terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A PRIMEIRA ENTREVISTA DE ALZIRA SORIANO


   Conhecida a notícia trazida pelos telégrafos, que a sra. Alzira Teixeira Soriano, havia sido eleita prefeita do município de Lajes, tornando-se assim, a primeira prefeita no Brasil, a imprensa local, regional e nacional repercutiu o fato.
   Alzira Soriano foi eleita nas eleições municipais que se realizaram em 02/09/1928, tendo sua primeira entrevista dada ao jornal local A Republica a qual os demais jornais reproduziram parte ou integra dessa entrevista.
     Como no Jornal Pequeno, do Recife (13/10/1928, p.1) que reproduziu parte da entrevista que a prefeita eleita deu n’A República seguinte entrevista publicada naquele jornal, a qual aqui reproduzimos[1]:
   Já aos meus 15 anos sonhava em poder participar diretamente da vida política. hoje com entusiasmo e com alegria, vejo concretizado o meu sonho, graças ao pulso firme do presidente [governador] Juvenal Lamartine, respondeu de inicio Alzira Soriano sobre sua entrada na vida política.
Não constitui, entretanto, para senhora uma grande inovação?
     Não. Não me é estranha a política. Meu pai foi sempre uma das primeiras figuras do nosso município desde a Republica. Das lições dele recebida formei o meu patrimônio moral. Durante todos os momentos principalmente os difíceis, acompanhei a atuação paterna, que sempre se manteve digna e forte.
Não acha os encargos políticos por demais espinhosos para mulheres?
      Certamente que não, quando conhece a política de observação diária, como eu conheço.
Diga-me, contudo, não lhe parecer incompatível com o casamento ou com a tranquilidade do lar?
      Pelo contrário. Casei-me aos 18 anos com Thomas Soriano de Souza, então promotor publico de Ceará-Mirim. Nunca deixei de colaborar com ele estreitamente em todas as lutas em que se viu empenhado, e nas quais, devido ao nosso procedimento reto e elevado, sempre conseguimos vencer. E esta colaboração estreita jamais impediu que dispensasse todo carinho as três filhinhas que tive a ventura de ter. São o meu maior consolo, pelo rude golpe que sofri com a morte prematura do meu esposo. Mas, com estoicismo e confiante em Deus e nas minhas próprias energias tenho conseguido até hoje educa-las condignamente.
    A luta é prazer para os fortes; por isto, tenho vencido e hei de vencer. O meu exemplo prático destrói cabalmente os comentários suscitados em torno da questão feminista. A mulher pode ser mãe e esposa amantíssima e, ao mesmo tempo, oferecer a pátria uma boa parcela das suas energias cívicas e morais.
Como foi recebida no Rio Grande do Norte a sua eleição?
   Muito bem. Ufano-me em considerar o Rio Grande do Norte um Estado característico pela aceitação das correntes liberais da época. Aqui se praticam honradamente os princípios liberais que solidificam as bases do regime republicano. Povo inteligente e operoso, recebeu de braços abertos a ideia semeada pelo espirito libérrimo de Juvenal Lamartine instituindo o voto da mulher. Intensifica-se constantemente o alistamento eleitoral feminino, não só na capital, mas nos municípios do interior. A mulher potiguar está demonstrando a compreensão dos deveres políticos.
E que nos diz da atuação da líder feminista Bertha Lutz?
    Brilhante e decisiva. Ao seu pulso vigoroso deve largo incremento o feminismo norteriograndense. Bertha Lutz é a grande figura, abnegada e sedutora, da emancipação política da mulher brasileira. A ela devemos a nossa vitória e a futura vitória da mulher em todo Brasil, que, hoje ou amanhã, há de ter igualdade de seus direitos políticos, como já a tem hoje as filhas favorecidas do Rio Grande do Norte.
        E com essas palavras a sra. Alzira Soriano deu por encerrada a entrevista. O jornal carioca A Noite na edição do dia 28/09/1928 também reproduziu esta entrevista a cima.


Fonte: Jornal Pequeno, do Recife, 13/10/1928, p.1



[1] Não conseguimos encontrar o exemplar de A República em que foi publicada a entrevista na integra de Alzira Soriano.

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