No dia 25/04/1964 houve uma reunião no Colégio
Pio X em Lajes, com os proprietários do Pico do Cabugi, o Pe. Albert Collard e
o advogado Jandelino Lucena, presente também o Pe. Vicente de Paulo Vasconcelos,vigário
de Lajes o qual havia convocado a reunião.
A finalidade da reunião foi decidir sobre a criação de uma
romaria anual em honra de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, no alto do Pico do
Cabugi.
Os proprietários na ocasião fizeram a doação à Mitra da
Arquidiocese de Natal da pare superior do monte até a chapada, concordando em não
construir entre a chapada e o pé do monte, assim como em deixar abrir, naquela área,
os caminhos necessários ao acesso do pico.
Pensava-se desde então em construir um santuário no alto do
Pico do Cabugi ( a época considerado o ponto mais alto do Estado), tendo ficado
marcada para o dia 02/07/1964, dia da Visitação de Nossa Senhora a realização
da primeira peregrinação (reservada aos homens e rapazes de Lajes) ao local.
Pico do Cabugi,1964.Foto:A Ordem. |
O Monte (ou Pico) Cabugi está situado a 150 km de Natal e
possui mais de 500 metros de altitude, o seu cume está a 750 metros a cima do nível
mar e tem cerca de 3 km de comprimento. (A ORDEM, 27/04/1964, p.1).
A
1ª romaria ao topo do Pico do Cabugi
Em 02/07/1964 teve inicio
as peregrinações em honra a Nossa Senhora Virgem dos Pobres no futuro santuário
do Cabugi.
De acordo com o jornal A Ordem o cerimonial litúrgico da primeira peregrinação ao Pico do Cabugi foi precedido de uma vigília preparatória realizada
as 19h30 do dia anterior na igreja matriz de Lajes.A referida vigília constou
da Santa Missa celebrada pelo Pe. Alberto Eugênio Collard e das bençãos da
imagem de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, que havia chegado recentemente de
Banneux na Bélgica e do grande Cruzeiro que seria implantado no local do futuro
santuário, ambas ofertadas pelo Pe. Vicente de Paulo, pároco de Lajes.
Na manhã do da 02/07/1964 as 03h00, após a oração sobre os
peregrinos do Ritual Romano, iniciou-se o cortejo de 26 homens em direção ao
local do futuro santuário.
Durante o longo percurso de 8 km tiveram lugar meditações e
pequenas homilias sobre as 8 aparições de Nossa Senhora através dos séculos,seu
lugar dentro do Dogma da Teologia Católica.
Ao número dos peregrinos vindos da cidade acrescentaram-se
outros fiéis que esperava a imagem da Virgem Mãe dos Pobres ao pé do Monte
Cabugi.
No local onde possivelmente seria construída a capela dedica
a Virgem Maria que havia aparecido em Banneux, na Bélgica, sob a invocação de
Virgem dos Pobres celebrou a missa o Pe.
Alberto Collard,ministrado pelos padres Vicente de Paulo Vaconcelos e João
Medeiros Filho.Seguindo-se imediatamente a implantação do Cruzeiro
comemorativo.
Depois da referida cerimônia litúrgica, em honra à Virgem
Mãe de Deus, teve oficialmente autorização da Igreja (locus sacer), para
doravente ser venerada por todos e um pleno desenvolvimento da piedade e da devoção mariana naquele local. (A ORDEM,
04/07/1964, p.4).
A
2ª romaria
A 2ª romaria ao topo do Pico do Cabugi em honra a Nossa Senhora
Virgem dos Pobres foi realizada em 15/08/1965, festa da Assunção de Nossa Senhora,
tendo sido presidida por Dom Nivaldo Monte, arcebispo metropolitano.
Os romeiros
fizeram nas vésperas uma reunião de recolhimento e preparação para a romaria na
igreja matriz de Lajes as 20h00.Da matriz os romeiros se reuniram as 03h00 da
madrugada saindo as 04h00 e as 07h00 sendo celebrada a missa no alto do Monte.
Os romeiros eram aguardados de vários lugares do Estado,
sendo os transportes previstos os trens vindos de São Rafael para Macau que
passava por Lajes as 14h00 e os de Natal para Lajes, onde as RFN organizaria
trens especiais de retorno no domingo a tarde. (A ORDEM, 07/08/1965, p.3).
Além
dos romeiros de Lajes, participaram dessa segunda romaria numerosas pessoas
vindas das paróquias de São Paulo do Potengi, Santana do Matos, Baixa Verde e
Natal.
A
preparação
no sábado que antecedeu a romaria houve a vigília preparatória
para a peregrinação constando de um curta pregação de Dom Nivaldo Monte, depois
a narração da história das primeiras aparições da Virgem dos Pobres em Banneux
no ano de 1933, narração que foi feita pela menina Maria Aparecida (no papel de
Maria Beco) e da jovem professora Marluce Arruda (no papel de Nossa Senhora).
Idêntica reunião ocorreria em São Paulo do Potengi
preparando também os romeiros. Os daquele município partiriam a meia noite e
chegariam a Lajes as 03h30 para receber a benção especial juntamente com todos
os demais antes da partida.
A
marcha
Conforme
o jornal a Ordem a marcha de 2 km durou das 03h45 as 06h15, desde Lajes ao pé
do monte, sendo intercalada com 3 paradas, onde a sequência das aparições foi
contada.Depois todos iniciaram a subida do monte.
Subida
que simbolizou a marcha da Igreja Militante
para o céu no dizer dos romeiros.À frente do rebanho, estava o próprio pastor,
Dom Nivaldo Monte, seguido pelo povo de Deus.Vários romeiros já transportavam
madeira e trilhos destinados a construção da futura capela.
De acordo
com o jornal A Ordem essa segunda romaria contou com a presença de mais de
1.000 pessoas.
No
altar de pedra
Na chapada do monte fora elevado um altar de pedra em frente
a uma imagem de Nossa Senhora Virgem dos Pobres, esculpida por Xico Santeiro,
artista popular bem conhecido.Sobre o altar o então Administrador Apóstolico
oficiou a Santa Missa com a participação dos fiéis.Dom Nivaldo Monte
fez uma homilia visivelmente animada pela magnificência do lugar.
A imagem de Nossa Senhora Virgem dos Pobres estava protegida
por uma cobertura de lata que segundo o jornal A Ordem:”deve agradar a Virgem
porque a lata é quase um símbolo da pobreza”.
(A ORDEM, 21/08/1965, p.6).
Pico do Cabugi, 1965. |
Recorte do jornal A Ordem sobre a 2ª romaria ao Pico do Cabugi |
A
ideia morreu por inanição
Apesar das duas romarias ter dado inicio a devoção no alto
do pico do Cabugi e a construção de um santuário no topo daquele monte a ideia
não vingou e em 1967 estava praticamente morta.
De acordo
com Rômulo Wanderley em artigo publicado no jornal A Ordem houve quem quisesse
erigir um Cruzeiro no alto do Pico do Cabugi, numa espécie de Cristo no
Corcovado do Rio de Janeiro. Mas a ideia morreu por inanição.
Recorte do jornal A Ordem sobre a capela no alto do Cabugi. Fonte: A Ordem,15/07/.1967,p.6 |
Andou por Lajes um padre estrangeiro, que depois de subir o
Pico do Cabugi, pensou em construir lá em cima uma capela.O projeto foi
recebido com simpatia por uns e com desconfiança por outros.O povo já andava
descrente dessas iniciativas, que só se tornavam realidade mediante arrecadação
de fundos que já não lhes davam créditos.
No entanto, como informavam as pessoas de Lajes, esse padre não parecia um aventureiro mas sim um idealista.Tratava-se de um padre de origem belga que se revelou de propósitos honestos.Pertencia a uma família importante e tinha um irmão pastor protestante e muito rico que o ajudava financeiramente nessas campanhas em prol da Igreja Católica.
Mas, passados alguns meses, o Pe Collard não veio mais ao
Rio Grande do Norte, “estando o Cabugi, como sempre, erguido para o céu,
esperando que de lãs se elevem preces para Deus”. (A ORDEM, 15/07/1967, p.6).
E assim morreu no vale do esquecimento a ideia de se
construir um santuário no topo do Pico do Cabugi cujo terreno já havia sido
doado para esta finalidade em 1964.
Ao que parece nem a paróquia de Lajes e nem a Arquidiocese
de Natal levaram adiante as romarias que poderiam ter fixado uma tradição religiosa
da cidade de Lajes.
Sobre
o Pe. Albert Collard
Além de ser abade, o Pe. Eugens
Albert Collard era professor universitário de sociologia e ministrante de
cursos dessa área e diretor do semanário DIMANCHE, publicado no França e na
Bélgica cuja tiragem chegava atingir 700 mil publicações.
Em 1962 deslocou-se
diretamente da França para Natal onde permaneceria por 15 dias estudando todo o
trabalho social da Arquidiocese de Natal.
Chegou a Natal em
28/06/1963 pra realizar pesquisas sobre a obra social e apostólica de Dom Eugenio
Sales onde ficaria por mês em solo potiguar.
O
Pe. Eugens Albert Collar era em 1964 diretor do Instituto de Pastoral do
Nordeste, passando 6 meses de cada ano em Natal dirigindo o Instituto.
No ano de 1966 ele retornou da sua pátria mãe no seu próprio
avião e ao chegar a Natal fez a doação do mesmo a Arquidiocese de Natal, onde
já havia uma freira de origem belga servindo na paróquia de Macau que sabia
pilotar a aeronave.
Pe. Eugens Albert Collard.Foto: A Ordem,06/08/1966,p.1. |
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