Angicos
é um município do Rio Grande do Norte situado na região central do estado a 171
km de distância de Natal.
Em
1881 foi enviado um oficio pelo diretor da Biblioteca Nacional solicitando
informações a respeito da história, geografia e topografia dos municípios da
então província do Rio Grande do Norte. Dos 11 municípios que responderam ao
questionário estava Angicos.
A
resposta ao diretor da Biblioteca Nacional foi enviada pela Câmara Municipal da
Vila de São José dos Angicos em 02/05/1881.
O
texto da descrição do município de Angicos foi publicado pelos Anais da
Biblioteca Nacional em 1991 o qual
transcrevemos a seguir tal e qual publicado pelos referidos Anais fazendo
apenas a atualização da ortográfica gramatical.Ei-lo:
RESPOSTA AO QUESTIONÁRIO
PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE
COMARCA DE MACAU
DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANGICOS
Aspecto geral
O aspecto visual é alegre, se bem que
não seja nivelado; do lado norte se compõem de ariscos, cujas as terras tem a
propriedade agrícola e pertencem ao Estado, assim como dos lados leste, oeste e
sul é composto de pedregosos tabuleiros.
Serras
Pico do Cabugi, o mais considerado da
Província, por sua elevação, a Serra do Bonfim ou Fuzis e Serra Verde que são
agrícolas; a Serra da Maniçoba, Serra de Santa Rosa e Serra do Lombo menos
notáveis que fazem igualmente parte do Município.
Rios
Com a denominação de rios que só contem
águas durante a estação invernosa, tais são os chamados rio Pataxó, rio do
Amargoso e rio do Ceará-Mirim, os quais nascendo nas quebradas das serras
denominadas Santa Rosa atravessam o Municipio, isto é o primeiro vai desembocar
no falado rio Assu, o segundo desemboca no Porto da Cidade de Macau e o
terceiro no Porto denominado Praia de Genipabu.
Salubridade
O Município é geralmente salubre.
Minerais
Os minerais mais usuais são: pedra de
construção e barro de olaria, constando também que há ferro no Pico do Cabugi,
assim como pedra calcária da melhor qualidade em abundância nos subúrbios desta
Vila.
Madeiras
Há diferentes espécies de madeiras de
construção e marcenaria, que apesar de não serem consideradas de maior importância,
todavia tem serventia para os fins a
cima mencionados.As principais são: carnaúba, aroeira, angico, comarú, jucá,
caraúba, pereiro e imburana.
Frutas silvestres
Caju, goiaba, pinha,maracujá, umari,
pitomba, carnaúba e quixaba.Destas algumas cultivadas.
Animais silvestres
Caititu,veado-garapú, preás, onças de
diversas espécies, gato do mato e raposa.
Quanto as aves encontam-se nos campos a
ema, jacu,inhambu, papagaios, rebaçãs e periquitos, os quais prejudicam muito
as lavouras.As aves cantoras são: o sabiá, canário, caraúna, corrupião e galo de campina.
As abelhas fornecem excelentes mel, tais
são: jandaira, papaterra, canudo e o arapuá.A par deste insetos outros há, como
a lagarta sempre prejucial as plantações.Nos denominados rios e açudes se pesca
a curimatã, traira e outras espécies de peixe chamado de água doce.
História
Esta Vila de São José dos Angicos foi
primitivamente uma fazenda de criar gados pertencente ao abastado proprietário
Tenente Antônio Lopes Viegas, cujo nome Angicos tirou de uma porção de árvores do mesmo nome que naquele tempo existia na circunferência do Olho d’Água que se acha encravado no riacho
denominado Olho d’Água pouco a baixo da mesma Vila.
Observa-se que o referido Tenente
Antônio Lopes Viegas casou-se em uma família denominada Costa Xavier sendo ele
de outra família cuja ramificação era Dias Machado.Pelo correr dos tempos,isto é, em 1813,
lembrando-se um filho do sobredito Tenente Lopes, com mais famílias de edificar
uma capela, consumaram-a em breves tempos, afim de celebrarem, quando
necessários os ofícios divinos.
Em 1816, achando-se no Rio de Janeiro, o
Tenente Coronel de Araújo Furtado requereu em nome dos angicanos, ao ministro
do Reino, naquela época,ser a mesma capela elevada a Freguesia paroquial,como
ponto central, cuja suplica mandou o ministro, não só informar ao vigário da
Freguesia do Assú, a que pertencia, como a respectiva Câmara, hoje Municipal,
informando esta a favor de Angicos, e aquele por despeito a favor de Santana do
Upanema, atualmente Vila do Triunfo.
Com semelhantes informações seguiu para
a Corte o fundador da capela Tenente Antônio Lopes Viegas Filho, que chegando
ali, ficou infelizmente maníaco, encontrando o reverendo padre João Teotônio de
Souza e Silva, quelhe disse procurar a freguesia para Angicos e vir nela
colado, recebendo por isso os mesmos papéis.
O ministro deferindo favoravelmente a
súplica, colou ao referido padre João Teotônio trazendo a sua provisão a
comissão de declarar a sede da matriz em um dos dois lugares qual deles fosse
mais central, Angicos ou Santana, sem trazer a clausula do Upanema.
Em 1824, chegando o mencionado vigário
João Teotônio a Santana do Matos ( que não fez parte das informações) ai
empenhos declarou a Sede da Freguesia, ficando a capela desta Vila filia
aquela, assim como a de Guamaré.
Pelo correr de 1834, o Conselho de Província propôs ao Governo Geral a criação
de 5 Vilas, e este aprovando ordenaou ao Presidente que então era finado Manoel
Lobo de Miranda Henrique,de saudosa memória, a criação das mesmas em Conselho de Governo, foi nesta
ocasião elevada esta Povoação a Vila,
ainda assim como o voto de qualidade daquele distinto Presidente por que 3
Conselheiro votaram para Santa do Matos
e 2 para Angicos,sendo nesta ocasião o
sobredito Presidente Lobo orientado de todo o ocorrido pelo Conselheiro José Fernandes
Carrilho, que unido ao Conselheiro finado capitão-mor André de Albuquerque
Maranhão votaram para Angicos.
Semelhante ato de justiça desafiou as
iras do finado vigário João Teotônio de Sousa e Silva, que em virtude do Ato
Adicional de 12 de agosto de 1834 foi ele eleito Membro da Assembleia
Provincial, e em sua reunião de 1835,Poe suprimir a mesma Vila, por lei
provincial nº 26 de 28 de março de 1835.
Nesta época correram os negócios tão agitados,
que por pouco, esteve a ponto de tremular o Estandarte Sangrento da guerra
civil e tomando conta da Presidência o Conselheiro João José Ferreira de Aguiar
e reunindo a mesma Assembleia, em sua fala de abertura, nada deixou a
desejar,mostrando a inconveniência de semelante lei, toda caprichosa e até odiosa.
Com efeito a referida Assembleia
meditando a revogou,instaurando esta Vila,como fez pela Resolução Provincial nº
9 de 13 de outubro de 1836.
Ainda no ano de 1847, sofreu esta Vila,
uma supressão caprichosa que teve lugar sob a influencia do finado Coronel
Jeronimo Cabral Pereira de Macedo, sendo a mesma instaurada pela segunda vez em
1850 em cuja categoria permanece.
Atual igreja matriz de Angicos
Atual igreja matriz de Angicos
Fonte: enciclopédia dos municípios, IBGE,1958. |
Topografia
Esta Vila está situada a margem esquerda
do rio Pataxó .Nome de antiga tribo de Índios
que pararam por estes Sertões.A Vila
ocupa a maior parte de uma terreno plano e arenoso de 800 metros quadrados.
Conta-se duas pequenas ruas, largas e
bem arejadas e mais três alinhamentos de boas casas que formam o adro da
Matriz, bonito e decente edifício.
Ao nordeste confronte a mesma acha-se a
cadeia pública ainda em obra, tendo boa
sala livre,onde funciona a Câmara Municipal.Ao sueste, no mesmo quadro está a
casa do comércio edificada ultimamente as expensas dos socorros públicos, que
embora não concluída, de muito tem servido, não só para cômodos viajantes,como
aos negociantes do lugar e seus subúrbios.
Ao levante, vê-se ao alto e majestoso, o
Pico do Cabugi que é semelhante ao antigo telegrafo nos anuncia as chuvas pelos
cúmulos de nuvens em sua mais elevada extremidade, onde por singularidade, com
dificuldade, foi colocado um poste com o respectivo apara raio.
Ao leste setentrião e ocidente, observam-se
diversos serrotes de granito que concorre ao longe para formar-se da pequena
Vila mais avultada ideia.
Do centro da situação observam-se
diversas casas de telhas dos maoires Altos Monte Alegre, Favela, Espirito
Santo, Coração de Jesus e Fazenda Nova, propriedades e benfeitorias dos mais
abastados do lugar.
Finalmente a oeste, 100 metros das
últimas casas, encontra-se o Açude do Glorioso Senhora São José padroeiro da
Freguesia, edificado pelo reverendo Ibiapina, nas missões de 1862, obra
atualmente em ruínas, que serve apenas para conservar a frescura do terreno, útil
aos plantadores de vazantes.
População
Segundo o último recenseamento
consta a população livre de 5.500 almas
e a escrava de 180.Desta população apenas habitam a vila 300 almas compreendidas 13
escravos.
Agricultura
A lavoura consiste na cultura de mandioca,
algodão, milho, feijão, melão e melancia, além de diversos legumes.
Criação
A grande criação consiste em gado vacum,
cavalar, lanígero e cabrum. A pequena criação limita-se a aves domésticas.
Indústria fabril
A indústria fabril é de pouca
importância atualmente consistindo apenas em pouca farinha de mandioca, olaria,
como sejam louças de barro, telhas, tijolo de alvenaria, há também tecidos grossos
de algodão.
Comércio
A exportação é pouca e limita-se ao algodão
e gado vacum, devida a esta escassez aos efeitos da calamitosa seca de 1877 a
1879. A importação também é de nenhuma importância, limitando-se a pequena
negociação de molhados e fazendas.
Instrução
Para
a instrução primária há duas escolas, sendo uma do sexo masculino criada pela
Resolução Provincial no ano de 1833 e
uma do sexo feminino criada pela Lei Provincial nº 497 de 04 de maio de 1860.
Divisão eclesiástica
Pertence este Município a Diocese de
Olinda e contem só uma paróquia denominada São José dos Angicos a qual desmembrada da de Santana do Matos, foi criada por Resolução Provincial no ano de
1836 e tem sido administrada por 3
vigários, sendo 2 encomendados e 1 colado, os reverendo Manoel e Antônio dos Santos Morais Pereira Leitão,
Manuel Januário Bezerra Cavalcante e Felipe Alves de Sousa, pelo primeiro de 1836-1839,pelo
segundo 1839-1844 e pelo terceiro finalmente de 1844 até o presente.
Obras públicas
Paço da Câmara Municipal, a casa do
comércio e o cemitério.
Distâncias
Dista esta Vila da Capital da Província
42 léguas.
As distâncias as Vilas e Cidades dos
Municípios confinantes são as seguintes:
A
Vila de Santa do Matos, 8 léguas ao sudeste.
A
Cidade do Assu, 8 léguas ao noroeste.
A
Cidade de Macau, 14 léguas pouco graus
abaixo do norte.
Paço da Câmara Municipal da Vila de
Angicos, em sessão extraordinária de 02 de maio de 1881.
Manoel
Fernandes da Rocha-presidente.
José
Avelino Martins Bezerra-vereador.
José
Matias Xavier da Costa.
Trajano
Xavier da Costa.
Manoel
Paulino da Costa Pinheiro.
Fonte:
Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p. 217-220.
Apêndice
Teor
do oficio enviado pela Câmara da Vila de Angicos ao diretor da Biblioteca Nacional
em 1881.
Ilmo
Sr.
A Câmara Municipal da Vila de São José
de Angicos, da Província do Rio Grande do Norte, a quem por intermédio do Exmo.
Sr. Presidente da Província, foi o presente oficio de V. Sª datado de 02 de
janeiro próximo passado, que acompanhou o exemplar do questionário organizado
pela Biblioteca Nacional, estabelecida em a Capita do Império, para
esclarecimento de assuntos concernentes a história e geografia do País; tomando
na mais divida consideração, prestar informações fidedignas e minuciosas
sobre as circunstâncias topográficas e
históricas deste Município, como lhe cumpre, atento as reconhecidas vantagens que
oferece um trabalho de tanta magnitude, como este de que se trata,procurou
obter aquelas informações de pessoas idôneas desta localidade, afim de que no
devido tempo, pudesse as mesmas achar-se no Rio de Janeiro, em resposta dada ao
questionário aludido, como efetivamente faz esta Câmara com a maior satisfação,
na presente Sessão, passando incluso neste as mãos de V.Sª, a referida
resposta,que com precisa exação foi organizada, de conformidade com os dados
que obteve, e oferece o resumido histórico deste Município.
A Câmara Municipal desta Vila,
agradecendo as honrosas expressões com que V.Sª se dignou honrá-la; aproveita a
ocasião não só para pedir desculpas das faltas, que por ventura possam ser encontradas
no trabalho que lhe foi confiado, como para apresentar a V.Sª os protestos de
sua estima e elevada consideração.
Deus guarde V.Sª.
Paço da Câmara Municipal da Vila de São
José dos Angicos em sessão extraordinária de 02 de maio de 1881.
Illmo
Sr. Dr. Benjamin Franklin Ramiz Galvão, M.D. Bibliotecário da Biblioteca
Nacional, do Rio de Janeiro.
Manoel
Fernandes da Rocha Bezerra-presidente.
Jose
Avelino Martins Bezerra-vereador.
José
Matias Xavier da Costa-vereador.
Trajano
Xavier da Costa- vereador.
Manoel
Paulino da Costa Pinheiro- vereador.
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