De acordo com a fala do
presidente da Província eram de grande importância
as estradas do Norte e Centro da Província, que deveriam formar duas linhas
irradiando da Capital.
A
primeira e principal, a do Assu, deveria abrir-se pela vereda dos sítios Serrinha,
Mar Coalhado, Inhandú, evitando as 32 penosas passagens do rio Ceará-Mirim até
Boa Água, como se projetou na Lei Provincial nº 51 de 29 de outubro de 1840,
ou, atravessando o rio Ceará-Mirim, no Itaipú, iria por Lagoa das Pedras e
Matão do mesmo sitio Boa Água, donde seguiria para o Assu, dividindo-se na
Fazenda Santa Cruz para a comarca da Maioridade, e cidade da Imperatriz,
tocando em Santana do Matos e Campo Grande.
Da
cidade do Assu poderia esta estrada prolongar-se por Mossoró até o Ceará, em
direção ao Aracati. Só com o auxilio do Estado poderia correr estas grandes artérias
da riqueza e da indústria da Província. O presidente da Província não perdia a esperança de que assim se realize
(FALA...,1849, p.18).
Em 1850 é citada a construção de uma estrada ligando a sede
municipal de Estremoz a povoação de Taipu.
Conforme relatório da secretaria da tesouraria de fazenda da
província do Rio Grande do Norte de 21/04/1850 consta o seguinte termo:
Certifico
que em todos os períodos mencionados na petição do suplicante, que quando
haviam empregados nos serviços da estrada de Estremoz a Taipú cento e cinquenta
e três operários, quer quando existiam oitenta, quer quando finalmente
quarenta, sempre foram contemplados nas folhas apresentadas nesta tesouraria
pelo coronel André de Paiva Ferreira de Albuquerque, administrador da referida
estrada, dois bois alugados diariamente para condução da água para os
jornaleiros, sem que jamais houvesse alteração para menos, quando diminuíram os
números daqueles jornaleiros, quase metade e quarta parte. Certifico mais que
sendo o dito coronel dispensado das sobredita administração pelo falecido
presidente Dr. José Pereira de Araújo Neves, foi novamente nomeado para
idêntico serviço pelo atual vice-presidente João Carlos Wanderley. Certifico
finalmente que durante a primeira administração não recebeu o dito coronel gratificação
alguma pelos cofres públicos, servindo gratuitamente, mas que na segunda, de que
esta presentemente encarregado, tem recebido a dez mil e seiscentos rés
diariamente, arbitrada pelo atual vice-presidente João Carlos Wanderley. E para
constar onde convier, fiz passar a presente observância do despacho dito. Secretaria
da tesouraria de fazenda da província do Rio Grande do Norte, 21 de abril de
1850. Servindo de oficial maior, Mafaldo Joaquim de Melo (JORNAL DO COMÉRCIO, 09/07/1850,
p.3).
Do
exposto a cima fica-se sabendo então que a estrada tinha em sua construção 150
operários inicialmente, depois 80 e finalmente 40 e estando a mesma sob a
administração do coronel André de Paiva Ferreira de Albuquerque.
Por
conta do crédito concedido no exercício do ano de 1850 pelo Ministério do
Império para esta verba, e em virtude da autorização dada no Aviso de 18 de
maio daquele ano, o presidente da província Bevenuto Augusto de Magalhães
Taques mandou encetar a abertura da estrada do Norte, que levava a direção à
Cidade do Aracati, da Província do Ceará, passando pela Cidade do Assu.
Deu ele as necessárias instruções para abertura desta
estrada em continuação ao aterro do Salgado até Estremoz, e desta Vila à
passagem do Itaipú[1]
no rio Ceará-Mirim, e daí ao sitio Boa Água, evitando-se as 32 passagens do
mesmo rio pela estrada atual.
Segundo o presidente da província, o coronel André de Paiva
Pereira de Albuquerque foi encarregado desta obra, “que tem seguido com alguma
morosidade” (CORREIO DA TARDE, 16/01/1850, p.2).
Do relatório que apresentou ao seu sucessor na presidência o
Sr. Bevenuto Augusto de Magalhães Taques consta que abriu-se a picada entre a
Vila de Estremoz e Itaipú, e começou a abertura e destacamento da estrada com a
largura de 30 palmos.
Perceba-se que já havia uma estrada na qual havia 32
passagens pelo rio, cremos nós seja a antiga estrada que levava ao sertão por
onde passou o historiador e naturalista inglês Henri Koster em 1808 em direção
a Assu e a dali ao Ceará. Esta nova estrada de 1850 evitava-se a 32 passagens,
ou seja, foi feita a correção do traçado para se evitar as inúmeras passagens
pelo rio Ceará-Mirim.
O relato a cima é importante, pois revela a presença da
povoação do
Taipu no município de Estremoz cuja sede municipal era a vila que é a atual
cidade de Estremoz. A povoação de Boca da Mata, que mais tarde seria a vila de
Ceará-Mirim não passava de uma incipiente povoação pouco expressiva e quase
ignorada nos relatórios da província.
Aspectos da vila de Estremoz em 1938. |
[1] No mesmo relatório se cita “Taipú” e “Itaipú” tratando-se do mesmo lugar que é o atual Taipu. No tocante a Estremoz, segundo Câmara Cascudo o topônimo se grafa com S e não com X, pois o mesmo deriva da vila de Estremoz em Portugal e como tal deve ser assim grafado.
Caro João, essa postagem traz um importantíssimo registro da nossa história; povoação em Taipu em 1950; Resgata o Coronel André de Paiva Ferreira de Albuquerque, nome importante na genealogia da família Paiva, de Taipu (Paiva Ferreira - provável parente do Padre Fidelis de Paiva Ferreira); a abertura da estrada ligando Taipu a Estremoz, provavelmente na picada a qual Câmara Cascudo fez referência como rota para os "Correios", em 1817.
ResponderExcluirE você, meu caro João, garimpado essas preciosidades da nossa história! Parabéns!
Grato caríssimo Arnaldo.
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