Prolegômenos
De
14/06/1910 a 12/12/1912 foram inspecionados pela Inspetoria Agrícola do 4º Distrito
todos os municípios do Estado do Rio Grande do Norte. Força maior e estranha a
este serviço tinha impedido a publicação oportuna destes questionários, dos
quais era o quinto a ser publicado, cuja impressão só ocorreu em 1913.
Os
questionários eram padronizados em ordem alfabética para todos os municípios. O
município de Taipu foi inspecionado em 1912, do qual resultaram os seguintes dados.
A
ordem dos questionários da Inspetoria Agrícola do 4º Distrito foi mantida por
nós e estão em negrito, já as respostas foram atualizadas conforme a ortografia
gramatical corrente e acrescidas em alguns momentos de algumas revisões a parte
por consideramos necessárias.
Onde
houver a presença de aspas as respostas foram mantidas tal e qual no referido questionário.
No mais segue a resposta da inspeção ao município de Taipu.
Agricultores:
as condições econômicas foram consideradas regulares nos anos de produção e precária
nos anos de seca. Os agricultores e criadores pagavam o dízimo sobre a produção
agrícola e pastoril. A maior queixa dos agricultores era dos estragos causados
pelas lagartas, formigas e outras pragas, da falta de chuvas, água potável e
braços (trabalhadores). Os criadores queixavam-se da falta de melhoramentos do
gado e meios de curar as pragas.Não foi registrado nenhum estrangeiro no município.
Águas
superficiais: rio Ceará-Mirim, “não é permanente”. Não há
lagoas[1].
Árvores
frutíferas: Havia apenas pés de laranjeiras, pinheiras
ou ateiras e cajueiros.
Alimentação
população: Alimentava-se bem de carne, farinha, rapadura, etc.
Campos
e pastos: Capim mimoso, milho e de galinha. Havia campos ervados.
Culturas:
Algodão, mandioca, milho e feijão, ainda a cultura algodoeira a mais
importante.
Colheita:
não havia no geral beneficiamento de colheitas, estas eram vendidas sem beneficiar.
Em 1909 não houve colheita devido a seca, sendo a de 1910 muito pequena. Não
havia cultura do café.
Cereais,
etc.: Ignorava-se o custo de produção de 1 litro de cereal,
pois não havia registro sobre. O preço de venda era o seguinte: milho: 100 réis
o litro, feijão 120 réis o quilo. O mercado comprador era o local, havendo uma feira aos sábados. O preço de
transporte quando não era feito pelo produtor era de 10 a 20 réis o litro/quilo
aproximadamente.
Cana
de açúcar e seus produtos: O quilo de açúcar de primeira custava
750 réis. Uma rapadura de meio quilo custava 120 réis. Um litro de aguardente
custava 500 réis.
Cooperativas: não havia.
Calor
e frio (temperaturas): o calor começava em outubro e o tempo
fresco em maio.
Chuvas:
começavam
ordinariamente em março.
Condições
de saúde da população: Foi descrita como “fortes e corados”.
Contabilidade:
não havia registros.
Criação
do município: havia a presença de bovídeos (bois),
equinos (cavalos), ovideos e suideos (aves e porcos), sendo a de maior importância
a criação de bovídeos e ovideos. No tocante as características da criação constava
que: de bovídeos: mestiços comuns.Equídeos, ovideos e suideos: comuns.Os
produtos extraídos dessas criações eram: carne, couro, crias e leite, sendo a
carne e os couros os mais procurados.
Custo
de criação: um cavalo de sela custava 350$000; de carga
80$000 a 100$000, um burro de sela 400$000 a 450$000, de carga 200$000; não
havia animais de arado. Um boi carreiro custava 100$000, de corte de 80$000 a
100$000, touro não tinha preço fico.Um vaca leiteira produzindo de 2 a 3 litros de leite, em média custava de 80$000
a 100$000, um litro de leite custava 100 réis.
Carnes
e toucinho: o quilo de carne seca custava 1$000 (“é
raro haver carne fresca para negócio”). O quilo de toucinho custava 1$000. O
quilo de manteiga custava 1$500, de queijo 1$000. Uma galinha custava 1$000, a
dúzia de ovos 400 réis.As moléstias registradas na criação eram: tristeza, carbúnculo
sintomático e catarro nasal, no geral não vinha sendo tratada.
Custo
de tecidos: O preço dos tecidos era de 700 a 800 réis.
Estradas
e pontes: A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte
cortava o município. Há caminhos descurados e sem pontes[2].
Exportação
e importação: exportava algodão principalmente e
importava tecidos, ferragens, etc., e cereais nos anos de seca.
Escolas:
havia escolas primárias.
Fábricas:
não havia.
Farinha
de mandioca e feijão: o preço de venda do quilo[3] de farinha de mandioca e
de feijão era muito variável, aquele ano de 1912 era de 120 réis o quilo.
Hipotecas:
Não havia imóveis hipotecados.
Habitações:
foram consideradas salubres apesar de rústicas.
Instrumentos
agrícolas: constava de enxadas, foice e machados.
Juros: os
agricultores não retiravam dinheiro a juros.
Madeira
de lei: constava de Pau d’Arco, Pau d’Óleo, Sucupira e Jataí.
Minas: não
havia.
Moléstias
da população e plantas cultivadas: havia as comuns[4]·. Já as pragas das plantas
cultivadas eram as formigas e lagartas.
Núcleos
coloniais: não havia.
Operosidade
da população: o questionário registrou “gente laboriosa”.
Padrões
de terras boas e inferiores: Pau d’Arco, aroeiras,
cedro, etc. Já as de terras inferiores eram: Marmeleiro, catingueira, etc.
Portos:
não havia.
Sementes: não
havia escolhas de sementes.
Semeadura: A
semeadura era realizada em covas. Começavam os agricultores a semear depois das
primeiras chuvas.
Sistema
de trabalho do pessoal agrícola: salários diários, mensais,
empreitadas e meação.
Salários: um
trabalhador rural ganhava 1$000 diários, administradores e escrivão de fazenda
não havia.Um carpinteiro ganhava de 2$000 a 5$000 diários. Não havia preço
determinado para cozinheiros e lavadeiras, estas cobravam por peça e os
cozinheiros segundo o serviço. Os salários eram pagos diariamente.
Terras:
(qualidades):
foram consideradas boas, à margem do rio Ceará-Mirim, regulares à margem dos
riachos, inferiores nos tabuleiros. Existiam poucas terras argilosas e alguns
tabuleiros de arenosas, por serem na maioria misturadas. Geralmente eram planas
e secas. Havia campos, capoeiras, cerrados e carrancos. Não havia matas
(florestas).O preço era muito variável, sendo relativamente ínfimo.
Em nota o questionário registrou que Taipu era um município como
um prolongamento do de Ceará-Mirim, do qual distava 4 léguas (cerca de 20 km)
ocupando uma e outra margem do rio Ceará-Mirim, tendo, em alguns lugares, mais
ou menos, as mesmas terras, as mesmas culturas (exceto a de cana de açúcar,
porque o terreno era quase todo ele seco), os mesmos costumes e sistemas de
trabalho.
A vila de Taipu foi classificada como “um lugarejo sem vida
com poucas casas e pouco negócio”.
O município possuía algumas escolas públicas e particulares
funcionando regulamente durante os meses de verão.
Os agricultores de Taipu foram considerados como muito
atrasados, porém, trabalhadores. As habitações eram em geral sem conforto. O
clima foi considerado excelente e muito seco. A população alimentava-se de
carne, farinha, rapadura e café nas refeições. Todos trabalhavam e havia a
falta de braços porque nos anos de seca, flagelo, o povo pobre emigrava para o
Pará e Amazonas.
Devido as águas estagnadas que no inverno ajuntavam-se nos
barreiros e lagoas e que a população bebia para evitar a água salobra das
cacimbas do leito do rio Ceará-Mirim apareciam as vezes moléstias diversas.
Taipu era periodicamente assolado pelas secas.
As terras das margens do rio Ceará-Mirim produziam
admiravelmente o algodão, cuja safra nos anos de inverno haviam a 7.000 sacas
que eram beneficiadas em vários locomoveis e bolandeiras movidas a animais. Era
essa a única cultura digna de consideração e que constituía a exportação do município.
As terras as margens do rio Ceará-Mirim, as várzeas de
massapê, onde se cultivava o algodão, eram poucas em relação as outras, e por
isso tinha alcançado certo valor, 50$000 por braça, com fundos de meia e uma
légua, embora fosse uso avaliar a propriedade em globo.
As várzeas de terra boa tinham de 100 a 200 braças de largura.
AS terras dos ariscos e tabuleiros, pouco valor tinham.
Nossas
considerações finais
Esse questionário e suas respostas revelam as características
agrícolas, econômicas e socais do município de Taipu no inicio do século XX,
tendo assim importância significativa para a reconstrução histórica e a memória
do município de Taipu.
Fonte: REPÚBLICA
DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. Questionários
sobre as condições da agricultura dos municípios do Estado do Rio Grande do Norte.
Inspetoria Agrícola do 4º Distrito. Inspecionados de 14 de junho de 1910 a
12 de dezembro de 1912. Rio de Janeiro: Tipografia do Serviço de Estatística,
1913.
[1] Há um erro na resposta desse quesito, pois, como se sabe o rio Ceará-Mirim é perene mesmo em tempos de seca. Já no tocante a presença de lagoas existia sim várias lagoas no município, contudo sem serventia e não piscosas.
[2] A falta de pontes era relação a estradas rodoviárias, pois havia ao menos duas pontes ferroviárias no município, que eram o pontilhão sobre o rio Gameleira, afluente do rio Ceará-Mirim na Passagem Funda com 8 metros de extensão construída em estrutura metálica e concreto rústico e a ponte do Umari com 200 metros de extensão em estrutura metálica de 5 vãos de 50 metros cada. Àquela inaugurada em novembro de 1907 e esta em agosto de 1909.O questionário omitiu ou não teve conhecimento dessas estruturas. Além delas havia inúmeros bueiros construídos ao longo da ferrovia muitos em concreto armado rústico ou trabalhados.
[3] O questionário citou “um litro” obviamente em se tratando de farinha a medida usada é o quilo.
[4] Não foi detalhada quais seriam as ‘comuns’.
No inicio do século 20,uma familia taipuense e norte-riograndense possuindo e morando em uma casa com paredes simples de tijolos e chão batido,tendo alimento diario;bebida e comida na mesa e remedios para as enfermidades era um luxo naquele tempo até mesmo em Natal a capital do estado do RN.
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