sábado, 3 de novembro de 2018

A INAUGURAÇÃO DO TRECHO FERROVIÁRIO ENTRE AFONSO BEZERRA E MACAU




Histórico
       O ramal teve inicio na cidade Lajes no km 140 do trecho ferroviário Natal-Angicos da EFCRGN. A construção do trecho foi autorizado pelo decreto 11.235 de outubro de 1914.A construção teve inicio no ano de 1916.Após várias interrupções nos trabalhos foi retomada no ano de 1956 por meio de um convênio entre o ministério da guerra e viação sendo a obra delegada ao 1º Grupamento de Engenharia do Exército em junho daquele ano.
O trecho entre Afonso Bezerra e Macau tem 50 km e foi construído ao valor de  Cr$ 73.000,000,00.Segundo o jornal diário de Pernambuco o sistema ferroviário nacional havia ganhado mais uma ligação de suma importância  dentro do desenvolvimento nordestino, sendo uma verdadeira aspiração do povo norteriograndense havia quase um século.
O  1º Batalhão atacou os serviços em julho de 1956 concluindo precisamente 4 anos depois dentro dos limites do recursos que anualmente foram dados pelo orçamento do governo  federal. Conforme o jornal Diário de Natal deslocou-se para o município de Afonso Bezerra um contingente de 100 homens do Batalhão do Serviço de Engenharia do Exército, sob o comando do capitão engenheiro Jeferson Bastos. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 22/07/1956, p.21)
    A esse contingente será confiada a tarefa do reinicio dos trabalhos de construção do trecho ferroviário Afonso Bezerra-Macau que há mais de dois anos estavam paralisadas.
    O trecho ferroviário Afonso Bezerra-Macau tem como principal finalidade prolongar a RFFSA até o importante proto salineiro de Macau interligando-o na RFN, o que era considerado de grande importância para a economia do Estado.
      O sal que é a principal riqueza da região teria a partir de então novo destino através dos trilhos da RFN destinados aos centros consumidores.Segundo o jornal Diário de Pernambuco era esperada a presença do presidente Juscelino Kubitschek  em janeiro para inaugurar o trecho ferroviário entre Afonso Bezerra e Macauzinho. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 29/12/1959.p.3), no entanto, o presidente não se fez presente a inauguração.

Sobre a inauguração
As 04h00 da manhã do dia 27/08/1960 o trem conduzindo o vice-governador do estado José Varela representando o governador Dinarte Mariz, as autoridades, convidados e jornalistas deixou a estação central da EFSC na Ribeira com destino a cidade de Afonso Bezerra onde seria iniciada a solenidade de inauguração do novo trecho ferroviário da RFN entre Afonso Bezerra e Macau com uma extensão de 51,380 km. O trem especial levava também grande parte dos engenheiros construtores do 3º batalhão ferroviário comandado pelo Tenente-Coronel Auriz Coelho.

A solenidade em Afonso Bezerra
As 10h25 a composição atingiu a cidade de Afonso Bezerra sendo recebida com grandes manifestações de entusiamo pela população local, autoridades municipais presentes, o prefeito Sr. João Batista Montenegro.
A banda de música municipal executou a marcha civica a chegada da comitiva.Usaram da palavra o tenente-coronel Auri Coelho pelo Batalhão de Engenharia e o engenheiro Alimir Braga, superintendente da RFN que finalizando a solenidade cortou a fita simbolica.( DIÁRIO DE NATAL, 29/08/1960, p.8).
O trecho entregue tinha no percurso dois postos telegráficos servindo aos povoados de Monsenhor Honório no km 18 (antigo Mulungu) e de Soldado Alberino no km 44 (Macauzinho).Havia a previsão de construção de mais um posto telegráfico no km 34 (São José).
                      A inauguração da Estação ferroviária de Afonso Bezerra
                  
Momento da inauguração da estação ferroviária de Afonso Bezerra.Diário de Pernambuco,30/08/1960,p.13.
Em 1960 Afonso Bezerra contava com uma população de 6.669 habitantes.
     Logo após a inauguração da nova estação de Afonso Bezerra, cuja a fita simbólica foi cortada pelo engenheiro Alimir Braga, diretor-superintendente da RFN houve uma benção realizada pelo monsenhor Honório e lido o boletim do Batalhão ferroviário pelo coronel Auriz explicando a finalidade do Exercito junto a coletividade, saudando em seguida o engenheiro Almir Braga aos construtores e ao povo de Afonso Bezerra.Terminada a solenidade a administração da RFN seguiu até Monsenhor Honório , a nova estação que levava o nome do velho pároco de Macau, com 58 anos de sacerdócio dedicados ao povo daquela região naquela data.

A estação Soldado Alberino
         A Soldado Alberino estava localizada no km 44 (Macauzinho).
         Capitulo a parte mais tocante foi a inauguração da estação que leva o nome do Soldado Alberino, cujo sacrifício de vida foi reconhecido pelos companheiros do Batalhão Ferroviário, dando-lhe nome como verdadeiro tributo pelo cumprimento do dever. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 30/08/1960,p.13).
         Estavam presentes os pais e irmãos do Soldado Alberino. O coronel Auriz Coelho muito emocionado externou a família do soldado a tristeza de todos que aqueles que conviveram com o bravo soldado pela trágica morte ocasionada pela queda de uma barreira que soterrou o soldado durante a construção da estação que seria homenageada com seu nome. 
                                                   Estação Soldado Alberino

     O monsenhor Honório abençoou a  nova estação com palavras de conforto a família do soldado encerrando a solenidade, quando todos os presentes reverenciavam o jovem militar desaparecido.

A estação Monsenhor Honório
A estação Monsenhor Honório estava localizada no km 18 (antigo Mulungu).
A denominação de Monsenhor Honório ao posto telegráfico do km 18 foi homenagem ao monsenhor Joaquim Honório da Silveira fundador do povoado e grande colaborador moral e material na construção da estrada. A Câmara Municipal de Pendências por unanimidade mudou a denominação do povoado de Mulungu para Monsenhor Honório.
A época o monsenhor Honório já contava 82 anos de idade dos quais 56 foram dedicados em prol do bem-estar moral e material da região.Ele era uma pessoa queridíssima pelo povo que o chamava carinhosamente de “meu padrinho Honório”. ( DIÁRIO DE NATAL, 29/08/1960, p.8).
     Abordado pelo jornalista do Diário de Natal expressou assim o venerando sacerdote: “estou feliz com esta inauguração.Tudo que traz progresso para Macau é um motivo de satisfação para mim, filho deste rincão e que tanto o estimo.Agradeço o nome que foi dado ao antigo povoado de Mulungu e peço a Deus felicidade para todos”. ( DIÁRIO DE NATAL, 29/08/1960, p.8).

Em Macau
As 12h50 o trem inaugural chegou a Macau.Eis como o Diário de Natal descreveu o momento da chegada : “Macau se delineou no horizonte com suas pirâmides brancas de sal enchendo os olhos e os corações de todos que viajavam no trem inaugural”. ( DIÁRIO DE NATAL, 29/08/1960, p.8).
Num ambiente festivo, o trem especial da RFN chegou a cidade de Macau.Era o final daquela jornada ferroviária.Centenas de pirâmides de sal davam uma nota característica da paisagem da zona salineira do Estado.Após a inauguração da nova estação , cuja fita simbólica foi cortada pelo vice-governador do Estado.
Na estação ferroviária de Macau, uma verdadeira multidão aguardava a composição ovacionando-a delirantemente. Falou na ocasião em nome do povo macauense o industrial João Fernandes de Melo que em vibrante discurso disse que aquilo era a concretização  de uma das mais justas aspirações do povo de Macau.Em seguida, o tenente-coronel Auri Coelho agradeceu emocionado a todos que colaboraram com o Batalhão de Engenharia para a execução daquela obra.(DIÁRIO DE PERNAMBUCO,30/08/1960,p.13).
                                                  A estação de Macau
Diário de Natal,1978,p.5.
Finalizando a solenidade o vice-governador José Varela foi convidado a cortar a fita simbólica.
As 14h00 no Ginásio Municipal foi oferecido um banquete pela prefeitura e pelo povo macauense a comitiva presente aos festejos.
Durante o ágape varios oradores se fizeram ouvir culminando com  a palavra do dr. Paulo Viveiros que em feliz oração disse que o Monsenhor Honório era um monumento vivo na história de Macau e falou a relevância do acontecimento para a economia da região. O retorno da comitiva se deu as 19h00 chegando o trem a Natal na madrugada. (DIÁRIO DE NATAL, 23/08/1960. p.6).

A importância do acontecimento
A inauguração do trecho Afonso Bezerra-Macau foi um importante acontecimento para a vida econômica do estado ocorrido no dia 27/08/1960 completando a ligação ferroviária direta entre Natal e a importante cidade salineira do Rio Grande do  Norte.
       Mesmo sendo entregue o referido trecho ao trafego em caráter provisório, a sua inauguração teve importante significação, não somente para a população de Macau, como para a extensa zona do hiterland potiguar, indicando que aos poucos iam sendo feitas importantes ligações entre aquela região e a capital potiguar.
      O caráter provisório da entrega do trecho ferroviário Afonso Bezerra-Macau decorreu conforme esclarecimento do próprio Batalhão de Engenharia, pelo fato de ainda estarem em vias de conclusões obras complementares, como o empedramento da linha, a construção de algumas casas residenciais para o pessoal de conservação d alinha, edificação da parte das cercas marginais e ainda pequenos acabamentos.
       Por esta razão, o Batalhão de Engenharia continuaria trabalhando ali, uma vez que as obras estariam concluídas somente no ano seguinte segundo o comandante Auri Coelho. (DIÁRIO DE NATAL, 23/08/1960, p.8).

A entrega definitiva do Trecho Afonso Bezerra-Macau
Em solenidade simples realizou-se no dia 23/04/1962 a entrega pelo Batalhão de Engenharia ao Departamento Nacional de Estradas de Ferro que por sua vez passou a responsabilidade de sua administração a Rede Ferroviária do Nordeste-RFN do trecho de 51 km do trecho ferroviário que ligava Afonso Bezerra a Macau. (DIÁRIO DE NATAL, 24/04/1962, p.6)
O Batalhão de Engenharia foi representado neste ato pelo seu comandante o coronel Norton Chaves, o DNRF pelo engenheiro Bartolomeu Morais e a RFN por uma comissão presidida pelo engenheiro Waldo Sette.
Esta comitiva partiu de Natal chegando a Afonso Bezerra as 09h00 em carro de linha seguindo para Macau onde chegou as 13h00 depois de fazer diversas paradas para observações e inspeções da linha que se inaugurava.
Este percurso de Afonso Bezerra a Macau pode ser vencido regularmente num prazo de 1 hora.
A abertura do trafego
O trafego do trecho Afonso Bezerra-Macau foi aberto no dia 01/09/1960 conforme indica o aviso publicado no jornal O Poti mostrado abaixo.

O Poti,1960, p.28/08/1960,p.2.
Em 1962 os chamados trens motriz já faziam o percurso pelo trecho Afonso Bezerra-Macau conforme a tabela de horários da RFFSA publicado no jornal O Poti em 11/11/1962.

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                                                   O Poti, 11/11/1962,p.4

Conforme o horário a cima os trens partiam de Lajes as segundas, quartas e sextas e retornavam de Macau as terças, quintas e sábados.

Trem levou 28 horas de Natal a Macau
Após a entrega do trecho as coisas pareciam não ser das melhores no tocante aos serviços de trens de passageiros da RFN.
O jornal Diário de Natal transmitiu a direção da RFN varias reclamações que chegaram a redação do jornal a propósito do trem que fazia o percurso de Macau a Natal, via Afonso Bezerra e que levou na viagem de ontem mais de 28 horas para realizar o percurso. (DIÁRIO DE NATAL, 14/04/1961, p.8).
As reclamações todas elas chamavam a atenção que a demora não se prendia ao estado da linha em virtude das chuvas. Os funcionários da RFN encarregado do comboio não tiveram os passageiros deixando-os a mercê de sua própria sorte. Acrescentaram  que houve demora inexplicável em várias estações.Por exemplo: 6 horas na cidade de Lajes para abastecer a locomotiva. Em Baixa Verde pro outro lado a demora foi de 5 horas.
Pode-se presumir a situação dolorosa destes passageiros inclusive muitas crianças para vencer o percurso que em época normal era feito em 10 horas de viagem.

Um comentário:

  1. Posso afirmar que morei em Afonso Bezerra justamente nesse período 1959/60 saindo de Baixa Verde onde nasci, e voltando um ano depois ...deixando Baixa Verde para morar em Lages desde 1962 a 1973.

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