Pra inicio de conversa, na realidade o trecho entre Lajes e
São Rafael não era uma ramal propriamente dito, ele fazia parte da linha tronco
da EFCRGN desde seus projeto original de 1904.
Ocorre,
pois, que a construção dessa ferrovia foi toda esfacelada, devagar quase
parando, que os trechos que foram feitos ao longo do tempo ficaram sendo
conhecidos por ramais, sem nunca terem sido de fato. O trecho em questão teria
seu término na cidade de Caicó, de acordo com o projeto original, coisa que
nunca ocorreu, tendo os leito ficado pronto até as margens do rio Piranhas, no
atual município de Jucurutu.
O
inicio da agonia do trecho Lajes-São Rafael
Até abril de 1963 havia aumentado em 17 milhões de cruzeiros
a receita do setor de carga do ramal Lajes-Macau, pertencente a Rede
Ferroviária do Nordeste-RFN, que por sua vez era uma das subsidiárias da RFFSA. Tais
aumento ocorreram depois de melhoramentos realizados sob a orientação da RFFSA.
Os
resultados obtidos no transporte de sal despertaram o interesse de
representantes da RFFSA, SUDENE e até da ONU, que examinaram em conjunto um
plano de investimentos de 300 milhões de cruzeiros, capaz de carrear a média de
mil toneladas daquele produto, com um aumento de 30 milhões de cruzeiros num
ramal considerado até então deficitário. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 16/06/1963, p.8).
Outro ramal (trecho, melhor dizendo) que estava paralisado
era o de São Rafael a Lajes, que entrou em pleno funcionamento naquele ano de
1963 com carros de lastro transportando blocos de mármores até o Recife e retornando
ao Rio Grande do Norte carregados de postes Cavan.
As
locomotivas a diesel já estavam sendo empregadas no transporte de cargas e
passageiros. Aumentando assim ao máximo a rentabilidade dos serviços naquela
zona.
Foi
assim, que o transporte de sal no ramal de Lajes a Macau deu um fôlego de sobrevivência
ao trecho moribundo de São Rafael a Lajes, considerado já deficitário 6 anos após a
abertura do tráfego, em 1957. Por isso o trecho entrou na lista dos ramais
considerados antieconômicos da RFFSA e teria que ser erradicado
O ministério da viação confirmou em 27/05/1964 que foram extintos 2.080 km de ramais ferroviários considerados antieconômicos que representaria uma economia de 22 milhões de cruzeiros.(DIÁRIO DE NATAL, 27/05/1964, p.2). Esses ramais eram Leste Brasileiro (216 km), Viação Férrea Rio Grande do Sul (168 km) e Rede Ferroviária do Nordeste (308 km), entre outros.
De acordo com o jornal Diário de Natal, o então governador Aluízio Alves havia dito que em resultado de seu trabalho, concordou o general Afonso Albuquerque, diretor da RFFSA, em manter o trecho ferroviário de Lajes a São Rafael que seria suprimido, de acordo com a política do governo federal de supressão de ramais deficitários.O diretor da RFFSA concordou ainda em reforçar as condições do material rodante do trecho Lajes a Macau, com vistas no escoamento de sal via o porto de Natal, serviço a ser custeado pela SUDENE. (DIÁRIO DE NATAL, 31/07/1964, p.4).
Já
em 1966, segundo o jornal O Poti, o Rio Grande do Norte iria perder 45 km de
estradas de ferro com o fechamento em breve do ramal Angicos a São Rafael em
vista do parecer da Comissão Regional para Erradicação de Ramais Antieconômicos
da RFFSA. (O POTI, 01/05/1966, p.2).
Depois
da desgraça feita, aparecem os “salvadores da pátria” com soluções, como foi o
caso do deputado estadual Dary Dantas cujo requerimento aprovado na Assembleia
Legislativa solicitava que fosse feito apelo ao ministro dos transportes para que
não somente não encerrassem as atividades do ramal São Rafael a Lajes, mas
ampliasse a ligação de São Rafael a Patos, na Paraíba, obedecendo um antigo
traçado da EFCRGN que teria também como escalas as cidades de Jucurutu, Caicó e
São João do Sabugi. O deputado Asclepiades Fernandes também subscreveu esse requerimento.
(O POTI, 03/12/1967, p.3).
Em
28/04/1966 o escritório regional da RFFSA em Natal havia informado a reportagem
do Diário de Natal que não havia chegado nenhuma comunicação oficial a respeito
da extinção do ramal ferroviário entre Lajes e São Rafael. (DIÁRIO DE NATAL, 28/04/1966,
p.2), a informação vinha sendo divulgada pela imprensa de Recife dentro do plano
de supressão dos ramais considerados deficitários.
De acordo com as informações repassadas ao citado jornal naquele trecho ferroviário estava havendo uma grande movimentação no transporte de cargas, principalmente de animais destinados ao abate para consumo de carne da capital potiguar.O informante adiantou ainda que nenhuma proposta havia sido encaminhada a administração central sobre a extinção daquele trecho ferroviário.
Em 21/03/1967 conforme aviso de horários de trens da semana santa daquele ano ainda constava o trem destinado a São Rafael. (DIÁRIO DE NATAL, 22/03/1967, p.4).Indicando assim que ainda havia atividade naquele trecho mesmo com os rumores de seu fechamento.Porém, a sorte do trecho ferroviário em questão estava já determinada e ele ser extinto.
Em setembro de 1967 o engenheiro Fernando Bezerra, do DER, conseguiu junto ao DNER, a aprovação de verbas destinadas a construção de estradas pavimentadas nos trechos Mossoró-Porto Franco e São Rafael-Angicos, no valor de 320 mil cruzeiros novos. (DIÁRIO DE NATAL, 12/09/1967, p.6).Estas estradas iriam substituir os ramais deficitários. Era o inicio do fim das ferrovias potiguares.
Ainda de acordo com o Diário de Natal naquele ano haviam
sido transportadas 80 toneladas de mármore de São Rafael para Salvador, com
dois trens em 11 dias. Por caminhão teria que ser utilizado uma frota que não
faria o percurso em menos tempo.Mesmo assim persistia a propaganda negativa
feita pelo próprio governo federal para a supressão de ramais ferroviários em
favor da construção de estradas e do estimulo a industria automobilística.
Naquele ano de 1967 foi feito ainda um desvio de 8 km de extensão
a partir da estação Soldado Alberino até as salinas de Macau possibilitando o
carregamento de sal, sem utilizar caminhões.Havendo mercado para o sal,
voltaria a estrada de ferro a ter o que transportar.
17/11/1967 o Diário de Natal escreveu que estava sendo
estudada pela Rede Ferroviária do Nordeste o problemas do fechamento do trecho
ferroviário de Lajes a São Rafael, numa extensão de 92 km, considerado pela
direção da RFN como antieconômico.
O trecho havia sido vistoriado por dois engenheiros da RFN
que realizaram levantamento da situação do trecho, observando o mercado de
transporte de cargas que abrangia o mármore de São Rafael, o gado proveniente
de Angicos para abate em Natal e o algodão de Fernanco Pedroza.
O engenheiro Marco Aurélio Câmara Cavalcanti de Albuquerque, diretor da RFN, disse ao referido jornal que caso viesse a ser decidido o fechamento do ramal, deveria ser construída uma rodovia entre os dois municípios, a fim de assegurar as comunicações entre Lajes e São Rafael.Quanto ao pessoal que trabalhava no trecho a ser erradicado eles seriam distribuído nos ramais de Lajes a Macau e Lajes a Natal onde havia carência de pessoal na via permanente.
O referido engenheiro havia dito ainda que o trecho já era alvo de estudos anteriores com vistas ao seu fechamento, mas que a superintendência da RFFSA se preocupava em dar solução ao caso que atendesse aos interesses da RFFSA e do Estado, e que mesmo se fosse determinado o fim do tráfego entre Lajes e São Rafael não seriam arrancados os trilhos, o que possibilitaria uma futura autorização de tráfego quando oferecidas melhores condições de rentabilidade para a RFFSA. (DIÁRIO DE NATAL,17/11/1967,p.3).
Conforme anúncio de
horários de trens divulgado no jornal Diário de Natal em 10/04/1968 os trens de
passageiros estavam circulando até São Rafael. (DIÁRIO DE NATAL, 10/04/1968, p.2).
O
golpe de misericórdia
Em 1969 o diretor do DER, o
engenheiro Fernando Bezerra, autorizou ao Sr. Carlos Alberto Liberato (que se
encontrava no Rio de Janeiro lhe representando) a assinar o convênio com o DNEF
que iria delegar ao DER o trecho ferroviária de São Rafael a Jucurutu o qual
seria transformado em rodovia, numa extensão de aproximada de 30 km no valor de
1.200 cruzeiros novos.
Em 20/05/1969 o diretor do DER, o engenheiro Fernando
Bezerra, viajou pelo interior do estado a fim de inspecionar diversas obras
rodoviárias do governo do Estado, onde “se deslocará até Angicos para observar
o andamento das obras de construção da rodovia Angicos-São Rafael, construído pelo
DER, em substituição ao ramal deficitário da Rede Ferroviária Federal”. (DIÁRIO
DE NATAL, 20/05/1969, p.2).
O
fim
De acordo com o jornal Diário de Natal em 20/08/1969 o trecho já havia sido extinto e o DNER já havia delegado ao DER a construção da rodovia que vinha sendo executada pelo governo do Estado.Enquanto isso a RFFSA continuava com o tráfego até ser concluída a rodovia. (DIÁRIO DE NATAL, 20/08/1969, p.7).
A rodovia que substituiu o ramal ferroviário extinto da Rede Ferroviário do Nordeste, ligando São Rafael a Angicos, foi inaugurada em 02/05/1972 as 14h00 pelo ministro dos transportes cel. Mário Andreazza (DIÁRIO DE NATAL, 03/05/1972,p.10).
O ministro percorreu toda a extensão da rodovia acompanhado
de assessores, do representante do governo do Estado e do diretor do DER. Durante
a inspeção, o ministro parou sobre a ponte do rio Caraú, e na ocasião, o
engenheiro da empresa construtora prestou os esclarecimentos técnicos, à medida
que o ministro ia perguntando. Diretor do DNEF, ficou satisfeito como os
trabalhos realizados considerando a rodovia Angicos – São Rafael um padrão para
todas as rodovias substitutivas dos ramais deficitários.
Em 1975
as antigas estações de São Rafael, Angicos, Fernando Pedroza, São Miguel,
Jardim e Pedra Preta já estavam fechadas.
No tocante
a estação de São Rafael ela despareceu por completo, assim como toda a cidade,
submergida pelo enchimento do lago da barragem Armando Ribeiro Gonçalves em
1984.
O trecho rodoviário entre Lajes e São Rafael é feito atualmente pela BR-304, já de São Rafael a Jucurutu pela RN-118. Foram estas as rodovias construídas em substituição ao ramal ferroviário.
Estação de São Rafael já desativada na década de 1980 |
Estação de São Rafael, década de 1950. |
Estação de São Rafael, 1958.Enciclopédia dos Municípios, IBGE,1958. |
Estação de São Rafael, 1980. |
Recorte do jornal Diário de Natal de 1968 constando ainda a circulação de trens entre Natal e São Rafael. |
Ruínas da estação de São Rafael que apareceram com a seca ocorrida na barragem em 2013. |
Trecho rodoviário entre Lajes e São Rafael. |
Trecho rodoviário entre São Rafael e Jucurutu. |
Amigo, você sabe responder porque a estrada de ferro Sampaio Correia nunca teve por objetivo alcançar a cidade de Mossoró, visto que era a cidade mais importante do interior do Rio grande do Norte ?
ResponderExcluirBoa noite Rodrigo Henrique, grato pela visita ao blog. Respondendo ao seu questionamento, as razões são as mais diversas e dariam por si só um livro. A estrada de Ferro de Mossoró tem sua ideia de ligar o litoral potiguar ao rio São Francisco, com uma extensão de mais de 700 km, a ideia como se sabe não vingou e parou no estado da Paraiba. A ideia era integrar o interior (sertões) das províncias do nordeste, já a Estrada de Ferro Central tinha o objetivo de alcançar Caicó e desta o estado do Ceará passando pela Paraiba.Entretanto, a cidade de Assu diversas vezes se movimentou para que fosse feito um ramal da EFCRGN para que fosse aquela cidade beneficiada, esse ramal nunca foi projetado e não fazia parte do projeto original, mas casava estranheza aos produtores da região a exclusão de Assu, cidade e região promissora.Na década de 1950 um projeto foi apresentado no congresso para se fazer o ramal de Assu ligando esta cidade a EFCRGN a partir de Angicos e a estrada de ferro de Mossoró fazendo a ligação com a estação de Caraúbas. O projeto ficou só no campo das ideias. Houve ainda a ideia de ligar ambas ferrovias por meio do litoral entre Macau e Areia Branca. E assim nunca se realizou a ligação das duas ferrovias que viveram como irmãs separadas e isoladas.
ExcluirExcelente resposta amigo, muito completa , as ferrovias no nordeste sempre se desenvolveram a passo de tartaruga devido a baixa densidade econômica da região. Com relação a um ferrovia ligando Macau a Areia Branca eu não sei se seria uma boa ideia, pois ferrovias próximas ao mar podem sofrer muita concorrência da cabotagem.
ExcluirOlá, João, tudo bem? Muito interessante o post, fazia tempo que eu estava procurando por informações sobre o fim desse ramal... Pensava que ele tinha sido desativado em 1966 porque não achava mais em guias Levi, mas pelo visto foi em 1969... E creio que os trilhos foram removidos pouco tempo depois.
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