Conhecida a notícia trazida pelos telégrafos,
que a sra. Alzira Teixeira Soriano, havia sido eleita prefeita do município de
Lajes, tornando-se assim, a primeira prefeita no Brasil, a imprensa local,
regional e nacional repercutiu o fato.
Alzira Soriano foi eleita nas eleições
municipais que se realizaram em 02/09/1928, tendo sua primeira entrevista dada
ao jornal local A Republica a qual os demais jornais reproduziram parte ou
integra dessa entrevista.
Como no Jornal Pequeno, do Recife
(13/10/1928,
p.1) que reproduziu parte da entrevista que a prefeita eleita deu n’A
República seguinte entrevista publicada naquele jornal, a qual aqui
reproduzimos[1]:
Já aos meus 15 anos sonhava em poder
participar diretamente da vida política. hoje com entusiasmo e com alegria,
vejo concretizado o meu sonho, graças ao pulso firme do presidente [governador]
Juvenal Lamartine, respondeu de inicio Alzira Soriano sobre sua entrada na vida
política.
Não constitui, entretanto, para senhora uma
grande inovação?
Não. Não me é estranha a política. Meu
pai foi sempre uma das primeiras figuras do nosso município desde a Republica. Das
lições dele recebida formei o meu patrimônio moral. Durante todos os momentos
principalmente os difíceis, acompanhei a atuação paterna, que sempre se manteve
digna e forte.
Não acha os encargos políticos por demais
espinhosos para mulheres?
Certamente que não, quando conhece a
política de observação diária, como eu conheço.
Diga-me, contudo, não lhe parecer
incompatível com o casamento ou com a tranquilidade do lar?
Pelo contrário. Casei-me aos 18 anos
com Thomas Soriano de Souza, então promotor publico de Ceará-Mirim. Nunca
deixei de colaborar com ele estreitamente em todas as lutas em que se viu
empenhado, e nas quais, devido ao nosso procedimento reto e elevado, sempre
conseguimos vencer. E esta colaboração estreita jamais impediu que dispensasse
todo carinho as três filhinhas que tive a ventura de ter. São o meu maior
consolo, pelo rude golpe que sofri com a morte prematura do meu esposo. Mas,
com estoicismo e confiante em Deus e nas minhas próprias energias tenho
conseguido até hoje educa-las condignamente.
A luta é prazer para os fortes; por
isto, tenho vencido e hei de vencer. O meu exemplo prático destrói cabalmente
os comentários suscitados em torno da questão feminista. A mulher pode ser mãe
e esposa amantíssima e, ao mesmo tempo, oferecer a pátria uma boa parcela das suas
energias cívicas e morais.
Como foi recebida no Rio Grande do Norte a
sua eleição?
Muito bem. Ufano-me em considerar o
Rio Grande do Norte um Estado característico pela aceitação das correntes
liberais da época. Aqui se praticam honradamente os princípios liberais que
solidificam as bases do regime republicano. Povo inteligente e operoso, recebeu
de braços abertos a ideia semeada pelo espirito libérrimo de Juvenal Lamartine
instituindo o voto da mulher. Intensifica-se constantemente o alistamento eleitoral
feminino, não só na capital, mas nos municípios do interior. A mulher potiguar
está demonstrando a compreensão dos deveres políticos.
E que nos diz da atuação da líder
feminista Bertha Lutz?
Brilhante e decisiva. Ao seu pulso
vigoroso deve largo incremento o feminismo norteriograndense. Bertha Lutz é a
grande figura, abnegada e sedutora, da emancipação política da mulher
brasileira. A ela devemos a nossa vitória e a futura vitória da mulher em todo
Brasil, que, hoje ou amanhã, há de ter igualdade de seus direitos políticos,
como já a tem hoje as filhas favorecidas do Rio Grande do Norte.
E com essas palavras a sra. Alzira
Soriano deu por encerrada a entrevista. O jornal carioca A Noite na edição do
dia 28/09/1928 também reproduziu esta entrevista a cima.
Fonte: Jornal Pequeno, do Recife, 13/10/1928, p.1
[1] Não conseguimos encontrar o exemplar de
A República em que foi publicada a entrevista na integra de Alzira Soriano.
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