segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Mulheres taipuenses



            A história é essencialmente machista.Ela é pródiga em enaltecer os feitos heroicos  do sexo masculino e relegar ao segundo plano a força do sexo feminino.Como cantou Zé Ramalho numa música ‘se não fosse a mulher mimosa flor a história seria mentirosa’.De fato a figura da mulher esteve sempre presente nos acontecimentos históricos, mas os creditos são todos para os homens.Vejam só o caso do Rio Grande do Norte.De 167 municípios 51 tem nomes dedicados a homens, poetas, militares das mais diversas patentes, políticos e santos ( 18 municípios levam nomes de santos, incluindo aqui os de nomes repetidos, se excluídos os que se repetem o numero cai para 13).Agora vejamos quantos municípios homenageiam as mulheres.Seis é o número de municípios que tem nomes de mulheres no Rio Grande do Norte, excluídos os dois que se repetem ( Santana do Matos e do Seridó) o numero baixa para cinco ( o já citado Santana, Santa Maria, Alexandria, Lucrécia e Nisia Floresta).
            Desses seis, dois são referencias a santas católicas, Santa Maria ( referencia a Mãe de Jesus) e Santana a mãe da Virgem Maria, Mãe de Jesus.Alexandria faz referencia a Alexandrina Barreto Ferreira Chaves, natural da antiga Serra da Barriguda que era o nome primitivo do atual município de Alexandria, a referida Alexandrina foi a esposa do político do estado  Joaquim Ferreira Chaves ( foi senador, governador e ministro da marinha e da justiça).A mudança toponímica ocorreu em 1913 ( Morais, 2007, p.23).
             O município de Lucrécia tem sua origem na construção de um açude onde antes habitava uma negra por nome Lucrécia no inicio do século XX. O município foi criado pela lei 3.040 de 27 de dezembro de 1963 (Morais, 2007, p.116).
             Já Nísia Floresta tem seu nome herdado da filha ilustre da então vila de Papary .Dionísia Gonçalves Pinto nasceu em 1810 no sitio Floresta no município de Papary, ganhou projeção nacional e internacional como escritora e defensora do feminismo.O nome do município foi então alterado para homenageá-la na década de 1950.
Mulheres taipuenses
            As mulheres são figuras discretas na historiografia taipuense, tão discreta quanto a figura da Virgem Maria nos evangelhos. Poucas são as figuras femininas que se destacam no passado do referido município. Tentaremos aqui resgatar algumas dessas figuras femininas.
            A primeira figura feminina alusiva ao município de Taipu diz respeito a Luiza de Oliveira que junto com seu marido Manuel Alves Barbalho receberam a data de terra ( sesmaria) Nº 217 em 18/05/1735 (Auto de Repartição do RN), porém a mais importante figura feminina é a sua padroeira Nossa Senhora do Livramento, sua figura está relacionada a origem do município pois foi no entorno da sua capela que a vila de Taipu cresceu vindo a ser a cidade que hoje é. A Nossa Senhora do Livramento se liga a figura de Maria Inácia do Carmo possuidora em sua residência da imagem de Nossa Senhora do Livramento e da qual foi doadora para a comunidade assim como também foi doadora do terreno para a construção da capela pública de Nossa Senhora do Livramento em 25 de outubro de 1861 ( livro tombo, p. 1).Ela era esposa de Bernardo José Gadelha, considerado um dos cinco fundadores do município ( Morais, 2007, p.225).Nenhuma alusão é feita essa mulher na município, nenhuma rua se quer foi a ela dedicada.
             Nova figura feminina em Taipu aparecerá em 1896. Trata-se da professora Maria Emilia de Araújo. Duarte que junto com Francisco da Silva Lyra eram os dois docentes do município naquele ano (. RPPEB, 1896, p.47). O nome da referida professora figura nos relatórios em sucessivas licenças concedidas pelo estado para tratamento de saúde, donde se conclui ter a saúde frágil.Seu nome é apontado nos relatórios do governo do estado até o ano de 1899.
            No Relatório do ano de 1900 foi notificado um crime na vila de Taipu, ao que tudo indica tenha sido este o primeiro assassinado registrado no município. Eis o que diz o Relatório (RPPEB, 1900, p. 4):
Na povoação do Taipú cerca de 3 horas da tarde do dia 09/02/1899 Rosa Maria do Nascimento vibrou em João Fernandes de Oliveira uma tacada do qual veio esse infeliz a fallecer meia hora depois.Contra a delinquente que foi presa em flagrante delito procedeu o respectivo delegado na forma da lei [....].
            Coube a Rosa Maria do Nascimento entrar para história de Taipu como a primeira mulher a cometer uma assassinato no municipio, ao que tudo indica por motivos passionais e de ter inaugurado a carceragem da delegacia de policia civil da vila de Taipu já que nos relatórios anteriores a esta data não se tem noticias de crimes cometido e tão pouco informações sobre presos na delegacia de Taipu.
            Uma nota pitoresca foi publicada no Jornal das Moças, periódico do Rio de Janeiro, endereçada a uma moça identificada por Maria moradora de Taipu-RN na qual dizia: “tem sido muito censurado seu o proceder pois as mocinhas de quem tem falado não se lhe comparam”. Assinava a nota ‘Um observador de Taipu R .G. do Norte’ (Jornal das Moças, 1920. p 29).O texto trata de uma repreensão a tal Maria que ao que tudo indica não primava em ser um bom exemplos para as mocinhas taipuenses da época.
            No já referido Jornal das Moças em 1 de maio de 1924 foi publicada uma declaração de amor anônima endereçada a uma moça de Taipu nestes termos: Amo-te minha querida, legenda do meu amor, inspiração desta vida, Como és linda! És um Primor e de graça és guarnecida – Texa – Taipu R. G. do Norte” (Jornal das Moças, n. 463, 1 de maio de 1924 p. 59 ).
            Assina a nota A.Teixeira, o que não é possível dizer que se trate do galanteador, também não foi identificada a moça cortejada.
            No ano de 1927 ano aparecem duas mulheres exercendo profissão no serviço público federal. Como agente dos correios Maria Barbosa do Rego e na coletoria federal exercia a função de agente Maria Furtado (AACI, 1072, vol. IV), possivelmente tenha sido estas as primeiras mulheres a exercer função pública no município de Taipu.
            A edição do dia 14/10/1936 publicou a nomeação da agente postal Lindalva Ferreira da Cruz para a agência dos correios de Taipu (Jornal do Brasil, 1936, p.8).
            Professoras se destacaram em profusão no município no entanto daremos destaque a três que são mais lembradas no município.Teresinha Dias da Silva, Francisca Avelino dos Santos e Eleonor Soares Ribeiro.Dona
Teresinha Dias da Silva
Teresinha Dias da Silva foi a primeira mulher taipuense a se formar num curso superior, formou-se em pedagogia (antigo curso normal) em Mossoró. Suas atividades na educação foram desenvolvidas nas três escolas estaduais existentes na cidade de Taipu a maior parte na Escola Joaquim Nabuco como diretora, cargo que também exerceu nas outras duas. Foi de dona Teresinha a ideia de denominar de escola estadual Nossa Senhora do Livramento atual Escola Estadual Adão Marcelo da Rocha que por motivos políticos passou a ter esse nome e não o da padroeira em 1969 quando foi construída a referida escola. Alem de relevantes serviços prestado na educação dona Teresinha Dias exerceu função de secretaria e tesoureira no centro social Dom Bosco e na maternidade APAMI.
Dona Francisca Avelino dos Santos
Nascida em Taipu aos 16 de março de 1925, estudou no grupo escolar Joaquim Nabuco, onde aprendeu as primeiras letras com a professora Rosimira Nascimento e Alzira Soares. Ao terminar o 4º ano primário começou a lecionar em sua própria casa, em 1945.
A convite do prefeito Tamires Miranda, lecionou no centro social Dom Bosco. Dedicou toda sua vida a educação, mesmo depois de se aposentar abria sua casa para as crianças carentes e lhes ensinava a ler e escrever, além de dá aulas de catecismos. Transmitiu a muitas gerações os valores morais, éticos, civis e socioculturais ao povo taipuense (jornal o papagaio informa, 2005, p.4). Morreu em 27 de janeiro de 2012.
Leonor Soares Ribeiro
Nasceu em Taipu em 8 de maio de 1911, ainda jovem  passou a lecionar numa escola particular por ela mesma fundada, a escola General João Varela, em 1929, “na qual ensina às futuras gerações o caminho do saber” ( Cf. jornal o papagaio informa, 2006, p.3) parou de ensinar somente em 1976 quando se aposentou do oficio de professora.
Detentora de uma memória invejável, em 1992, o jornal O Poti, publicou uma matéria sobre esta taipuense. Na matéria, foi noticiada que esta senhora “detinha na ponta da língua datas e registros de acontecimentos que vêm escrevendo a história mundial” (Op. Cit, p.3) devido ao hábito que mantinha em colecionar noticias relacionadas aos Kennedy, a rainha Elizabeth II da Inglaterra, os Onassis, dentre outras personalidades internacionais e mesmo nacionais. Morreu no dia 11 de junho de 2006 aos 95 anos, dos quais 46 dedicados a educação. Em Taipu a escola do assentamento Tabuleiro do Barreto homenageia esta insigne educadora taipuense.
            A primeira secretaria paroquial foi a senhora Teresinha Dias da Silva na década de 1940 seguida por dona Francisca Avelino (in memorian) sucedida por Sueli Varela que assume o cargo em 1981 permanecendo até os dias atuais.
            De 40 ruas existentes na cidade de Taipu apenas duas tem nomes de mulheres (Alzira Saldanha e Salvina Soares de Miranda) uma praça publica tem o nome de Maria das Dores Praxedes.

             Fontes: Auto de repartição do Rio Grande do Norte, Marcus Cesar Calvalcanti, Terras potiguares, 2007, Livro tombo da paróquia Nossa Senhora do Livramento, Taipu-RN, Relatórios dos Presidentes dos Estado Brasileiros, 1896,1900; Jornal das Moças, 1920,1924; Alamanak Administrativo, Comercial e Industrial, Rio de Janeiro, 1927;Jornal do Brasil, Rio de Janeiro 1936.Jornal o Papagaio Informa,Taipu-RN,2006

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