Arez (ou Arês) é um município do estado do Rio Grande do Norte localizado na microrregião Litoral Sul a 58 km de distância de Natal.
Em 02/01/1881 foi enviado um oficio pelo bibliotecário da Biblioteca Nacional Benjamin
Franklin Ramiz Galvão a Câmara municipal da então Vila de Arez e recebido pela
mesma em 10/05/1881 cujo documento solicitava informações a cerca do município.
Este oficio na verdade foi enviado a todos os municípios da então província do
Rio Grande do Norte, porém só 11 responderam a solicitação, dentre eles estava
Arez.
Naquele ano a câmara estava composta
pelos seguintes membros:Manoel Joaquim Pessoa de Lima –vice-presidente; Primo
Feliciano Mártir; Manoel
Januário Bezerra Carvalcanti Sobrinho; Joaquim
Sotero da Cunha e Francisco
Figueira da Costa.
O oficio foi remetido pela Câmara
municipal de Arez em 31/05/1881.
O texto da referida descrição do
município de Arez em 1881 foi publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, 1991,
p 237-239 cujo teor transcrevemos a seguir de acordo com o que foi publicado
com o referido Anais somente atualizando a ortografia de algumas palavras em
desuso. A gramática e a sintaxe foram conservadas segundo o texto publicado nos
Anais.Ei-lo:
Província do Rio Grande do Norte
Comarca de São José de Mipibu
Descrição do município de Arez
Aspectos gerais
Do lado do sul, leste e norte é este
município cercado de rios e lagoas, é geralmente plano e coberto de matas as
quais sucedem extensos campos com ricas pastagens para a criação de gado.
Ao
oeste é plano se compõe de muitos campos que abundam uma excelente pastagem,
como também em arvores e arbustos, como mangabeiras, cajueira e jabuletita, de
cujo fruto, extraem os habitantes deste
Município um excelente óleo que é alimentício e muito medicinal, de cujo
fabrico extraem grande lucro; a mangabeira de cuja casca extraem o leite que da
borracha para o que extraem-se muito leite no ano de 1778 de que fez a exportação para o Recife e Paraíba.
O
caju de cujo fruto extraem o vinho de cujo fabrico os habitantes deste Município
terão muito lucro.
A igreja e convento de Arez em 1958
Fonte: enciclopédia dos municípios, IBGE, 1958. |
Mar e portos
Pelo lado oriental é este Município
banhado pela lagoa de Guaraira e o mar e apresenta um porto para barcaças e
embarcações pequenas o qual fica no lugar Tibau pertencente ao Município de
Goianinha e dista desse mesmo porto deste Município 2 léguas.
A grande lagoa a cuja margem esquerda
fica este Município tem 4 léguas de extensão, cujas as margens são assaz
férteis , nas quais os habitantes deste Município cultivam a cana de açúcar,
mas os lucros que extraem são muito precários
por causa das grandes enchentes que entram na mencionada lagoa, que
vazam com grande demora por ser a barra do rio que entra na mesma lago de
Guaraira a do rio Traira que banha o município de Papari cujas as enchentes
reunidas a do rio Jacu que banha este Município demoram-se muito por causa da
barra que é muito estreita e quase entulhada de pedras e fica muito distante
quase 5 léguas deste Município.
O mar que confina com este Município do
mesmo lado fica muito contíguo a lagoa Guaraira da qual está separada por uma
ponta de terra de extensão em 286 braças de largura de terreno arenoso e
coberto de arvores por onde se oferece um esgoto para as enchentes que tanto
dano causam não só aos habitantes deste Município como aos dos município
limítrofes, o que já projetou levar a efeito um particular, tendo dado
principio em 1775 em que houve enchente em que apeledou-se diluvial; o que não realizou-se por falta de auxilio não
só dos proprietários como do governo.
Os habitantes deste Município alimentam a doce de que esta noticia chegando
ao alto conhecimento do nosso Augusto Monarca em cujas mãos repousam os
destinos da nossa cara Pátria se levará
a efeito este , o qual redundará um tanto proveito não só para os
proprietários e sim para o governo pela
grande exportação de açucares que se calcula em 100 mil pás cultivando-se ambas
as margens da lagoa.
Rio e lagoas
Seu território é regado por diversos
rios e lagoas, sendo o mais notável o Jacu que despeja na lagoa Guaraira, onde
é notável para causas que fabricam os habitantes desta Vila para pescarias dos
diferentes peixes tais como: curimã, camorupim, camurim, peba e pecu, carapeba,
uburana, tainha, carapicu, cará,
Curimatá, traira, jacunhá, piau, cangati, etc, os quais dão não somente para o
consumo diário como para as salgas com destino a exportação para a província da Paraiba.
O mesmo rio nascendo em uma serra do
sertão desta Província depondo um curso de 50 léguas reúne-se com o rio Carrurú
que vem da lagoa de Papary e desemboca no mar estando até o Município em toda
sua extensão de sudoeste a leste e
nordeste tomando o território do Município a configuração de uma península.Há
também para o lado oeste a 1,5 légua de distancia um rio perene denominado
Urucará, cuja a margem serve de divisão deste Município com o da Vila Imperial
de Papary até a lagoa Papary onde faz barra o mesmo rio pelo lado norte deste
Município servindo o Mara da mesma também de divisão daquele município com
este.
localização do município de Arez
Fonte: wikipedia, 2018. |
História
A vila de Arez foi primitivamente uma
missão jesuítica, aqui fundada para a catequese dos índios chamados ao
aldeamento para o qual foi escolhido o local em que se acha a Vila, sendo
extinta a mesma missão por alvará de 03 de setembro de 1759, foi convertida em
paróquia e teve o predicamento de Vila e Termo a qual por Lei Provincial da
Assembleia Provincial, foi suprimida e transferida para a Povoação de Goianinha
que foi elevada categoria de Vila e Termo e conservou-se suprimida até o ano de
1755 em que foi instaurada em consequência da Resolução Provincial nº 318 de 30
de agosto de 1862 quando foi novamente suprimida a Freguesia e incorporada como
capela filial a Freguesia de Nossa Senhora do Ó da Vila de Papari.
Outra lei, ignora-se de que data, restaurou a Freguesia e elevou a categoria de Vila
com a mesma denominação de Arez.
Entrada da cidade de Arez e pelourinho
Autoria desconhecida. |
Topografia
Esta vila está situada a margem esquerda
da lagoa Guaraira, em terreno plano e bastante elevado donde descortina-se a
mais linda passagem de embarcação até de vapor costeiro.
As
ruas que forma o quadro da Vila são direitas em número de 3 as quais
representam não um quadrado e sim um paralelogramo servindo de lado mesmo a
igreja dedicada a São João Batista e contigua a mesma um convento edificado
pelos jesuítas, assobradado toda em roda que servia de morada para os mesmos
aos quais é devida a boa escolha do lugar em que foi edificado o convento onde
se observa uma bela vista do mar.
Há também um cemitério construído de
pedra e rebocado a cal, o qual ocupa uma grande área de terreno e é considerado
no número dos melhores.
Salubridade
O Município é bastante salubre, apenas
reina a febre intermitente que é endêmica aqui, máxime na estação invernosa.
Minerais
Os minerais mais usuais são a pedra de construção
e o barro de olaria de que se fabrica tijolo
de alvenaria, telhas, louças de barro e outras obras.
Madeiras
Há muitas espécies de madeira de construção
e marcenaria. As principais são: sucupira, pau d’arco, quiri, piquiá, suruaji,
louro, pau santo sapucarana, sapucaia, maçaranduba, pau d’óleo, copaíba, pau Brasil
(ibirapitanga), quarubú, imbiriba, oititurubá, turuman, carauba, gitahi, pau
sangue, oiticoró, pau ferro, geniparana, cajarana, golandina, jatobá, Angelim,
muricim da mata, cupiuba, cupeba, guabiraba, cabuçú, imbiridiba.
Frutas silvestres
Caju, cajurana, cumboim, ubaia, maracujá,
pitomba, goiagiru, araticum, mangubá, maçuranduba, guabiraba.
Animais silvestres
Veado garapu e arpurouro (?) que é de
grande tamanho, cutia, coelho, preá, maracajá, assu e murim, capivara, lontra, que
são anfíbias, e paca, quandú, sagui, furão, papa-mel, gato bravo, timbú, tatus,
tamanduá, jaguacinim, raposa a que os índios denominam guará.
Quanto as aves encontram-se nas matas
jacu-assu, e pema, aracuã, nambu-apé, zabelê, araponga, trocal, galega, juriti,
jaçanã, marreca, maranhão, mergulhão, curão, socó, tamatião, conduca, pecaparu,
gaivota, caracará, gavião, colhereira, garça e maçarico.
As aves cantoras são: canários, cupiro,
xéxeu, , coris, bicudo, patativa, coneliz (?), sabiá, pintasilgo. No número de
aves grandes entra a seriema.
A igreja Matriz e o antigo convento dos jesuítas de Arez e pelourinho
autoria desconhecida. |
População
Segundo o último recenseamento consta a
população 2.500 almas.
Agricultura
Consiste na cultura de cana de açúcar,
tabaco, milho, algodão, mandioca e feijão.Também se cultivam muitas espécies de
frutas: laranjas, lima, coco, dendê, bananas, ananaz, melão,melancia e outras
hortenses, alem de diversos legumes.
Criação
A criação consiste em gado vacum e
cavalar.
Indústria
A indústria fabril consiste em açúcar,
aguardente, fumo, farinha de mandioca e obras de olaria.
Comércio
A
exportação limita-se ao açúcar, aguardente, fumo, farinha de mandioca. A importação
consiste em ferragens, vidro, louças, panos
e outros objetos de fábricas estrangeiras.
Instrução
Para a instrução há duas aulas primárias
para ambos os sexos.
Divisão eclesiástica
Pertence este Município a Diocese de
Olinda e consta de uma só paróquia.
Distâncias
Dista este Município da Capital da Província
13 léguas ao norte. As distancias às vilas vizinhas confinantes são as seguinte:
À vila de Papari 3 léguas ao norte.
À vila de Goianinha 13 léguas ao sul.
À cidade de São José de Mipibu 4 léguas
ao noroeste.
Fonte:
Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p 237-239.
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