Prolegômenos
O escritor
paulista Mário de Andrade empreendeu viagem ao Nordeste entre 1928 e 1929 da
qual foi compilada no livro O Turista Aprendiz. No Rio Grande do Norte o citado
escritor esteve entre o fim do ano de 1928 até fevereiro de 1929.
Mário
de Andrade ficou hospedado em casa de Câmara Cascudo que foi seu anfitrião
na Capital Potiguar e nas viagens que fez pelo interior. Foram realizadas duas
viagens por Mário de Andrade pelo interior do RN entre os dias 07 e 22 de
janeiro de 1929.
A
primeira na região sul, nas cidades margeadas pela GWBR, nos primeiros dez dias
de permanência de Mário de Andrade no RN, quando o viajante montou base
avançada no engenho Bom Jardim, da família do amigo Antônio Bento, em
Goianinha, para colher materiais relativos ao coco e ao boi e a segunda pelo
sertão e litoral salineiro. Esse segundo trecho foi o mais longo.
Já
não se tratava de um deslocamento necessário ao início dos levantamentos, mas
de duas incursões organizadas por seus amigos natalenses à Zona da Mata e ao
Sertão do Rio Grande do Norte.
Itinerário das viagens de Mário de Andrade no RN. Fonte: O Turista Aprendiz, 1929,p.433. |
A seguir
a compilação da viagem que Mário de Andrade fez ao RN.
Passando por Goianinha
Mário de Andrade
partiu de Guarabira em trem da GWBR com destino a Natal. Ao passar por
Goianinha escreveu: “Junto de Goianinha os engenhos reaparecem. Por detrás da
usina estão encordoando a bagaceira. Ar viril de vida por tudo. Só algum guia
de cargueiro quando senão quando passa no passo da égua, encarapitado quase na
anca do animal e me amulenga a sensação” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.181).
Antiga estação de Goianinha por onde passou Mário de Andrade no trem da GWBR. |
Em Papari e chegada a Natal
Em Papari Mário de Andrade almoço cajus e cocos verdes. “O horizonte de repente encurta bem pra direita e cai da banda de lá. Na barra dele o matinho ralo, certas feitas, desaparece numa careca de duna. São as praias, é o mar-de-punga ou-lê-lê-lê, é o verde mar de navegar!... E por hora e meia assim, ventada, despoeirada, o trem de ferro que vem de Pernambuco, vai fazendo “vuco, vuco” e entra em Natal. Pontualmente. Quatorze horas”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.274).
Em Bom Jardim
Em 07/01/1928 Mário de Andrade visitou o engenho Bom
Jardim em Goianinha, viagem feita em automóvel.
Escreveu
ele a respeito: “Vou-me embora, viver vida de engenho por uns dias, a
Oldsmobile rola por essas estradas. Às vezes dança umas valsas desengonçadas.
Todo o Nordeste, devido às condições do terreno, com trabalho fácil já está
percorrido pelo automóvel. Mesmo, devido à elevação quase proibitiva das
tarifas ferroviárias, muito transporte de carga é feito em caminhões. As estradas,
no geral, são muito boas, um bocado estreitas. Nesta zona de Natal, a
Goianinha, estreitíssimas. Dois automóveis que se encontrem, é uma encrenca
séria nalguns pontos. Marcha à ré trezentos metros! É zona litorânea. O
coqueiro é que brinca na paisagem. O resto são tabuleiros, mais tabuleiros, que
nem o nosso cerrado monótono, acachapado por um verde-cinza estudoricando a
alma da gente” Bom Jardim. (MÁRIO
DE ANDRADE, 1929, p.309).
Casa Grande do Engenho Bom Jardim |
Passando por São José de Mipibu
A passagem de Mário de Andrade foi da seguinte forma: “Atravessamos São José, cidade do Sol. A casa da Intendência é sem querer uma preciosidade arquitetônica. Não aplaude o modernismo, assim pesada e os vinte degraus da escadaria. Mas é dum equilíbrio santo.Também a vista vai se tornando mais gostosa de ver. Zona de engenhos. De vez em quando o tabuleiro despenca pra várzeas chatas, verde-claras, que no inverno serão inundadas. Canaviais. Pinta no verde o branco dos engenhos de banguê, com a chaminé gorda e curtinha feito a gente daqui” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.310).
Sobre Papari
Sobre Papari escreveu Mário de Andrade: “Papari lembra também a espantosa Nísia Floresta[1], que mulher! Nasceu em Papari e o monumentinho comemora a amiga de Augusto Comte[2], Mazzini[3], colaboradora da unificação italiana, reivindicadora dos direitos da mulher, viajante na Alemanha, o diabo!” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.310).
Passando em Arez
Já era tardinha quando Mário de Andrade passou por Arez.”No longe, quatro quilômetros pra esquerda, passa o mar guardando na memória dos moradores da vila o ronco dos aviões que vão pro sul” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.310).
Chegando a Goianinha
A viagem vai se aproximando até Goianinha. “Estamos perto. O automóvel fica mais leve e abre num passo esquipado pra chegar depressa. A noite nos pega, mal repetindo, ao chegar no engenho, o cheiro açucarado da bagaceira. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.310).
Em Canguaretama
Chegando em Canguaretama eis como Mário de Andrade a descreveu: “Mas agora, atravessada a cidade de Penha[4], a rua larga de casinhas pobres, asfaltada de folhas de carnaúba que o pessoal trabalha, passeio no engenho de Cunhaú, o rio das mulheres, cheio de história e lenda” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.322).
Sobre o Engenho Cunhaú
Sobre o Engenho Cunhaú escreveu Mário de Andrade “Cunhaú é o engenho mais velho do estado. Vem de 2 de maio de 1604, da doação que Jerônimo de Albuquerque249 fez pros filhos dele, Antônio e Matias, duma data larga de terras boas no vale e mais duas léguas de tabuleiro. Desde então, se fabrica história, açúcar e lendas no engenho de Cunhaú.Acolá está a capela, inteiramente em ruínas, descoberta, caída a frontaria, uns restos da cimalha no chão apressado pelas lagartixas. As outras paredes inda continuam firmes, mais velhas que a invasão holandesa. Cunhaú foi tomado e retomado, destruído e levantado de novo. Não se cava dois palmos de chão na capela sem topar com osso humano”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.310).
Sobre o algodão e a viagem ao sertão
Em Natal em 17/01/1929, escreveu Mário de Andrade: “Estou preparando as
malas pra seguir amanhã numa viagem de automóvel fazendo quase que toda a volta
do Rio Grande do Norte. Essa viagem me interessa bem.Já conheço a região do
açúcar. Vou visitar agora a do sal e a do algodão. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.258).
E
sobre o ouro branco potiguar disse: “O algodão é mesmo a grande fonte de riqueza
que o estado possui. Em parte, em reserva ainda pelas terras não aproveitadas,
pela falta de seleção e pelo regime latifundiário que infelizmente inda impera
por este imenso Brasil.Só ultimamente se tem trabalhado na seleção de sementes
e aperfeiçoamento de tipos nobres, duns cinco anos pra cá. São mantidas pra
isso duas fazendas-modelo em
Macaíba e Sant’Ana.
Também instalaram um laboratório em Jundiaí (Macaíba) pra estudo das pragas do
algodoeiro” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p.326).
Em Macau
Mário de Andrade chegou a Macau no dia 18/01/1929 às
16h00: “Viemos
em pouco mais de sete horas de Natal até aqui, automóvel bom, estrada assimzinha,
paisagem horrorosa de medonha. Foi bom mesmo chegar nas salinas bonitas porque
atravessar assim no solão sincero, léguas e léguas de caatinga, um naco de
sertão e mais caatinga em plena seca, palavra: quebra a alma da gente, vista de
cinza malvada!” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 259).
Macau, década de 1930. |
Em Epitácio Pessoa[5]
Passando
na então vila de Epitácio Pessoa escreveu Mário de Andrade: “foi difícil
resistir a um desses assombros sentimentais que diz-que arrancam lágrima.
Miséria semostradeira de vilareco, sem ninguém mais quase, morto de todo nas 13
horas do dia, onde os corajosos que moram ali estão comprando a cruzado, a 500
réis a lata d’água, vinda de léguas longe” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 259).
Visita as salinas
Da
visita as salinas resultou esta descrição: “Enfim as salinas adormeceram a
tristura, com Macau lá na ponta, chão de telha e a torrinha branca. Macau terá
seus quatro mil habitantes de sal, sal magnífico. As últimas análises provaram
definitivamente a excelência do sal norte-rio-grandense, muito superior ao de
Cádiz por menor coeficiência de sais magnesianos. Além do mais a produção
potiguar pode abastecer o mundo quando a indústria se desenvolver
completamente. Sendo uma das indústrias em que mais se perde matéria-prima,
essa perda nas terras salineiras do Rio Grande do Norte é compensada pela
facilidade de cristalização do sal por causa da violência mucuda do Sol e do
vento e a impermeabilidade do solo(MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 327).
Salinas de Macau, década de 1930. |
Em Assu
Mário de Andrade estava em Assu no dia 19/01/1929, sobre sua chegada aquela cidade escreveu Mário de Andrade: “Cinco e quinze. Carreira maravilhosa no leito do Açu, leito chato, planície dando sensação de deserto. Penetramos no vale do Açu, carnaubais formidáveis. As carnaúbas desfolhadas pela colheita recente têm ar espantado muito pândego. A estrada é quase que um arruado só, povoadíssima. Pessoal que vive da carnaúba e do samba. Não tem noite quase em que a “chama” não gagueje surda chamando os festeiros pro zambê. Gente alegre. Que nem no litoral, vestido encarnado é muito por aqui. Porcos cruzados com tamanduá, cada focinho destamanho! Às 7 e 3 quartos, atravessamos o restico do rio Açu e três minutos depois a cidade do Açu. Foram dez léguas de várzea fértil, esse carnaubal formidável” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 328).
De
acordo com Mário de Andrade a cidade de Assu tinha a época 2.500 habitantes, já
o município todo teria 25 mil. A produção daquele ano seria de 24 mil arrobas de
cera de carnaúba. “Município feliz por causa do rio e das lagoas: na seca não
só não “produz” retirantes como até os recebe. O regime do vale inda é
latifundiário. O trabalhador rural na época da colheita ganha o jornal de 4
mil-réis. No geral duas colheitas anuais, rentes uma da outra. Vai tudo pro
carnaubal, moços, moças, mulheres, homens. Colheita e farra danadas”. (MÁRIO DE
ANDRADE, 1929, p. 329).
Partiu de Assu às 08h15 “partimos da cidade simpática, ar de alegria. A caatinga ficou mais simpática. Os troncos de marmeleiro e da catanduba arborescente não queimam os pés no chão atapetado pelo panasco seco, meio doirado. Quando senão quando o chão esturrica e racha. Pra esquerda a serra do João do Vale no longe, preta, às vezes irritada em serrotes e cuscuzeiros de pedra”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 329).
Em Augusto Severo[6]
“Atravessamos Augusto Severo às 10 e 40. Na vastidão de ao pé da serra a chuva já peneirou. Peneirou só, porém tudo está verdinho e o tejuaçu lagarteia no solão exato da estrada. Seriemas”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 329).
Em Caraúbas
Pouco
depois das 12h00 Mário de Andrade chegou a Caraúbas, “meia almofadinha, caiada
de novo pra inauguração do trem de ferro de Mossoró até aqui. Calor de Iquitos.
Almoçamos e fugimos. A estrada segue melhorada. Ora tudo seco, ora esverdeando
já segundo a fantasia dos chuviscos escoteiros. No seco as arvoretas mostram
todos os ninhos”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 329).
Estação de Caraúbas em 1929, ano de sua inauguração a qual foi vista por Mário de Andrade. |
Em
Boa Esperança[7]
“Conseguimos derrapar até o arruado de Boa Esperança. Não era o nosso destino, porém impossível de ir pra diante, sem correntes, sem farol bom, nós encharcados e exauridos pela sensação estúpida do perigo.Todo o povoado acordou com as buzinadas. Recepção positivamente hostil. O pessoal por aqui vive obcecado pela presença do cangaço, imaginaram que éramos cangaceiros, quatro homens esquisitos. Foi um custo desdesconfiarem”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 331).
Em Martins
Às 07h15 chegou a Martins, “lugar pra héticos, a igreja azul e branca, largos com árvores, feira dominical no mercado, uma gostosura. Caímos nas mangas. A minha sede é que tem sido um caso sério”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 331).
Em Caicó
No dia 21/01/1929 estava Mário de Andrade no município
de Caicó de onde escreveu: “Hoje não se viajou. Paramos nesta cidade em progresso,
pra mais de 4 mil almas, eu na esperança de pegar uns cantos de negros que por
aqui inda elegem rei e rainha e cantam. Espécie de “Maracatu” sobrevivente
neste sertão onde mesmo o cabrocha é raríssimo. Os negros não vieram, visitei a
cidade com as casas monumentalizadas pela ausência de plantinhas de enfeite e
agora estou imaginando. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 333).
Sobre
Caicó
Sobre
a cidade de Caicó escreveu Mario de Andrade: “me assombra, bem arrumada, casas
novas. São casas pequenas, enfeitadas muito, no geral feiosas, porém se sente o
progresso”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 336).
Aspectos de Caicó na década de 1930. Fotos: revista O Malho. |
Sobre a paisagem na estrada
“Estrada excelente cortando uma paisagem quase que exclusivamente de pedra. O chão é pedregulho só. A própria vegetação do deserto nordestino rareia muito. Por momentos a gente fica cercada só de pedra e de xiquexique rasteiro que parece vegetação de pedra também. Os serrotes vão amansando. Larguezas formidáveis e no longe à direita a serra de Borborema menos recortada, ondulando estendida. A rodovia inteligentemente estudada vai no divisor das águas entre o rio Seridó e o Barra Nova. E as cercas das fazendas por aqui são exclusivamente muros intermináveis de pedra. As obras-de-arte da estrada, pontes de cimento, mata-burros de trilho, tudo reto. É monumental” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 336).
Imagens de obras da IFOCS no Seridó na década de 1920. |
Em
Jardim do Seridó e Parelhas
“Às 9 cortamos Jardim do Seridó, uma cidadinha de Tarsila[8], toda colorida limpa e reta. Catita por demais, lembrando Araraquara por isso. Cidade pra inglês ver. Mas não tem dúvida que é um dos momentos de cor mais lindos que já tive neste aprendizado pra turista. 30 minutos depois tomamos café e água verdadeira em Parelhas nascida ontem, com ar de saúde. A região do Seridó mostra com evidência um ar de progresso que até agora eu não tinha sentido neste raide nem mesmo nas salinas. De fato é a região mais progressista do estado, valorizada pelo algodão mocó e facilitada pelos processos econômicos em uso” Jardim do Seridó (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 337).
Em Acari
Passando
em Acari às 11h28 “logo topamos com o açude que ia-se fazer, de Gargalheira.
Gastaram com as obras preparatórias um colosso de dinheiro, máquinas,
transporte de material, salários, construções de casas e, sim, os
intermediários. Passei. Construções por acabar... em ruínas, barracões,
maquinário caríssimo, barragem iniciada, tudo no abandono, inútil, coisa hedionda,
crime famoso, desgraçados!” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 337).
Almoço em Currais Novos
“Almoçamos em Currais Novos e uma hora depois, 13 e 20, de novo entre pedra e xiquexique, as juremas sempre rareadas. Principia o facheiro pardo sujo, implorando licença pra se chamar de verde, anunciando a serra do Doutor. Agora é quase só facheiro, uma facheirada espeloteada beiradeando as nascentes do seco Potenji”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 337).
Em
Santa Cruz
Ao passar por Santa Cruz, escreveu Mário de Andrade: “Passamos. Os pneus já estão dando o prego. Paradas irritantes.Já estamos nas barras do sertão”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 338).
Passando por Lajes
Às 17h40 a viagem de Mário de Andrade já havia topado com a estrada de Lajes, sobre quem disse “A boca da noite fecha rápida. Desilusória como todo o fim de viagem” (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 338).
Mário de Andrade passou por Macaíba e às 19h00 avista o triângulo elétrico da capelinha de São Pedro no Alecrim, chegava a Natal. “Mil cento e cinco quilômetros devorados. E uma indigestão formidável de amarguras, de sensações desencontradas, de perplexidades, de ódios. Um ódio surdo... Quase uma vontade de chorar... Uma admiração que me irrita. Um coração penando, rapazes, um coração penando de amor doloroso. Não estou fazendo literatura não. Eu tenho a coragem de confessar que gosto da literatura. Tenho feito e continuarei fazendo muita literatura. Aqui não. Repugna minha sinceridade de homem fazer literatura diante desta monstruosidade de grandezas que é a seca sertaneja do Nordeste. Que miséria e quanta gente sofrendo... É melhor parar. Meu coração está penando por demais”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 338).
Sobre Mário de Andrade em Natal
Em
Natal, primeira cidade a efetivamente demorar-se, o Turista tem como anfitrião Câmara
Cascudo, com quem há anos vinha compartilhando por carta os interesses comuns
pelas coisas do povo.
Em
meio ao enorme acervo de danças, cantos e festas que ali encontra, Natal emerge
como “a mais democraticamente capital, honesta, sem curiosidade excepcional
nenhuma”.
É flagrante a predileção do Turista pela outra
parte da cidade, baixa, menos visível, nunca miserável, “sem aquela presença
forte de tristura dos mocambos recifenses”, que às vezes se imiscuía pela
cidade inteira com suas brincadeiras, cocos, pastoris e marujadas: nas praias de
Areia Preta ou da Redinha, onde ele encontra “sambas, maxixes, varsas de origem
pura”; em Alecrim e Rocas, bairros antigamente tomados de casinhas de palha,
“valhacouto de criminosos e facínoras”; no caminho do Areal, com seu “morro
cheio de casas proletárias”, e ruas vivas, “sons de pandeiro, pessoal se
chamando, um tambor mais pra longe e na porta da venda um ajuntamento” ( MÁRIO
DE ANDRADE, 1929, p. 382-3).
Mário de Andrade partiu de automóvel em 27/01/1929 “são 6 e 30, parto
do Rio Grande do Norte. Vou comprido, com esse desaponto vasto de quem deixa o
que quer bem, me prolongando pelas quietudes de Natal. A primeira etapa da
viagem é repetição. Às 9 e meia chego no engenho Bom Jardim e almoço. Almoço
quase acabado em desgosto”. (MÁRIO DE ANDRADE, 1929, p. 344).
Fonte:
ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Mário de Andrade;
edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Telê Ancona Lopez,
Tatiana Longo Figueiredo; Leandro Raniero Fernandes, colaborador. Brasília, DF:
Iphan, 2015.
[1] Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto (Papari, 1810– Rouen, 1885): educadora e escritora potiguar, pioneira do feminismo no Brasil; jornalista e ensaísta, empenhou-se também na defesa dos direitos dos índios e dos escravos.
[2] Isidore Marie Auguste François Xavier Comte (Montpellier, 1798 - Paris, 1857), filósofo do Positivismo.
[3] Giuseppe Mazzini (Gênova, 1805 – Pisa, 1872), carbonário, participante do movimento revolucionário Risorgimento.
[4] A época a vila da Penha se confundia com a sede do município que era a cidade de Canguaretama, atualmente a Penha é uma bairro daquela cidade.
[5] Atualmente a cidade de Pedro Avelino.
[6] Presentemente a cidade de Campo Grande.
[7] Presentemente a cidade de Almino Afonso.
[8] Referência a Tarsila do Amaral, pintora, colega de Mário de Andrade no movimento modernista de 1922.
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