Prolegômenos
De acordo com o livro-relato de Rocha Pombo era seu desejo
visitar a região Nordeste do Brasil, a época simplesmente chamada de norte do país.
Dessa viagem resultou o livro Notas de Viagem (Norte do Brasil), publicado em
1918.
Rocha
Pombo saiu do Rio de Janeiro em 21/07/1917, percorreu as capitais e algumas
cidades do Nordeste. Em Natal esteve entre 28/09 e 04/10/1917.
Segundo
o mesmo Rocha Pombo “as páginas que se seguem refletem apenas as impressões
mais flagrantes da minha viagem, e que eu registrei dia a dia, a largos traços,
e absolutamente sem preocupações de nenhuma ordem. Dou-as quase na mesma forma
em que foram apontadas; e, portanto, sem ao menos algum trabalho de revisão ou
polidura” (ROCHA POMBO, 1918, p.19).
Rocha Pombo. |
A seguir como se deu a visita de Rocha Pombo na Capital
Potiguar.
Em
João Pessoa-PB
Partindo
da capital paraibana por trem em 25/09/1918 as 13h20 da tarde onde ainda na estação
daquela cidade recebeu as últimas demonstrações de simpatia de muitas das mais distintas.
De acordo
com Rocha Pombo “A estrada de ferro não é má. Nem nos passou pela ideia a
famosa estrada da Bahia a Aracaju”.
Em
Guarabira
Ao
anoitecer, chegou a Guarabira, onde devia pernoitar. “Fomos ali recebidos e
hospedados fidalgamente pelas primeiras figuras da terra — dr. Juiz de Direito,
dr. Promotor Publico, Prefeito Municipal, Presidente da Intendência, Sub-Prefeito,
e muitas outras. O professor Alfeu teve a bondade de fornecer-me umas notas
acerca da cidade, as quais hei de aproveitar oportunamente”. (ROCHA POMBO, 1918,
p.96).
“Guarabira
é uma pequena, mas belíssima cidade paraibana”. Rocha Pombo visitou aquela
cidade do brejo paraibano a noite em companhia dos cavalheiros que os tinham
recebido e ainda conforme Rocha Pombo sobre Guarabira “A parte central é
formada por duas grandes praças paralela, quase em anfiteatro, ao alto de uma
das quais está a igreja matriz. Estas praças são magníficas ; e são muito bem eliminadas
a luz elétrica. Guarabira é sede de um município que vai em plena prosperidade”
(ROCHA POMBO, 1918,p.96).
Partiu
de Guarabira às 05h00 da manhã para o Rio Grande do Norte.
Da janela
do trem da GWBR fez as seguintes observações sobre a paisagem entre Guarabira e
Nova Cruz “Como já havíamos notado no trecho de Paraíba a Guarabira, as
culturas que se vêm para os lados da linha férrea são principalmente cana de açúcar,
algodão, café e mandioca”.
Ao
avizinhar-se dos subúrbios de Natal, “vemos de umas alturas grande número de
pequenas casas, mas regulares, todas muito vermelhas, como tintas de sangue. É
isso devido á cor do barro que serviu para as paredes”.
Segundo
Rocha Pombo “Sentimos que o dia parece por ali mais claro. Dir-se-ia que naquelas
paragens o sol anda mais perto e brilha mais”.
Chegou
o trem á estação de Natal pelas três da tarde. Ali foi recebido pelo ajudante
de ordens do Governador e por Nestor Lima, secretário do Instituto Histórico; “os
quais nos acompanharam até um hotel chamado parece que Internacional. Ali só
encontramos disponível um exíguo aposento, no segundo andar, muito escuro, e sofrivelmente
horrível. Alojamo-nos naquela catacumba, onde estivemos perfeitamente
emparedados durante sete dias” (ROCHA POMBO, 1918, p.97).
A estação da GWBR onde chegou Rocha Pombo em Natal. |
“Logo
depois que nos aposentamos, desabou uma forte tormenta de chuva, que nos impediu
de ir a palácio agradecer a honra que nos tinha feito o Governador” (ROCHA POMBO,
1918, p.97)..
Andando
pelas ruas da capital potiguar Rocha Pombo percebeu que “Em Natal não há
viaturas públicas a não serem os bondes. Não vimos ali nem um automóvel, nem um
carro de praça. O próprio chefe do Estado anda nos bondes comuns” (ROCHA POMBO,
1918, p.97). [1].
No dia
29/09/1918 pela manhã Rocha Pombo visitou o Instituto Histórico que segundo ele
“Acha-se instalado em comum com o Arquivo e a Biblioteca Pública, em bom prédio.
Tudo está disposto ali com muito capricho” (ROCHA POMBO, 1918, p.98).
Depois
foi a palácio do governo. “Já conhecia eu pessoalmente o desembargador Ferreira
Chaves, do Rio, quando senador pelo seu Estado”. O governador os recebeu “com a
sua proverbial afabilidade, no seu amplo gabinete onde se achavam muitas
pessoas, naturalmente políticos, habitues do café oficial” (ROCHA POMBO, 1918, p.98).
O governador Ferreira Chaves apresentou a todos. Quando chegou a vez de cumprimentar
o coronel Pedro Soares, “disse-nos s. ex.: — É o meu Murtinho”. O coronel era o
secretário da Fazenda; “e disseram-me que realmente é homem de excepcional
competência para aquele cargo” escreveu Rocha Pombo. Quando quis despedir-se, o
Governador os convidou gentilmente para ver o palácio. “S . ex. em pessoa nos
levou ás varias salas.Entre estas o salão nobre é magnífico. Referiu-nos s. ex.
que um colega seu, chefe de um dos Estados vizinhos, ao visitar uma vez o
palácio, ficou admirado ao entrar naquele salão exclamando: -— Pois voês já tem
isto por aqui!” (ROCHA POMBO, 1918, p.99).
Palácio do Governo visitado por Rocha Pombo |
Salão nobre do palácio do governo elogiado por rocha Pombo. |
Governador Ferreira Chaves, anfitrião de Rocha Pombo em palácio. |
“De
uma das janelas têm-se vistas belíssimas, principalmente para o estuário do
Potengy”, (ROCHA POMBO, 1918, p.99).
O rio Potengi. |
Deixando
o palácio do Governo, “tomamos um bonde para Petrópolis, bairro alto, á vista
do mar, ao sul da barra”. Sobre os aspectos de Natal escreveu rocha Pombo “A
cidade é muito asseada e alegre. Ruas bem largas e bem calçadas quase todas;
prédios de bom gosto, alguns grandiosos. Vastas praças. A fronteira ao palácio,
e outras, são ajardinadas. Em caminho de Petrópolis, passa-se ao lado de extenso
campo que se reserva, segundo nos informaram, para um parque. Do outro lado do
Potengy, junto á barra, e também para o sul, ha imensa dunas de areia muito branca.
Muitos desses altos cerros de areia vínhamos já avistando ontem quando em viagem,
muito longe para as bandas do mar. Do alto das dunas de Petrópolis, o
horizonte, para o mar e para a terra, é estupendo”. (ROCHA POMBO, 1918, p.99).
Aspecto da Cidade Alta |
Rocha
Pombo recebeu a visita do coronel Pedro Soares, que era também presidente do
Instituto Histórico; do desembargador Vicente Lemos, “ incansável investigador da
historia natalense”; e de Nestor Lima, advogado, professor “e também cultor dedicado
da nossa historia” (ROCHA POMBO, 1918, p.99).
No dia
30/09/1918 registrou Rocha Pombo que “A imprensa de Natal é talvez a mais modesta
que encontramos nas capitais do norte, depois da de Vitória. Publicam-se ali
três jornais, sendo A República o mais importante. É hoje órgão, se não
propriamente oficial, ao menos oficioso do Governo, e existe desde antes de 15
de Novembro, contando, pois, 29 anos de existência. É jornal de grande formato
e muito bem feito. Foi fundado em Julho de 1889 pelo dr. Pedro Velho. A memória
deste homem é ali muito venerada; e todos apontam os serviços por ele prestados
a Natal, como primeiro Governador do Rio Grande do Norte. Foi ele quem
organizou o Estado sob o novo regime. Tem estatua numa das praças, junto ao
edifício do Congresso. É pena que o monumento não seja grande coisa como arte (ROCHA POMBO, 1918, p.101).
“Em outra praça vê-se também a estátua de Augusto Severo. Esta, como obra de arte, não é melhor: o malogrado aeronauta está muito diminuído na estética da sua figura” (ROCHA POMBO, 1918, p.101).
Os
dois outros jornais eram a Imprensa e a Nota. “Este último parece que não é
diário” e de acordo com Rocha Pombo “Por ali não há lutas políticas, pelo menos
tão acirradas como na imprensa paraibana”. (ROCHA POMBO, 1918, p.101).
Percebeu
Rocha Pombo que “Há em Natal alguns grupos escolares.Aliás, isto é comum em
todos os Estados do norte: não ha uma só capital onde se não encontrem
estabelecimentos dessa ordem, que já entraram — pode-se dizer — definitivamente
no regime do ensino” (ROCHA POMBO, 1918, p.101).
“Felizmente
— não cessarei de dar testemunho — a instrução popular é objeto da preocupação
e do esforço de todos os governos e de todas as populações” (ROCHA POMBO, 1918,
p.101).
Nos
dias 01 e 02/10/1917 rocha Pombo fez alguns passeios e visitas, “adiantando os
nossos trabalhos de pesquisa”.
No dia
03/10/1917 “Muito grato me foi receber a visita do Dr. Jerônimo Cueiros, lente
da Escola Normal, homem de espírito culto e alta competência em história. Infelizmente
já não era tempo de retribuir-lhe pessoalmente e agradecer a fineza”.
“Também
recebi, na véspera de embarcar, alguns livros que me ofereceram d. Isabel
Gondim, e o Dr. Oscar Brandão. Este ilustre homem de letras escreveu-me, remetendo
a suas obras, uma carta extremamente amável. Também d. Isabel Gondim. Hei de
ter ensejo de ocupar-me das obras com que me obsequiaram estes autores” (ROCHA POMBO,
1918, p.103).
Em 04/10/1917
“Quinta-feira. Acaba de chegar, pela manhã, o Acre, a bordo do qual devemos
seguir para o Ceará. Como o vapor só sairá pela tarde, aproveitamos ainda o dia
para ver alguma coisa”.
Em
companhia do Dr. Horácio Barreio, Secretário Geral do Governo, e do dr. Nestor
Lima, visitamos o Hospital da Santa Casa, no alto de Petrópolis, e o Isolamento
da Piedade. O Hospital não é de vastas proporções; mas está muito bem montado,
achando-se os vários gabinetes providos de instalações modernas, principalmente
os de cirurgia e de clinica hidroterápica. O desembarcador Ferreira Chaves está
mandando ampliar o edifício. O Isolamento, para alienados, é um como ensaio de hospício;
e já está prestando serviços relevantes. É dirigido pelo Dr. Santiago Varela[2]. Também está sendo
renovado”.
“Pela
tarde, um pouco antes do embarque, tive a honra de receber, no próprio
refeitório do hotel (pois que sala para isso não havia) uma comissão do
Instituto Histórico. Nessa ocasião dirigiu-me palavras de muito conforto o dr.
Nestor Lima, de cujas mãos recebi o titulo de sócio honorário. Feitas em
seguida as últimas saudações e agradecimentos, fomos para bordo, ás 5 horas da
tarde”.
“Às
6 o vapor levantou ferros. Pelas 11 da noite, avistamos o farol do Cabo S.
Roque. Começamos a rumar para noroeste” (ROCHA POMBO, 1918, p.104). Rocha Pombo
se dirigia para o Ceará.
Fonte: POMBO, Rocha. Notas
de Viagem (Norte do Brasil). Benjamin de Aguilar Editor: Rio de Janeiro, 1918.
[1] Isso mesmo que você leu! Houve um tempo em que o Governador do Rio Grande do Norte andava de bonde público para ir ao trabalho. Eram outros tempos. Agora imaginem o/a Excelentíssimo/a Governador/a do Rio Grande do Norte andando no coletivo da Guanabara as 05h00 da manhã para ir despachar no Centro Administrativo do Estado. Nem em propaganda do horário político tal coisa é cogitada.
[2] Varela Santiago.
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