Jean
Mermoz foi um aviador francês que fazia a travessia do Oceano Atlântico a
serviço da empresa Aeropostale que mantinha um escritório as margens do rio
Potengi em Natal como base para distribuição de correspondências que eram
expedidas para América do Sul.
Jean
Mermoz foi um personagem bastante conhecido da capital potiguar na década de
1930 e em Natal há uma escola no bairro do Bom Pastor que lhe homenageia.
O
relato a seguir é sobre a travessia feita por Jean Mermoz e seu dois
companheiros de voo entre São Luis do Senegal e Natal em 1930.
Jean Mermoz
Jean Dabry, o único sobrevivente
relembra as horas dramáticas no inferno de Pot-Au-Noir
Quando,
as 8 horas da manhã de 13 de maio de 1930, pusemos os pés em Natal, vindos de
São Luiz do Senegal, de onde partimos as 11 horas do dia 12, havíamos realizados
uma dupla façanha que nos enchia de orgulho: a primeira travessia postal do
Atlântico Sul e o recorde mundial, por hidroavião, de distancias em linha reta,
até então em poder dos americanos.
Finalidade da travessia
Mermoz,
Dabry e Gimié trabalhavam para a Compagnie Generale Aéropostale que desde 1 de
março de 1928, mantinha serviços postais entre Tolosa e Buenos Aires.
A travessia do Atlântico, porém, era
feita em pequenos navios.Mermoz resolveu realizar todo o trajeto por via área ,
atendendo, assim com grande destemor, aos desejos da empresa.Os 3.137 km de
distancia entre São Luiz (Senegal) e Natal foram cobertos em 21 horas e 10
minutos.Nesse voo o “comte De La Vauix” trouxe
130 kg de correspondências.
Horas dramáticas no ‘pot–au-noir’
Dabry
disse ao repórter que um dos momentos mais emocionantes da travessia foi
transpor o ‘pot-au-noir’, a grande muralha de nuvens negras e espessas que
impede todas a visibilidade em pleno voo.
-Quando
nos aproximamos do ‘pot-au-noir’, disse Dabry, avisei Mermoz.Lembro-me de que ,
momentos depois, o rádio de bordo recebia uma mensagem no limiar da misteriosa
parede negra do pot-au-noir.Mermoz, por alguns instantes, largou o comando e o
vi com os olhos marejados de lágrimas.Mas logo as lagrimas se dissiparam e
Mermoz se preparou para transpor o grande obstáculo.Foram horas dramáticas.Quando
em criança imaginava cavernas malditas de feiticeros, não passava pela mente
imagem mais funesta do que a linha sob as vistas.Tinhamos a impressão de estar
navegando no caos primitivo.No seio desse universo obscuro, distiguiamos
grossas counas de chuva e vultos gigantescos que ora nos pareciam castelos, ora
nos pareciam animais pré-históricos turbilhando a nossa frente num movimento
atordoante.Em dado momento, Mermoz, meio sufocado pôs a cabeça par afora da
cabine a procura de ar ouro.Um jato de vapor atingiu-lhe os olhos, deixando-o de
sustentar com firmeza o comando.Depois de mais de três horas,vimos um prodígio.a
lua cheia, em todo seu resplendor, banhava com a sua luz o céu e o mar.Passara
o perigo.
O fim do “Comte de La Vauix”
Dabry
ressaltou também a bravura de Mermoz no naufrágio do Comte de La Vauix.Na volta
do aparelho, foi tal o mau tempo que se fez necessária uma amerissagem forçada
de Mermos. Quando tocou na superfície do oceano,uma baleeira do Phocée já estava
perto.Toda a correspondência foi salva.E já nos estávamos afastando do loca,
prosseguiu, quando Mermoz de um salto voltou, ao avião.fora desligar o motor.Só
então é que voltou para a baleeira, contemplando pesarosamente o fim do Comte
de La Vauix, que afundava docemente.
O
avião monoplano de flutuadores Latecoere 28, pesava mais de 50 toneladas e era
movido por um motor de 50 cv.Havia deixado Sanit Louis do Senegal as 11 horas e
pela madrugada do dia 13 sobrevoava as ilhas São Paulo e Fernando de Noronha.A
chegada a costa brasileira, a 13 de maio, de manhã cedo, é uma pagina clássica de
Mermoz.
- Diante de mim- escreveu ele em “Mês Vols”-
na linha do horizonte, destacou-se lentamente um rochedo.Reconheci a ponta de
São Roque.Fiquei pasmado, o estomago se contraiu e senti uma pancada no coração.
Julguei que o meu espírito se desprendia do corpo e não tive mais controle dos
meus movimentos. O aparecimento de terra depois de ter sulcado o oceano me deslumbrou.
Foi um minuto emocionante, o grnade minuto de nossa viagem.Soltei um grito e Dabry
e Gimie acorreram.Não abri a boca.Dabry exclamou: São Roque.Num mesmo ímpeto, estritamente solidários,
sentimos a força da nossa colaboração e experimentamos a mesmo embriaguez, a da
vitória.Natal estava sob nós e fiz uma curva ao cabo de um instante e ‘piquei’
para a base da Aeropostale instalada as margens do rio Potengui [sic].
Avião Latecoere 28 Comte de La Vauix
Foi num avião desse modelo que Jean Mermoz fez a travessia do Oceano Atlântico em 1930 |
Mermoz desapareceu no Atlantico a 7 de dezembro de 1936.O radio-operador Gimie, que o acompanhava na travessia com o navegador Jean Dabry, caiu em serviço aéreo na África do Norte, a 13 de janeiro de 1949.
Fonte:
Revista Motor, Rio de Janeiro, 1957, p.6.
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