quinta-feira, 16 de setembro de 2021

SOBRE OBRAS NA MATRIZ DE CEARÁ-MIRIM EM 1892


         De acordo com o jornal O Nortista achava-se em trabalho no serviço da capela-mor da matriz de Ceará-Mirim, o pintor e dourador Manoel Adolfo d silva Ramos, que a convite do vigário da freguesia foi até a cidade de Ceará-Mirim e com o vigário empreitou algumas obras na referida igreja sob orientação dada pelo engenheiro David Wiliams, por 4 contos de réis, cujos serviços a fazer constavam do seguinte  (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3):

         Douramento da capela-mor com todos os frisos dourados amordente fusco, branco a verniz a imitação de porcelana, começando do teto frisos dourados, como frisos azuis celeste – o centro do forro branco fingindo a estuque e nele a efígie da Padroeira  Nossa Senhora da Conceição pintada sobre zinco.

         Descendo a cornija, fingindo mármore roxo quase branco, acompanhando todas as tribunas, travessas e arco-mor da mesma cor, sendo os pedestais em mármore escuro, secundando outra vez de cima uma sanefa debaixo da cornija ultramarino ou fingindo damasco amarelo de Nanquim cor de ouro, sendo o centro roxo rei claro, chegando até as barras paralelas que seriam de quadros vivos, fingindo a mármore de diversas cores preso a uns cordéis, e os vidros das tribunas fingindo mosaico e os de entre os nichos da mesma capela-mor do lado dos caixilhos bordado a pincel, os da frente branco limpo, dos lados do nicho do centro quatro anjos em adoração à Custódia, sendo dois de cada lado. Pintura a óleo fino. As portas e tribunas de verde-azul ultramarino, quase branco. Grades de ferro com douramento para as tribunas e arco-mor da mesma capela e nesta ladrilho de tijolo mosaico fino.

         Segundo o mesmo jornal o vigário de Ceará-Mirim, Pe. Antonio Antunes de Oliveira e o tenente-coronel José Antunes de Oliveira estavam empenhados pelo fim das obras da matriz e seu aformoseamento, onde os mesmos fizeram as torres e o frontispício da igreja, sendo as torres descritas pelo mesmo jornal como “elegantes e salientes de que avistadas ao longe  a tudo sobressaem”, e continuavam com gosto no trabalho da frente mesma matriz. (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

         Ainda de acordo com o jornal citado o vigário trabalhava como empenho, zelo e eficácia, para ver concluído todo o trabalho da matriz, para o que já não só havia saído a pedir auxílios aos senhores de engenho da cidade de Ceará-Mirim e de Maxaranguape, dos quais recebeu assinaturas e espórtulas que chegaram a mais de 3:000$000 de réis; além disso estava elevando sua voz  na tribuna sagrada chamando a todos os seus paroquianos para concorrerem com suas esmolas e mostrando-lhes o dever que haviam de cooperarem para o sagrado fim, e para que chegassem ao conhecimento de todos, este dever e o seu apelo (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

O autor do texto (que se assinou como ‘um paroquiano’) recorria a imprensa para que fosse publicado o plano do vigário na esperança que os paroquianos não se olvidassem o auxilio necessário para aquela obra a qual "enobreceria a Religião e que seria elevado ao  Trono de Deus onde se receberia a única e verdadeira recompensa". (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

          Ao longo do tempo a igreja matriz de Ceará-Mirim passou por inúmeras intervenções que pouca coisa ou quase nada mais remete a esta primeira obra de aformoseamento dessa igreja.

         Ainda em 1896 a matriz de Ceará-Mirim estava em inacabada, mas mesmo assim o bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, nela fez visita pastoral e em julho daquele mesmo ano, o referido bispo transferiu a matriz para a capela da povoação de Taipu permanecendo lá até agosto de 1897. 

            A matriz de Ceará-Mirim só foi finalmente concluída em 1900, tendo suas obras se iniciado em 1861, portanto, 49 anos.


Detalhe da fachada da igreja matriz de Ceará-Mirim


Aspecto da capela-mor da matriz de Ceará-Mirim

Aspecto de uma capela lateral da matriz de Ceará-Mirim


Detalhe de um púlpito lateral da matriz de Ceará-Mirim.

Detalhe do teto da matriz de Ceará-Mirim e seus afrescos

Aspectos internos da matriz de Ceará-Mirim.

Aspectos internos da matriz de Ceará-Mirim.

Detalhes das torres da igreja matriz de Ceará-Mirim.


Aspectos externos da matriz de Ceará-Mirim.


sexta-feira, 27 de agosto de 2021

MANIFESTAÇÃO POLITICA EM BAIXA VERDE EM 1898


Segundo o jornal A República foi marcado para o dia 15/02/1898 uma reunião politica com a presença do chefe republicano, o coronel Felismino do Rego Dantas, na povoação de Baixa Verde, onde dispunha de todo o eleitorado que era leal e dedicado.

O coronel Felismino Dantas de fato ali chegou, quando esperavam ansiosos todos os seus amigos ali residentes fazendo naquela povoação uma entrada triunfante "porque o acompanhava crescidíssimo número de cavalheiros". Antes de chegarem a Baixa Verde foi se incorporando a cavalgada que já era bastante crescida desde a vila do Taiu, por onde passou aquele chefe politico, grupos de 6, 8 e mais cavalheiros.

As 09h00 da manhã do dia 16/02/1898 quando ali chegou ouviram-se nos ares girandolas de foguetes, ao mesmo tempo que dentre a multidão se ouviam estrepitosos vivas à democracia brasileira, ao senador Pedro Velho, ao Governador do Estado e ao coronel Felismino Dantas.

Houve um jantar para mais de 100 pessoas, inclusive senhoras.

À noite daquele mesmo dia houve animadíssima soireé, que se prolongou até as 05h00 da manhã, "reinando sempre a melhor ordem, e divisando-se nos semblantes dos circundantes grande júbilo e satisfação que lhes proporcionava aquela reunião de sinceros republicanos".

Desde a chegada do coronel Felismino Dantas até sua partida no dia seguinte à tarde "foguetes e girandolas fendiam os ares quase constantemente".

À hora da partida viu-se o chefe republicano da região sendo festejado por grande número de amigos, que o acompanharam até a grande distância donde então voltaram a seus lares, depois de darem-lhe o abraço de despedida e lhe assegurarem mais uma vez o seu apoio ao partido chefiado pelo mesmo coronel,  "o qual, pela sua boa orientação politica, traz arregimentado sob sua bandeira um partido invencível" ( A REPÚBLICA, 26/02/1898, p.2).

É uma das mais antigas, se não o primeiro, comício realizado no Mato Grande já registrado.

         Além de chefe do partido republicano na região do rio Ceará-Mirim, o coronel Felismino Dantas foi intendente do município homônimo.

Coronel Felismino Dantas.


O CINEMATÓGRAFO EM NATAL


"Dessa bela novidade

fui à primeira função,

E saí pensado mesmo

Ser aquilo arte do cão!"

A epigrafe a cima foi assinada por um certo Lulu Capeta e registrado no jornal A República em 19/04/1898 para se referir a novidade do cinema em Natal, à época chamado de cinematógrafo.

De fato era novidade a exibição de cenas em movimento visto ter sido a invenção dos irmãos Lumiere aparecido em 1895.

Uma visão mais otimista que a de Lulu Capeta do cinematógrafo foi exibida no mesmo jornal, segundo o qual:

"Sábado à noite o Sr. Nicolau Parente fez uma excelente exibição do cinematógrafo - mais uma das grandes aplicações da eletricidade, devida ao grande gênio de Edison. O trabalho agradou bastante e é uma das melhores diversões que temos gozado nesta capital".

Ainda de acordo com o citado jornal foram exibidas naquele sábado cenas do Jubileu da rainha Vitória, "onde viam-se todos os movimentos do grande cortejo", os Banhos da Alvorada, a Catedral de Milão, o Casamento do Príncipe de Nápoles, o Panorama de Veneza, a Chegada em Gondolas, a Comida aos Pombos na Praça São Marcos e a Chegada do Trem.

Sobre a exibição desses filmes escreveu o jornalista de A República: É de notar a naturalidade com que são apresentadas todas as cenas, dando a ilusão do natural. Os 'Banhos da Alvorada', sobretudo, merecem os favores do público distinguindo-se perfeitamente os gestos dos banhistas e os salpicos d'água".

De acordo ainda com o jornal citado o Sr. Parente pretendia demora-se na capital potiguar, exibindo muitas outras cenas do cinematógrafo, no entanto os filmes seriam sempre os mesmos, ou seja o jubileu da Rainha Vitória, os Banhos da Alvorada e a Chegada do trem, apesar de prometer nos dias seguintes serem mais variados.

"O público ficará agradavelmente e surpreendido com as aplicações do cinematógrafo, e é de esperar que proporcione extraordinárias enchentes à excelentes distração de que nos vimos ocupando" escreveu o jornalista do jornal citado (A REPÚBLICA, 19/04/1898, p.1).





Recortes do anúncio de exibição do cinematógrafo em Natal.
Fonte: A República, 19/04/1898, p.1.

No dia 26/04/1898 o jornal A República voltou a se ocupar da novidade do cinematógrafo em Natal, onde escreveu: "conforme estava anunciado o Sr. Nicola Maria Parente, sábado à noite, exibiu novas e interessantes vistas no 'Cinematógrafo', satisfazendo, como sempre, às exigências do público desta capital, sequioso de diversões agradáveis de um povo civilizado"( A REPÚBLICA, 26/04/1898, p.2).

Dentre as cenas exibidas salientou o jornal citado a naturalidade admirável da cena "os jogadores de cartas" e o "homem cão". Entretanto, o que mais mais surpreendeu, de acordo com o mesmo jornal, foi o final do quadro "banhos da alvorada" em que "naturalmente por uma inversão das fotografias ou do aparelho projetor, os banhistas que atiravam-se à água tornavam a ascender como impelidos por uma mola, dando cambalhotas no ar e indo cair precisamente nas extremidades dos trampolins que tinham servido para lhes darem impulso no primitivo salto. É o caso de dizermos: digam os sábios da escritura, que segredos são esses da natura" ( A REPÚBLICA, 26/04/1898, p.2).Eis, então, a mais antiga, se não a primeira, descrição de um filme cinematográfico e sua critica feita em Natal.

De acordo com o mesmo jornal a exibição dos filmes naquele dia atraiu bastantes pessoas tendo o jornalista usado a expressão "a enchente foi completa"  para indicar que o o local das exibições estava lotado.

Se prometia novas exibições no dia seguinte.

O cinematógrafo foi uma invenção dos irmãos Louis e Auguste Lumiere o qual o patentearam em 13/02/1895.

O aperfeiçoamento capital introduzido nesse aparelho foi o de substituir e desenrolar continuamente a película por um movimento descontinuo, cortado de interrupções regulares, que permitia uma maior duração da iluminação, 1/24 de segundos para 16 imagens por segundo, ao invés de 1/6.000 do Kinetoscopia de Edison.

Dos filmes listados a cima que foram os primeiros a serem exibidos em Natal encontramos apenas a chegada do trem na estação que é o primeiro filme de cinema a ser produzido em 1895.O link desse filme está a baixo.

https://www.youtube.com/watch?v=LWwYhG4UW8E


A INAUGURAÇÃO DA IGREJA EVANGÉLICA DE NATAL

      De acordo com o jornal A República no dia 03/09/1898, um sábado a tarde, foi inaugurada na capital potiguar, perante a presença de fiéis e assistência de convidados, o tempo da Igreja Evangélica, edifício sólido e elegante, ainda não acabado totalmente.

O ato foi solene e começou por um hino religioso, seguindo-se uma invocação pelo ministro Wiliam Porter, ouvida de pé pelos presentes, a exceção de um outro hino, explicação de um trecho da bíblia sobre a importância dos templos e o ato propriamente da inauguração, que constituiu-se em uma ata de assinaturas pessoas presentes, a qual foi encerrada em uma caixa de madeira onde também se depositaram uma bíblia, livros religiosos, e jornais, sendo tudo enterrado sob uma pedra de mármore na entrada do edifício.

Por ocasião da inauguração se fizeram discursos análogos ao ato o Dr. Diógenes Nobrega e o capitão João Ferreira Nobre, tocando as músicas a banda de música do Batalhão de Segurança o hino nacional (A REPÚBLICA, 07/09/1898, p.1).Por equivoco de paginação a noticia deixou de ser publicada na edição do dia anterior, ou seja, no dia 06/09/1898.

Penso, salvo engano, tratar-se da Igreja Presbiteriana de Natal localizada no largo da Av. Junqueira Aires, por trás da prefeitura de Natal.





quarta-feira, 25 de agosto de 2021

SOBRE TAIPU ENTRE 1894 E 1896

 

A seguir apresentamos algumas notas que configuram um achado precioso para a compreensão da história do município de Taipu em seus primeiros anos como município autônomo.

A desobstrução da estrada pública de Taipu

De acordo com o jornal A República em 12/05/1894 foi remetido o oficio nº 736  do governo do Estado recomendando que colocasse a disposição da Intendência do Taipu, por conta da verba das obras públicas e por intermédio da coletoria do Ceará-Mirim, a quantia de 300$00 (trezentos réis), destinados à desobstrução da estrada pública que comunicava a vila de Taipu com a cidade de Ceará-Mirim (A REPÚBLICA, 12/05/1894, p.1).

A referida estrada é a atual estrada municipal do Juamirim passando pela Gameleira indo ter em Itapassaroca e a cidade de Ceará-Mirim.

Coleção de leis municipais

Já no dia 11/08/1894 foi lida no expediente da sessão anterior do Congresso Estadual a coleção de leis e resoluções da Intendência Municipal de Taipu indo as mesmas à comissão de negócios municipais (A REPÚBLICA, 11/08/1894, p.2).

Nada mais foi encontrado sobre essa coleção de leis municipais de Taipu.

Alteração de limites e terras devolutas

No dia 08/09/1894 foi apresentada em sessão do Congressão Estadual uma petição da Intendência Municipal de Taipu requerendo a alteração dos limites do respectivo município segundo as bases que o mesmo oferecia. A referida petição foi a comissão de estatísticas.

Outra petição da mesma intendência solicitava do Congresso Estadual permissão para tributar as terras públicas do Estado que se achavam dentro do município, indo esta petição a comissão de fazenda (A REPÚBLICA, 08/09/1894, p.2).

Nada mais foi encontrado sobre essa alteração dos limites municipais.

Mudança toponímica

Mas, mais interessante por nós encontrado nos alfarrábios do jornal A República foi o registro do ofício da intendência municipal de Taipu comunicando ter mudado o nome de Vila de Taipu para vila do Livramento. A comunicação a comunicação  foi a comissão de constituição e poderes (A REPÚBLICA, 08/09/1894, p.2).

Como visto a cima, intendência municipal havia aprovado a mudança toponímica e feito a comunicação ao Congresso Estadual para as devidas providências, de ratificar ou rejeitar a deliberação municipal. Não encontramos as decisões posteriores da comissão de constituição e poderes, mas como se sabe o nome do município não foi alterado visto que os relatórios oficiais do governo do Estado do anos subsequentes citam o município com o seu nome original.

Se na prática a lei votada pela intendência de Taipu não "vingou" temos o fato de que a devoção a padroeira do Taipu, Nossa Senhora do Livramento, estava já enraizada na cultura local a ponto de se aprovar a mudança toponímica para lhe homenagear.

Recorte do jornal A República onde consta ter sido mudado o nome da vila de Taipu.
Fonte: A República, 08/09/1894, p.2.

Assim, houve uma mudança toponímica oficializada pela intendência de Taipu  a qual ou não foi ratificada pelo Congresso Estadual ou se foi caiu em descrédito e não "vingou".

        Hoje já não se faz mais sentido haver mudança toponímica pois o nome Taipu já está consagrado, a menos que dê uma doidice na Câmara de Vereadores de Taipu e mude o nome do município para bajular algum politico ou qualquer outra figura de reputação duvidosa.

Nomeação de carcereiro

Em 25/10/1895 foi nomeado o cidadão Avelino Antônio dos Santos apra exercer o lugar de carcereiro da cadeia da Vila de Taipu (A REPÚBLICA, 25/10/1895, p.1).

Eleições municipais

Naquele ano de 1895 o município de Taipu era o único do Estado que não era distrito judiciário, portanto, não houve eleições para juízes, houve apenas para os membros da intendência em eleições realizadas em 15/11/1895 para o triênio 1896-1898.

Naquelas eleições foram eleitos para a intendência municipal de Taipu: Manoel Eugenio Pereira de Andrade, Henrique Basílio do Nascimento, Vicente Rodrigues da Câmara, Carlos Alberto Davino, Francisco Teixeira de Oliveira, João Gabriel Campo e Justino Caetano Leite (A REPÚBLICA, 15/12/1895, p.3).

Obras de açudagem

Em 10/09/1895 foi provado pelo Congresso Estadual uma verba para o governo do Estado usar em açudagem nos municípios do interior do Estado. Ao município de Taipu coube a quantia de 3.000$ (A REPÚBLICA, 10/09/1895, p.1).No mesmo dia foi apresentado o orçamento da intendência de Taipu que foi a comissão de negócios municipais para a aprovação (A REPÚBLICA, 10/08/1895, p.3).

Já em 1895 o referido jornal registrou que  tendo o cidadão José Vilela Cid celebrado um contrato no valor de R$ 2.500$00 para fazer os serviços de que precisava o açude público da vila de Taipu foi recomendado pelo governador ao inspetor do tesouro que fosse entregue ao referido contratante a quantia de 1.250$000 (A REPÚBLICA, 20/10/1895, p.2).

Em 05/01/1896 o jornal A República registrou que haviam sido concluídos os serviços da reconstrução do açude púbico da vila do Taipu pelo cidadão José Veloso Cid, conforme informação enviada pela comissão nomeada pelo governo do Estado ( A REPÚBLICA, 05/01/1896, p.2).

O governador recomendou que se entregasse a quantia de 1.250$ (um conto, duzentos e cinquenta mil réis) nos termos da cláusula I do respectivo contrato de serviços de reconstrução do referido açude.

Litigio entre Taipu e Jardim de Angicos

Em 07/08/1895 foi enviado ao jornal A República o protesto vindo da intendência de Taipu a respeito das alterações de limites entre Taipu e Jardim de Angicos, tendo sido o mesmo registrado na edição do dia 15/08/1895.

De acordo como citado protesto: " a nossa circunscrição territorial sofreu um esbulho, uma verdadeira amputação pelo Decreto que fixou os limites de Jardim de Angicos, quando esse antigo distrito de paz foi elevado a município. É o fato que acham-se injustamente na posse de um vasto trecho de terreno, fértil e bem povoado, compreendendo o arraial de Cauassú, que tanto pela situação geográfica como pelas conveniências administrativas devia pertencer-nos. Esse terreno que não tem menos de 25 quilômetros de extensão sobre outros tantos de largo, prolonga-se da barra da Milhã à ponta do serrote "Torreão", 2 e 1/2 quilômetros distante da nossa povoação de Baixa Verde. Constando-nos que o o Congresso cogita de resolver sobre as dúvidas e litígios que  frequentemente tornam contestáveis os limites intermunicipais, avivando e retificando os mesmos limites, parece azado ensejo de apresentar as nossas fundadas queixas, esperando justiça e remédio à iniqua divisória presentemente em vigor" A REPÚBLICA, 15/08/1895, p.4).

O autor do protesto assinou apenas desta forma: " S ...".

Sabemos agora que houve nas primeiras horas do município de Taipu litigios territoriais com os três municípios limítrofes, de Jardim de Angicos,  Ceará-Mirim e São Gonçalo. De Jardim de Angicos não encontramos maiores informações sobre as rusgas entre ambos municípios pela disputa do território do Cauassú, sabendo-se porém que o mesmo ao que parece foi ratificado no município de Jardim de Angicos, já com os outros dois municípios, as questões de limites foram resolvidas definitivamente por lei estadual em 1918.

     Com o município de Touros parece que sempre foi ponto pacífico os limites entre ambos, pois até o presente momento nada foi encontrado em que um dos dois questionasse as fronteiras de seus respectivos municípios.

Crônicas municipais

Em 1895 o governador do Estado havia recomendado as intendências municipais que enviassem a secretaria do governo os dados referentes aos respectivos municípios os quais deveriam constar de todas as informações possíveis a cerca da municipalidade, onde os referidos dados seriam publicados no jornal A República como uma espécie de crônicas dos municípios.

       De Taipu só encontramos o protesto a cima e os dados sobre os limites municipais que se seguem.

Os limites municipais de Taipu

Em 15/08/1895 foi apresentado no jornal A República uma descrição dos limites municipais de Taipu, segundo o qual: 

"O município de Taipu acha-se encravado entre os de Touros ao norte, Ceará-Mirim à leste, São Gonçalo ao sul e Jardim de Angicos a oeste. De Touros separa-se a corrente denominada "Riacho Seco"; do Ceará-Mirim uma linha que a partir da barra do referido Riacho ao norte, passa pela Lagoa do Mato, Barra do Cuité, Passagem das Pedras, Cruz do Salvador, Passagem do Riacho, seguindo por este a cima até o Poço do Juazeiro; de São Gonçalo uma linha que tendo por ponto de partida o referido Poço do Juazeiro, segue na direção do Poente, atravessando a Lagoa de São Joaquim a Ponta do serrote do Urubu, o tanque do Quetururé e a serra dos Macacos; de Jardim de Angicos a linha que partindo da Barra da Milhã, segue na direção sul-norte, passando pelo serrote Torreão em demando das fronteiras meridionais do municípios de Touros" (A REPÚBLICA, 15/08/1895, p.4).

O registro a cima ocorreu 4 anos após a criação do município, como não foi possível até o presente momento encontrar nenhuma informação sobre o ato de criação do município os quais constavam os respectivos limites municipais, deve-se crer que este é a mais antiga informação sobre o referido assunto e nelas podemos ter uma exata noção do tamanho do município de Taipu ao ser criado.

As obras do açude de Baixa Verde

Não encontramos os detalhes dos serviços que foram realizados na recuperação do açude da vila de Taipu, porém, o jornal A República registrou a inspeção que foi realizada na povoação de Baixa Verde onde também se estava realizando serviços de igual teor.

Segundo o jornal citado o inspetor designado para inspecionar os referidos serviços assim relatou sua visita a Baixa Verde:

"Chegando à povoação de Baixa Verde daquele nome, pertencente ao município de Taipu, verifiquei que se achava devidamente reconstruído, debaixo de boas cercas, que prometem a duração de 5 anos, o açude do sitio denominado Baixa Verde.

O serviço, a meu ver, e pelo que disseram todos os moradores do lugar, oferece seguras garantias de solidez e estabilidade.

Ali, sobre o velho açude, o empreiteiro contratante elevou as paredes primitivas, à altura de mais de 10 palmos, de sorte que ficou com uma barragem  de espessa camada de terra, de 80 braças de extensão, com 50 palmos de base e 25 de altura.

O sangradouro, obra nova, construído de pedra e cal, presta-se vantajosamente ao fim a que se destina. As cercas ocupam, em derredor do açude, um perímetro de mil braças em quadro.

Com quanto aquele açude não tivesse recebido água, no inverno deste ano passado, ocupa 150 braças d'água em seu leito, com 40  de largura e no purão como ali se diz ( A REPÚBLICA, 05/06/1896, p.1).

Ainda segundo o mesmo jornal o empreiteiro contratante dessa obra em Baixa Verde era Elias Cardoso.