quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

PANORAMA DE BAIXA VERDE EM 1930


De acordo com o jornal Diário de Noticias o relatório apresentado a Intendência Municipal de Baixa Verde, pelo prefeito João Severiano da Câmara, era um documento que atestava ao mesmo tempo a inteligente ação do administrador e a riqueza do município.O município fora criado pela lei n.º 697 de 29 de outubro de 1928, pelo desmembramento de Touros, Taipu e Lajes.

         Baixa Verde progrediu neste espaço de tempo, graças aos esforços do seu primeiro prefeito, que muito bem soube aproveitar as suas fontes de renda. Mais uma vez evidencia, pois, como bem disse o Sr. João Severiano da Câmara, o axioma “dividir para bem administrar". E neste ponto o relatório a que se faz referencia tece justos elogios ao presidente do Estado, Juvenal Lamartine, autor da lei que criou o novo município. Os elogios eram também, extensivos a todos os funcionários municipais, porque bem cumpriram seu dever.

         O relatório do prefeito João Câmara, era de acordo com o citado jornal, um verdadeiro histórico do município, o qual começava tratando dos limites e passando ao funcionalismo, à escrita, à instrução, aos edifícios públicos, à viação, ao abastecimento de água, às eleições, ao júri, às visitas, ao campo de aviação, à agência dos correios, ao telégrafo, ao culto religioso, à luz elétrica, às obras públicas, aos decretos, leis e resoluções da intendência, à divisão fiscal, ao campo de demonstrações, à divida flutuante, às verbas, à receita e finalmente à despesa do município.

         Alguns capítulos desse relatório foram referencias no citado jornal, sendo o que se seguem.

         A receita do município foi de 76:473$200 e a despesa de 79:087$550, o que é admissível, porque não se interrompeu nenhum serviço, porque não poucas foram as obras realizadas.

         Tratando da receita e da despesa não pode deixar de fazer referencia a divida  do município, divida que não contraiu, mas que herdou da sua antiga situação de parte de outros municípios.

Esta divida é de 34:751$030 e esta devidamente explicada. Foi contraída para a construção do grupo escolar José da Penha, o que custou 60:000$000.Como os municípios não tiveram dinheiro todo, foi feito um empréstimo com João Câmara & Irmão, na importância acima, e como o grupo passou a pertencer ao novo município, ele ficou com a responsabilidade da dívida. O prefeito atual já regularizou a situação de semelhante compromisso em prestações anuais de 6:000$000 cada uma, além de uma prestação de 4:751$030 para antes daquelas.


Aspectos de Baixa Verde, década de 1940.


Outro capítulo que mereceu atenção do jornal Diário de Noticias foi referente ao Campo de Demonstração, que transcreveu as palavras do prefeito João Câmara:

“Baixa Verde, o município de maior produção algodoeira do Estado, não poder deixar de, em breve, construir o seu campo de demonstração, quiçá, contando para isso com a colaboração do Dr. Otávio Lamartine, inteligente e dedicado diretor do Serviço de Algodão do Estado, que, num gesto louvável e patriótico, pôs  espontaneamente a disposição do Município os seus largos conhecimentos técnicos e as máquinas necessárias àquele serviço”.

O jornal também transcreveu o que  disse o relatório do prefeito João Câmara sobre o abastecimento de água do município de Baixa Verde.

“É um dos problemas mais importantes para a vida econômica do Município. Formado de territórios áridos, sem fontes perenes, sem rios, e, em geral, inadaptados para açudagem, a resolução da magna questão tende a ser feita por meio de poços tubulares, servidos por moinhos de vento.O exmo Sr. Presidente do Estado, dr. Juvenal Lamartine, sempre voltado para tudo quanto diz respeito a prosperidade e desenvolvimento do nosso querido Estado, não esqueceu esta parte relevantíssima para o progresso do Município e assim não hesitou, apesar da exiguidade da Receita Estadual, de lançar mãos dos dinheiros  públicos , mandando, num gesto do mais alto alcance, abrir em toda a zona algodoeira, desprovida de água, poços tantos quantos necessários. Assim foram perfurados os de Palestina, Pereiros, Cabaço Preto, Terra Santa, São Luiz e São João, destes, foram instalados e estão funcionando os de Palestina e Pereiros. Além disso, foram desobstruídos também os de Queimadas, Escadilha e Nazaré. Existem, também, um em Buraco Seco, em perfeito estado de funcionamento, acionado por uma bomba manual, e outro nesta vila, funcionando normalmente. Na povoação de Parazinho há um poço movido por um motor a gás pobre, que apesar de se propriedade particular, muito em concorrido para o desenvolvimento agrícola da região. Por mais que me externasse a respeito, todas as minhas expressões seriam pálidas e poucas par dizer de que representa par a vida econômica e agrícola do Município o seu abastecimento de água”.

tratando da viação, capitulo que mereceu especiais cuidados do prefeito João Câmara, dizia o relatório coisa realmente interessantes segundo o citado jornal, no qual “durante a sua curta existência, teve o município construídas e ampliadas as suas estradas de rodagem, que vão já a 450 km, sobressaindo entre elas a que liga o município a Macau”.


Aspectos de Baixa Verde

Assim terminava o relatório do prefeito João Câmara:

“Srs. Intendentes. A sobriedade de expressões deste ligeiro relatório não se explica unicamente, como vos há de parecer, pela exiguidade de tempo.Se é verdade que os meus afazeres me atarefam demasiadamente, não me permitindo, mesmo se o quisesse, realizar digressões e explanações mais extensas em torno dos problemas que de mais perto reclamam a atenção e a vista do meu governo, que tais são abordados aqui, é preciso, entretanto, dizer-vos que assim procedendo, fico coerente com os meus princípios e as minhas ideias administrativas. Isso porque, à parte do direito alheio de pensar diversamente, acho que todos os administradores deviam ter por divisa a expressão “rex no verba”[1].Sim, porque são as ações e não as personalidades e que as destacam da impramatura comum dos indivíduos; com ações é que se constrói a economia dos povos; são os homens de ações que vanguardeam as coletividades progressistas.

E para confirmá-lo, é nosso contemporâneo e prodigioso valor do “yankee” – homem de ação por excelência, magnetizando o universo com a potencia estupenda da sua riqueza. Sistematizando a vida e realizando-a, portentosa e nobiliante, no trabalho fecundo de todos os dias sem o desperdício do seu tempo, tornando-o assim eminentemente produtivo, tem o americano conseguido standartizar a sua atividade de maneira que o maravilhoso progresso do seu país é um resultado direto e imediato do seu trabalho.

O que cumpria, por força de lei, trazer ao vosso conhecimento, aqui está. É este relato de um ano apenas da vida autônoma do Município e dentro de tão curto período, sem levar em conta o esforço para organizá-lo nos moldes constitucionais, muito creio já ter conseguido, com as afirmações reais do nosso trabalho aqui enumeradas e que tendes por outro lado também, diariamente, debaixo das vossas vistas. E se nenhum coeficiente indicasse o nosso progresso e esforço, só o vulto da nossa existência livre, sobrepujando de muito a de inúmeros outros municípios, populosos e antigos, o atestaria sobremaneiramente.

O que resta, afinal, é a satisfação da consciência tranquila de haver cumprindo o meu dever, procurando corresponder à confiança daqueles que me trouxeram até aqui e o que me cumpre agora é agradecer-vos a solidariedade inquebrantável e o apoio incondicional com que, numa perfeita harmonia de vistas, colaborastes comigo no labor de todos os dias, para levar adiante, forte, vigorosa e crente do seu esplendido futuro, a terra nascente par ao triunfo da nossa Baixa Verde estremecida. (DIÁRIO DE NOTICIAS, RJ, 18/07/1930, p.6).


Prefeito João Severiano da Câmara.

o relatório que provavelmente não existe mais nos arquivos da prefeitura e da câmara do atual município de João Câmara, outrora Baixa Verde, seria hoje uma preciosa relíquia arqueóloga para rememorar os primeiros passos do município autônomo de Baixa Verde.

Pelos enxertos extraídos do relatório do prefeito de Baixa Verde, percebe-se a erudição do prefeito João Câmara.



[1] Do latim: “o rei não fala”.Tradução livre.

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