segunda-feira, 20 de junho de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE 6) AS IDEIAS DO CONCILIO VATICANO II INFLUEM NA DECISÃO DE SE CONSTRUIR UMA CATEDRAL MODERNA


”No terreno da construção da nova catedral, o sonho mais alto de D. Eugênio, o infatigável no bem, plantaram uma palhoça que vai brotar esperança”. 

(Palmira Wanderley, in: a ordem, 21-22/04/1962,p.3).


         Indagado certa vez por um repórter sobre quais foram os motivos que tinham levado a paralisação dos trabalhos da nova catedral de Natal, Dom Eugenio Sales que: “a nossa Catedral está parada periodicamente. Preferimos ter uma Igreja viva a uma Catedral de pedras frias. Preferimos ter uma emissora de rádio e um jornal que levem uma mensagem evangélica viva e autêntica aqueles que não frequentam a Igreja. E mais formos citados sobre isto no Concilio e vou repetir uma frase que lá ouvi: ‘a mais importante catedral do mundo não está construída, mais importante catedral é a de Natal. Quando foi citada essa frase não aludiram a uma construção de madeira e sim a um trabalho vivo e dinâmico que aqui é realizado’”. (A ORDEM, 13/03/1965, p.8).

        O trabalho citado no Concilio Vaticano II que aludiu Dom Eugenio Sales foi o Movimento de Natal, amplo campo de ação social e pastoral desenvolvido em todo território da arquidiocese de Natal iniciado na década de 1940 e em franca expansão na década de 1960.

Começa a surgir a ideia de uma catedral moderna para Natal

         Em 1966 já começava a desaparecer a ideia da construção da nova catedral de Natal de acordo com planta elaborada no estilo clássico neorromânico.

      A ideia que surgia, conforme o jornal A Ordem, era em torno de uma construção funcional em amplo galpão ao estilo do Palácio dos Esportes, por exemplo, para que pudesse abrigar o maior número de fiéis possível e que por sua vez saísse mais barata sua construção. (A ORDEM, 11/06/1966, p.3).

         Em 20/08/1967 o Arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte, anunciou oficialmente a sua decisão de reiniciar os trabalhos da construção da nova catedral metropolitana, desta vez em moldes modernos e simples com a armação em estrutura metálica.

De acordo com o jornal A Ordem, o anúncio de Dom Nivaldo Monte repercutiu muito bem entre o povo católico de Natal (A ORDEM, 26/08/1967, p.1).


Paláci de Esportes de Natal.A Ordem, 1967.

         Esta era uma das muitas construções em estrutura metálica em Natal. A nova catedral teria formas semelhantes.Contudo, a parte interna seria adaptada a finalidade que se tinha em vista, ou seja, um templo religioso voltado as funções da liturgia católica, num ambiente sagrado que possibilitasse a participação dos fiéis.

O anúncio de Dom Nivaldo Monte 

O anúncio de Dom Nivaldo Monte foi feito durante a homilia da missa das Escolas Radiofônicas que era retransmitida pela Emissora de Educação Rural (Rádio Rural de Natal), o qual lançou a campanha para o reinicio dos trabalhos de construção da nova catedral de Natal.

O evangelho daquele domingo falava justamente da confiança na Providência, por isso dissera Dom Nivaldo: “chegou a hora de construir a nossa Catedral. Quero lançar neste Domingo da confiança a campanha da nova Catedral”. O anúncio foi recebido com alegria e entusiasmo pelo povo católico de Natal que há tempos sonhava com a nova catedral.

O arcebispo de Natal lembrava em sua homilia que esta catedral, antes mesmo de ser construída já era conhecida no mundo inteiro. Falou ainda nos motivos que levaram seu antecessor, Dom Eugênio Sales, a interromper os trabalhos da construção anterior. Estes motivos, por sinal, repercutiram muito bem no exterior, servindo até de projeção do Movimento de Natal.

         Dom Eugênio Sales viu que era necessário primeiro construir a Igreja viva e atuante através da promoção humana e da dinamização dos trabalhos apostólicos e sociais. Aqueles arcos inacabados do terreno da praça Pio X, ao invés de representarem a inépcia do administrador, eram o símbolo de uma igreja vivente que em Natal se formava, havia dito Dom Nivaldo Monte.

         Passados já uma década onde o Movimento de Natal já estava firmado, Dom Nivaldo podia dizer que já estava construída a catedral de amoré agora estava na hora de se construir a catedral de pedra.

Inteiramente adaptada às reformas litúrgicas do Concilio Vaticano II

De acordo com o jornal A Ordem em 1966, Dom Nivaldo Monte em reunião com um grupo de padres da Arquidiocese pediu sugestões para uma nova catedral que fosse inteiramente adaptada às reformas litúrgicas do Concilio Vaticano II.

         Como resultado dessa reunião e de sucessivos encontros com engenheiros surgiu um belíssimo anteprojeto de uma Igreja moderna.Contudo, surgiu um impasse, sairia caríssima e inteiramente acima das possibilidades da Arquidiocese de Natal.

        Dom Nivaldo Monte chegou até a dizer que mesmo com muito dinheiro não conveniente construir uma igreja suntuosa numa região pobre. Mas, a catedral deveria sair do papel de uma maneira ou de outra.Era necessário pensar numa coisa acessível.As inúmeras estruturas metálicas espalhadas pela Capital potiguar especialmente o Palácio dos Esportes que tantas vezes servira de catedral, eram uma tentação e uma sugestão.

     A ideia havia vingado e após reuniões com o clero, leigos e autoridades surgiram propostas de duas fábricas de estruturas metálicas, uma de Fortaleza-CE, outra de Recife-PE, e que foram estes os primeiros passos dados para a concretização do projeto para uma catedral em estilo moderno em Natal.

       Dom Nivaldo Monte esperava que dentro de 15 dias já estivesse com todos os planos em mãos e dar reinicio aos trabalhos. Dom Nivaldo Monte desejava uma igreja ampla com capacidade de pelo menos 2.000 pessoas. A parte interna seria pensada tendo em vista as exigências da reforma litúrgica e uma melhor acomodação dos fiéis, permitindo uma visão perfeita do desenrolar das cerimônias e uma participação ativa de todos.Nada impedia que houvessem bancos ou até mesmo poltronas mais confortáveis como nos cinemas.A fachada moderna e funcional daria um tom de sagrado e ao mesmo tempo embelezaria o conjunto arquitetônico dos belos edifícios já construídos ou a construir no centro da Capital potiguar.

       A catedral, contudo, não seria provisória, mas sim definitiva como templo principal da Arquidiocese, da Capital e do Estado. Porém, em se tratando de uma estrutura metálica, haveria muito maior facilidade na sua remoção, caso se tivesse a possibilidade de melhorá-la ou adaptá-la no futuro.

         Dom Nivaldo Monte renovava o seu apelo a todos os natalenses e aos potiguares em geral para que colaborassem com entusiasmo e perseverança com o grande empreedimento.A Capital potiguar tinha urgência de um grande templo para as solenes celebrações litúrgicas nos dias festivos e mesmo para as missas dominicais.

         Segundo o arcebispo de Natal todo mundo via a grande afluência de pessoas nas igrejas de Natal onde se dizia que o “o povo não está dentro da igreja, mas a igreja dentro do povo”. "Temos fé, disse ainda Dom Nivaldo Monte, que na noite de Natal deste ano celebraremos a Missa na Catedral de aço. Serão mais de duas mil pessoas cantando a uma só voz os louvores de Deus Nosso Senhor”. (A ORDEM, 26/08/1967, p.6).

Começaram logo a surgir as criticas

Porém, antes mesmo de ter em mãos o projeto e dá inicio aos trabalhos da catedral em estilo moderno começaram logo a surgir as criticas, que não foram poucas, e a nova catedral já era objeto de polêmicas, sobretudo da parte da imprensa natalense.

         Segundo o jornal A Ordem, a Igreja recebia com alegria a participação das forças vivas da comunidade cristã, do povo de Deus, dos homens de boa vontade em obra tão importante com era a edificação do templo principal da Capital potiguar.

         A Arquidiocese recebia com boa vontade a opinião popular mas pedia paciência nas opiniões que muitas vezes eram dadas sem conhecimento de causa.

         Os argumentos apresentados giravam em torno de um só ponto, tocando sempre na mesma tecla: uma catedral em estrutura metálica não era uma catedral, mas um galpão, uma praça de esportes ou coisa que o valha.

         A arquidiocese, no entanto, nãovia como uma estrutura metálica fosse necessariamente ligada a essas finalidades. Como se não pudesse dar arte, estética, beleza de linhas a uma construção desse tipo.Gritava-se, segundo a Arquidiocese, que seria um monstro, um absurdo, um abuso.A prefeitura, diziam, não poderia permitir tal aberração numa bela e bem situada praça, que não poderia ser desfigurada por uma construção do tipo que se pretendia erguer ali.

         Em réplica a arquidiocese lembrava que foi a própria prefeitura de Natal que fez erguer uma estrutura metálica, o Palácio dos Esportes, numa das mais belas praças da Capital, a praça Pedro Velho.Além do mais a Arquidiocese não teria a ingenuidade de iniciar um trabalho como estes sem a anuência da prefeitura.

A Arquidiocese achava que era fora de tempo apelar para as catedrais do passado que levavam séculos para serem erguidas, lembrando da catedral de São Paulo que levou 50 anos para ser concluída.Eram estes exemplos que não poderiam ser imitados, sobretudo numa cidade como Natal que não possuia um templo a altura de seu progresso e de sua população.A arquidiocese lembrava que se deveria construir a catedral de Natal no mais breve tempo possível.O que não significava necessariamente improvisação e vulgarização.

         Para a Arquidiocese não era o momento de se ficar discutindo o conceito de “casa de Deus” ou “recinto sagrado”, porque se se fosse levado em consideração tais conceitos nunca se construiria a catedral, posto que casa de Deus era a casa dos homens, era o lugar onde eles se encontravam para cantar os louvores de Deus esse sentiam mais irmãos.Uma casa sagrada seria aquela que permitisse uma participação ativa e consciente na liturgia, não importava que houvesse uma estrutura metálica ou uma cúpula de Michelangelo. (A ORDEM, 09/09/1967, p.3).

        Eis os argumentos da arquidiocese para rebater as criticas suscitadas ao projeto de uma catedral em estilo moderno com estrutura metálica para a nova catedral de Natal.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

SOBRE A VISITA DO BISPO DE OLINDA A ESTREMOZ EM 1882


Estava anunciada a visita do bispo diocesano de Olinda, Dom José Pereira da Silva Barros, a cidade de Ceará-Mirim para o dia 14/08/1882, antes, porém o bispo e comitiva passariam pela povoação de Estremoz. A época a então província do Rio Grande do Norte fazia parte do território da Diocese de Olinda.

O relato da passagem do prelado revela aspectos da povoação de Estremoz que a época figurava como distrito do município de Ceará-Mirim.

As 07h00 da manhã, partiu de Natal o bispo acompanhado do seu secretário e outros cavalheiros, descendo para o Paço da Pátria, em cujo porto o presidente da província já o esperava em sua galeota para ir levá-lo á margem oposta do rio, donde deveria partir para Ceará-Mirim.

Como chovia e para não adiar por alguns minutos a partida e não alterar o programa de sua viagem, o bispo depois de agradecer as obsequidades dos cavalheiros que o acompanharam até á Coroa, montou á cavalo que, era um verdadeiro palafren manso, seguro, alvo e andador;  partiu com a sua comitiva.

Esta compunha-se do seu secretario, do padre José Alexandre, vigário do Ceará-Mirim, do médico Luiz Carlos Lins Wanderley ( autor do relato da referida visita pastoral), de um criado particular, um pajem e um guia.

Á pouca distância o aguaceiro recrudesceu e obrigou o bispo a tomar o seu capote e o guarda chuva, e, sem mostrar a mais leve contrariedade, prosseguiu em sua viagem, sempre alegre e comunicativo.

As 09h00 chegava a pequena comitiva á passagem da vila de Estremoz. Ai o foguete do ar anunciou aos habitantes da pequena vila a aproximação do bispo e dentro em pouco sucediam-se os cavaleiros que vieram ao  encontro do viajante ilustre.

 Já próximo da vila,  o bispo desceu do seu cavalo e, rodeado de povo, seguiu a pé e indo direto a Igreja de S. Miguel, que fazia parte do antigo convento dos jesuítas.

Estremoz

O médico Luis Carlos Lins Wanderley que fez parte da comitiva da visit pastoral e testemunha ocular dos acontecimentos assim descreveu a vila de Estremoz:

A antiga vila de Guajiru, hoje Estremoz, que foi sede da freguesia e que por lei provincial passou a pertencer a paróquia do Ceará-Mirim, pode se considerada uma ruína, como é o seu convento, a sua igreja a sua casa de câmara e tudo o mais. O povo ali é pobre e indolente. Vive da pequena lavoura que lhe facilita um terreno ubérrimo e fertilíssimo. Ali não ha nenhum comércio, nenhuma indústria, nenhuma arte. Um professor de 1ª letras, um subdelegado e um inspetor de quarteirão são as potestades do lugar. Nem sequer um capelão!

Continuando seu relato, o citado autor escreveu ainda que o bispo  perspicaz e atilado, compreendeu logo que se achava no meio de um povo, feliz pela crença religiosa e desditoso pelo abandono á própria inércia.

Em  sucessivos atos, o bispo percorreu a Igreja, revistando os altares e examinando o estado do convento; e depois de um substancial almoço que lhe ofereceu o  vigário, o Pe. José Alexandre, cedeu ás instâncias do povo e administrou o sacramento do crisma a 285 fiéis que de momento se apresentaram.

Aspectos de Estremoz em cartão postal de 1914

Por fim o bispo dirigiu-lhes a palavra sagrada, animando-os em sua fé, aconselhando-os em suas práticas, no amor ao trabalho e na devoção sincera ao Deus verdadeiro, Filho da Virgem Maria.

De acordo com o médico Luiz Carlos Wanderley, o bispo era como um pai extremoso a conduzir pela mão um filho cego. E que prazer tão santo, que consolação tão doce, que expansão tão de dentro da alma não se difundia por todo aquele povo!.

Igreja de Estremoz em 1907.

Os seus benditos, as suas ladainhas, as suas jaculatórias, cantadas em coro pelas mulheres; os seus arcos de parágrafos brancos, enfeitados de flores campesinas, o seu embevecimento em contemplar a face do seu bispo, o seu afã em beijar lhe o anel do pescador, eram as provas que lhe podia dar do seu muito amor e respeito. Dava quanto tinha, e em retribuição o bispo lhe prodigalizava a mais terna condescendência, o mais doce carinho. “Oh! só a religião do Cruxificado sabe dispensar esses momentos de celestial ventura para aqueles que sofrem e creem”, escreveu o citado autor.

Partida ao Ceará-Mirim

Aproximando-se a hora da partida e os cavaleiros iam chegando e agrupavam-se ao lado do convento, onde o bispo passara as horas caniculares.

O sino repicava e as mulheres cantavam seus benditos em coro pleno. As 14h30  bispo montou á cavalo e partiu, lançando sua benção ao povo.

Segundo o médico Luiz Carlos Lins Wanderley o caminho que ia de Estremoz ao Ceará-Mirim era um deserto, em todo o rigor da expressão. Nem uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. Eram 24 km de fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão grande número de cavaleiros em uma hora dada.

 As turmas sucediam-se umas as outras, sem interrupção. Eram como vagas oceânicas: não chegava uma sem a sequência de outra. Segundo o médico Luiz Carlos Lins Wanderley 33 cavaleiros partiram de Estremoz, e ao chegar ao Ceará-mirim contavam-se mais de 250.

 

 

Fonte:

Visita Episcopal do Exm. e Rvm.  Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley doutor em Medicina e Cavaleiro da Ordem da Rosa. Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882, p.22-26.

Dom José Pereira da Silva Barros.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

SOBRE O DISTRITO DA GAMELEIRA

 

Todo lugar por mais simples que seja tem sua história. Eis a seguir alguns apanhados históricos que permitem construir a memória do distrito da Gameleira em Taipu.

         O distrito da Gameleira é um dos aglomerados urbanos mais antigos do município de Taipu. O povoado surgiu as margens do rio Gameleira, o qual nasce na Serra Pelada, é um dos muitos afluentes do rio Ceará-Mirim.

         A menção mais antiga ao povoado da Gameleira se encontra no relatório do governo do Estado de 1905 onde consta como sendo uma das 4 povoações que existiam no município de Taipu além da Vila[1].

         A região possuidora de terras férteis as margens do rio possibilitou o desenvolvimento da agricultura que muito contribuiu para as receitas do município.

         Havia na Gameleira ao menos duas escolas, uma Escola Isolada e uma Escola Rudimentar, esta situada no Engenho Pitombeira criada em 1922 conforme consta no relatório do governo do Estado[2].A data da criação da escola isolada não foi por nós encontrada.

         Em 1932 foi erguida a capela de Santa Teresinha. Já havia outra capela na região que era a capela de São João Batista, localizada dentro do Engenho Pitombeira, esta particular, aquela pertencente a paróquia.

         Sobre a Escola Isolada encontramos informações que constam do seguinte:

         Segundo o jornal A Ordem em 19/01/1936 foi nomeada efetivamente, conforme requereu, Maria Raimunda de Souza como professora da Escola Isolada da Gameleira, no município de Taipu[3].Já em 12/03/1936 foi nomeada a professora Dulce Marques Lustosa interinamente para a Escola Isolada de Gameleira[4]. Em 14/03/1941 foi nomeada Maria do Carmo Silva para a Escola Isolada da Gameleira coma remuneração que por lei lhe competia, segundo o jornal A Ordem[5].

A Escola Rural da Gameleira

         Já em 1950 foi criada a Escola Rural de Gameleira, dentro do plano de ensino rural do Ministério da Educação. Conforme o jornal Diário de Natal, o governador José Augusto Varela esteve em Taipu e assistiu em 09/04/1950 a sua instalação[6].

A polêmica da feira da Pitombeira

         Havia um pequeno movimento de comércio que se concentrava na Pitombeira, onde ali foi criada uma feira que era realizada aos domingos.

         Em 1937 por força de decreto municipal foi proibida a realização das feiras em Taipu nos domingos. A medida criou um conflito entre o prefeito e o proprietário da Fazendo Pitombeira o qual chegou até a esfera estadual tendo o interventor federal  Rafael Fernandes dado o veredito final conforme se via no despacho publicado no jornal A Ordem dando ganho de causa a prefeitura de Taipu no caso da proibição da feira que se realizava em Pitombeira.

         De acordo como o teor do despacho no citado jornal:

João Gomes da Costa, negociante, agricultor e criador, em Pitombeira, município de Taipu, 1º despacho – já publicado. 2º - a lei estadual n 1.7, de 24 de outubro de 1936 que estabeleceu o descanso dominical obrigatório no Estado, autorizou no seu art. 3, aos prefeitos municipais a mudar as feiras do domingo, quando possível, para qualquer outro dia da semana. Existindo um decreto municipal já aprovado pelo Governo que regulou essa autorização (dec. 8, de 23 de dezembro de 1937) em pleno vigor, nego provimento ao recurso para manter o despacho do prefeito de Taipu, que se acha de acordo com as leis vigentes[7].

         O referido jornal em edições posteriores louvava a determinação do prefeito Rosendo Leite de se manter o descanso dominical em Taipu.

O acidente com o caminhão do leite

         Em 27/10/1954 ocorreu um acidente na altura da localidade da Gameleira com o caminhão que transportava leite do município de Taipu para Natal, onde sairam feridos 4 pessoas que foram levados para o hospital Miguel Couto (atual Onofre Lopes) em Natal em estado grave, sendo que outras 10 pessoas haviam se envolvido naquela tragédia, que foram socorridos para Ceará-Mirim.

         Segundo o jornal O Poti o agricultor Inácio Lima e o ajudante de caminhão Francisco Ferreira da Silva, mais conhecido como “Rita”,foram os que mais sofreram naquele acidente, porém, graças as providencias tomadas se encontravam fora de perigo.

         Quanto aos que foram levados para Ceará-Mirim  nenhum deles oferecia perigo de morte, e segundo o mesmo jornal, quase todos já haviam regressados as suas residências após serem medicados[8].

O distrito administrativo e judiciário da Gameleira

         Em 06/1ª l2/1963 o governador Aluizio Alves assinou a lei que criava o distrito administrativo e judiciário de Gameleira, no município de Taipu[9].

No Brasil, os distritos são territórios em que se subdividem os municípios em que se exerce uma autoridade administrativa, judicial, fiscal, policial ou sanitária, na sua área urbana podem se subdividir em bairros e na área rural possuir outros povoamentos.

Os distritos dispõem de cartórios de ofícios de registro civil (ou estarem subordinados a uma comarca), e sediam subprefeituras.

Durante o governo do Estado Novo, do presidente Getúlio Vargas, o Decreto-Lei nº 311, de 2 de março de 1938, em seu artigo 3º, definiu que a sede dos municípios passariam a categoria de cidade e lhe dariam o nome e no artigo 4º, os distritos se designariam pelo nome de suas respectiva sedes, e se não fossem sedes de município, teriam a categoria de vila.

Nos dias atuais

         Atualmente o distrito da Gameleira é um povoado decadente e nem de longe revela o que já fora outrora, perdeu sua área de influência para o Matão e a Serra Pelada. Há algumas casas espalhadas pelas margens da BR-406 e outras nas proximidades da capela na estrada municipal que se dirige a Serra Pelada.A capela ainda permanece como monumento histórico da localidade e da paróquia visto ser uma das mais antigas da paróquia e que conserva sua arquitetura original.A escola nem sei se ainda funciona.

         O viajante que circula pela BR 406 certamente já se deparou com a paisagem sempre verdejante mesmo em tempos de estiagem nas proximidades das duas pontezinhas que cruzam a rodovia.Esta paisagem que descansa a vista de quem as contempla é o que de bonito sobrevive na Gameleira.Até quando não sabemos.



[1] RIO GRANDE DO NORTE. Relatórios dos Presidentes dos Estados Brasileiros, 1905, p.76.

[2] Op. Cit., 1922, p.13.

[3] A Ordem, 19/01/1936, p.2.

[4] A Ordem, 12/03/1936, p.2.

[5] A Ordem, 14/03/1941, p.4

[6] Diário de Natal, 16/04/1950, p.4.

[7] A Ordem, 22/05/1938, p.4.

[8] O Poti, 30/10/1954, p.8.

[9] Diário de Natal, 06/12/1963, p.6.

 

Capela Santa Teresinha.


Paisagem as margens da BR 406


Placa indicando o inicio do perimetro urbano da Gameleira.

Perimetro urbano da Gameleira.

Perimetro urabano da Gameleira.

Perimetro urbano da Gameleira.



segunda-feira, 9 de maio de 2022

SOBRE A ESCOLA DA VILA DE CEARÁ-MIRIM

 

         De acordo com o relatório do presidente da província o coronel da Guarda Nacional Manoel Varela do Nascimento ofereceu ao presidente 5 contos de réis para a construção de uma casa de escola na Vila do Ceará-Mirim, já o Dr. José Inácio Fernandes Barros se comprometeu em dotá-la de utensílios necessários adquirindo-os por conta própria nos EUA.(FALA..., 1874, p. a1-9).

         Já o relatório do ano de 1875 registrava que ainda não havia sido levado a efeito a construção do edifício destinado à escola e biblioteca na Vila do Ceará-Mirim, e para a qual existia em poder de uma comissão, composta do juiz municipal, do presidente da Câmara Municipal e do Delegado de Policia, o donativo de 5:000$000 feito pelo abastado agricultor coronel Manoel Varela do Nascimento, já nomeado Barão do Ceará-Mirim.(RELATÓRIO..., 1875, p.30).

        Constava no citado relatório que terminado o inverno começariam as obras para as quais já haviam reunido o material suficiente.

         O prédio só foi entregue a serventia pública em 1878 conforme registrou o relatório do presidente da província naquele ano: “folgo de consignar aqui a entrega que de um excelente prédio, [que]  fez o Exm. Barão do Ceará-Mirim, na vila deste nome, segundo honrosa oferta que o há de imortalizar porque com efeito dotou o município com uma obra de grande valor e nobre e destino”.

         O presidente da província registrou ainda que havia recebido das mãos do referido Barão do Ceará-Mirim as chaves do edifício em 05/11/1878, o qual as repassou ao Delegado de literário e fazendo lavrar um termo no qual assinaram com ele o Barão ofertante, o Chefe de Policia, o juiz da comarca e muitos outros cidadãos importantes.

         O presidente mandou que se desse a devida aplicação ao referido prédio cuja  construção tinha a necessária solidez e preenchia os fins desejáveis.

         No entanto, pareceu mais acertado ao presidente resolver que nesse edifício deixasse de funcionar a aula destinada as meninas, porque nas condições financeiras em que se achava a professora, seria impor-lhe o maior sacrifício, obrigando-a  despesas superiores à suas forças, para sair diariamente de sua casa com a custosa decência exigida pelo público, pouco razoável e sempre pronto a criticas esmagadoras. (RELATÓRIO..., 1878, p.22).

O relatório do presidente da província relativo ao ano de 1886 registrou que o prédio destinado a instrução pública de Ceará-Mirim estava em perfeito estado de conservação. (RELATÓRIO..., 1886, p.21).

Com  a criação dos grupos escolares no inicio do século XX foi dado a denominação de Grupo Escolar Felipe Camarão as escolas reunidas que funcionavam no edifício da escola de Ceará-Mirim segundo o decreto nº 266 de 22 de março de 1912, sendo inaugurado em 18 de agosto  do mesmo ano, sob direção do professor Bernardino Dantas.

Tal denominação perdurou até 29/10/1937 quando foi mudado para Grupo Escolar Barão do Ceará-Mirim  a denominação do Grupo Escolar Felipe Camarão da cidade de Ceará-Mirim transferindo esta denominação  para as Escolas Reunidas da povoação de Estremoz. (A ORDEM, 29/10/1937, p.2).

 O Benfeitor

Manuel Varela do Nascimento nasceu em 25/12/1802 no Sitio Verissimo, Ceará Mirim. Filho de Felipe Varela do Nascimento e Teresa Duarte. Foi casado com Bernarda Varela Dantas, baronesa de Ceará-Mirim.

Foi Alferes de 2a. linha, cuja carta patente foi assinada por D. Pedro I em Abril de 1828. Mais tarde foi elevado a Coronel Comandante Superior das Guardas Nacionais dos municípios de Natal, São Gonçalo, Estremoz e Touros.

Em 1868 foi reformado, quando exercia o cargo de deputado provincial do biênio 1868-1869. Chegou a ser o terceiro vice-presidente da Província.

O Barão introduziu melhoramentos na indústria açucareira do vale. Foi um dos primeiros a utilizar o cilindro horizontal para triturar a cana e açúcar e divulgou a cana caiana. Na carta diploma de Barão de Ceará-Mirim o senhor Manoel Varela do Nascimento é enaltecido como senhor de engenho e elemento característico do patriarcalismo rural da região.

Foi o primeiro norte-rio-grandense agraciado por um título nobiliárquico no império. Ele faleceu em março de 1881 e a baronesa em março de 1890. O barão e sua esposa foram sepultados na capela do Engenho em terras da Usina São Francisco no Ceará-Mirim, túmulos ainda hoje conservados.


Fonte:

A Ordem, Natal, 29/10/1937.

Fala com que o Exm. Sr. Dr. João Capistrano Bandeira de Melo Filho abriu a 1 sessão da vigésima legislatura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte em 13 de julho de 1874.Rio de Janeiro: Tipografia Americana, 1874.

Relatório com que o Exm. Sr.Dr.José Moreira Alves da Silva presidente da província do Rio Grande do Norte passou a administração ao 2º vice-presidente o Exm. Sr.Dr.Luiz Carlos Lins Wanderley em 30 de outubro de 1886.

Relatório com que instalou a Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte no dia 04 de dezembro de 1878 o 1º vice-presidente, o Exm. Sr.Dr. Manoel Januario Bezerra Montenegro.Pernambuco: Tipografia do Jornal do Recife, 1879.

Prédio onde funcionou o Grupo Escolar Felipe Camarão, posteriormente Grupo Escolar Barão do Ceará-Mirim.

Em destaque a dreita o prédio onde funcionou o Grupo Escolar Felipe Camarão, posteriormente Grupo Escolar Barão do Ceará-Mirim.


Atual prédio da Escola Estadual Barão do Ceará-Mirim.



O Barão do Ceará-Mirim.




domingo, 8 de maio de 2022

SOBRE O CEMITÉRIO DE CEARÁ-MIRIM


         Os cemitérios públicos começaram a ser construídos a partir de 1856 com devido a calamidade pública causada pela cólera a qual causou a morte de muitas pessoas pelo interior do Rio Grande do Norte. Naquele ano fora construído o cemitério do Alecrim em Natal.

         Antes disso havia a prática de se fazer o sepultamento no interior das igrejas e capelas, que devido ao grande número de mortos pela epidemia de cólera acabou por causar outro problema de saúde pública que era o enterramento dentro das igrejas, por isso se deu a construção dos cemitérios.

         O cemitério de Ceará-Mirim teve sua construção iniciada em 1861 conforme consta no relatório do presidente da província daquele ano.

         De acordo como o mesmo relatório durante sua estadia no município de Ceará-Mirim diversos cidadãos atenderam ao convite do presidente da província e assinaram uma subscrição no valor de 1:630$ para a construção de um cemitério em terreno daquela vila que pareceu ser apropriado segundo avaliação do presidente da província e que pelo respectivo proprietário foi generosamente cedido sem retribuições alguma, ou seja, o terreno foi doado para tal finalidade.

         Foi criada uma comissão de 7 membros presidida pelo pároco da freguesia que ficou incumbida de realizar a cobrança das quantias oferecidas e a direção da obra que começaria depois de concluída a planta que a muito tempo havia já mandado o presidente organizar pelo diretor das obras públicas e que se achava já pronta, bem como o orçamento. (RELATÓRIO..., 1861, p.12).

         Atualmente o mais antigo cemitério público de Ceará-Mirim denomina-se Cemitério Santa Agueda.

 

Fonte:

 Relatório  que o Exm. Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior , presidente da província do Rio Grande do Norte, apresentou a respectiva Assembleia Legislativa Provincial na sessão ordinária de 1861.Ouro Preto: Tipografia Provincial, 1862.

 




Fachada do cemitério Santa Águeda


Lateral da capela do cemitério Santa Águeda


Fachada da capela do cemitério Santa Águeda


Latera do cemitério Santa Águeda