A catedral neogótica
Dom
Marcolino de Souza Dantas tomou posse como 4º Bispo da diocese de Natal em
29/06/1929. Foi ele que retomou em 1933 a ideia da construção da nova catedral
de Natal só que dessa vez com um novo projeto arquitetônico em estilo neogótico
como veremos adiante.
Projeto da nova catedral de Natal em estilo neogótico.
Para
iniciar a obra da nova catedral dom Marcolino tinha que reaver o terreno da
Praça Pio X pertencente a diocese e que por
aquele tempo estava servindo como praça pública construída pela
prefeitura de Natal.
A
justificativa para se construir a Nova Catedral de Natal na década de 1930 era
que o Rio Grande do Norte estava passando por um surto evolutivo muito acentuado
no inicio daquele período, devendo esse progresso ao governo do interventor
Rafael Fernandes “que não poupava esforços para dotar sua terra de tudo o que
se faça preciso para ser vantajosamente comparada aos outros Estados
nordestinos” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1936, p.3).
Assim,
se verificava na capital potiguar não só um elevado crescimento demográfico,
mas também um crescimento socioeconômico que se refletiria na arquitetura dos
edifícios públicos e residências particulares, sobretudo nos bairros da Cidade
Nova e Ribeira, áreas de expansão urbana e comercial da capital potiguar a
época.
O
quadro a baixo mostra a evolução demográfica da capital potiguar entre 1890 e
2010, período que corresponde ao inicio da construção da igreja pensada pelo
padre João Maria e o ano de inauguração da nova catedral de Natal.
Evolução
demográfica de Natal entre 1890 e 1940 |
|
Censo |
População |
1890 |
13.725 |
1900 |
16.056 |
1920 |
30.696 |
1940 |
54.836 |
Fonte: elaborado pelo
autor com base nos Censos demográficos do IBGE.
Na
década de 1930, período em que se retomou o projeto para a construção da Nova
Catedral de Natal, não houve a realização do Censo pelo IBGE, de modo que a
ideia sobre este quesito é referente ao do censo da década seguinte.
Até
meados da década 1930 Natal possuía 5 igrejas, a saber: a matriz/catedral de
Nossa Senhora da Apresentação, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, a igreja
de Santo Antônio, respectivamente na Cidade Alta e a igreja do Senhor Bom Jesus
das Dores na Ribeira e a igreja de São Pedro no Alecrim.
Assim,
uma das justificativas mais usadas para a construção de uma nova catedral era o
aumento populacional onde a catedral situada na Praça André de Albuquerque na
Cidade Alta, já não atendia as necessidades litúrgicas da igreja católica de
Natal.
Entre 1921 e 1930 a ideia da construção da
nova catedral de Natal ficou apenas nas reuniões da Comissão Central de
Construção da Nova Catedral e na evocação dos fiéis para ajudar com donativos
para a realização das obras.
Por motivos de transferências dos
bispos desse período, os mesmos não puderam concretizar a construção da nova
catedral, no entanto, já havia sido feito planos, constituído comissões e
começado pequenos trabalhos nesse sentido, mas é na década de 1930 que se dá de
fato algo concreto na construção da nova catedral.
Assim, o crescimento populacional, o
crescimento socioeconômico do estado, atraindo para Natal os recursos
provenientes desse desenvolvimento, a exiguidade das igrejas de Natal e a
necessidade de um monumento católico símbolo da diocese, eram as justificativas
a época para a construção da Nova Catedral de Natal.
De
acordo com o jornal A Ordem, o bispo de Natal estava empreendendo a construção
dos belos edifícios do Seminário São Pedro, do Lar do Clero, do Dispensário e
da Confederação Católica a estes empreendimentos diocesanos se juntavam ainda
três grandes obras que tinham suas construções animadas por Dom Marcolino
Dantas na década de 1930, que eram elas, o Colégio Nossa Senhora das Neves, no
Alecrim, o Colégio Santo Antônio, no Centro, o qual passou a ser regido pelos
padres e irmãos Maristas a partir de 1932 e “o majestoso monumento por todos
ansiosamente esperado – a Catedral” (A ORDEM, 14/07/1935, p.5).
O Pe. Paulo Herôncio, membro do clero diocesano
de Natal, em palavras de encorajamento ditas pelas grandes realizações da
Diocese de Natal, havia dito que ocupava em primeiro plano a construção do
Seminário São Pedro “pelo incremento à obra das vocações” e a nova Catedral
“que a operosidade incansável de D. Marcolino vai construir”. (A ORDEM,
14/07/1935, p.6).De fato foram grandes realizações incentivadas por Dom
Marcolino Dantas em seu episcopado em Natal, no entanto, apena o prédio do
Seminário foi concluído.
Dom Marcolino Dantas, assim como a
maior parte do pensamento católico na década de 1930, pensou em construir uma
catedral em estilo neogótico. Era a tentativa da Igreja Católica de remontar a
construção de imensas catedrais da Idade Média, cujo estilo dominante era o
gótico, sobressaindo às imensas torres em agulha, os vitrais coloridos, as
abóbadas sobrepostas nos transeptos que pareciam flutuar sobre o altar central
da igreja.
Claro
que o estilo neogótico tinha suas limitações, sendo que as construções de
igrejas e catedrais nesse estilo arquitetônico levaram em conta as suas devidas
proporções.
Mas ideia era também trazer o fiel para
a oração, cujo aspecto interno da igreja gótica se torna bem mais convidativa,
sobretudo quando há a presença dos vitrais iluminando o ambiente litúrgico.
O estilo neogótico estava em voga no
Brasil, se revelando em projetos de construção de catedrais em outras capitais
do país, como São Paulo, Vitória e Fortaleza, por exemplo.
A Praça Pio X
O
local escolhido para a construção da Nova Catedral foi a Praça Pio X, onde
antes havia sido iniciada em 1902 a construção da nova igreja matriz de Natal
pelo padre João Maria cujos alicerces e algumas paredes ficaram visíveis até
1925 quando o antecessor de dom Marcolino Dantas autorizou sua demolição para
ali se construir a Nova Sé.
O
terreno havia sido doado pela senhora Sofia Roseli, situado num quadrilátero
formado pelas avenidas Deodoro da Fonseca com a Avenida Floriano Peixoto e as
ruas Açú e Jundiaí, no centro da cidade, a época, área de expansão da capital
potiguar denominada de Cidade Nova, posteriormente recebendo o nome de Tirol.
O
terreno era de direito e de fato da diocese e foi cedido em permuta a
prefeitura até que se começassem as obras da nova catedral, não havendo data
estipulada para tanto.
Em
1933 foi colocada solenemente a pedra fundamental da construção da nova catedral, a diocese aguardavam melhores condições para se iniciar a obra, cuja
a planta e a maquete se achavam expostas no palácio episcopal.
O Projeto de George Munier
A planta da Nova Catedral de Natal elaborada pelo engenheiro George Munier já estava pronta e dentro de pouco tempo seriam iniciadas as obras.Seria uma igreja monumental com grandes proporções para uma igreja em Natal, com duas torres de 70 metros de altura e a igreja com 92 metros de comprimento e 44 metros de largura.
Planta da nova catedral de Natal em estilo neogótico. Planta da nova catedral de Natal.Fonte: Diário de Peranambuco
Atendendo ao pedido do bispo Dom
Marcolino Dantas foi adotado pelo engenheiro francês um estilo gótico
modernizado, mas sem perder as características do estilo clássico da Idade
Média para a Nova Catedral segundo explicou o arquiteto George Munier ao
apresentar seu projeto a imprensa de Natal onde o mesmo se encontrava para essa
finalidade (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1936, p.3).
O
valor da obra da construção da Nova Catedral de Natal nesse projeto de George
Munier foi orçado em 2.000 contos de réis.
O
engenheiro George Munier esteve em Natal em 25/09/1935 juntamente com o
arquiteto Otávio Tavares a convite de Dom Marcolino Dantas para fazer o
levantamento da planta da Nova Catedral (A ORDEM, 26/09/1935, p. 1)[1].
Em companhia de jornalistas
de A República, dom Marcolino se deslocou em automóvel até a Cidade Nova, na
Praça Pio X, para lá demonstrar aos mesmos os trabalhos de construção da nova catedral de Natal.
Lá demoraram alguns
minutos.Ali estavam parte do material com que em breve se iniciaria os
trabalhos da nova catedral.
Dom Marcolino Dantas havia conseguido do Governo Federal a
extração de pedras em Macaiba, assim como o transporte e descarga no cais do
porto de Natal desse material. (In: DIÁRIO DA MANHÃ, 25/08/1935, p.5).
Ao concluir
a visita de inspeção divagaram os jornalistas de A República: “tínhamos em
frente a praça Pio X.Olhando-a o [bispo] Diocesano chama-nos a atenção dizendo:
‘é ali a catedral...’.Separamo-nos.Naquele instante,perpassa aos nossos olhos a
visão do monumento de pedra gigantesca, torres brancas em aspiração para o
alto, atestando o poder da vontade e a força inquebrantável da fé”.
De acordo com os jornalistas de A República o bispo de Natal
não era somente o concretizador de ideias. Era também o perscrutador da
psicologia humana, senhor do senso da justa medida,amigo da ordem e da
proporção,da harmonia e sobretudo da previdência.”É preciso prever tudo”,
sentenciava Dom Marcolino Dantas após cada explanação aos jornalistas. (DIÁRIO
DA MANHÃ, 25/08/1935, p.5).
Apesar
de sua grande beleza estética e sua suntuosidade arquitetônica o projeto da
catedral gótica de Natal não chegou a ser concretamente executado tendo a ideia
ficada em latência durante as décadas seguintes.
Sobre
a rejeição do projeto gótico se lia no jornal o Poti: “O antigo projeto da
Catedral em estilo gótico será modificado, a fim de atender as atuais
circunstâncias do custo de construção, pois o antigo projeto que estava orçado
em 3 milhões de cruzeiros, há dez anos passados, hoje não se executaria por 30
milhões” (O POTI, 1955, P. 3).
E
assim foi que o projeto do arquiteto George Munier e idealizado por Dom
Marcolino Dantas foi rejeitado sob a alegação dos custos para sua
concretização. De concreto houve a benção da pedra fundamental assim como a
aquisição do material para a construção da nova catedral que foi entregue no
local da obra, porém, as obras pouco avançaram e já no inicio da década de 1940
o pouco que se havia iniciado foi demolido para dá lugar a Praça Pio X.
A
construção da nova catedral ficaria assim mais uma vez a espera de uma solução
e realização que ocorreria somente no inicio da década de 1950 como se verá
adiante.
Imagens elaboradas por Jônatas Rodrigues, 2018. |
[1] Além do projeto da nova catedral, George Munier também projetou vários prédios conhecidos em Natal como o Grande Hotel, na Ribeira e o matadouro da capital.
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