quinta-feira, 4 de julho de 2019

HISTÓRIAS DE SÃO BENTO DO BOFETE OU SOBRE O "CANICÍDIO " DO CORONEL BENEDITO SALDANHA



                A atual cidade de Janduís outrora se chamava São Bento do Bofete.Seu nome teve origem numa festa realizada em homenagem a São Bento, seu padroeiro, durante a qual houve um “borborinho” nele apanhando mais de cem pessoas.

                                        Vista aérea de Janduís
Fonte: Prefeitura de Janduís.

         Localizado distante 3 léguas (18 km) “puxadas” da cidade de Augusto Severo, bem no dorso do chapadão das Areias, que se liga com a Serra dos Passarinhos, limites entre o Rio Grande do Norte e a Paraiba, pelas cidades de Brejo do Cruz e Catolé do Rocha, está situado o indômito vilarejo de São Bento do Bofete, célebre pelas suas encrencas e crimes dos mais diversos.
                                             Localização de Janduís
Fonte: Wikipédia.

Severino Sobral de Medeiros escreveu no jornal O Acre em 1955 uma daquelas histórias dos tempos dos coronéis do sertão que se passou em São Bento do Bofete.Segundo o referido autor:
         Nas circunvizinhanças do povoado ficava a Fazenda “Campo  Limpo” do famoso Benedito Saldanha, sertanejo dos mais abastados, e não se diga por menos, homem de “sangue frio”.Criava ele além dos seus animais de “renda”, dois casais de cães “tirados” a Dinamarqueses, os quais constituíam  o orgulho da fazenda.
         Um dia, porém, o povoado foi “abalado” pelos comentários do sacristão Delfino Dias, de que a “fobica” ( Ford 24) do milionário  coronel Julio Maia que andava pelos sertões comprando algodão em “rama” havia atropelado e matado um dos “Rompe Ferro” sentinelas da Fazenda.E de fato, o automóvel havia passado sobre o cão, deixando-lhe apenas a cabeça inteira.E como não tivesse o coronel Maia se “dignado” a levar ao conhecimento do dono do animal o que acabara de ocorrer, deixou margem  a que o capitão Saldanha tomasse o fato por desaforo, cuja vingança do “canicídio”  automaticamente seria inevitável. 
                                           Coronel Benedito Saldanha
Fonte: http://jotamaria-prefeitosdeapodi.blogspot.com/2013/03/benedito-veras-saldanha-1011933.html

         Triste pela morte do seus famoso “Rompe Ferro” tratou logo o capitão Saldanha de passar o cadeado na porteira por onde haveria de transitar o criminoso veiculo, de regresso da Fazenda dos Veras, primeiro logradouro das compras de algodão, onde o ajuste de contas seria realizado.E seis horas mais tarde quase ao anoitecer, riscou no pátio de “Campo Limpo” o tão aguardado automóvel. Ao deparar o chofer que a porteira estava trancada solicitou ao capitão Saldanha que lhe emprestasse a chave do cadeado tendo porém o fazendeiro que somente após o jantar que seria oferecido ao coronel Maia, atenderia seu pedido.
E chamando com a sua peculiar gentileza para o “banquete” aceitou de bom grado o milionário acrescentando que caira a mosca no mel, pois até aquela hora nada havia comido e o estomago estava a reclamar uma boa coalhada do gado de “Campo Limpo”.
         Posta a refeição na praxe sertaneja, mandou o capitão Saldanha que os eu “principal” hospede tomasse assento a cabeceira da mesa, onde já se encontrava uma travessa de ágata coberta com uma guardanapo destinada a saciar a fome do milionário.
       E quando este descobriu a “salva” como seu apetite voraz, nada mais encontrou do que a cabeça do cachorro vitima do atropelamento em forma de cozido na água e sal.e sem tempo para qualquer pergunta apareceram-lhe dois capangas armados de punhal, trazendo o escrito numa tampa de caixa o seguinte letreiro: “p’ra nunca mais matar cachorro de homem”.
E em menos de meia hora, foi-se o cachorro quente na barriga do mastodonte, como recompensa de um crime cometido por um chofer.Vinte e quatro horas depois encontrava-se o milionário na Fazenda “Tanques” acometido de uma violenta indigestao “canina” que o acamou por três dias. Dai por diante nunca mais o coronel Maia pisou o chão de São Bento do Bofete.
Na imagem a baixo  coronel Benedito Saldanha seria o que está sentado de braços e pernas cruzadas com botas de cano longo


Fonte: http://lampiaoaceso.blogspot.com/2012/12/lampiao-em-mossoro.html


Fonte: O Acre, 27/03/1955, p.4.

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