domingo, 27 de março de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE II)

 

Natal precisava de uma nova Catedral 

Apesar de ainda ter ares de cidade pequena a capital potiguar já começava a despontar no inicio da década de 1920 com grandes progressos urbanos e aumento populacional.

O plano de expansão da cidade daria a cidade uma nova configuração urbana na Cidade Nova, que corresponde aos atuais bairros do Tirol e Petrópolis.

No início da década de 1920 a população de Natal ainda era majoritariamente católica, porém, a capital potiguar contava apenas com apenas com duas paróquias, uma na Cidade e Alta e outra no Alecrim, e espalhada pela capital potiguar modestas e pequenas igrejas e capelas.

 Foi percebendo o progresso urbanístico e o crescimento demográfico  de Natal que o segundo bispo de Natal, Dom Antonio dos Santos Cabral, sentiu a necessidade de acompanhar tais progressos por meio da construção de uma nova catedral para a sede do bispado.

A iniciativa de Dom Antonio dos Santos Cabral

         Cronologicamente e efetivamente as primeiras iniciativas para a construção da nova catedral de Natal começam com Dom Antonio dos Santos Cabral que ao assumir a diocese de Natal, em 1918, revelou certa vez a algumas pessoas mais próximas de sua convivência    que  “o quanto lhe torturava o coração ver o povo de Natal, tão grandemente católico, ter seu principal templo tão manifestamente pequeno, para os exercícios do Culto Divino” (A CATEDRAL, 1921, p.1) e por isso surgiu no espírito esclarecido de Dom Antônio a ideia de se construir a Nova Catedral do bispado a qual seria “um templo condigno aos sentimentos de Religião e Fé do povo católico de sua cidade episcopal”(A CATEDRAL, 1921, p.1).

         Por uma reflexão lógica dom Antônio dos Santos Cabral conformando-se com a falta de recursos da diocese não teve a pretensão de construir uma catedral suntuosa, monumental e enriquecida com “as mais soberbas obras de arte do mais elevado estilo, com custosos quadros e esculturas da mais grandiosa concepção artística” (A CATEDRAL, 1921, p.1), pois, se cometeria uma injustiça ao povo perante a necessidade urgente de se construir um templo para abrigar dignamente a população da capital potiguar segundo o referido jornal.

         Assim, a nova catedral pensada por Dom Antônio Cabral deveria ser modesta e majestosa, condizente aos elevados sentimentos religioso do povo potiguar e proporcional as suas condições materiais como estava sendo ponderada pela Comissão Central de Construção.

         Segundo o boletim A Catedral era uma necessidade imperiosa a construção da nova Sé de Natal, por isso ninguém poderia se omitir ajudar nessa iniciativa feliz e justa, devendo todos sustentá-la e conduzi-la à realização. E concluía o artigo em tom ufanista: “Façamos a catedral”! A ideia não morrerá, com a benção do Céu e os auxílios do povo do Rio Grande do Norte! É uma ideia vencedora. (A CATEDRAL, 1921, p. 2).

         Dom Antônio dos Santos Cabral passou pouco tempo a frente do bispado potiguar, entre 1917 e 1921, tendo sido transferido para a Diocese de Belo Horizonte, não viu seu sonho ser realizado em Natal.

         Não encontramos maiores detalhes sobre o projeto dessa catedral pensada por Dom Antônio dos Santos Cabral.

Efetivamente ocorreu a constituição de comissões em todas a paróquias da diocese de Natal para se levantar recursos para iniciar a construção da nova catedral.

         Dom Antônio dos Santos Cabral decidiu que a nova Sé seria erguida na Praça Pio X na Cidade Alta, ou Cidade Nova como era conhecida a época o local escolhido conforme constava no jornal A Noite  na edição de 06/06/1920 onde se lia “d. Antônio, bispo desta diocese [de Natal], resolveu que a construção da catedral desta cidade seja feita no bairro da Cidade Nova” (A NOITE, 1920, p.3, grifo nosso).

Em 30/06/1920 foi realizada uma reunião no salão nobre do palácio do governo com a presença de famílias católicas natalenses para tratar da construção da nova catedral. A reunião foi convocada pela comissão encarregada das obras e presidida pelo governador do estado Antônio José de Melo e Souza (A UNIÃO, 1920, p.2).

         Assim, efetivamente no período de governo de Dom Antônio dos Santos Cabral foram formadas as Comissões das Obras da Nova Catedral. Essas comissões foram formadas pelos seguintes membros:

Na Diretoria de honra estavam os seguintes membros: Antonio José de Melo e Souza, governador do estado, presidente da comissão, Desembargador Joaquim Ferreira Chaves, ministro da marinha, 1º vice-presidente, José Theotônio Freire, juiz federal, 2º vice-presidente, Desembargador Heméterio Fernandes, presidente do Superior Tribunal de Justiça, 3º vice-presidente.

A Diretoria efetiva constava dos membros: Dom Antônio dos Santos Cabral, bispo diocesano, presidente da comissão, Monsenhor Alfredo Pegado de Castro Cortez, governador do bispado, vice presidente, Moisés Soares, advogado, secretario geral, Coronel Aureliano Clementino de Medeiros, comerciante, tesoureiro.

Já os membros efetivos da comissão Pró-Catedral eram: Henrique Castriciano, vice-governador do estado, Sebastião Fernandes de Oliveira chefe de policia, Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, secretário do estado, coronel Pedro Soares de Araújo, inspetor do tesouro, Manoel Dantas, Diretor Geral de Instrução Pública, Tenente coronel Joaquim Anselmo Pinheiro, comandante do Batalhão de Segurança, Desembargadores João Dioniso Filgueira e Felipe Guerra, membros do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Antônio Soares de Araujo, juiz de direito da 1ª vara de Natal, coronel Francisco Herôncio de Melo, tesoureiro do tesouro do Estado, Ezequias Pegado Cortez, Delegado de Policia da 1ª região, Dr. Januario Cicco, Inspetor da Saúde do Porto, Adalberto Soares de Araújo Amorim, diretor da escola de Aprendizes Artífices, Alberto Roseli, advogado, João Vicente da Costa, oficial de gabinete do governo do estado, Coronel Antônio de Paula Barbosa, comerciante, coronel Jorge Barreto de Albuquerque Maranhão, comerciante, coronel Antônio Celestino da Cunha Pinheiro,  delegado fiscal do tesouro federal, coronel  Joaquim Policiano Leite, comerciante, Nestor dos Santos Lima, diretor da Escola Normal, major José M. Pinto, gerente do jornal A República, padre José de Calazans Pinheiro, professor, capitão  Manoel Inácio Barbosa, funcionário federal, major Teodorico Guilherme C. Caldas, secretário do tesouro do Estado, padre Henrique Paulssen, vigário do Alecrim, capitão Miguel Barra, comerciante, comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, diretor da escola de Aprendizes Marinheiros, Décio  Fonseca , engenheiro chefe do melhoramento do porto, Belarmino Lemos, procurador fiscal do tesouro do estado e major Teodósio Paiva, presidente da intendência (A CATEDRAL, 1921,p.3).

A Comissão Central de Construção da Nova Catedral resolveu que seriam organizadas em todos os municípios do estado Comissões Regionais com o objetivo de intensificar a propaganda da construção da nova catedral pelo interior do estado.

         Dom Antônio dos Santos Cabral que estava em viagem pelo sertão assegurou a comissão que em todas as localidades por onde fosse feitas suas visitas pastorais seriam formadas essas comissões regionais.

         De volta de suas visitas pastorais, dom  Antônio Cabral apresentou a Comissão Central de Construção da Nova Catedral as Comissões Regionais formadas no interior, que foram criadas em Lajes, Angicos, Santa Cruz, Currais Novos, São Rafael, Santana do Matos, Portalegre, São Miguel de Jucurutu.

A comissão central designou outras comissões para saírem as ruas dos bairros de Natal para recolher donativos oferecidos para a construção da nova catedral, iniciando pelos comerciantes em diversas ruas da capital “alcançando o melhor sucesso” (A CATEDRAL, 1921, p. 4).

Apelava-se ao patriotismo do povo potiguar e a vergonha de Natal não ter uma catedral condigna perante as outras dioceses. Segundo o boletim A Catedral “convocaremos os filhos do Rio Grande do Norte a este augusto e nobre empreendimento. Bastam nesse particular, as humilhações experimentadas” (A CATEDRAL, 1921, p. 2).

         Ainda segundo o mesmo boletim o Rio Grande do Norte se constituía de uma diocese com aproximadamente 500.000 habitantes onde não se poderia mais suportar o deprimente contraste nos arraigados sentimentos religiosos, oferecido pelo confronto com outras dioceses, mais pobres e menos populosas “onde o ardor patriótico, aliado ao zelo esclarecido e trabalho perseverante de seus filhos, se engrandeceu e perpetuou em magníficas e imperecíveis monumentos de Fé e Civismo” (A CATEDRAL, 1921, p. 2).

Segundo o jornal citado primeiro passo para por em pratica a ideia lançada por Dom Antonio dos Santos Cabral foi a campanha de donativos na capital e em outros pontos do estado em que se poderia considerar lançados os fundamentos dessa grande obra (A CATEDRAL,1921, p. 2).

Em seguida seriam organizadas as contribuições mensais e anuais entre os moradores da capital “desde os mais altamente colocados, até os mais humildes, sinceramente empenhados, todos, em concorrer assiduamente para a efetividade dos trabalhos” (A CATEDRAL, maio 1921, p. 2).

Em todas as paróquias da diocese, povoados, lugarejos e recantos do estado por intermédio dos respectivos vigários das paróquias esperava-se que “os habitantes do Rio Grande do Norte, pelos seus sentimentos de Fé, Patriotismo e amor a arte saberão impor-se espontaneamente um tributo de honra do qual ninguém  ousará eximir-se tão módico e suave ele será” (A CATEDRAL, maio 1921, p. 2).

A comissão solicitava que cada um dos 500.000 habitantes do Rio Grande do Norte contribuísse com a quantia de 1$000 réis, recebendo por cada oferta um cartão numerado que lhe daria direito ao sorteio de numerosos prêmios de alto valor, sendo alguns de mais de conto de réis (A CATEDRAL, 1921, p. 2). Com a transferência de dom Antônio dos Santos Cabral a ideia da Nova Sé natalense fica adormecida até a chegada do novo bispo.

Nada foi encontrado a respeito do projeto arquitetônico da Nova Catedral que teria sido iniciado durante o episcopado de dom Antonio dos Santos Cabral.

Possivelmente deveria se tratar de um projeto neoclássico como era praxe nas construções arquitetônicas durante as primeiras décadas do século XX no tocante a arquitetura e pelo espírito esclarecido do bispo, amante das artes e do classicismo católico.

A Comissão Pró-catedral formada por Dom Antônio dos Santos Cabral seguiu se reunindo para tratar dos assuntos a ela atinentes, porém, a transferência do bispo de Natal para Belo Horizonte-MG esmoreceu o trabalho da comissão em cujo período de vacância da diocese potiguar nada pode fazer a não ser esperar a nomeação do novo bispo para recomeçar os trabalhos.

Se passariam quase 3 anos até ser nomeado o 3º bispo de Natal.

A iniciativa de Dom José Pereira Alves

         Dom José Pereira Alves, foi 3º bispo de Natal, assumiu a Diocese em 1923 até 1928 quando foi transferido para a diocese de Niterói-RJ.

De sua atuação diante da construção da Nova Catedral tem-se apenas que reuniu a Comissão Diretora Das Obras da Nova Catedral sob sua presidência a qual tomou medidas pertinentes a construção daquele que seria um majestoso edifício.

Dom José Pereira convidou o engenheiro Miranda Carvalho, da comissão de fiscalização das obras do porto de Natal, a quem coube levantar a planta do local onde seria erguida a Nova Catedral (O JORNAL, 1924, p. 8).

         Foi José Pereira a ordem para ser demolida a igreja iniciada pelo padre João Maria na Praça Pio X em 1925 onde no local seria erguida a Nova Catedral.

         A transferência de Dom José Pereira Alves para a diocese de Niterói-RJ não permitiu iniciar as obras por ele pensadas e ficando latente mais uma vez o sonho da construção da Nova Catedral de Natal.

         Não encontramos maiores detalhes sobre o projeto do engenheiro Miranda Carvalho.

         Dom José Pereira era um erudito, exímio orador sacro, inteligente e amante das artes, por essas qualidades possivelmente o projeto da Nova Catedral por ele pensada fosse igualmente um projeto de arquitetura neoclássica.

         Como já visto em capitulo anterior foi ele quem ordenou a demolição da antiga igreja iniciada pelo Pe. João Maria na Praça Pio X para que em seu lugar fosse erguida a nova catedral de Natal, sua transferência para Niterói-RJ adiaria pela segunda vez os planos do povo católico de Natal de iniciar a construção da nova catedral.

         A espera pela chegada de um novo bispo encontraria a cidade já em franca expansão demográfica e urbana, ansiando o povo católico pela construção da nova catedral.

Praça Pio X na Cidade Nova onde seria erguida a nova catedral de Natal a partir de 1920.



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