Em 1939 J. A. Seabra
de Melo escreveu uma reportage para a Revista de circulação nacional Carioca a
respeito do municipio de Areia Branca.
Segundo o citado
autor Areia Branca oferecia, em contrataste as cidades litorâneas do Rio Grande do Norte, que ele conhecia, os
aspectos de uma atividade commercial e de uma vida social intense e
absorvente.Não era mais,na ideia que ele fazia, de uma cidade esqucida da
civilização edas formas mais atuais do progresso, um vilarejo com algumas casas
pintadas de amarelo vivo, num alinhamento regular e caprichoso.
O autor esteve em
Areia Branca havia uns 10 anos passados, ou seja, por volta de 1929, e se
surpreendeu pela monotonia enexpressiva das suas três ruas esburacadas e
poeirentas: a rua da frente, a rua de trás e a rua do meio.
Olhando para o rio
Mossoró, e com a igrejinha muito humilde e muito branca, havia ainda a “praça” – ladeada por alguns edificios de
feia arquitetura e possuindo a modestissima ornamentaçaõ de alguns ficus
esgalhados e liberrimos.”Nesse quadrado e nas três artérias por onde um vento constante
passava levantando poeira, inultimente procurariamos a promessa tardia ou
próxima de um paralelepido”, escreveu o referido autor.
E sobre a desolação
noturna de um aerial que lembrava a hostilidade de um deserto, avultava a
tristeza maior de alguns pontos vagamente luminosos e indecisos com cirios em
agonia.
A lua, na deliciosa
maledicência dos areiabranquenses, era a colaboradora fiel e insubstituivel da
usina elétrica.Com um luar esplendido e triunfal, não preciso haver luz.E não
havendo luz, a cidade não viveria às escuras e tateando.As sombras fugiam à aproximação da grande
claridade fria que se derramava do céu e sobretudo era romantic e cariciosa.
Os globos elétricos,
aceso ao longo das calçadas e sob a proteção dos “abat-jour”, só serviriam para
acentuar a escuridão velada e cumplice…
Para J.A. Seabra
havia alguns anos que Areia Branca vinha se transformando na mais encantadora
das cidade.O progresso tomava conta de tudo, dando-lhe novos aspectos e lhe
aumentando o fascinio.O que não conseguira foi expulsar para longe a poesia que
vinha das Salinas com as suas pirâmides alvissimas e que dimanava do rio de
águas turvas, onde as barcaças e os batelões pesados e chatos animavam a mais
encantadora das paisagens.
A cidade recebia
todas as mensagens do mundo através de mais de 50 antenas de radio, e que
segundo o autor soube conserver também os costumes antigos e os usos tradicionais.”Persiste
o hábito cordial e amorável das longas palestras nas calçadas, lembrando um
livro original de Telmo Vergara”.
Era possivel ainda,
como nos bons tempos do roamantismo, namorados timidos e corteses, para quem um
olhar demorado e uma palavra no ouvido resumiam a maior das aventuras.
E nem sequer
desaparecera o gusto proviciano da oratória solene e dos entusiasmos em praça
pública, que sugeriam a Alcantara Machado uma página colorida e expressive.
Até mesmo o cinema,
que deixara de ser mudo e havia se instalado num prédio novo e confortável,
contribuia pela constância dos cartazes anunciando Tom-Mix e as series MAscote,
para preserver a simplicidade dos habitants em sassuntos de arte.”E existirá,
sem sombra de dúvida, um bom senso profundo na preferência dos filmes de ‘Comboy’
e das series barulhentas, diante das quais pouco valem os dramalhões em
celuloide, com mulheres vampirescas e de longas pestanas enigmáticas”.
Ao que só conservavam a attitude sonolenta
diante de Greta Garbo ou das proesas épicas de Bob Steele, a cidade destinava
uma praça arborizada e moderna, onde se ouviam, todas as noites, discos
variados e a voz afetad do locator da Amplificadora Municipal.
Pelas necessidades
mesmas da sua principal indústria, o sal, Areia Branca lembrava,na perspective das
embarcações a vela grudada ao longo do cais de pedra, aquelas cidades orientais
que o comércio maritime prolongava numa população ominimoda e estranha,
espalhada pelos convés das enormes falúas bojudas.
No porto, onde só nas
marés de janeiro os navios de pequeno calado transpunham a barra para ficar em
frente a cidade, o veleiro era ainda o simbolo de uma antiga vocação para o
mar.O destino dos descobridores se eternizava na aventura dos pescadorese
saveireiros de Areia Branca…
Jorge Amado poetisou em Mar Morto a vida dos
homens domar, na lendária Bahia de Todos os Santos.Mas na Bahia a aventura se
passava nos saveiros que o vento empurrava docemente para as cidades próximas
ali na placidez da enseada.
Os navegodores obscures
e intrépidos que transportavam o sal no fundo das barcaças, indo a Natal, a
João Pessoa e ao Recife, reviviam na tarefa sossegada ou no combate com os
temporais, a audácia daqueles marinheiros atrevidos que desconheciam o temor e
viram o outro lado do mundo.
Não havia surgido
ainda o narrador que lhes aprofundasse o drama obscure extraindo o excelente
material de romance que ele continha.
O municipio de Areia Branca possuia em
1939 20 salinas, com produção anual de 120 toneladas.Mais de 2.000 homens
trabalhavam na safra anual, nma tarea rendosa e ingrata.
De 1932 a
1936 Areia Branca havia produzido 448.413.476 kg do melhor sal do mundo,
exportando no mesmo periodo 420.955,258 kg.
Produção
que se traduzia na seguinte demonstração das rendas municipais, de 1894 até
1936.
ano
|
receita
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1894
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6:550$000
|
1910
|
11:500$000
|
1927
|
78:820$000
|
1935
|
130:000$000
a 154:801$000
|
1936
|
148:900$000
a 243:267$351
|
População,
melhoramento e instrução
A população do municipio se elevara em 1939 a 18.500
habitantes, sendo 9.000 na sede municipal, 2.500 na vila de Grosos e 7.000 nos
povoaodos e nas praias.
A cidade possuia dois sindicatos, o dos estivadores e
dos barcaceiros, um clube esportivo, o Centro Esportivo Areibranquense, de que
era presidente Dr.Walter de Góes.A instrução primária no municipio era racional
e eficiente, contando a cidade com mais de 400 alunos de ambos os sexos.
Areia Branca era servida pelas redes aéreas da Panair
do Brasil e da Condor, possuindo serviço regular de transportes maritimos
proporcionado pelo Lloyd Brasileiro, Companhia Nacional de Navegação Costeira,
Comércio e Navegação, Wilson e várias companhias estrangeiras.
Tudo isso constituia evidentemente um indice de
prosperidade que não se observava na maioria das cidades litorâneas do Estado.E
Areia Branca tinha sabido compreender a sua posição de vanguarda, contribuindo
com um máximo de esforço e de entusiasmo para o surto de uma indústria que
entrara num período de pleno florescimento.
A baixo as fotografias que ilustravam a referida matéria.
Fonte: revista Carioca (RJ), n.194, 08/07/1939, p.10 e 64.
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Trabalhador na salina em Areia Branca |
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Praça Coronel Fausto, Areia Branca. |
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Embarque de sal e vista de Areia Branca a partir do mar. |
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Aspecto do porto de Areia Branca. |