sábado, 22 de dezembro de 2018

DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE AREZ EM 1881



        Arez (ou Arês) é um município do estado do Rio Grande do Norte localizado na microrregião Litoral Sul a 58 km de distância de Natal.
    Em 02/01/1881 foi enviado um oficio pelo bibliotecário da Biblioteca Nacional Benjamin Franklin Ramiz Galvão a Câmara municipal da então Vila de Arez e recebido pela mesma em 10/05/1881 cujo documento solicitava informações a cerca do município.
       Este oficio  na verdade foi enviado  a todos os municípios da então província do Rio Grande do Norte, porém só 11 responderam a solicitação, dentre eles estava Arez.
      Naquele ano a câmara estava composta pelos seguintes membros:Manoel Joaquim Pessoa de Lima –vice-presidente; Primo Feliciano Mártir; Manoel Januário Bezerra Carvalcanti Sobrinho; Joaquim Sotero da Cunha e Francisco Figueira da Costa.
   O oficio foi remetido pela Câmara municipal de Arez em 31/05/1881.
     O texto da referida descrição do município de Arez em 1881 foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p 237-239 cujo teor transcrevemos a seguir de acordo com o que foi publicado com o referido Anais somente atualizando a ortografia de algumas palavras em desuso. A gramática e a sintaxe foram conservadas segundo o texto publicado nos Anais.Ei-lo:


Província do Rio Grande do Norte
Comarca de São José de Mipibu
Descrição do município de Arez

Aspectos gerais
        Do lado do sul, leste e norte é este município cercado de rios e lagoas, é geralmente plano e coberto de matas as quais sucedem extensos campos com ricas pastagens para a criação de gado.
Ao oeste é plano se compõe de muitos campos que abundam uma excelente pastagem, como também em arvores e arbustos, como mangabeiras, cajueira e jabuletita, de cujo fruto,  extraem os habitantes deste Município um excelente óleo que é alimentício e muito medicinal, de cujo fabrico extraem grande lucro; a mangabeira de cuja casca extraem o leite que da borracha para o que extraem-se muito leite no ano de 1778 de que fez a  exportação para o Recife e Paraíba.
O caju de cujo fruto extraem o vinho de cujo fabrico os habitantes deste Município terão muito lucro.
             A igreja e convento de Arez em 1958
Fonte: enciclopédia dos municípios, IBGE, 1958.

Mar e portos
      Pelo lado oriental é este Município banhado pela lagoa de Guaraira e o mar e apresenta um porto para barcaças e embarcações pequenas o qual fica no lugar Tibau pertencente ao Município de Goianinha e dista desse mesmo porto deste Município 2 léguas.
        A grande lagoa a cuja margem esquerda fica este Município tem 4 léguas de extensão, cujas as margens são assaz férteis , nas quais os habitantes deste Município cultivam a cana de açúcar, mas os lucros que extraem são muito precários  por causa das grandes enchentes que entram na mencionada lagoa, que vazam com grande demora por ser a barra do rio que entra na mesma lago de Guaraira a do rio Traira que banha o município de Papari cujas as enchentes reunidas a do rio Jacu que banha este Município demoram-se muito por causa da barra que é muito estreita e quase entulhada de pedras e fica muito distante quase 5 léguas deste Município.
        O mar que confina com este Município do mesmo lado fica muito contíguo a lagoa Guaraira da qual está separada por uma ponta de terra de extensão em 286 braças de largura de terreno arenoso e coberto de arvores por onde se oferece um esgoto para as enchentes que tanto dano causam não só aos habitantes deste Município como aos dos município limítrofes, o que já projetou levar a efeito um particular, tendo dado principio em 1775 em que houve enchente em que apeledou-se diluvial;  o que não realizou-se por falta de auxilio não só  dos proprietários como do governo.
        Os habitantes deste Município  alimentam a doce de que esta noticia chegando ao alto conhecimento do nosso Augusto Monarca em cujas mãos repousam os destinos da nossa cara Pátria se levará  a efeito este , o qual redundará um tanto proveito não só para os proprietários e sim para o governo  pela grande exportação de açucares que se calcula em 100 mil pás cultivando-se ambas as margens da lagoa.
Rio e lagoas
        Seu território é regado por diversos rios e lagoas, sendo o mais notável o Jacu que despeja na lagoa Guaraira, onde é notável para causas que fabricam os habitantes desta Vila para pescarias dos diferentes peixes tais como: curimã, camorupim, camurim, peba e pecu, carapeba, uburana,  tainha, carapicu, cará, Curimatá, traira, jacunhá, piau, cangati, etc, os quais dão não somente para o consumo diário como para as salgas com destino a exportação  para a província da Paraiba.
        O mesmo rio nascendo em uma serra do sertão desta Província depondo um curso de 50 léguas reúne-se com o rio Carrurú que vem da lagoa de Papary e desemboca no mar estando até o Município em toda sua extensão de sudoeste a leste  e nordeste tomando o território do Município a configuração de uma península.Há também para o lado oeste a 1,5 légua de distancia um rio perene denominado Urucará, cuja a margem serve de divisão deste Município com o da Vila Imperial de Papary até a lagoa Papary onde faz barra o mesmo rio pelo lado norte deste Município servindo o Mara da mesma também de divisão daquele município com este.
                   localização do município de Arez
Fonte: wikipedia, 2018.

História
        A vila de Arez foi primitivamente uma missão jesuítica, aqui fundada para a catequese dos índios chamados ao aldeamento para o qual foi escolhido o local em que se acha a Vila, sendo extinta a mesma missão por alvará de 03 de setembro de 1759, foi convertida em paróquia e teve o predicamento de Vila e Termo a qual por Lei Provincial da Assembleia Provincial, foi suprimida e transferida para a Povoação de Goianinha que foi elevada categoria de Vila e Termo e conservou-se suprimida até o ano de 1755 em que foi instaurada em consequência da Resolução Provincial nº 318 de 30 de agosto de 1862 quando foi novamente suprimida a Freguesia e incorporada como capela filial a Freguesia de Nossa Senhora do Ó da Vila de Papari.
        Outra lei,  ignora-se de que data,  restaurou a Freguesia e elevou a categoria de Vila com a mesma denominação de Arez.
                     Entrada da cidade de Arez e pelourinho


Autoria desconhecida.


Topografia
        Esta vila está situada a margem esquerda da lagoa Guaraira, em terreno plano e bastante elevado donde descortina-se a mais linda passagem de embarcação até de vapor costeiro.
As ruas que forma o quadro da Vila são direitas em número de 3 as quais representam não um quadrado e sim um paralelogramo servindo de lado mesmo a igreja dedicada a São João Batista e contigua a mesma um convento edificado pelos jesuítas, assobradado toda em roda que servia de morada para os mesmos aos quais é devida a boa escolha do lugar em que foi edificado o convento onde se observa uma bela vista do mar.
        Há também um cemitério construído de pedra e rebocado a cal, o qual ocupa uma grande área de terreno e é considerado no número dos melhores.
Salubridade
        O Município é bastante salubre, apenas reina a febre intermitente que é endêmica aqui, máxime na estação invernosa.
Minerais
        Os minerais mais usuais são a pedra de construção  e o barro de olaria de que se fabrica tijolo de alvenaria, telhas, louças de barro e outras obras.
Madeiras
        Há muitas espécies de madeira de construção e marcenaria. As principais são: sucupira, pau d’arco, quiri, piquiá, suruaji, louro, pau santo sapucarana, sapucaia, maçaranduba, pau d’óleo, copaíba, pau Brasil (ibirapitanga), quarubú, imbiriba, oititurubá, turuman, carauba, gitahi, pau sangue, oiticoró, pau ferro, geniparana, cajarana, golandina, jatobá, Angelim, muricim da mata, cupiuba, cupeba, guabiraba, cabuçú, imbiridiba.
Frutas silvestres
     Caju, cajurana, cumboim, ubaia, maracujá, pitomba, goiagiru, araticum, mangubá, maçuranduba, guabiraba.
Animais silvestres
      Veado garapu e arpurouro (?) que é de grande tamanho, cutia, coelho, preá, maracajá, assu e murim, capivara, lontra, que são anfíbias, e paca, quandú, sagui, furão, papa-mel, gato bravo, timbú, tatus, tamanduá, jaguacinim, raposa a que os índios denominam guará.
     Quanto as aves encontram-se nas matas jacu-assu, e pema, aracuã, nambu-apé, zabelê, araponga, trocal, galega, juriti, jaçanã, marreca, maranhão, mergulhão, curão, socó, tamatião, conduca, pecaparu, gaivota, caracará, gavião, colhereira, garça e maçarico.
     As aves cantoras são: canários, cupiro, xéxeu, , coris, bicudo, patativa, coneliz (?), sabiá, pintasilgo. No número de aves grandes entra a seriema.
A igreja Matriz e o antigo convento dos jesuítas de Arez e pelourinho
autoria desconhecida.

População
      Segundo o último recenseamento consta a população 2.500 almas.
Agricultura
    Consiste na cultura de cana de açúcar, tabaco, milho, algodão, mandioca e feijão.Também se cultivam muitas espécies de frutas: laranjas, lima, coco, dendê, bananas, ananaz, melão,melancia e outras hortenses, alem de diversos legumes.
Criação
       A criação consiste em gado vacum e cavalar.
Indústria
      A indústria fabril consiste em açúcar, aguardente, fumo, farinha de mandioca e obras de olaria.
Comércio
     A exportação limita-se ao açúcar, aguardente, fumo, farinha de mandioca. A importação consiste em ferragens, vidro, louças, panos  e outros objetos de fábricas estrangeiras.
Instrução
       Para a instrução há duas aulas primárias para ambos os sexos.
Divisão eclesiástica
     Pertence este Município a Diocese de Olinda e consta de uma só paróquia.
Distâncias
      Dista este Município da Capital da Província 13 léguas ao norte. As distancias às vilas vizinhas  confinantes são as seguinte:
       À vila de Papari 3 léguas ao norte.
       À vila de Goianinha 13 léguas ao sul.
       À cidade de São José de Mipibu 4 léguas ao noroeste.




Fonte: Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p 237-239.

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