ao passar pelo pontilhão sobre o rio Cajupiranga descarrilou, a locomotiva foi parar a 200 metros.
       O carro bagageiro tombou ficando uma parte sobre a linha férrea e outra no rio tombando também um carro de passageiros, não houve vitimas entre os passageiros desse carro.Morreram esmagados o graxeiro Manoel Sebastião, o guarda-freios Manoel Francisco e o lenheiro que viajava no bagageiro.Ficaram feridos o guarda-freios Julio Alves e o chefe de trem Gaspar Lopes sendo grave o estado do primeiro.
     O chefe da estação de Parnamirim declarou que antes do desastre por duas vezes viu pavoroso fantasma percorrendo a estrada atribuindo a essa ‘visão’ a ocorrência do acidente de consequências trágicas. (DIÁRIO DA NOITE, 1952, p.4).
     Na foto publicada no Diário da Noite a imagem do truck onde ficou esmagado o graxeiro .

                               O acidente de 1952
Fonte: Diário da Noite,1952,p.4.
      A causa do acidente foi atribuida ao afastamento dos trilhos, até então os vagões vinham em ordem e a composição seguia em ritmo normal.
       Outro grave acidente ocorreu em 1955 as 3h30  quando o trem de carga de prefixo FS-1 conduzido pela locomotiva 210 dirigindo-se de Natal a Goianinha virou espetacularmente entre as estações de Cajupiranga e São José de Mipibu.
      Ficaram feridos no acidente o maquinista Humberto Calvacanti e o foguista Manuel Crescêncio que foram conduzidos ao pronto socorro da capital. Sairam ileso o guarda-freios Agenor Teixeira e o condutor Edgard Teixeira sendo conduzidos até a estação de Parnamirim onde receberam socorros de urgência.O acidente foi  motivado por desarranjo em um dos elos que ligava a locomotiva aos carros. (CORREIO DA MANHÃ, 1955, p.9).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

SOBRE A PARÓQUIA DE SANTA CRUZ EM 1936



        A devoção a Santa Rita de Cássia, padroeira de Santa Cruz, remonta ao século XVIII na povoação fundada na ribeira do Trairi com o nome de Santa Rita da Cachoeira que era também conhecida como Santa Cruz do Inharé.

A capela de Santa Rita de Cássia
        Em 1831, Lourenço da Rocha e seu irmão José da Rocha e José Rodrigues da Silva, edificaram na povoação  a capela que dedicaram a Santa Rita de Cássia, a qual não só deram o necessário patrimônio  como a respectiva imagem, paramento e alfaias, obtendo ainda a provisão para a celebração de missas.

A criação da freguesia de Santa Rita de Cássia
        Pela lei provincial nº 24 de 27 de março de 1835 foi elevada a categoria de matriz a capela de Santa Rita. Como ainda não existia o município de Santa Cruz, a nova freguesia ficou pertencendo ao município de São José de Mipibu, pela resolução provincial nº 31 de março de 1835.
        Pela lei nº 199 de 27 de junho de 1849 foi transferida a sede da freguesia para a capela de São Bento, na serra dos Pires. A freguesia foi restaurada na primitiva sede em 1858 pela lei nº 393 de 24 de agosto daquele ano.
O município de Santa Cruz foi criado pela lei n° 777 de 11 de dezembro de 1876 com o nome de Trairi, tendo por limites os da freguesia de Santa Rita.
O primeiro vigário da freguesia de Santa Rita foi o padre João Jerônimo da Cunha que regeu a freguesia por 5 anos, sendo substituído pelo padre Camilo de Mendonça que foi quem  conseguiu a transferência  da sede da freguesia para a capela de São Bento, em 1849, aumentando-a com o distrito de Anta Esfolada (atual Nova Cruz), esta ultima foi separada de Santa Cruz em 1858.

A matriz
No local da antiga capela foi edificada a atual matriz de Santa Cruz, o qual ao longo dos tempos passou por  vários melhoramentos e ampliações sob a direção de diversos  vigários até a atual configuração arquitetônica.
              A matriz de Santa Cruz em 1936
Fonte: A Ordem, 23/05/1936, p.1.

Associações religiosas
        Em 1936 existiam na paróquia de Santa Cruz o Apostolado da Oração, com 48 zeladores e zeladoras e mais de mil associados, a Associação das Dores, Associação de São José, Centro de Catecismo, com 250 crianças, a Associação da Propagação da Fé, Associação das vocações Sacerdotais, etc.
        Pelo padre Benjamim Sampaio foram fundadas a P.U.T são José, com 24 zeladoras e 718 sócias, também foi ereta pelo bispo diocesano em 18/03/1934 a Cruzada Eucarística e instalada em Santa Cruz em 19/05/1935.O padre Benjamim Sampaio ainda reorganizou a conferência de São Vicente.

Padre Benjamim Sampaio vigário de Santa Cruz em 1936
                                                                            Fonte: A Ordem, 23/05/1936, p.1.
Movimento religioso
      Em 1936 foram realizados 380 casamentos, 1850 batizados, 9.050 confissões, 7.250 comunhões sendo 250 de primeira comunhão de crianças e dadas 39 unções dos enfermos.

As capelas
A freguesia possuía varias capelas nas povoações e povoados, entres estas pode-se citar as seguintes:
A capela do Boqueirão era particular.
A capela de Sitio Novo foi reformada e aumentada em 1936 e o patrimônio organizado.
A capela de Jericó sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo foi construída em 1869, tendo doado o patrimônio o Sr. José Joaquim da Silva. Em 1936 havia nela o centro do apostolado com 12 zeladoras e 224 associadas, um centro de doutrina cristã com 105 alunos.
A capela de Campo Redondo foi construída em 1926, não possuía patrimônio em 1936, naquele ano a capela seria aumentada e organizado os eu patrimônio. Ali funcionava um centro de catecismo.
A capela de Japi foi inaugurada em 23/01/1936 sob a invocação de São Sebastião, tendo sido construída por Manoel Medeiros que deu seu patrimônio.
A capela de São Bento tinha patrimônio que abrangia toda a povoação.Lá funcionava um centro de catecismo em 1936 com 65 alunos.
Havia na freguesia outras capelas.
                            
                                Capela de Jericó


          Capela da paróquia de Santa Cruz não identificada

                       Capela Campo Redondo
                                                           Fonte: A Ordem, 23/05/1936, p.1.


Hino da paróquia de Santa Cruz
Letra de Luiz Patriota
Musica de Tte. José Gomes

I
Hoje em tudo, um mistério sagrado,
Paira, cheio de graça e de amor.
Envolvendo o Teu nome adorado,
Numa aureola de vivo esplendor.

Coro
Santa Rita de Cássia, relicário dos corações que sofrem resignados,
Ajuda-nos levar par ao calvário a cruz dos nossos míseros pecados.

II
Quantas bênçãos de paz, das alturas,
 Lá do céu derramadas a flux,
 Inefáveis, divinas e puras,
Através desse século de luz.
III
A nossa alma, a vibrar, Te estremece,
Nos momentos de dor ou prazer;
Bem Supremo que nos fortalece
Ante o mais doloroso sofrer!
IV
Ai de nós, a lutar entre escolhos,
De existência no mar sempre escuro,
Se não fora a esperança em Teus olhos
A levar-nos a abrigo seguro!


Fonte:  a ordem, 23/05/1936, p.1