quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Acontecimentos de Gameleira, distrito de Taipu em 1903


            O jornal a Republica noticiou um fato ocorrido no distrito da Gameleira, do município de Taipu e que deixou a população assustada pela gravidade do ocorrido. No relato do delegado Antonio Teixeira de Moura foi dito que: “Ao chegar à Villa do Taipú [sic] encontrou a respectiva população alarmada e receosa de haver ataca e saqueada pelos autores dos bárbaros atentados que ali tiveram lugar” (A Republica, 14/05/1903 p.3). Sob o comando do delegado foram serenados os ânimos e posto fim ao receio da população que ficaram confiantes na autoridade e da força publica segundo informa o referido jornal.
            O delegado havia feito os exames de corpo de delito em cinco pessoas, a saber: Pedro Guedes da Fonseca (ex-delegado de policia), Manuel Eugênio Pereira de Andrade (presidente da Intendência municipal), Juvêncio Soares da Camara (inspetor do quarteirão de Gameleira), João Guedes da Fonseca e Simplício Ribeiro da Silva.
            As causas desse entrevero da Gameleira são fornecidas pelo resultado dos exames de corpo de delito realizados nas pessoas citadas a cima e dos depoimentos das testemunhas que depuseram no caso. O conteúdo desses depoimentos foi publicado no jornal A Republica (A Republica, 14/05/1903 p.3) da qual transcrevemos a seguir:

Na tarde do dia três desse mez [03/05], indo o ex-delegado, com as pessoas mencionadas a casa de residência João Francisco Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú, no logar “Gameleira” a fim de fazer uma acommodação entre Germano Mandú e o referido inspetor de quarteirão sobre uma desavença entre elles havida e para fazer certas ponderações sobre uma sua ordem que o dito Germano Mandú a quem fora ela transmitida pelo dicto inspetor, recusara-se  a cumprir Sucedeu que que o ex-delegadado, ao chegar com as pessoas que o acompanharam a casa de João Mandú, encontrou ahi um grupo de indivíduos armados de facas  e fouces. O ex-delegado dirigiu-se a um  desses indivíduos que se achava  com outros no alpendre daquella casa, também armado pedindo-lhe as armas com prudência e calma, sendo nessa occasião  repelido severamente por esse individuo que logo após suas  ameaças atirou-se contra a pessoa do ex delegado descarregando-lhe golpes de fouces.Travou-se então renhida lucta entre todos os indivíduos que tinha a sua frente como chefe João Francsico Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú e o ex delegado e seus companheiros, homens pacíficos e sensatos, resultando dessa  lucta sahirem Manuel Eugenio Pereira de Andrade mortalmente ferido e com muitos  ferimentos Simplicio Ribeiro  da Silva, João Guedes da Fonseca, Juvencio Soares da Costa e Pedro Guedes da Fonseca.

            Ainda de acordo com os depoimentos colhidos pelo delegado Antônio Teixeira de Moura os “criminosos” haviam praticado tais atentados com a mais tremenda barbaridade:

pois que ainda depois de prostrados por terra os feridos, Manuel Eugenio e  Simplício  Ribeiro da Silva, quase sem vida, lançaram-se sobre estes, para esmaga-lhes os craneos e corta-lhes os braços e pernas, o que fez chamar a atenção das mulheres de taes criminosos, as quaes, com pedidos e supplicas, poderam salvar as infelizes victimas das garras desses sicários.

            Continua o texto dizendo que com exceção de Pedro Guedes e Juvêncio Soares, os vitimados ficaram em estado penoso. O inquérito foi encerrado no dia 07/05 e remetido ao promotor da comarca de Ceará–Mirim por intermédio do juiz de direito  para as finalidades legais na qual foi solicitada a prisão preventiva de João Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú, seus filhos Joaquim Mandú, Germano Mandú, Fabrício Mandú e Manuel Mandú.o neto João Mandú, os genros Manuel Antonio, Franscisco Sanhorá e Raymundo de tal [sic], além dos indivíduos  João Rabeca, João Eloy  e domingos Eloy ( Op. Cit.) A prisão foi solicitada visto que ficou provado pelas diligencias realizadas serem os citados os autores dos atentados.Foi realizado exame de corpo de delito João Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú, o qual ficou constatado ferimentos leves.
            O delegado comunicou ao Chefe de Policia que não sofreram nenhuma violência a casa e as pessoas da família de João Lins de Vaconcellos, vulgo João Mandú, “nem sido destruídos os seus cercados e plantações, garantindo aquelle delegado que, no exercício de seu cargo, não consitira jamais que se viole alli o direito e a propriedade de qualquer cidadão”. ( Op.Cit).

18/05/1903

            O jornal A Republica do dia 18/05/1903 na página 3 informava que recebera um oficio do delegado de policia de Taipu, o tenente Antonio Teixeira de Moura, no qual comunicava que havia  seguido para Taipu juntamente com 12 praças [soldados] e trouxe acontecimentos circunstanciados que tiveram lugar na Gameleira, distrito do referido município.O oficio relata o ocorrido citado acima.Diz ainda a nota que o Chefe de Policia aguardava as diligencia realizadas pelo chefe de policia em Taipu, a conclusão do exame de corpo de delito realizado  em João Lins de Vasconcelos, vulgo João Mandú por médicos em Natal, da qual ficou constatado que este havia sofrido ferimentos leves após travar lutar corporal com outras pessoas e depois de haver concluída essa diligencia os fatos seriam remetido ao governador do estado ( A Republica, 18/05/1903, p.3).
            João Lins de Vasoncellos, vulgo João Mandú, havia dito a Chefatura de policia que sua casa achava-se debaixo de cerco e que ‘estavam destruindo os seus cercados e plantações e ameaçadas de morte as pessoas de sua família” ao que o delegado  Antonio Teixeira de Moura replicou dizendo que  até aquela data não havia nenhuma violência contras “as mesmas pessoas  e propriedade desse individuo” ( A Republica, 18/05/1903, p.3). terminando o dito delegado que no cumprimento dos deveres inerentes ao seu cargo jamais consitiria que fossem violados o direito e propriedade de qualquer cidadão.

19/05/1903 

            O jornal A Republica do dia 19/05/1903 na página 3 informava que o chefe de policia havia remetido ao delegado de policia de Taipu para os fins legais, os autos constantes no exame de corpo de delito procedido em João Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú.O mesmo foi inquirido pelo  1º  delegado de policia da capital, de ordem do chefe de policia, a cerca de tais ferimentos considerados leves a luz dos médicos que serviram de  peritos no exame do citado.
            Conforme ficou verificado pelo auto de perguntas os ferimentos  de João Mandú foram recebidos em uma luta travada entre ele e outras pessoas, Manuel Eugenio e um genro  deste, no dia 03/05 na Gameleira, distrito de Taipu, luta na qual saíram os dois últimos citados gravemente feridos.O chefe de policia aguardava que o delgado que fora enviado para Taipu lá procedesse com as diligencias dos fatos ocorridos na Gameleira e lhe dê conta do resultados dessa diligencia a fim de que “tudo seja levado ao conhecimento do  do Exmo Sr. Dr. Governador do Estado”.
            Comunicou ainda o referido delegado [...] ter no dia 13/05 procedido o corpo de delito nos ferimentos de João Antonio, vulgo João Rabeca, o mesmo  que também havia tomado parte nos graves acontecimentos da Gameleira, sendo os tais ferimentos , a juizo dos peritos, considerados leves (25/05/1903 p. 3).
            Como visto a cima  caso da Gameleira tomou tamanha proporção que foi acompanhado quase que diariamente, só na edição citada a cima dizia que o tema já havia sido tratado nas edições de 4,6 e 11 de maio de 1903.

Opinião nossa
            O  caso da Gameleira ocorrido em 1903 parece ter sido motivado pod questões ligadas a conflitos de terras naquela região de Taipu como se verifica na fala do acusado João Lins de Vasconcelos, o João Mandú, quando em depoimento ao chefe de policia de Natal havia dito  que sua casa achava-se debaixo de cerco e que ‘estavam destruindo os seus cercados e plantações e ameaçadas de morte as pessoas de sua família”.Entretanto o depoimento de João Mandú não deixa claro de onde vinham esses cercos e ameaças realizadas em sua propriedade.
            Essa é uma data em que se verifica os primeiros conflitos de terra em Taipu. Segundo Aldo Torquato (2009, p.169) o município de Taipu tinha em 1895 uma extensão territorial de 942 km², que além da sede, a vila de Taipu, faziam parte do município as seguintes localidades: as povoações de Poço Branco (atual município), Barreto (atual Bento Fernandes-RN), Gameleira, Contador, Boa Vista, Pitombeira e Passagem Funda.
            Já o Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros ( Rio Grande do Norte, p.39) no ano de 1906 dizia que haviam no município de Taipu grande quantidade de terras do estado, dos quais diversos proprietários “particulares têm-se apossados, illegalmente, para os misteres do plantio e da creação”.
            Com tantas terras devolutas não é de se espantar que houvessem disputas por terras na região.Outros conflitos agrários em Taipu datam da década de 1970 e refere-se aos conflitos no Ingá da qual resultou na criação do primeiro assentamento de reforma agrária criado pelo INCRA em Taipu.Os conflitos se deram em plena ditadura militar sendo assentamento criado pelo então presidente João Figueiredo.Em 1998 as terras da fazenda Taboleiro do Barreto foi invadida pelos integrantes do MST que dela se apossaram até a desapropriação e posteriormente criação do assentamento de mesmo nome naquela propriedade rural.




Agradecemos  a gentileza e a colaboração do nobre historiador Rostand Medeiros que nos enviou solicitamente as fotos das paginas do jornal A Republica em que foram relatados os acontecimentos da Gameleira citados a cima e pela qual somos gratos pela sua prestimosa colaboração.


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