terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A REPERCUSSÃO DA ELEIÇÃO DE ALZIRA SORIANO E O PROBLEMA DA NOMENCLATURA


    O jornal A Republica havia publicado os resultados das eleições em diversos municípios do Rio Grande do Norte destacando o nome de Alzira Soriano, que fora eleita “prefeito” de Lajes. O fato era tão extraordinário que a palavra ‘prefeita’ ainda não era usada, adotando-se a nomenclatura no masculino.
   No jornal A Esquerda (RJ), se lia “Mais uma vitória do feminismo no Rio Grande do Norte. A senhora Alzira Soriano, recentemente eleita para o cargo de prefeito de Lajes, recebeu ali da parte de suas conterrâneas, uma expressiva manifestação de apreço” (A ESQUERDA, 1928, p.4, grifo nosso).
    No jornal A Província (PE) se lia: “em muitos municípios notadamente em Lajes, Angicos, Baixa Verde e Apodi, realizaram-se muitas festas por ocasião da posse dos novos prefeitos. Em Lajes foi empossada d. Alzira Soriano, ultimamente eleita para dirigir os destinos daquele município, sendo esse fato considerado como uma esplêndida vitória do feminismo. Trata-se da primeira mulher que exerce essas funções no Brasil” (A PROVÍNCIA, 1929, p.4).
   No O Imparcial (MA) se lia: “comunicam de Natal que a senhora d. Alzira Soriano foi eleita para exercer as funções de prefeito municipal de S. José de Lajes” (O IMPARCIAL, 1928, p. 4, grifo nosso).
    O Imparcial (RJ) registrou o fato com essas palavras: “nas eleições [de 1928] foram eleitas 5 intendentes [vereadoras] e 1 prefeita, no município de Lajes e recaindo a escolha na Sra. Alzira Soriano, elemento ativo no movimento feminino e de alto prestigio na politica da sua terra, pelas suas grandes qualidades de caráter e força moral (O IMPARCIAL, 1928, p.14).
    Outros jornais de circulação regional e nacional repercutiram o fato histórico da eleição da primeira prefeita eleita do Brasil como o Correio Paulistano (SP) que registrou “para o cargo de ‘prefeito” de Lajes (CORREIO PAULISTANO, 1928, p. 2), igualmente O Ceará (1928, p. 6), A Noite (1928, p. 7) e o Gazeta de Notícias (1928, p. 2).
    No jornal A Cruz[1] o problema da nomenclatura persistia  ainda no ano de 1930, dois anos após a eleição de Alzira Soriano “é uma prova o que vem fazendo de há um ano a esta parte a mui digno prefeito de Lajes, no Rio Grande do Norte, a Sra. Alzira Soriano” (A CRUZ,  1930, p. 4, grifo nosso).Já a revista Vida Doméstica (RJ) usou a nomenclatura no feminino ao se referir o fato da eleição de Alzira Soriano “No Rio Grande do Norte, as mulheres  já exercem em toda a plenitude os direitos políticos, podendo votar e serem votadas. Ali existe a única mulher sul-americana que foi elevada ao posto de chefe do governo executivo de um município, a senhora Alzira Soriano, Prefeita de Lajes, cujo governo tem agradado grandemente aos seus munícipes (VIDA DOMÉSTICA, 1930, p. 44, grifo nosso)
   A novidade era tão extraordinária que os jornais não sabiam lidar com a questão de nomenclatura na hora de se registrar o predicativo alusivo ao cargo correspondente ao sexo da ocupante, igualmente como se verificou em tempo mais recente com uma ocupante do cargo do executivo da República cujo nome me recuso a mencionar neste trabalho.


Imagem de Alzira Soriano publicada no jornal O Paíz, 1928, p. 15.




[1] Órgão da Paróquia de S. João Baptista (RJ) 

2 comentários:

  1. É um enorme orgulho para o povo potiguar ter duas mulheres importantes na História do Brasil e da América Latina, como Alzira Soriano (primeira prefeita), Celina Viana (primeira eleitora).E por que não não mencionar outra ainda no século XIX? Nísia Floresta a primeira feminista de todos os tempos.

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