Natal precisava de uma nova
Catedral
Apesar
de ainda ter ares de cidade pequena a capital potiguar já começava a despontar
no inicio da década de 1920 com grandes progressos urbanos e aumento
populacional.
O
plano de expansão da cidade daria a cidade uma nova configuração urbana na
Cidade Nova, que corresponde aos atuais bairros do Tirol e Petrópolis.
No
início da década de 1920 a população de Natal ainda era majoritariamente
católica, porém, a capital potiguar contava apenas com apenas com duas paróquias,
uma na Cidade e Alta e outra no Alecrim, e espalhada pela capital potiguar modestas
e pequenas igrejas e capelas.
Foi percebendo o progresso urbanístico e o crescimento demográfico de Natal que o segundo bispo de Natal, Dom Antonio dos Santos Cabral, sentiu a necessidade de acompanhar tais progressos por meio da construção de uma nova catedral para a sede do bispado.
A iniciativa de Dom Antonio dos Santos Cabral
Cronologicamente
e efetivamente as primeiras iniciativas para a construção da nova catedral de
Natal começam com Dom Antonio dos Santos Cabral que ao assumir a diocese de
Natal, em 1918, revelou certa vez a algumas pessoas mais próximas de sua
convivência que “o quanto lhe torturava o coração ver o povo
de Natal, tão grandemente católico, ter seu principal templo tão manifestamente
pequeno, para os exercícios do Culto Divino” (A CATEDRAL, 1921, p.1) e por isso
surgiu no espírito esclarecido de Dom Antônio a ideia de se construir a Nova Catedral
do bispado a qual seria “um templo condigno aos sentimentos de Religião e Fé do
povo católico de sua cidade episcopal”(A CATEDRAL, 1921, p.1).
Por uma reflexão lógica dom Antônio dos
Santos Cabral conformando-se com a falta de recursos da diocese não teve a
pretensão de construir uma catedral suntuosa, monumental e enriquecida com “as
mais soberbas obras de arte do mais elevado estilo, com custosos quadros e
esculturas da mais grandiosa concepção artística” (A CATEDRAL, 1921, p.1),
pois, se cometeria uma injustiça ao povo perante a necessidade urgente de se
construir um templo para abrigar dignamente a população da capital potiguar
segundo o referido jornal.
Assim, a nova catedral pensada por Dom
Antônio Cabral deveria ser modesta e majestosa, condizente aos elevados
sentimentos religioso do povo potiguar e proporcional as suas condições
materiais como estava sendo ponderada pela Comissão Central de Construção.
Segundo o boletim A Catedral era uma
necessidade imperiosa a construção da nova Sé de Natal, por isso ninguém
poderia se omitir ajudar nessa iniciativa feliz e justa, devendo todos
sustentá-la e conduzi-la à realização. E concluía o artigo em tom ufanista:
“Façamos a catedral”! A ideia não morrerá, com a benção do Céu e os auxílios do
povo do Rio Grande do Norte! É uma ideia vencedora. (A CATEDRAL, 1921, p. 2).
Dom Antônio dos Santos Cabral passou
pouco tempo a frente do bispado potiguar, entre 1917 e 1921, tendo sido
transferido para a Diocese de Belo Horizonte, não viu seu sonho ser realizado
em Natal.
Não encontramos maiores detalhes sobre
o projeto dessa catedral pensada por Dom Antônio dos Santos Cabral.
Efetivamente
ocorreu a constituição de comissões em todas a paróquias da diocese de Natal
para se levantar recursos para iniciar a construção da nova catedral.
Dom
Antônio dos Santos Cabral decidiu que a nova Sé seria erguida na Praça Pio X na
Cidade Alta, ou Cidade Nova como era conhecida a época o local escolhido
conforme constava no jornal A Noite na
edição de 06/06/1920 onde se lia “d. Antônio, bispo desta diocese [de Natal],
resolveu que a construção da catedral desta cidade seja feita no bairro da
Cidade Nova” (A NOITE, 1920, p.3, grifo nosso).
Em
30/06/1920 foi realizada uma reunião no salão nobre do palácio do governo com a
presença de famílias católicas natalenses para tratar da construção da nova
catedral. A reunião foi convocada pela comissão encarregada das obras e
presidida pelo governador do estado Antônio José de Melo e Souza (A UNIÃO,
1920, p.2).
Assim, efetivamente no período de
governo de Dom Antônio dos Santos Cabral foram formadas as Comissões das Obras
da Nova Catedral. Essas comissões foram formadas pelos seguintes membros:
Na
Diretoria de honra estavam os seguintes membros: Antonio José de Melo e Souza,
governador do estado, presidente da comissão, Desembargador Joaquim Ferreira
Chaves, ministro da marinha, 1º vice-presidente, José Theotônio Freire, juiz
federal, 2º vice-presidente, Desembargador Heméterio Fernandes, presidente do
Superior Tribunal de Justiça, 3º vice-presidente.
A
Diretoria efetiva constava dos membros: Dom Antônio dos Santos Cabral, bispo
diocesano, presidente da comissão, Monsenhor Alfredo Pegado de Castro Cortez,
governador do bispado, vice presidente, Moisés Soares, advogado, secretario
geral, Coronel Aureliano Clementino de Medeiros, comerciante, tesoureiro.
Já
os membros efetivos da comissão Pró-Catedral eram: Henrique Castriciano,
vice-governador do estado, Sebastião Fernandes de Oliveira chefe de policia,
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, secretário do estado, coronel Pedro Soares
de Araújo, inspetor do tesouro, Manoel Dantas, Diretor Geral de Instrução
Pública, Tenente coronel Joaquim Anselmo Pinheiro, comandante do Batalhão de
Segurança, Desembargadores João Dioniso Filgueira e Felipe Guerra, membros do
Superior Tribunal de Justiça, Dr. Antônio Soares de Araujo, juiz de direito da
1ª vara de Natal, coronel Francisco Herôncio de Melo, tesoureiro do tesouro do
Estado, Ezequias Pegado Cortez, Delegado de Policia da 1ª região, Dr. Januario
Cicco, Inspetor da Saúde do Porto, Adalberto Soares de Araújo Amorim, diretor
da escola de Aprendizes Artífices, Alberto Roseli, advogado, João Vicente da
Costa, oficial de gabinete do governo do estado, Coronel Antônio de Paula
Barbosa, comerciante, coronel Jorge Barreto de Albuquerque Maranhão,
comerciante, coronel Antônio Celestino da Cunha Pinheiro, delegado fiscal do tesouro federal,
coronel Joaquim Policiano Leite,
comerciante, Nestor dos Santos Lima, diretor da Escola Normal, major José M.
Pinto, gerente do jornal A República, padre José de Calazans Pinheiro,
professor, capitão Manoel Inácio Barbosa,
funcionário federal, major Teodorico Guilherme C. Caldas, secretário do tesouro
do Estado, padre Henrique Paulssen, vigário do Alecrim, capitão Miguel Barra,
comerciante, comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, diretor da escola de
Aprendizes Marinheiros, Décio Fonseca ,
engenheiro chefe do melhoramento do porto, Belarmino Lemos, procurador fiscal
do tesouro do estado e major Teodósio Paiva, presidente da intendência (A
CATEDRAL, 1921,p.3).
A
Comissão Central de Construção da Nova Catedral resolveu que seriam organizadas
em todos os municípios do estado Comissões Regionais com o objetivo de
intensificar a propaganda da construção da nova catedral pelo interior do
estado.
Dom Antônio dos Santos Cabral que
estava em viagem pelo sertão assegurou a comissão que em todas as localidades
por onde fosse feitas suas visitas pastorais seriam formadas essas comissões
regionais.
De volta de suas visitas pastorais,
dom Antônio Cabral apresentou a Comissão
Central de Construção da Nova Catedral as Comissões Regionais formadas no
interior, que foram criadas em Lajes, Angicos, Santa Cruz, Currais Novos, São
Rafael, Santana do Matos, Portalegre, São Miguel de Jucurutu.
A
comissão central designou outras comissões para saírem as ruas dos bairros de
Natal para recolher donativos oferecidos para a construção da nova catedral,
iniciando pelos comerciantes em diversas ruas da capital “alcançando o melhor
sucesso” (A CATEDRAL, 1921, p. 4).
Apelava-se
ao patriotismo do povo potiguar e a vergonha de Natal não ter uma catedral
condigna perante as outras dioceses. Segundo o boletim A Catedral “convocaremos
os filhos do Rio Grande do Norte a este augusto e nobre empreendimento. Bastam
nesse particular, as humilhações experimentadas” (A CATEDRAL, 1921, p. 2).
Ainda segundo o mesmo boletim o Rio
Grande do Norte se constituía de uma diocese com aproximadamente 500.000
habitantes onde não se poderia mais suportar o deprimente contraste nos
arraigados sentimentos religiosos, oferecido pelo confronto com outras
dioceses, mais pobres e menos populosas “onde o ardor patriótico, aliado ao
zelo esclarecido e trabalho perseverante de seus filhos, se engrandeceu e
perpetuou em magníficas e imperecíveis monumentos de Fé e Civismo” (A CATEDRAL,
1921, p. 2).
Segundo
o jornal citado primeiro passo para por em pratica a ideia lançada por Dom
Antonio dos Santos Cabral foi a campanha de donativos na capital e em outros
pontos do estado em que se poderia considerar lançados os fundamentos dessa
grande obra (A CATEDRAL,1921, p. 2).
Em
seguida seriam organizadas as contribuições mensais e anuais entre os moradores
da capital “desde os mais altamente colocados, até os mais humildes,
sinceramente empenhados, todos, em concorrer assiduamente para a efetividade
dos trabalhos” (A CATEDRAL, maio 1921, p. 2).
Em
todas as paróquias da diocese, povoados, lugarejos e recantos do estado por
intermédio dos respectivos vigários das paróquias esperava-se que “os
habitantes do Rio Grande do Norte, pelos seus sentimentos de Fé, Patriotismo e
amor a arte saberão impor-se espontaneamente um tributo de honra do qual
ninguém ousará eximir-se tão módico e
suave ele será” (A CATEDRAL, maio 1921, p. 2).
A
comissão solicitava que cada um dos 500.000 habitantes do Rio Grande do Norte
contribuísse com a quantia de 1$000 réis, recebendo por cada oferta um cartão
numerado que lhe daria direito ao sorteio de numerosos prêmios de alto valor,
sendo alguns de mais de conto de réis (A CATEDRAL, 1921, p. 2). Com a
transferência de dom Antônio dos Santos Cabral a ideia da Nova Sé natalense
fica adormecida até a chegada do novo bispo.
Nada
foi encontrado a respeito do projeto arquitetônico da Nova Catedral que teria
sido iniciado durante o episcopado de dom Antonio dos Santos Cabral.
Possivelmente
deveria se tratar de um projeto neoclássico como era praxe nas construções
arquitetônicas durante as primeiras décadas do século XX no tocante a
arquitetura e pelo espírito esclarecido do bispo, amante das artes e do
classicismo católico.
A
Comissão Pró-catedral formada por Dom Antônio dos Santos Cabral seguiu se
reunindo para tratar dos assuntos a ela atinentes, porém, a transferência do
bispo de Natal para Belo Horizonte-MG esmoreceu o trabalho da comissão em cujo
período de vacância da diocese potiguar nada pode fazer a não ser esperar a
nomeação do novo bispo para recomeçar os trabalhos.
Se
passariam quase 3 anos até ser nomeado o 3º bispo de Natal.
A iniciativa de Dom José Pereira Alves
Dom
José Pereira Alves, foi 3º bispo de Natal, assumiu a Diocese em 1923 até 1928
quando foi transferido para a diocese de Niterói-RJ.
De
sua atuação diante da construção da Nova Catedral tem-se apenas que reuniu a
Comissão Diretora Das Obras da Nova Catedral sob sua presidência a qual tomou
medidas pertinentes a construção daquele que seria um majestoso edifício.
Dom
José Pereira convidou o engenheiro Miranda Carvalho, da comissão de
fiscalização das obras do porto de Natal, a quem coube levantar a planta do
local onde seria erguida a Nova Catedral (O JORNAL, 1924, p. 8).
Foi José Pereira a ordem para ser demolida
a igreja iniciada pelo padre João Maria na Praça Pio X em 1925 onde no local
seria erguida a Nova Catedral.
A transferência de Dom José Pereira
Alves para a diocese de Niterói-RJ não permitiu iniciar as obras por ele
pensadas e ficando latente mais uma vez o sonho da construção da Nova Catedral
de Natal.
Não encontramos maiores detalhes sobre
o projeto do engenheiro Miranda Carvalho.
Dom José Pereira era um erudito, exímio
orador sacro, inteligente e amante das artes, por essas qualidades possivelmente
o projeto da Nova Catedral por ele pensada fosse igualmente um projeto de
arquitetura neoclássica.
Como já visto em capitulo anterior foi
ele quem ordenou a demolição da antiga igreja iniciada pelo Pe. João Maria na
Praça Pio X para que em seu lugar fosse erguida a nova catedral de Natal, sua
transferência para Niterói-RJ adiaria pela segunda vez os planos do povo
católico de Natal de iniciar a construção da nova catedral.
A espera pela chegada de um novo bispo
encontraria a cidade já em franca expansão demográfica e urbana, ansiando o
povo católico pela construção da nova catedral.
Praça Pio X na Cidade Nova onde seria erguida a nova catedral de Natal a partir de 1920.
Nenhum comentário:
Postar um comentário