Em novembro de 1926 apareceu um artigo de Dioclécio Duarte (que viria mais tarde a ser deputado federal) a respeito da encampação do trecho ferroviária de 121 km entre Natal e Nova Cruz, à época sob concessão da GWBR, com a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.
De acordo
com o referido, artigo, unidos ambos os trechos com uma nova denominação de
Viação Norteriograndense, haveria, além de outras vantagens, a conveniência de
uma única estação central, aproveitando-se para tal finalidade o edifício da
Great Western, que poderia ser adaptado às condições exigidas para tanto (O
JORNAL, 09/12/1926, p.2).
Dioclécio
Duarte procurou ouvir a opinião do engenheiro Hermelindo Lins, diretor da
EFCRGN, a respeito da conveniência de
colocar, sob a mesma administração, o trecho de Nova Cruz a Natal e o da EFCRGN.Esta
também era a opinião de Assis Ribeiro, superintendente da GWBR, assim como do
engenheiro Eugenio Gudim (Gondim?), representante dos acionistas ingleses, nãos
endo estranho a tal resolução o chefe da Inspetoria Federal das Estradas.
Segundo o referido artigo, as excelentes instalações construídas
na praça Silva Jardim, se encontravam numa situação contrária às comodidades do
público, prestando-se, entretanto, de uma forma magnífica, para a Escola de
Aprendizes Marinheiros.
Eram dois edifícios de propriedade do Governo Federal, e,
consequentemente, fácil seria a permuta, ficando os prédios onde funcionava
aquela Escola servindo de armazém e oficinas, que eram tão necessárias a
Estrada de Ferro, sobretudo devido a situação terreno.
, este, tomando em
consideração a sua insalubridade e as extraordinárias despesas reclamadas no
conserto de outros defeitos, para torná-lo uma vila adequada a aprendizagem de
meninos, tornava-se absolutamente desaconselhável.
Com as obras do porto de Natal, em breve teria na barra 32
pés, e, assim qualquer navio poderia entrar,, devendo a Escola de Aprendizes Marinheiros, ficar
próxima a base naval, o que constituía mais um argumento contra a sua situação aquela
época.
“De forma alguma Refoles poderá servir de base naval, porque
é montanhoso ou é alagadiço, acrescendo ainda a circunstância de que as águas
têm pouco fundo para os grandes navios”, escreveu Dioclécio Duarte no citado
artigo (O JORNAL, 09/12/1926, p.2)..
Entretanto, segundo o mesmo Dioclécio Duarte, ninguém
discutia as vantagens de serem os terrenos do Refoles aproveitados para a utilização
a cima referida, como por outro lado, ninguém contestava o lucro que adviria a
Escola de Aprendizes Marinheiros, caso fosse transferida para um local de clima
mais ameno e onde pudessem os alunos observar uma vida mais militar e mais marítima,
de acordo com os ensinamentos práticos que devem receber para a completa eficácia
da profissão que desejavam seguir.
Não fugiam desse parecer os oficiais da Marinha que tinham
desempenhado as funções de diretores da Escola de Aprendizes Marinheiros, como,
na outra hipótese, os engenheiros que estudaram o problema da EFCRGN, quase
todos, pleiteavam a solução mencionada por Dioclécio Duarte, como a realmente compatível
com os interesses unanimes da coletividade.
Sem entrar em muitos detalhes, o engenheiro Hermelindo Lins,
externou o aspecto pela qual enxergava a questão vendo que a transferência da
Escola de Aprendizes Marinheiros do Refoles era uma medida que se impunha, e,
afastada a ideia da linha de contorno, unir o trecho de Nova Cruz à EFCRGN, era
para os interesses do Estado de alta convencia, ao mesmo tempo, que,
centralizando a administração facilitaria a reciprocidade das vantagens.
Considerações
- O trecho ferroviário
de 121 km entre Natal e Nova Cruz sempre foi deficitário desde sua inauguração em
27/02/1881 ainda no regime imperial e sendo o Rio Grande do Norte província. A
razão dos constantes déficits era a baixa demanda de passageiros, embora a
ferrovia se conectasse a outras ferrovias dos estados vizinhos da Paraíba e Pernambuco,
a partir de 1904, e do erro do traçado que passava longe dos grandes centros
produtores agrícolas da região e ainda a não construção do Engenho Central de
São José de Mipibu que em muito deveria contribuir para as poucas rendas
avindas do transporte de mercadorias da referida ferrovia, por isso o interesse
de ambas as partes em se fazer a encampação. Na realidade a GWBR queria se
livrar do problema que era o trecho Natal a Nova Cruz devolvendo-o ao governo
federal.
- O parque ferroviário da EFCRGN da Esplanada Silva Jardim
composto da estação central, rotunda, armazéns e oficinas, ficava distante do
centro comercial da Ribeira, embora estivesse localizado neste mesmo bairro. Para
conectar esse parque ao porto foi preciso se fazer uma linha de contorno que
passava por dentro da zona urbana da Ribeira e, sobretudo na Rua do Comércio,
atual Rua Chile, causando grandes inconvenientes ao trânsito pela passagem dos
trens e aos comerciantes nas proximidades da linha. Esta obra foi considerada
um grande erro de engenharia em Natal.
- A estação central da Esplanada Silva Jardim nunca
funcionou como tal mesmo tendo sido inaugurada, pois, o trafego se concentrava
por conveniência na estação provisória da EFCRGN na rua do Comércio próximo ao
porto.
- A Escola de Aprendizes Marinheiros apesar da insalubridade
do terreno à época, foi de fato instalada no Refoles, onde atualmente se situa
o Distrito Naval. A linha EFCRGN passava por dentro do terreno da referida
escola, causando grandes inconvenientes a ambos, pela perturbação dos alunos à
passagem dos trens e pelas manobras destes que deviam se fazer naquela região
para evitar-se maiores problemas a Escola. Até hoje causa estranheza a linha
passar por dentro do Distrito Naval.
- Como se sabe, somente em 1939 foi que o Governo Federal
fez a encampação do trecho de Natal a Nova Cruz ao da EFCRGN, contudo, não
houve mudança de nomenclatura, passando a ferrovia a tomar o nome dessa
última. Curiosamente, no passado, era desejo da Estrada de Ferro de Natal a Nova
Cruz fazer da linha de Natal a Ceará-Mirim seu ramal, coisa que nunca foi
feita.
- Com a encampação, o tráfego de passageiros e cargas ficou
concentrado na estação da Praça Augusto Severo, que era a estação central da
GWBR, já o prédio da Esplanada Silva Jardim passou a concentrar somente os
serviços administrativos da EFCRGN.
Dioclécio Duarte, autor do artigo mencionado a cima. |
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