A estação da Coroa foi a estação inicial da Estrada de Ferro
Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN, estando a mesma situada a margem
esquerda do rio Potengi, atualmente no bairro Salinas, na zona norte da capital
potiguar.
Inicialmente a estação pertenceu a Estrada de Ferro do
Ceará-Mirim, cuja construção teve início em 08/12/1890, conforme indica o
jornal A República:
“Sabemos, por cartas recebidas do Rio, que os estudos
definitivos sobre a estrada de ferro do Ceará-Mirim, já foram apresentados à
aprovação do ministro da agricultura. O digno concessionário da estrada
consta-nos que vai [ilegível] entender-se com os seus agentes aqui, a fim de
serem lançados quanto antes os fundamentos da estação da Coroa”. (A República,21/05/1890,
p.2).
Na inauguração dos trabalhos da Estrada de Ferro do
Ceará-Mirim o jornal Gazeta do Natal registrou que: “a concorrência de povo e
de cidadãos importantes à estação da Coroa foi enorme ou antes foi esplendida.
Houve ali mesmo um lauto almoço oferecido a todos convivas que se dignaram de
assistir àquela ruidosa festa do trabalho, progresso e civilização”. (Gazeta do
Natal,13/12/1890, p.2).
A inauguração dos trabalhos
de construção da Estrada de Ferro do Ceará-Mirim
A solenidade de inauguração dos trabalhos de construção da
Estrada de Ferro do Ceará-Mirim ocorreu em 08/12/1890 com pompas e formalidades
de estilo.
De acordo com o relato do
jornal A República das 06h30 as 07h30 da manhã daquele dia começou a afluir ao
local da festa a população que ali se congregou.
Estava a estação da Coroa verdejamente ornamentada, fingindo
na parte que fica em frente a cidade e ao rio Potengi um bosque denso,
assinalado por diversas bandeiras e galhardetes, que se estendiam até a parte
oposta do edifício.
Aproximadamente das 08h00 o governador Manoel do Nascimento Castro e Silva, dirigiu-se com o pessoal ao lugar designado, fez uma rápida e eloquente alocução inaugural, pediu para proclamar o ato ao engenheiro chefe Brunet, o qual depois de confirmar a inauguração, entregou ao governador uma pá dourada, com a qual ele lançou a primeira pá de terra, seguindo-se-lhe a gentilíssima e espirituosa esposa do engenheiro Brunet, que inteligentemente disse quere ser das primeiras a dar o exemplo edificante do trabalho, fazendo todos os circunstantes o mesmo.
Foi fotografado pelo engenheiro João Vieira da Cunha o belo quadro daquela reunião do trabalho e da inteligência. Após isso voltou-se à estação da Coroa que ficava a vista e ali o engenheiro João Vieira leu a ata de inauguração daquela futurosa empresa, depois do que o Dr. Diógenes da Nobrega felicitou em breve alocução o florescimento da pátria riograndense, “fazendo votos para que esse espirito de iniciativa neste solo abençoado perdurasse sucessivamente em todas as gerações por vir”.
Seguiu-se um lauto banquete situado naquele meio pitoresco e
de aspecto campestre circundado de ramos e folhagens, tomando todos lugar de pé
à mesa, ideia original e que causou-se harmoniosamente com a disposição da
festa, durante a qual tocava a curtos intervalos uma banda de música.
Ao champange levantaram-se diversos brindes. Seguiram-se
outras mesas, prolongando-se a festa até ao meio-dia.(A
Republica,09/12/1890,p.2).
De acordo com o relato acima já havia um edifício identificado
como estação da Coroa naquela data.
A EFCRGN
O trecho inicial da Estrada de Ferro do Ceará-Mirim foi
encampado pelo governo Federal o qual o transformou na Estrada de Ferro Central
do Rio Grande do Norte-EFCRGN em 1903.
Em 1904 os trabalhos de construção da EFCRGN tiveram início
por uma comissão chefiada pelo engenheiro José Matoso Sampaio Correia.
De acordo com o jornal Gazera de Notícias no mês de novembro
de 1904 já haviam sido realizados diversos trabalhos na EFCRN, dentre eles a
continuação das obras da estação da Coroa e da parada de Aldeia Velha (Igapó).
(Gazeta de Notícias ,30/12/1904,p.1).
Já em 25/08/1905 o referido jornal registrou que a estação
da Coroa teve um grande avanço na sua construção e breve deveria ficar concluída.
(Gazeta de Notícias ,25/08/1905, p.3).
No mês de junho de 1905 foi iniciado o assentamento da linha
dentro da estação da Coroa e na parte fronteira.
A parada de Igapó, situada no km 4, que já tinha as
fundações e os muros da plataforma desde o ano de 1904 foi recomeçada, tendo já
sido iniciado o assentamento das madeiras da cobertura da plataforma. (Gazeta
de Notícias,20/09/1905, p.1).
O engenheiro chefe da comissão de estudos contra as secas no
Rio Grande do Norte comunicou ao ministro da agricultura, Lauro Muller, terem
sido executados importantes serviços na EFCRGN durante o mês de outubro de
1905, dentre esses serviços a estação da Coroa estava quase concluída, faltando
apenas o ladrilhamento a cimento.
A
parada de Igapó já estava pronta, devendo ser iniciados dentro de poucos dias a
pintura e o prescintamento do telhado. (Gazeta de Notícias,24/11/1905,p.1).
Assim, é de crer-se que a comissão de construção da EFCRGN fez acréscimos ou remodelamentos no edifício já existente da estação da Coroa, a qual seria a estação inicial dessa estrada de ferro.
A inauguração da EFCRGN
A primeira seção da EFCRGN no trecho entre a estação da
Coroa e a cidade de Ceará-Mirim foi inaugurado em 13/06/1906 e contou com a
presença do então presidente da República, Afonso Pena.
Os jornais da época não falam que houve a inauguração da
estação da Coroa, mas sim as paradas de Igapó e Estremoz e a estação de
Ceará-Mirim naquele dia.
A ponte de atracação
Em 26/03/1907 o engenheiro chefe da EFCRGN comunicou haver
sido concluída a ponte provisória de atracação na estação da Coroa, começando
assim o serviço de passagem no rebocador “Ceará-Mirim” com partida de Natal as
08h10 as segundas, quartas e sextas; as terças, quintas e sábados a partida de
Natal se dava as 15h10.A volta ocorreria sempre 10 minutos depois da chegada ou
partida do trem. preço da passagem no rebocador custava 100 réis, cada volume
de bagagem pagaria igualmente 100 réis, ficando as malas de mão isentas da
cobrança.(A Republica,26/03/1907,p.1).
Em 15/07/1907 o jornal A República registrou que estava
sendo construído o grande trapiche de 120 metros na estação da Coroa, segundo o
referido jornal “obra de uma solides admirável”. (A República,15/07/1907, p.2).
Chefe da estação
Em 24/07/1907 Joaquim Bezerra de Melo que ocupava até então
cargo de chefe da estação da Coroa foi nomeado armazenista da EFCRGN.A República ,24/07/1907,
p.1).
O estado da ponte de
atracação
Em 1911 o estado da ponte de desembarque da estação da Coroa
era lastimável devido a falta de conservação, estando o lastro já apodrecido,
havendo muitas aberturas, constituindo uma ameaça à segurança dos passageiros.
(Jornal do Commercio (AM),14/06/1911, p.4).
No ano de 1917 foi inaugurado o tráfego de passageiros até
Natal pela ponte sobre o rio Potengi (ponte de Igapó), utilizando para isso o
trecho da linha da Estrada de Ferro de Natal a Independência (Guarabira-PB)
arrendada a GWBR no trecho entre as Quintas e a Ribeira, até a estação
provisória da EFCRGN.
O tráfego de passageiros e bagagens continuou a ser
realizado pela estação provisória de Natal, o tráfego de mercadorias pela
estação da Coroa, na margem esquerda do rio Potengi, e o de animais pela parada
de Igapó no km 4, a partir da estação da Coroa.
Em 1921 o serviço de cargas que se fazia pela estação da
Coroa, na outra margem do rio Potengi, apesar de feita a ligação pela ponte de
Igapó, passou a ser realizado em Natal na estação provisória, com economia do
dispendioso serviço da travessia por barcos. (Relatório do Ministério da Viação
e Obras Públicas,1921, p.63).
A estação provisória ficava situada num prédio junto a
estação da GWBR nas margens do rio Potengi e voltada para a rua do Comércio na
Ribeira. É atualmente o centro de treinamento da CBTU.
A desativação
Com a unificação do tráfego na margem direita do Potengi
(Ribeira) a estação da Coroa na margem esquerda perdeu sua funcionalidade
chegando a ficar abandonada e sem uso e com o passar do tempo foi demolida.
A estação pitoresca
Infelizmente a demolição da estação da Coroa privou os
potiguares e os transeuntes de observarem o que seria uma das estações mais
pitorescas do RN, posto que a estação ficava totalmente ilhada quando a maré
subia.
A estação da Coroa estava situada sob um aterro que ia da
margem do rio Potengi passando por dentro do mangue até a Aldeia Velha (Igapó)
o que também era mais um atrativo da EFCRGN a passagem do trem por dentro do
mangue, que por sua vez era motivo de reclamação dos usuários dos trens devido
a emanação de mosquitos que ali havia naquele trecho de pântano.
As ruinas da estação da Coroa
Presentemente ainda é possível observar em meio a vegetação
de mangue as ruinas da estação da Coroa assim como parte das estruturas do
aterro do Salgado.
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Aspectos da estação da Coroa. Fonte: Arquivo Nacional, sem indicação de data. |
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Do cais da Tavares de Lyra na margem direita do Potengi era possível vê a estação da Coroa na margem oposta do referido rio conforme indica a seta na imagem a cima. |
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A trilha onde antes percorria os trilhos da EFCRGN no aterro do Salgado que partia da estação da Coroa indo até a parada de Igapó. |
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Restos das construções do aterro do Salgado. |
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A estação da Coroa |
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Em meio a vegetação de mangue o que restou da estação da Coroa. |
Pesquisa e texto: João
Santos, 15/03/2025.
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