O jornal a Republica noticiou um fato ocorrido no
distrito da Gameleira, do município de Taipu e que deixou a população assustada
pela gravidade do ocorrido. No relato do delegado Antonio Teixeira de Moura foi
dito que: “Ao chegar à Villa do Taipú [sic] encontrou a respectiva população
alarmada e receosa de haver ataca e saqueada pelos autores dos bárbaros
atentados que ali tiveram lugar” (A Republica, 14/05/1903 p.3). Sob o comando
do delegado foram serenados os ânimos e posto fim ao receio da população que
ficaram confiantes na autoridade e da força publica segundo informa o referido
jornal.
O delegado havia feito os exames de corpo de delito em
cinco pessoas, a saber: Pedro Guedes da Fonseca (ex-delegado de policia),
Manuel Eugênio Pereira de Andrade (presidente da Intendência municipal), Juvêncio
Soares da Camara (inspetor do quarteirão de Gameleira), João Guedes da Fonseca
e Simplício Ribeiro da Silva.
As causas desse entrevero da Gameleira são fornecidas
pelo resultado dos exames de corpo de delito realizados nas pessoas citadas a
cima e dos depoimentos das testemunhas que depuseram no caso. O conteúdo desses
depoimentos foi publicado no jornal A Republica (A Republica, 14/05/1903 p.3)
da qual transcrevemos a seguir:
Na tarde do dia três
desse mez [03/05], indo o ex-delegado, com as pessoas mencionadas a casa de
residência João Francisco Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú, no logar
“Gameleira” a fim de fazer uma acommodação entre Germano Mandú e o referido
inspetor de quarteirão sobre uma desavença entre elles havida e para fazer
certas ponderações sobre uma sua ordem que o dito Germano Mandú a quem fora ela
transmitida pelo dicto inspetor, recusara-se
a cumprir Sucedeu que que o ex-delegadado, ao chegar com as pessoas que
o acompanharam a casa de João Mandú, encontrou ahi um grupo de indivíduos armados
de facas e fouces. O ex-delegado
dirigiu-se a um desses indivíduos que se
achava com outros no alpendre daquella
casa, também armado pedindo-lhe as armas com prudência e calma, sendo nessa
occasião repelido severamente por esse
individuo que logo após suas ameaças atirou-se
contra a pessoa do ex delegado descarregando-lhe golpes de fouces.Travou-se
então renhida lucta entre todos os indivíduos que tinha a sua frente como chefe
João Francsico Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú e o ex delegado e seus
companheiros, homens pacíficos e sensatos, resultando dessa lucta sahirem Manuel Eugenio Pereira de
Andrade mortalmente ferido e com muitos
ferimentos Simplicio Ribeiro da
Silva, João Guedes da Fonseca, Juvencio Soares da Costa e Pedro Guedes da
Fonseca.
Ainda de acordo com os depoimentos colhidos pelo delegado
Antônio Teixeira de Moura os “criminosos” haviam praticado tais atentados com a
mais tremenda barbaridade:
pois que ainda depois de
prostrados por terra os feridos, Manuel Eugenio e Simplício
Ribeiro da Silva, quase sem vida, lançaram-se sobre estes, para
esmaga-lhes os craneos e corta-lhes os braços e pernas, o que fez chamar a
atenção das mulheres de taes criminosos, as quaes, com pedidos e supplicas,
poderam salvar as infelizes victimas das garras desses sicários.
Continua o texto dizendo que com exceção de Pedro Guedes
e Juvêncio Soares, os vitimados ficaram em estado penoso. O inquérito foi
encerrado no dia 07/05 e remetido ao promotor da comarca de Ceará–Mirim por intermédio
do juiz de direito para as finalidades legais
na qual foi solicitada a prisão preventiva de João Lins de Vasconcellos, vulgo
João Mandú, seus filhos Joaquim Mandú, Germano Mandú, Fabrício Mandú e Manuel
Mandú.o neto João Mandú, os genros Manuel Antonio, Franscisco Sanhorá e
Raymundo de tal [sic], além dos indivíduos
João Rabeca, João Eloy e domingos
Eloy ( Op. Cit.) A prisão foi solicitada visto que ficou provado pelas
diligencias realizadas serem os citados os autores dos atentados.Foi realizado
exame de corpo de delito João Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú, o qual
ficou constatado ferimentos leves.
O delegado comunicou ao Chefe de Policia que não sofreram
nenhuma violência a casa e as pessoas da família de João Lins de Vaconcellos,
vulgo João Mandú, “nem sido destruídos os seus cercados e plantações,
garantindo aquelle delegado que, no exercício de seu cargo, não consitira
jamais que se viole alli o direito e a propriedade de qualquer cidadão”. (
Op.Cit).
18/05/1903
O jornal A Republica do dia 18/05/1903 na página 3 informava
que recebera um oficio do delegado de policia de Taipu, o tenente Antonio Teixeira
de Moura, no qual comunicava que havia
seguido para Taipu juntamente com 12 praças [soldados] e trouxe
acontecimentos circunstanciados que tiveram lugar na Gameleira, distrito do
referido município.O oficio relata o ocorrido citado acima.Diz ainda a nota que
o Chefe de Policia aguardava as diligencia realizadas pelo chefe de policia em
Taipu, a conclusão do exame de corpo de delito realizado em João Lins de Vasconcelos, vulgo João Mandú por
médicos em Natal, da qual ficou constatado que este havia sofrido ferimentos
leves após travar lutar corporal com outras pessoas e depois de haver concluída
essa diligencia os fatos seriam remetido ao governador do estado ( A Republica,
18/05/1903, p.3).
João Lins de Vasoncellos, vulgo João Mandú, havia dito a
Chefatura de policia que sua casa achava-se debaixo de cerco e que ‘estavam
destruindo os seus cercados e plantações e ameaçadas de morte as pessoas de sua
família” ao que o delegado Antonio
Teixeira de Moura replicou dizendo que até aquela data não havia nenhuma violência
contras “as mesmas pessoas e propriedade
desse individuo” ( A Republica, 18/05/1903, p.3). terminando o dito delegado
que no cumprimento dos deveres inerentes ao seu cargo jamais consitiria que
fossem violados o direito e propriedade de qualquer cidadão.
19/05/1903
O jornal A Republica do dia 19/05/1903 na página 3 informava
que o chefe de policia havia remetido ao delegado de policia de Taipu para os
fins legais, os autos constantes no exame de corpo de delito procedido em João
Lins de Vasconcellos, vulgo João Mandú.O mesmo foi inquirido pelo 1º
delegado de policia da capital, de ordem do chefe de policia, a cerca de
tais ferimentos considerados leves a luz dos médicos que serviram de peritos no exame do citado.
Conforme ficou verificado pelo auto de perguntas os
ferimentos de João Mandú foram recebidos
em uma luta travada entre ele e outras pessoas, Manuel Eugenio e um genro deste, no dia 03/05 na Gameleira, distrito de
Taipu, luta na qual saíram os dois últimos citados gravemente feridos.O chefe
de policia aguardava que o delgado que fora enviado para Taipu lá procedesse
com as diligencias dos fatos ocorridos na Gameleira e lhe dê conta do
resultados dessa diligencia a fim de que “tudo seja levado ao conhecimento
do do Exmo Sr. Dr. Governador do Estado”.
Comunicou ainda o referido delegado [...] ter no dia
13/05 procedido o corpo de delito nos ferimentos de João Antonio, vulgo João
Rabeca, o mesmo que também havia tomado
parte nos graves acontecimentos da Gameleira, sendo os tais ferimentos , a juizo
dos peritos, considerados leves (25/05/1903 p. 3).
Como visto a cima caso da Gameleira tomou tamanha proporção que
foi acompanhado quase que diariamente, só na edição citada a cima dizia que o
tema já havia sido tratado nas edições de 4,6 e 11 de maio de 1903.
Opinião nossa
O caso da Gameleira
ocorrido em 1903 parece ter sido motivado pod questões ligadas a conflitos de
terras naquela região de Taipu como se verifica na fala do acusado João Lins de
Vasconcelos, o João Mandú, quando em depoimento ao chefe de policia de Natal havia
dito que sua casa achava-se debaixo de
cerco e que ‘estavam destruindo os seus cercados e plantações e ameaçadas de
morte as pessoas de sua família”.Entretanto o depoimento de João Mandú não
deixa claro de onde vinham esses cercos e ameaças realizadas em sua
propriedade.
Essa é uma data em que se verifica os primeiros conflitos
de terra em Taipu. Segundo
Aldo Torquato (2009, p.169) o município de Taipu tinha em 1895 uma extensão territorial
de 942 km², que além da sede, a vila de Taipu, faziam parte do município as
seguintes localidades: as povoações de Poço Branco (atual município), Barreto
(atual Bento Fernandes-RN), Gameleira, Contador, Boa Vista, Pitombeira e
Passagem Funda.
Já o Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros (
Rio Grande do Norte, p.39) no ano de 1906 dizia que haviam no município de
Taipu grande quantidade de terras do estado, dos quais diversos proprietários
“particulares têm-se apossados, illegalmente, para os misteres do plantio e da
creação”.
Com tantas terras devolutas não é de se espantar que
houvessem disputas por terras na região.Outros conflitos agrários em Taipu
datam da década de 1970 e refere-se aos conflitos no Ingá da qual resultou na
criação do primeiro assentamento de reforma agrária criado pelo INCRA em
Taipu.Os conflitos se deram em plena ditadura militar sendo assentamento criado
pelo então presidente João Figueiredo.Em 1998 as terras da fazenda Taboleiro do
Barreto foi invadida pelos integrantes do MST que dela se apossaram até a
desapropriação e posteriormente criação do assentamento de mesmo nome naquela
propriedade rural.
Agradecemos a gentileza e a colaboração do nobre
historiador Rostand Medeiros que nos enviou solicitamente as fotos das paginas
do jornal A Republica em que foram relatados os acontecimentos da Gameleira
citados a cima e pela qual somos gratos pela sua prestimosa colaboração.
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