sábado, 12 de março de 2022

O SANTUÁRIO NO PICO DO CABUGI

 

No  dia 25/04/1964 houve uma reunião no Colégio Pio X em Lajes, com os proprietários do Pico do Cabugi, o Pe. Albert Collard e o advogado Jandelino Lucena, presente também o Pe. Vicente de Paulo Vasconcelos,vigário de Lajes o qual havia convocado a reunião.

         A finalidade da reunião foi decidir sobre a criação de uma romaria anual em honra de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, no alto do Pico do Cabugi.

         Os proprietários na ocasião fizeram a doação à Mitra da Arquidiocese de Natal da pare superior do monte até a chapada, concordando em não construir entre a chapada e o pé do monte, assim como em deixar abrir, naquela área, os caminhos necessários ao acesso do pico.

         Pensava-se desde então em construir um santuário no alto do Pico do Cabugi ( a época considerado o ponto mais alto do Estado), tendo ficado marcada para o dia 02/07/1964, dia da Visitação de Nossa Senhora a realização da primeira peregrinação (reservada aos homens e rapazes de Lajes) ao local.

Pico do Cabugi,1964.Foto:A Ordem.


         O Monte (ou Pico) Cabugi está situado a 150 km de Natal e possui mais de 500 metros de altitude, o seu cume está a 750 metros a cima do nível mar e tem cerca de 3 km de comprimento. (A ORDEM, 27/04/1964, p.1).

A 1ª  romaria ao topo do Pico do Cabugi

         Em 02/07/1964 teve inicio as peregrinações em honra a Nossa Senhora Virgem dos Pobres no futuro santuário do Cabugi.

         De acordo com o jornal A Ordem o cerimonial litúrgico  da primeira peregrinação ao Pico do Cabugi  foi precedido de uma vigília preparatória realizada as 19h30 do dia anterior na igreja matriz de Lajes.A referida vigília constou da Santa Missa celebrada pelo Pe. Alberto Eugênio Collard e das bençãos da imagem de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, que havia chegado recentemente de Banneux na Bélgica e do grande Cruzeiro que seria implantado no local do futuro santuário, ambas ofertadas pelo Pe. Vicente de Paulo, pároco de Lajes.

         Na manhã do da 02/07/1964 as 03h00, após a oração sobre os peregrinos do Ritual Romano, iniciou-se o cortejo de 26 homens em direção ao local do futuro santuário.

         Durante o longo percurso de 8 km tiveram lugar meditações e pequenas homilias sobre as 8 aparições de Nossa Senhora através dos séculos,seu lugar dentro do Dogma da Teologia Católica.

         Ao número dos peregrinos vindos da cidade acrescentaram-se outros fiéis que esperava a imagem da Virgem Mãe dos Pobres ao pé do Monte Cabugi.

         No local onde possivelmente seria construída a capela dedica a Virgem Maria que havia aparecido em Banneux, na Bélgica, sob a invocação de Virgem dos Pobres celebrou  a missa o Pe. Alberto Collard,ministrado pelos padres Vicente de Paulo Vaconcelos e João Medeiros Filho.Seguindo-se imediatamente a implantação do Cruzeiro comemorativo.

      Depois da referida cerimônia litúrgica, em honra à Virgem Mãe de Deus, teve oficialmente autorização da Igreja (locus sacer), para doravente ser venerada por todos e um pleno desenvolvimento da piedade  e da devoção mariana naquele local. (A ORDEM, 04/07/1964, p.4).

A 2ª romaria

         A 2ª romaria ao topo do Pico do Cabugi em honra a Nossa Senhora Virgem dos Pobres foi realizada em 15/08/1965, festa da Assunção de Nossa Senhora, tendo sido presidida por Dom Nivaldo Monte, arcebispo metropolitano.

Os romeiros fizeram nas vésperas uma reunião de recolhimento e preparação para a romaria na igreja matriz de Lajes as 20h00.Da matriz os romeiros se reuniram as 03h00 da madrugada saindo as 04h00 e as 07h00 sendo celebrada a missa no alto do Monte.

      Os romeiros eram aguardados de vários lugares do Estado, sendo os transportes previstos os trens vindos de São Rafael para Macau que passava por Lajes as 14h00 e os de Natal para Lajes, onde as RFN organizaria trens especiais de retorno no domingo a tarde. (A ORDEM, 07/08/1965, p.3).

         Além dos romeiros de Lajes, participaram dessa segunda romaria numerosas pessoas vindas das paróquias de São Paulo do Potengi, Santana do Matos, Baixa Verde e Natal.

A  preparação

         no sábado que antecedeu a romaria houve a vigília preparatória para a peregrinação constando de um curta pregação de Dom Nivaldo Monte, depois a narração da história das primeiras aparições da Virgem dos Pobres em Banneux no ano de 1933, narração que foi feita pela menina Maria Aparecida (no papel de Maria Beco) e da jovem professora Marluce Arruda (no papel de Nossa Senhora).

         Idêntica reunião ocorreria em São Paulo do Potengi preparando também os romeiros. Os daquele município partiriam a meia noite e chegariam a Lajes as 03h30 para receber a benção especial juntamente com todos os demais antes da partida.

A marcha

Conforme o jornal a Ordem a marcha de 2 km durou das 03h45 as 06h15, desde Lajes ao pé do monte, sendo intercalada com 3 paradas, onde a sequência das aparições foi contada.Depois todos iniciaram a subida do monte.

Subida que simbolizou  a marcha da Igreja Militante para o céu no dizer dos romeiros.À frente do rebanho, estava o próprio pastor, Dom Nivaldo Monte, seguido pelo povo de Deus.Vários romeiros já transportavam madeira e trilhos destinados a construção da futura capela.

De acordo com o jornal A Ordem essa segunda romaria contou com a presença de mais de 1.000 pessoas.

No altar de pedra

         Na chapada do monte fora elevado um altar de pedra em frente a uma imagem de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, esculpida por Xico Santeiro, artista popular bem conhecido.Sobre o altar o então Administrador Apóstolico oficiou a Santa  Missa com  a participação dos fiéis.Dom Nivaldo Monte fez uma homilia visivelmente animada pela magnificência do lugar.

         A imagem de Nossa Senhora Virgem dos Pobres estava protegida por uma cobertura de lata que segundo o jornal A Ordem:”deve agradar a Virgem porque a lata é quase um símbolo da pobreza”.  (A ORDEM, 21/08/1965, p.6).


Pico do Cabugi, 1965.

Recorte do jornal A Ordem sobre a 2ª romaria ao Pico do Cabugi


A ideia morreu por inanição

         Apesar das duas romarias ter dado inicio a devoção no alto do pico do Cabugi e a construção de um santuário no topo daquele monte a ideia não vingou e em 1967 estava praticamente morta.

De acordo com Rômulo Wanderley em artigo publicado no jornal A Ordem houve quem quisesse erigir um Cruzeiro no alto do Pico do Cabugi, numa espécie de Cristo no Corcovado do Rio de Janeiro. Mas a ideia morreu por inanição.

Recorte do jornal A Ordem  sobre a capela no alto do Cabugi.
Fonte: A Ordem,15/07/.1967,p.6

         Andou por Lajes um padre estrangeiro, que depois de subir o Pico do Cabugi, pensou em construir lá em cima uma capela.O projeto foi recebido com simpatia por uns e com desconfiança por outros.O povo já andava descrente dessas iniciativas, que só se tornavam realidade mediante arrecadação de fundos que já não lhes davam créditos.

         No entanto, como informavam as pessoas de Lajes, esse padre  não parecia um aventureiro mas sim um idealista.Tratava-se de um padre de origem belga que se revelou de propósitos honestos.Pertencia a uma família importante e tinha um irmão pastor protestante e muito rico que o ajudava financeiramente nessas campanhas em prol da Igreja Católica.

         Mas, passados alguns meses, o Pe Collard não veio mais ao Rio Grande do Norte, “estando o Cabugi, como sempre, erguido para o céu, esperando que de lãs se elevem preces para Deus”. (A ORDEM, 15/07/1967, p.6).

         E assim morreu no vale do esquecimento a ideia de se construir um santuário no topo do Pico do Cabugi cujo terreno já havia sido doado para esta finalidade em 1964.

         Ao que parece nem a paróquia de Lajes e nem a Arquidiocese de Natal levaram adiante as romarias que poderiam ter fixado uma tradição religiosa da cidade de Lajes.

Sobre o Pe. Albert Collard

         Além de ser abade, o Pe. Eugens Albert Collard era professor universitário de sociologia e ministrante de cursos dessa área e diretor do semanário DIMANCHE, publicado no França e na Bélgica cuja tiragem chegava atingir 700 mil publicações.

         Em 1962 deslocou-se diretamente da França para Natal onde permaneceria por 15 dias estudando todo o trabalho social da Arquidiocese de Natal.

         Chegou a Natal em 28/06/1963 pra realizar pesquisas sobre a obra social e apostólica de Dom Eugenio Sales onde ficaria por mês em solo potiguar.

O Pe. Eugens Albert Collar era em 1964 diretor do Instituto de Pastoral do Nordeste, passando 6 meses de cada ano em Natal dirigindo o Instituto.

         No ano de 1966 ele retornou da sua pátria mãe no seu próprio avião e ao chegar a Natal fez a doação do mesmo a Arquidiocese de Natal, onde já havia uma freira de origem belga servindo na paróquia de Macau que sabia pilotar a aeronave.











Pe. Eugens Albert Collard.Foto: A Ordem,06/08/1966,p.1.

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