sábado, 16 de agosto de 2025

SOBRE AS ESCOLAS REUNIDAS DE ESTREMOZ

  

         Na década de 1930 Estremoz era descrita ainda como uma decadente povoação, onde não havia ruas, existindo apenas uma grande praça em torno da qual viam-se quase todas as casas da localidade.

         Entretanto, após a Revolução de 1930 (Estado Novo) já se começava a ver certa diferença na vida de Estremoz.

         A prefeitura de Ceará-Mirim havia construindo um pequeno mercado e estava dando inicio a edificação de um grupo escolar em frente a estação da EFCRGN.

         Logo que assumiu a direção do Departamento de Educação, Anfilóquio Câmara expôs detalhadamente a situação no setor da educação ao interventor federal no Rio Grande do Norte, o qual se mostrou disposto a encarar todas as dificuldades de ordem financeira para atender as despesas que, naturalmente, decorreriam de tantas obras.

         De comum acordo com o interventor, o Departamento de Educação resolveu encetar as construções que se projetavam criando três tipos de edifícios:

         As Escolas Isoladas, para os povoados do interior, cuja freqüência não exigisse acomodações muito vastas; as Escolas Reunidas, para as cidades do interior, ou para vilas, onde já havia um número regular de alunos; e os Grupos Escolares, cujo número de salas de aula também variavam segundo a localidade em seriam construídos.

        

                                       Escolas Reunidas de Estremoz

Fonte: A Noite, 19/01/1935, p.19.

                                           Escolas Reunidas de Estremoz

Fonte: imagem colorizada por Inteligência Artificial, 2025.

         Até o final do ano de 1934 o governo do Estado havia construído 12 Escolas Isoladas, 10 Escolas Reunidas e 4 Grupos Escolares, estando em construção mais 12 isoladas, 11 reunidas e 3 grupos.[1]

         Foram reparados 15 Grupos Escolares, 8 Escolas Reunidas e 2 Escolas Isoladas.

         Assim foi que pelo Departamento de Educação do governo do Estado foi criado em 1933 na povoação de Estremoz, duas Escolas Reunidas ficando nelas absorvidas a escola rudimentar já existente.

         Em dezembro de 1933 as obras das Escolas Reunidas de Estremoz estavam em andamento e se esperava em breve sua inauguração.

         O interventor federal, acompanhado de sua esposa, do dr. Oto Guerra, secretário particular,  o engenheiro Miguel Bilro, prefeito de Natal, coronel Jorge Câmara, proprietário e usineiro no municipio de Ceará-Mirim, dr. Teixeira Brandão, e outras pessoas, fizeram visita ao aterro do engenho Carnaubal, no municipio de Ceará-Mirim em abril de 1934.

         A passar os excursionistas pela povoação de Estremoz, tiveram a oportunidade de visitar o novo edifício em construção, para o funcionamento de uma escola, cuja direção dos trabalhos estava a cargo do coronel Pignataro, proprietário na povoação.[2]

A Inauguração

         A inauguração das Escolas Reunidas de Estremoz ocorreu em junho de 24/06/1934, contando com a presença do interventor Mário Câmara e assistido o ato inaugural por várias pessoas gradas da capital

         Durante a inauguração tocou a banda de música da Policia Militar.[3]

         Sobre a gestão do interventor Mário Câmara na área da educação escreveu Câmara Cascudo, então diretor da Escola Normal de Natal, em 1935:

A escola de Estremoz, há trinta minutos da capital, tinha uma mesa da recebedoria e três bancos de aroeira da Igreja.Hoje tem um grupo esplêndido, claro e amplo com salões acolhedores e material idôneo [...].

Esse foi assim um grande melhoramento da Interventoria Mário Câmara, por meio do secretário de Educação, Anfilóquio Câmara na povoação de Estremoz, a o qual viria a contribuir significativamente para o desenvolvimento da instrução pública em Estremoz.

Mudança de denominação

         Pela lei nº 111, de 27 de outubro de 1937 foi mudado a denominação do Grupo Escolar da cidade de Ceará-Mirim para Barão do Ceará-Mirim e denominada de Felipe Camarão as Escolas Reunidas da povoação de Estremoz.[4]

         A lei foi assinada pelo interventor federal Rafael Fernandes.


Inauguração das Escolas Reunidas de Estremoz

Fonte: A Noite, 19/01/1935, p.19.

         Na legenda da foto estava escrito: “Escolas Reunidas da povoação de Estremoz, no municipio de Ceará-Mirim, inauguradas em 24-06-934, vendo-se parte da assistência que compareceu ao ato, inclusive o interventor Mário Câmara e sua Exma esposa”.


Na imagem a cima aspecto da sessão inaugural das Escolas Reunidas de Estremoz, vendo-se na presidência o interventor Mário Câmara.

Situação atual

         As antigas Escolas Reunidas de Estremoz denomina-se presentemente de Escola Estadual Felipe Camarão.

         Localiza-se no mesmo local onde fora construído o prédio em 1934, porém, ao passar dos anos passou por várias reformas que descaracterizou a sua feição original.  Em 1982 o prédio da Escola Estadual Felipe Camarão de Estremoz passou por ampliações e restaurações, tendo sido estas obras inauguradas em 16/07/1982 pelo governador Lavoisier Maia.[5]

Escola Estadual Felipe Camarão

Fonte: João Santos, 2025.










 



[1] A Noite: Suplemento: Secção de Rotogravura, 19/01/1935, p.23.

[2] Diário de Pernambuco, 21/04/1934, p.2.

[3] Diário da Manhã, 01/07/1934, p.18

[4] Atos Legislativos e Decretos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, 1937, p.12.

 

[5] O Poti, 11/07/1982, p.12.

 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

SOBRE A CAIXA D’ÁGUA DE MONTANHAS-RN

 


         Em 1956 a Estrada de Ferro Sampaio Correia-EFSC construiu na vila de Montanhas uma caixa d’água para abastecimento da vila que era bastante escassa de água.

         A água viria do rio Pirarí, já estando pronta uma barragem no mesmo, e em franco andamento o serviço de encanamento da barragem para a vila.

         A caixa d’água foi erguida em cimento armado tendo dois depositos, um subeterraneo e outro no alto, tendo capacidade de 300.000 litros, sendo 200.000 no reservatório de baixo e 100.000 no do alto.

         A obra custou Cr$ 200.000,00.

         Segundo o jornal O Poti em breves dias seria inaugurado este melhoramento de real valor para a vila de Montanhas que em épocas de seca sofria o terrível flagelo da falta de água.

         Presentemente a caixa d’água é a única coisa que remete a memória ferroviária da cidade de Montanhas, visto que a estação foi demolida.

 






Fonte: O Poti, 10/06/1956, p.3.

Pesqusia: João Santos, 11/08/12025.

 

quinta-feira, 24 de julho de 2025

SOBRE A ESTAÇÃO DO BALDUM

 

         A estação do Baldum foi construída no km 53 da Estrada de Ferro de Natal a Nova, tendo sido inaugurada em 31/10/1881, na segunda seção de construção da referida ferrovia.

         Em 1882 o bispo de Olinda, José Pereira da Silva Barros, esteve em visita ao Rio Grande do Norte passando freguesia de Arez para onde se dirigiu em no trem da Estraada de Ferro de Natal a Nova Cruz.

         Na sua comitiva estava o médica Luiz Carlos Lins Wanderley o qual fez o registro de toda a visita pastoral e compilou posteriormente em livro.

         Segundo ele:” o Baldum fica á 12 quilômetros da estação de S. José, e é o lugar de parada do trem. Não é uma vila, nem uma aldeia, nem uma pousada sequer. É um ponto convencionado entre a companhia inglesa e os Srs.-Hermino Pegado e João Pegado, que, tendo os seus engenhos de açúcar ali perto, este ao poente e aquele ao nascente da via férrea, para ali mandam os seus produtos para serem transportados ao Natal. (Wanderley, 1882, p.126).

Ao finalizar a visita a paróquia de Arez o bispo retornou a estação do Baldum par aeseprar o trem e retornar para Natal.

“O trem ainda lá não estava, e S. Exc, abrigado á uma sombra, conversava alegremente com os seus companheiros. Quinze minutos depois chega o trem. Não havia tempo a perder. Feita uma despedida geral, S. Exc. mete-se em o seu carro com os seus padres.O trem partiu”. (Op.Cit., p.130).

Presentemente as ruínas da antiga estação do Baldum podem ser vistas a margem da estrada de rodagem que se dirige ao municipio de Arez.Alguns trechos ainda estão com os trilhos.


Ruínas da estação do Baldum


Fonte:

Visita Episcopal do exm. E Revm Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley. Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.

Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.


SOBRE A VISITA DO BISPO DE OLINDA A POVOAÇÃO DE ESTREMOZ

 

         Em 1882 o bispo de Olinda, dom José Pereira da Silva Barros, esteve em visita pastoral ao Rio Grande do Norte.

Partindo de Natal para realizar a visita pastoral a freguesia do Ceará-Mirim em 14/08/1882 o referido bispo passou pela povoação de Estremoz.

De acordo com o relato da visita pastoral feita por Luis Carlos Lins Wanderley as 09h00 da manhã “chegava a pequena comitiva à passagem da vila de Estremoz, ai o foguete do ar anunciou aos habitantes da pequena vila a aproximação de S. Exc. Ryma, e dentro em pouco sucediam-se os cavaleiros que vinham ao obsequioso encontro do viajante querido”. (Wanderley,1882,p. 24).

 Já próximo da vila, o bispo desceu do seu cavalo e, rodeado de povo, seguiu a pé e em direção a Igreja de São Miguel, que fazia parte do antigo convento dos jesuítas.

Segundo o citado cronista :”A antiga vila de Guagiru, hoje Estremoz, que foi sede da freguesia e que por lei provincial passou a pertencer  paróquia do Ceará-Mirim, pode ser considerada uma ruína, como é o seu convento, a sua Igreja, a sua casa de câmera e tudo mais”.(Op.Cit).

E continuou : “O povo ali é pobre e indolente. Vive da pequena lavoura que lhe facilita um terreno ubérrimo e fertilíssimo. Ali não há nenhum comércio, nenhuma indústria, nenhuma arte, Um professor de 1ª letras, um subdelegado e um inspetor de quarteirão são as potestades do lugar. Nem sequer um capelão!” (Op. Cit).

Apesar da extrema pobreza e insignificância da povoação de Estremoz o bispo,  perspicaz e atilado, compreendeu logo que se achava no meio de um povo, feliz pela crença religiosa e desditoso pelo abandono à própria inércia.

Em atos sucessivos, o bispo  percorreu a Igreja, revistou os altares e examinou o estado do convento; e depois de um substancial almoço que lhe ofereceu o vigário José Alexandre, cedeu às instancias do povo e administrou o sacramento do crisma á 285 fiéis que de momento se apresentaram

 Por fim o bispo dirigiu-lhes a palavra sagrada, animando-os em sua fé, aconselhando-os em suas práticas, no amor ao trabalho e na devoção sincera ao Deus verdadeiro, Filho da Virgem Maria. Era como um pai extremoso a conduzir pela mão um filho cego. “E que prazer tão santo, que consolação tão doce, que expansão tão de dentro da alma não se difundia por todo aquele povo !.” (Op.Cit).

Sobre os momentos vividos pela população de Estremoz Luiz Carlos Lins Wanderley anotou: “Os seus benditos, as suas ladainhas, as suas jaculatórias, cantadas em coro pelas mulheres; os seus arcos de parágrafos brancos, enfeitados de flores campesinas, o seu embevecimento em contemplar a face do seu Bispo, o seu afã em beijar lhe o anel do pescador, eram as provas que lhe podia dar do seu muito amor e respeito. Dava quanto tinha, e em retribuição S, Exc. lhe prodigalizava a mais terna condescendência, o mais doce carinho. Oh! só a religião do Crucificado sabe dispensar esses momentos de celestial ventura para aqueles que sofrem e crêem”.(Op.Cit., p.25).

Aproximando-se a hora da partida e os cavaleiros iam chegando e agrupavam-se ao lado do convento, onde o bispo passara as horas caniculares.

O sino repicava e as mulheres cantavam seus benditos em coro pleno. As 140h30 o bispo montou á cavalo e partiu, lançando sua benção ao povo.

Na viagem de Estremoz a Ceará-Mirim registrou Luiz Carlos Lins Wanderley: “O caminho que vai de Estremoz ao Ceará-Mirim é um deserto, em todo o rigor da expressão. Nem uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. São 24 kilometros de fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão grande número de cavaleiros em uma hora dada”. (Op. Cit).

As turmas sucediam-se umas as outras, sem interrupção. Eram como vagas oceânicas: não chegava uma sem à sequencia de outra. 33 cavaleiros partiram de Estremoz, e ao chegar a vila de Ceará-Mirim contavam-se mais de 250.

De acordo com o Diário de Pernambuco o bispo de Olinda em sua passagem pela povoação de Estremoz recebeu e ouviu com toda a atenção a queixa de suas ovelhas, pela falta de sacramentos em que muito esperavam, viu e conheceu a necessidade que havia da criação de uma nova freguesia tirada do Ceará-Mirim. Constava que o bispo tomou providências para que cessassem a falta de sacramentos entre suas ovelhas.( Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2).

Convento e igreja de São Miguel Arcanjo em Estremoz, onde o referido bispo fez visita pastoral em 14/08/1882.

A última visita de um bispo em Estremoz ocorrera em 1839, a época Estremoz era a sede da paróquia, passados 43 anos, nessa nova visita a povoação de Estremoz se apresentava reduzida a ruínas e constando com capela sufragânia da paróquia de Ceará-Mirim.

A nova paróquia sugerida pelo bispo no relato a cima seria criada na povoação do Taipu cuja capela era a de Nossa Senhora do Livramento, porém, essa só viria a ser criada em 18/04/1913.

Sobre o bispo Dom José Pereira da Silva Barros

         Dom José Pereira da Silva Barros, primeiro e único conde de Santo Agostinho (Taubaté, 24 de novembro de 1835 em Taubaté-SP, foi um religioso católico; bispo de Olinda e do Rio de Janeiro. Foi o último bispo de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Nomeado bispo em 13/05/1881. Foi Bispo de Olinda de 1881-1891 quando foi transferido para a então Diocese do Rio de Janeiro, onde morreu em 15/04/1888 aos 62 anos.

 Dom José Pereira da Silva Barros


Sobre Luiz Carlos Lins Wanderley

         Luiz Carlos Lins Wanderley era médico e foi ele encarregado de cuidar das pessoas desvalidas acometidas pela varíola na povoação de Estremoz no ano de 1881.

De acordo com o jornal Reforma em resposta ao oficio de 12/09/1881 em que transmitiu por cópia o delegado de policia do distrito de Estremoz pedindo providências no sentido de serem tratados os indivíduos da cariola que ali se tinha desenvolvido com intensidade, o presidente da província declarava-lhe que naquela data havia nomeado o médico Luiz Carlos Lins Wanderley em comissão par encarregar-se do tratamento dos referidos indivíduos. (Reforma, 24/09/1881, p.2).

         O médico Luiz Carlos Lins Wanderley deu por encerrada a sua comissão na povoação de Estremoz em 21/09/1881, por haver extinta a varíola na povoação de Estremoz e outros pontos da região. (Reforma, 28/11/1881, p.3).

         No ano seguinte ele se faria presente na comitiva que acompanhou o bispo de Olinda em visita pastoral a freguesia de Ceará-Mirim passando pela povoação de Estremoz como visto a cima.

Fonte:

Visita Episcopal do exm. e  Revm Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley.Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.

Reforma, 24/11/1881, p.2 e 28/11/188, p.3.

Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2.

Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

SOBRE OS NOMES DAS LOCOMOTIVAS DAS ESTRADAS DE FERRO DO RIO GRANDE DO NORTE

 

         Assim como ocorre com os navios quando são inaugurados as locomotivas também recebiam nomes quando de sua inauguração. Este trabalho procura trazer a luz a memória dos nomes das primeiras locomotivas de cada uma das três ferrovias que existiu no Estado do Rio Grande do Norte.

Da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz

         A The Imperial Brazilian Natal na Nova Cruz Railway teve inicialmente 11 locomotivas, as quais receberam as seguintes denominações:

Fabricante

Denominação

 

Baldwin (Nova York)

Padre João Manuel

Jason Ribby

 

 

 

 

Nielsen (Glasgow)

Buarque de Macedo

Lobato

Felipe Camarão

Wilkens de Matos

Clélia de Sinimbu

Pedro II

Princesa Imperial

Bandeira de Melo

Natal

 Fonte: Gazeta de Noticias,24/01/1881,p.1.

            A 27/02/1880 foram oficialmente iniciados os trabalhos de construção da The Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Company, num trecho de 2 km entre as margens do rio Potengi na Ribeira e o Refoles, na ocasião celebrados com pompas e circunstâncias.

         As 13h00 foi colocada a pedra fundamental da estação de Natal e assim oficialmente inaugurados os trabalhos daquela ferrovia, solenidade presidida pelo presidente da província.

         Após os discurso partiu um trem especial vistosamente preparado e puxado pela locomotiva “J. Manoel de Carvalho”, que percorreu a estrada na extensão de 2 km, conduzindo além das autoridades ali presentes um grande concurso de povo, sem o menor acidente.

         De acordo com o telegrama enviado ao ministro da agricultura a estrada apresentava boa estabilidade e felicitava-se com o ministro por tão faustoso acontecimento. (O Apóstolo, 03/03/1880, p.2).

          O nome da locomotiva em apreço fazia uma homenagem ao padre e deputado João Manoel de Carvalho, um dos detentores da concessão da estrada de ferro e a quem se deve na Corte a aprovação por parte do Governo Imperial da fiança de juros para a construção da mesma.

         Em viagem de inspeção o presidente da província percorreu a linha em construção até Canguaretama. O trem que partiu as 09h00 da capital chegou a São José as 10h15 onde demorou por 20 minutos, chegando a Goianinha as 11h15 e ao km 80, onde a comitiva entrou num tranway  (espécie de bonde) as 11h30, chegando a Canguaretama, próximo do meio-dia, numa velocidade em média de 40 km.

         Prosseguiam ali os trabalhos da estrada de ferro, já estando estabelecida a linha permanente até o km 88, tendo sido feita a junção dos trabalhos das duas seções no dia 19, as 18h00.

         Aquela hora os engenheiros da 2ª seção foram na locomotiva “Natal” anunciar a junção, tendo de lá partido em viagem de recreio, as 18h00, chegando a capital as 22h30, regressando logo em seguida na mesma locomotiva para Canguaretama.

Da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN

         De acordo com o relatório do ministério da agricultura de 1906 havia apenas uma locomotiva na EFCRGN em 1906: “a única locomotiva que possui a Estrada trabalhou durante o ano, com pequenos intervalos para consertos e limpeza, tendo feito o percurso total de 14.337 km”. (Relatórios do Ministério da Agricultura,1906, p.686).

         No ano seguinte chegaria a segunda conforme registrou o jornal A República: “o Sr. Ministro da Fazenda, por ato do 20 do corrente, resolveu autorizar o despacho livre de direitos de uma locomotiva e tender, de fabricação inglesa, destinada a E.F.C. do Rio Grande do Norte”. (A República, 25/07/1907, p.2).

Sabemos os nomes dessas duas locomotivas como se verá adiante.

A convite do engenheiro chefe da EFCRGN os jornalistas do jornal A República fizeram uma viagem de inspeção aos trabalhos do trecho entre Itapassaroca e Taipu em julho de 1907 que assim registrou a partida da viagem na estação da Coroa: “sábado, as nove horas da manhã, na companhia do dr. José Luiz e do pessoal da pagadoria, tomávamos o trem expresso da administração puxado pela máquina “Natal”, uma verdadeira teteia construída de modo a poder desenvolver uma velocidade de 60 quilômetros por hora [...]”. (A República,15/07/1907, p.2).

Na imagem a baixo o trem inaugural da EFCRGN, como visto a cima só havia uma locomotiva nesta ferrovia em 1906.

Trem inaugural da EFCRGN

Já na inauguração do referido trecho e da estação de Taipu em 15/11/1907 registrou o mesmo jornal: “o trem era puxado pela máquina taipu [sic], uma poderosa locomotiva americana, tipo Baldwin, construída em julho deste ano, com todos os aperfeiçoamentos imagináveis que [ilegível] sua primeira viagem, portando-se admiravelmente, como podemos verificar ao ver o trem subir a toda velocidade a grande rampa da Aldeia Velha”. (A República, 16/11/1907, p.1).

Da Estrada de Ferro de Mossoró

         Já na Estrada de Ferro de Mossoró sabe-se que a primeira locomotiva foi denominada de “Alberto Maranhão”, uma homenagem ao governador do Estado o qual foi responsável por ter dado a concessão daquela ferrovia.

         Na legenda da foto da referida locomotiva estampada na revista O Malho em edição de 02/05/1914 lia-se: “locomotiva ‘Alberto Maranhão’, seu pessoal e curiosos, no dia da experiência em Porto Franco, princípio da E.F. Mossoró no [sic] Rio São Francisco. Uma bela nota de progresso!”. (O Malho (RJ), ed. 0607,02/05/1914, p.47.Grifo nosso).

 

A locomotiva "Alberto Maranhão" da Estrada de Ferro de Mossoró. O Malho,1914.

O fim do costume

         Ao que parece o costume de “batizar” as locomotivas teve fim quando a GWBR assumiu as ferrovias nordestinas do Rio Grande do Norte a Alagoas, pois, a partir das décadas de 1900 já não se vê mais locomotivas nomeadas e sim numeradas.     


Locomotiva nº 2 da EFSC, ex EFCRGN