terça-feira, 17 de março de 2015

Resumo histórico sobre a EFCRN


            A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte foi criada pela lei 1.145, de 31/12/1903, na qual autorizava o governo do estado a proceder com os estudos para construir uma ferrovia que partindo do ponto mais conveniente do litoral do Rio Grande do Norte atingisse o Sertão do mesmo estado e penetrasse nos sertões da Paraíba, Pernambuco e Ceará, e daí, ligando-se à Estrada de Ferro de Baturité no ponto mais conveniente onde completaria  o plano geral de viação férrea do Norte do Brasil ( atual região Nordeste).
            Os estudos verificaram que uma ferrovia de penetração mais conveniente seria o prolongamento da antiga Estrada de Ferro de Natal a Ceará-Mirim, já então estudada, por ser o porto de Natal o mais apropriado como o centro de convergência da futura rede de ferrovias do Rio Grande do Norte, sendo esse traçado o que oferecia as melhores condições técnicas, como se verificou nos estudos de reconhecimento efetuados nos diversos vales dos principais rios da região.
            Pelo decreto nº 5.703 de 04/10/1905, foram então aprovados o projeto geral da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte e os estudos definitivos do primeiro trecho, cuja construção foi imediatamente iniciada pelo governo. Pouco tempo depois, o governo resolveu empreitar os serviços de construção, contratando também o arrendamento do tráfego com a empresa construtora que foi escolhida em concorrência pública em 1908, na qual foi vencedora a proposta de Luiz Soares de Gouvêa, que, associado ao engenheiro dr. João Julio de Proença, transferiu os contratos à firma Proença & Gouvêa, que então se constituiu e da qual pouco tempo depois, em 1909, se tornou cessionário o sócio João Proença.
            Em 1911 João Proença organizou a companhia de Viação e Construções, na qual era o incorporador e principal acionista, e a ela transferiu os contratos de construção e arrendamento da  ferrovia, assumindo a direção da companhia, no cargo de diretor-presidente.
            O ponto inicial da linha é, pois, a cidade de Natal – capital do estado do Rio Grande do Norte – que possui o primeiro porto do Norte do Brasil, que além das condições excepcionais do seu ancoradouro abrigado numa extensão de 18 quilômetros e francamente acessível em qualquer maré a todos os navios que viajam pela costa brasileira, possui também uma ótima posição geográfica sendo um dos mais próximos da Europa.
            A ferrovia, partindo da cidade de Natal, na margem direita do Rio Potengi, acompanha esse rio em cerca de 8 quilômetros, onde o atravessa com uma ponte metálica de 500 metros, constituída por 10 vãos de 50 metros; passando então para a margem esquerda e logo dela se afastando, alcança Aldeia Velha (Igapó) extenso tabuleiro, por onde corre até alcançar  o fertilíssimo vale do Ceará-Mirim, onde a cana-de-açúcar estava em franca expansão.
            O Rio Ceará-Mirim alaga todo o vale em seus transbordamentos, durante a estação das chuvas, depositando detritos vegetais que transforma o terreno com uma exuberante fecundidade. Este vale, tem cerca de 36 Km de extensão por 3 Km de largura.Na época da construção da EFCRN devido à carência de transportes, era cultivado apenas um terço de sua superfície total. Nesse período o vale apresentava cerca de 50 engenhos com uma  produção relativamente grande.Os agricultores da região já adotavam a policultura, como o cultivo do arroz, deixando um rendimento notável.
            No município do Ceará-Mirim, criava-se gado em grande quantidade, sendo farta a alimentação que ele aí encontrava. A cidade é edificada em terreno acidentado, mas o seu comércio é bastante importante.    Acompanhando sempre a margem direita do Rio Ceará-Mirim, a estrada chega a Taipu, onde, além da criação de gado, são cultivados o algodão e cereais em grande escala.
            Quatro quilômetros adiante de Taipu, a linha atravessa o rio Ceará-Mirim através de várias rampas, terrenos planos e arenosos e pela ponte do Umari, que nos invernos são duma fertilidade prodigiosa para a lavoura dos cereais, da mandioca e do algodão.
            Daí até o quilômetro 88, onde se encontrava a florescente povoação de Baixa-Verde (atual João Câmara-RN), com um terreno pouco acidentado, encontrando-se pequenos morros isolados de rochas silicosas e calcárias. O granito existe em diversos pontos em estado de decomposição. Nas proximidades da linha, existia uma grande mina de enxofre, uma pedreira de mármore e muitas outras de mica e cristal de rocha.
            No quilômetro 98, a cerca de 10 quilômetros à esquerda da linha, existe a vila de Jardim de Angicos, em cujo município a linha atravessa vastas e importantes fazendas de criação de gado vacum, cavalar e lanígero. Essa cidade possui já muitos estabelecimentos comerciais e máquinas de descaroçar algodão, sendo muito importante o seu comércio.
Daí em diante a linha atravessa grandes campos de capim penasco (ótima forragem para o gado e cujo poder alimentício é comparável ao do milho em igualdade de peso), até atingir, no quilômetro 134, o divisor de águas do Rio Ceará-Mirim e dos afluentes do Rio Açu, onde existem grandes blocos de rocha vermelha.
            À esquerda da linha, nesse ponto, existe o pico do Cabugi, com a altitude de 600 metros, e a cidade de Lajes, de grande importância comercial, devido ao cruzamento de duas estradas de rodagem, de tráfego intenso. Aí  a estrada faria a bifurcação mais tarde com a construção do ramal Natal-Macau outro porto do Rio Grande do Norte, importantíssimo pelas riquíssimas salinas, cuja produção é suficiente para abastecer ao mercado mundial.Esse ramal deveria ter aproximadamente 100 quilômetros de extensão.

O destino que nunca chegou
            A linha tronco no quilômetro 300 atingiria a importante cidade de Caicó, denominada a época capital do fertilíssimo sertão, onde a uberdade do solo é simplesmente prodigiosa.A população das zonas que seriam servidas pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte foi computada na época, por dados oficiais, em 600.000 habitantes e a produção do algodão subia a algumas dezenas de milhares de fardos, sendo o produto da melhor qualidade e comparado ao mais bem reputado do Egito.
            A indústria das peles se tomava o incremento nas regiões do seridó aparecia á época da construção da EFCRN como definitiva e como elemento de expansão considerável, uma vez terminada ferrovia, permitiria aos criadores a pronta remessa desse produto aos pontos de embarque. A exportação das peles, pelos portos de Natal e Mossoró, havia atingido somas consideráveis, e torno de alguns milhares de contos de réis – e isso apesar da falta de transporte econômico e rápido, que só se obteria após a construção da ferrovia. Era uma indústria brasileira conhecida nos principais centros consumidores da Europa e Estados Unidos, sendo o produto bem reputado e superior ao de outras procedências. A extração de cera de carnaúba e da borracha de mangabeira e maniçoba são também outras indústrias que se tornariam bem importantes.

A importância da EFCRN
            Para se ter ideia da importância comercial da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, basta considerar os elementos principais de seu tráfego: o algodão, que, como foi dito, tem aí uma produção importantíssima no sentido da exportação, e o sal, no sentido da importação, produtos esses cujo consumo era extraordinário nas regiões centrais do Brasil. Teria, portanto, essa ferrovia o seu tráfego perfeitamente equilibrado, realizando assim o ideal das vias de transportes.

Características físicas da EFCRN
            A bitola dessa estrada é de 1m, entre faces internas dos trilhos, sendo as condições técnicas adotadas em seu prolongamento consideradas a época excelentes, não se permitindo curvas de raio superior a 300 m e rampas mais fortes de 0,012m por metro. Os trilhos são (eram) de 25 quilos por metro corrente e a largura da plataforma de 3,60m nos aterros e 4 metros nos cortes.
            As locomotivas adotadas são (eram) de 36 toneladas, ou 9 toneladas por eixo; as pontes foram todas calculadas prevendo-se para o futuro material mais pesado até 12 toneladas por eixo.Nos trechos anteriormente construídos, foram executadas as obras necessárias, a fim de serem unificadas as condições técnicas atuais. Previa-se que a extensão total da EFCRN fosse de cerca de 700 Km ou mais ( chegou a ter 380 km).
            O seu traçado era magnífico, e os elementos seguros do tráfego lhe vaticinavam a tornar-se, futuramente, uma das estradas de mais valor comercial do país. Os trabalhos de construção e a superintendência geral do tráfego foram confiados, desde o seu início, ao engenheiro dr. José Antônio da Costa Junior e também ao engenheiro Sampaio Correia onde em 1939 a ferrovia receberia dele o nome.Entre Ceará-Mirim e Taipu os trabalhos de construção da ferrovia foram confiados ao engenheiro José Luis Batisa.



Fonte: <http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g24g.htm> acesso em 05dez2014.. Adaptado.

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