terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A INAUGURAÇÃO DA ESTRADA DE FERRO DO CEARÁ-MIRIM



         Conforme se lia no jornal A República em 09/12/1890 “foi inaugurada no dia 8 deste mês a via férrea de Ceará-Mirim, com pompa e formalidades de estilos”.
            Eis o relato da solenidade segundo o mesmo jornal.
         Das 06h30 as 07h00 começaram a afluir ao local da festa a população que ali se congregou.Estava a estação da Coroa verdejantemente ornamentada, tingido na parte que fica em frente a cidade e ao rio Potengi um bosque denso,assinalado por diversas bandeiras e galardates, que se estendiam até a parte oposta do edifício.
         Aproximadamente as 08h00 o governador Manoel do Nascimento Castro e Silva, dirigindo-se com o pessoal ao lugar designado, fez uma rápida e eloquente alocução inaugural, pediu para proclamar o ato ao engenheiro Brunet, chefe da estrada de ferro do Ceará-Mirim, o qual depois de confirmar a inauguração, entregou ao governador uma pá dourada, com a qual ele lançou a primeira pá de terra, seguindo-se-lhe a gentil esposa do engenheiro Brunet, que inteligentemente disse querer ser das primeiras a dar o exemplo edificante do trabalho, fazendo todos os circundantes o mesmo.


Na parte superior da imagem aparece o aterro onde estava situada a estação da Coroa.

         Neste momento foi fotografado pelo engenheiro João Vieira da Cunha o belo quadro daquela reunião do trabalho e da inteligência.Após isso voltou-se a estação da Coroa que ficava a vista e ali o engenheiro João Vieira leu a ata de inauguração daquela futurosa empresa,depois do que o Dr. Diogenes da Nóbrega felicitou em breve alocução o florescimento da pátria riograndense, fazendo votos para que esse espírito de iniciativa e de civilização que e República implantou neste solo abençoado perdurasse sucessivamente em toas as gerações por vir.
         Seguiu-se um lauto banquete, situado naquele meio pitoresco e de aspecto campestre, circundado de ramos e folhagens, tomando todos lugar de pé a mesa, ideia original  e que causou-se harmoniosamente com a disposição da festa, durante a qual tocava a, curtos intervalos uma banda de música.


No centro da imagem em linha reta o aterro da Coroa de onde partia a Estrada de Ferro do Ceará-Mirim,
posteriormente EFCRGN.

         Ao champagne levantaram-se diversos brindes, sendo o mais notável o do Dr. Braz de Melo ao Governador, salientando as alevantadas qualidades de seu espírito lucidissimo e de seu caráter limpidissimo e inquebrantável, delapidado em dez anos de vida pública, que representavam um esforço continuado em prol da causa pública, sem um momento de hesitação, o Dr. Agusto aos agricultores do Ceará-Mirim, ali representados pelo Tenente coronel José Varela; do Dr. Diógenes a mulher ali brilhantemente representada pela esposa do engenheiro Brunet, do Dr. Chaves filho a patriótica e distinta representação do Estado, sintetizado no vulto proeminente de seu chefe Dr. Pedro velho, do Governador Nascimento de Castro ao ínclito generalíssimo Deodoro da Fonseca, presidente da República a época.
         Seguiu-se outras mesas de comidas, prolongando-se a festa até o meio dia.

Fonte: A República, 09/12/1890, p.2.



A estação da Coroa já como estação inicial da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte por volta  de 1915.

Notas:
  • A Estrada de Ferro do Ceará-Mirim teve sua primeira concessão dada pelo governo provincial em 1870, pela qual a ferrovia deveria partir da capital potiguar indo até o vale do rio Ceará-Mirim, sendo ela uma antiga reivindicação dos donos de engenhos daquele vale. 
  • A estação da Coroa mencionada a cima ficava na margem esquerda do rio Potengi, sendo ela a estação inicial ou central da Estrada de Ferro do Ceará-Mirim e posteriormente da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, a partir de 1906.
  •  A travessia para o porto de Natal na Ribeira na margem direita do Potengi se fazia por meio de uma balsa da própria ferrovia que fazia o percurso com os passageiros e as mercadorias transportadas pelos trens, tal situação perdurou até a inauguração da ponte de Igapó em 1916.
  • A estação não existe mais, foi demolida, no local se encontram as ruínas dela em meio a vegetação do mangue.



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