domingo, 27 de março de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE III) A CATEDRAL NEOGÓTICA

 A catedral neogótica 

Dom Marcolino de Souza Dantas tomou posse como 4º Bispo da diocese de Natal em 29/06/1929. Foi ele que retomou em 1933 a ideia da construção da nova catedral de Natal só que dessa vez com um novo projeto arquitetônico em estilo neogótico como veremos adiante.

Projeto da nova catedral de Natal em estilo neogótico.

Para iniciar a obra da nova catedral dom Marcolino tinha que reaver o terreno da Praça Pio X pertencente a diocese e que por  aquele tempo estava servindo como praça pública construída pela prefeitura de Natal.

A justificativa para se construir a Nova Catedral de Natal na década de 1930 era que o Rio Grande do Norte estava passando por um surto evolutivo muito acentuado no inicio daquele período, devendo esse progresso ao governo do interventor Rafael Fernandes “que não poupava esforços para dotar sua terra de tudo o que se faça preciso para ser vantajosamente comparada aos outros Estados nordestinos” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1936, p.3).

Assim, se verificava na capital potiguar não só um elevado crescimento demográfico, mas também um crescimento socioeconômico que se refletiria na arquitetura dos edifícios públicos e residências particulares, sobretudo nos bairros da Cidade Nova e Ribeira, áreas de expansão urbana e comercial da capital potiguar a época.

O quadro a baixo mostra a evolução demográfica da capital potiguar entre 1890 e 2010, período que corresponde ao inicio da construção da igreja pensada pelo padre João Maria e o ano de inauguração da nova catedral de Natal.

Evolução demográfica de Natal entre 1890 e 1940

Censo

População

1890

13.725

1900

16.056

1920

30.696

1940

54.836

Fonte: elaborado pelo autor com base nos Censos demográficos do IBGE.

Na década de 1930, período em que se retomou o projeto para a construção da Nova Catedral de Natal, não houve a realização do Censo pelo IBGE, de modo que a ideia sobre este quesito é referente ao do censo da década seguinte.

Até meados da década 1930 Natal possuía 5 igrejas, a saber: a matriz/catedral de Nossa Senhora da Apresentação, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, a igreja de Santo Antônio, respectivamente na Cidade Alta e a igreja do Senhor Bom Jesus das Dores na Ribeira e a igreja de São Pedro no Alecrim.

Assim, uma das justificativas mais usadas para a construção de uma nova catedral era o aumento populacional onde a catedral situada na Praça André de Albuquerque na Cidade Alta, já não atendia as necessidades litúrgicas da igreja católica de Natal.

         Entre 1921 e 1930 a ideia da construção da nova catedral de Natal ficou apenas nas reuniões da Comissão Central de Construção da Nova Catedral e na evocação dos fiéis para ajudar com donativos para a realização das obras.

         Por motivos de transferências dos bispos desse período, os mesmos não puderam concretizar a construção da nova catedral, no entanto, já havia sido feito planos, constituído comissões e começado pequenos trabalhos nesse sentido, mas é na década de 1930 que se dá de fato algo concreto na construção da nova catedral.

         Assim, o crescimento populacional, o crescimento socioeconômico do estado, atraindo para Natal os recursos provenientes desse desenvolvimento, a exiguidade das igrejas de Natal e a necessidade de um monumento católico símbolo da diocese, eram as justificativas a época para a construção da Nova Catedral de Natal.

De acordo com o jornal A Ordem, o bispo de Natal estava empreendendo a construção dos belos edifícios do Seminário São Pedro, do Lar do Clero, do Dispensário e da Confederação Católica a estes empreendimentos diocesanos se juntavam ainda três grandes obras que tinham suas construções animadas por Dom Marcolino Dantas na década de 1930, que eram elas, o Colégio Nossa Senhora das Neves, no Alecrim, o Colégio Santo Antônio, no Centro, o qual passou a ser regido pelos padres e irmãos Maristas a partir de 1932 e “o majestoso monumento por todos ansiosamente esperado – a Catedral” (A ORDEM, 14/07/1935, p.5).

         O  Pe. Paulo Herôncio, membro do clero diocesano de Natal, em palavras de encorajamento ditas pelas grandes realizações da Diocese de Natal, havia dito que ocupava em primeiro plano a construção do Seminário São Pedro “pelo incremento à obra das vocações” e a nova Catedral “que a operosidade incansável de D. Marcolino vai construir”. (A ORDEM, 14/07/1935, p.6).De fato foram grandes realizações incentivadas por Dom Marcolino Dantas em seu episcopado em Natal, no entanto, apena o prédio do Seminário foi concluído.

         Dom Marcolino Dantas, assim como a maior parte do pensamento católico na década de 1930, pensou em construir uma catedral em estilo neogótico. Era a tentativa da Igreja Católica de remontar a construção de imensas catedrais da Idade Média, cujo estilo dominante era o gótico, sobressaindo às imensas torres em agulha, os vitrais coloridos, as abóbadas sobrepostas nos transeptos que pareciam flutuar sobre o altar central da igreja.

Claro que o estilo neogótico tinha suas limitações, sendo que as construções de igrejas e catedrais nesse estilo arquitetônico levaram em conta as suas devidas proporções.

         Mas ideia era também trazer o fiel para a oração, cujo aspecto interno da igreja gótica se torna bem mais convidativa, sobretudo quando há a presença dos vitrais iluminando o ambiente litúrgico.

         O estilo neogótico estava em voga no Brasil, se revelando em projetos de construção de catedrais em outras capitais do país, como São Paulo, Vitória e Fortaleza, por exemplo.

A Praça Pio X

O local escolhido para a construção da Nova Catedral foi a Praça Pio X, onde antes havia sido iniciada em 1902 a construção da nova igreja matriz de Natal pelo padre João Maria cujos alicerces e algumas paredes ficaram visíveis até 1925 quando o antecessor de dom Marcolino Dantas autorizou sua demolição para ali se construir a Nova Sé.

O terreno havia sido doado pela senhora Sofia Roseli, situado num quadrilátero formado pelas avenidas Deodoro da Fonseca com a Avenida Floriano Peixoto e as ruas Açú e Jundiaí, no centro da cidade, a época, área de expansão da capital potiguar denominada de Cidade Nova, posteriormente recebendo o nome de Tirol.

O terreno era de direito e de fato da diocese e foi cedido em permuta a prefeitura até que se começassem as obras da nova catedral, não havendo data estipulada para tanto.

Em 1933 foi colocada solenemente a pedra fundamental da construção da nova  catedral, a diocese aguardavam melhores condições para se iniciar a obra, cuja a planta e a maquete se achavam expostas no palácio episcopal.

O Projeto de George Munier

         A planta da Nova Catedral de Natal elaborada pelo engenheiro George Munier já estava pronta e dentro de pouco tempo seriam iniciadas as obras.Seria uma igreja monumental com grandes proporções para uma igreja em Natal, com duas torres de 70 metros de altura e a igreja com 92 metros de comprimento e 44 metros de largura.

Planta da nova catedral de Natal em estilo neogótico.

Planta da nova catedral de Natal.Fonte: Diário de Peranambuco

         Atendendo ao pedido do bispo Dom Marcolino Dantas foi adotado pelo engenheiro francês um estilo gótico modernizado, mas sem perder as características do estilo clássico da Idade Média para a Nova Catedral segundo explicou o arquiteto George Munier ao apresentar seu projeto a imprensa de Natal onde o mesmo se encontrava para essa finalidade (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1936, p.3).

O valor da obra da construção da Nova Catedral de Natal nesse projeto de George Munier foi orçado em 2.000 contos de réis.

O engenheiro George Munier esteve em Natal em 25/09/1935 juntamente com o arquiteto Otávio Tavares a convite de Dom Marcolino Dantas para fazer o levantamento da planta da Nova Catedral (A ORDEM, 26/09/1935, p. 1)[1].

Em companhia de jornalistas de A República, dom Marcolino se deslocou em automóvel até a Cidade Nova, na Praça Pio X, para lá demonstrar aos mesmos os trabalhos  de construção da nova catedral de Natal.

Lá demoraram alguns minutos.Ali estavam parte do material com que em breve se iniciaria os trabalhos da nova catedral.

         Dom Marcolino Dantas havia conseguido do Governo Federal a extração de pedras em Macaiba, assim como o transporte e descarga no cais do porto de Natal desse material. (In: DIÁRIO DA MANHÃ, 25/08/1935, p.5).

Ao concluir a visita de inspeção divagaram os jornalistas de A República: “tínhamos em frente a praça Pio X.Olhando-a o [bispo] Diocesano chama-nos a atenção dizendo: ‘é ali a catedral...’.Separamo-nos.Naquele instante,perpassa aos nossos olhos a visão do monumento de pedra gigantesca, torres brancas em aspiração para o alto, atestando o poder da vontade e a força inquebrantável da fé”.

         De acordo com os jornalistas de A República o bispo de Natal não era somente o concretizador de ideias. Era também o perscrutador da psicologia humana, senhor do senso da justa medida,amigo da ordem e da proporção,da harmonia e sobretudo da previdência.”É preciso prever tudo”, sentenciava Dom Marcolino Dantas após cada explanação aos jornalistas. (DIÁRIO DA MANHÃ, 25/08/1935, p.5).

 Desse projeto como efetivamente foi além da colocação solene da pedra fundamental foi iniciada a sua construção feita por Dom Marcolino Dantas, mas que apesar disso os trabalhos de construção não avançaram.

Apesar de sua grande beleza estética e sua suntuosidade arquitetônica o projeto da catedral gótica de Natal não chegou a ser concretamente executado tendo a ideia ficada em latência durante as décadas seguintes.

Sobre a rejeição do projeto gótico se lia no jornal o Poti: “O antigo projeto da Catedral em estilo gótico será modificado, a fim de atender as atuais circunstâncias do custo de construção, pois o antigo projeto que estava orçado em 3 milhões de cruzeiros, há dez anos passados, hoje não se executaria por 30 milhões” (O POTI, 1955, P. 3).

E assim foi que o projeto do arquiteto George Munier e idealizado por Dom Marcolino Dantas foi rejeitado sob a alegação dos custos para sua concretização. De concreto houve a benção da pedra fundamental assim como a aquisição do material para a construção da nova catedral que foi entregue no local da obra, porém, as obras pouco avançaram e já no inicio da década de 1940 o pouco que se havia iniciado foi demolido para dá lugar a Praça Pio X.

A construção da nova catedral ficaria assim mais uma vez a espera de uma solução e realização que ocorreria somente no inicio da década de 1950 como se verá adiante.






























Imagens elaboradas por Jônatas Rodrigues, 2018.



[1] Além do projeto da nova catedral, George Munier também projetou vários prédios conhecidos em Natal como o Grande Hotel, na Ribeira e o matadouro da capital.


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