Taipu é uma terra pequena, onde, dos devaneios de nossos avós, amores dos nossos pais e sonhos enluarados da infância, fazem dela o relicário da nossa meninice, tão longe e tão perto do coração. Dir-se-ia que naquele rincão descansava a felicidade no meio da carência de tudo. Luís Viana, poeta taipuense.
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quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Comparações entre as cidades homônimas
Comparações
entre duas cidades homônimas que também são cortadas por ferrovias e possuem
estações ferroviárias. Extremoz, no Rio Grande do Norte e Estremoz, no distrito
de Évora em Portugal.
A estação de Extremoz no Rio Grande do
Norte foi inaugurada em 13/06/1906.Atualmente é uma parada dos trens
metropolitanos da CBTU, na linha norte.
A estação de Estremoz em Portugal foi
inaugurada em 22 de Dezembro de 1873.Em 1 de Janeiro de 1990, deixaram de ser
prestados serviços de passageiros entre Évora, Estremoz e Vila Viçosa, e já
tinham sido terminados os comboios deste tipo no Ramal de Portalegre, ficando
apenas serviços de mercadorias nestes três caminhos de ferro.Em 2009, o troço
entre Estremoz e Évora deixou de ter exploração, tendo sido oficialmente
desclassificado em 2011.
Câmara Cascudo diz que Extremoz
deveria ser grafado com S como o é em Portugal, porém, se consagrou com X em
terras potiguares.
Sobre a estação ferroviária de Extremoz
A estação de Extremoz fazia parte da
Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRN, posteriormente Estrada
de Ferro Sampaio Correia-EFSC, e está situada no km 21 da ferrovia. A
inauguração ocorreu em do dia 13/06/1906, na época Extremoz ainda era distrito
de Ceará-Mirim.
A
solenidade de inauguração do trecho entre Natal e Ceará-Mirim na qual foi
inaugurada a estação de Extremoz teve início as 09h30min do dia 13/06/1906, ao
ato esteve presente o então Presidente Afonso Pena e assistido pelo governador,
chefes de repartições públicas e grande número de convidados.
Do
relato da inauguração de Extremoz nos jornais locais tem-se o seguinte (DIÁRIO
DO NATAL, 14/06/1906, p. 1):
O ato teve lugar na parada de Extremoz, onde serviu-se uma mesa de
finas massas, doces, vinhos, champanhe, café etc. Dr. Carneiro da Rocha proferiu
importante discurso findo o qual declarou inaugurada a estrada.
Depois
de inaugurada a estação e Extremoz partiu o trem para a cidade de Ceará-Mirim e
de lá a comitiva retornou a Natal as 16h30min.
Fonte: www.nomilenio.com.br.
A
estação ainda conserva seu estilo arquitetônico original embora tenha sido
adaptada para ser atualmente uma parada dos trens metropolitanos da CBTU.
Estação de Extremoz.Google Earth |
Estação de Extremoz.Google Earth |
Estação de Extremoz.Panoramio. |
Estação de Extremoz.Google Earth |
Estação de Extremoz, 1993.Carlos Almeida. |
Pessoas desembarcando na estação de Extremoz, 2015.João Batista dos Santos. |
Lendas
A
EFCRN corta a cidade de Extremoz margeando a lagoa. Falavam os antigos que, quando se deu a construção da estrada de
ferro, tantos aterros fizessem como a lagoa engolia. A linha margeia a lagoa de
Extremoz que se descortina numa paisagem ao mesmo tempo exuberante e bucólica causando
ao passageiro do trem um encantamento.
Ao
adentrar em Extremoz os trilhos saltam sobre a calha do sangradouro e se
encaminham para a estação. Na estação se revelava a cada dia para os
passageiros dos trens da Estrada de Ferro Sampaio Correia uma inesquecível
feira de frutas e gulodices regionais. Em Extremoz eram também famosos os
grudes e água de coco verde vendida na plataforma da estação.
O diretor da EFCRN,
Sampaio Correia, que queria fazer-se deputado (e foi) colocou água encanada em
Extremoz derivada da farta caixa d’água de abastecimento dos trens (CARETA, 1959,
p.6).
O município de Extremoz
O segundo período histórico de Extremoz
começa a 3 de maio de 1760 quando a povoação foi elevada a categoria de vila
com a denominação de Vila Nova de Extremoz do Norte pelo ouvidor Bernardo
Coelho da Gama e Casco especialmente designado para erigir em vilas todas as
aldeias que estavam sob a direção da Companhia de Jesus. Extremoz foi assim alçado a condição de
município cuja sede era a antiga vila de Extremoz É desse período a construção
da casa de Câmara que servia à época como sede do poder municipal.
Sobre
Extremoz nos vem de Aires de Casal uma síntese corográfica da então vila de
Extremoz. Segundo ele era uma vila pequena, bem situada junto a uma lagoa de
três léguas de comprimento e meia de largura (18x3 km), distante cerca dez
milhas do mar, e ao noroeste da capital” (CASAL, 1817, p.280). O povo, que ali
habitava, compunha-se de brancos, índios e mestiços, todos agricultores.
Casal
citou também a povoação de Touros como pertencente ao termo de Extremoz, na
costa do Norte. Segundo ele “junto à embocadura de uma ribeira estava a
pequena, aprazível e florescente povoação de Touros, habitada de brancos, e
ornada com uma Capela dedicada ao Senhor Bom Jesus dos Navegantes” (CASAL,
1817, p.280). Do seu porto, exportava-se algodão.
O
Rio Genipabu, também de nome Ceará-Mirim, foi igualmente mencionado por Aires
de Casal nestes termos: “depois de ter regado um terreno extenso, e semeado de
pequenas aldeias, desemboca três milhas ao norte do Potengi, com boa largura e
duas braças de fundo” ” (CASAL, 1817, p. 279).
Extremoz na Revolução de 1817
Foi
junto ao Cruzeiro de Extremoz que coronel Joaquim José do Rego Barro ergueu a
bandeira da Revolução de 1817.
A visita do bispo
O
bispo de Olinda Dom Joao da Purificação Marques Perdigão em visita pastoral
pelo Rio Grande do Norte esteve na freguesia de Extremoz entre 12 e 18/11/1839.
Chegou
a Freguesia de Extremoz as 9h do dia 12/11. O bispo notou que as estradas neste
percurso eram aprazíveis com a presença de muitas mangabeiras e cajueiros.
Entrou na matriz e fez a oração ao santíssimo, logo após foi hospedado pelo
pároco no antigo convento dos jesuítas que existia anexo a igreja. A vila se
iluminou a noite.
No
dia 13 o bispo foi visitado por muitas pessoas, inclusive índios que habitavam
tanto fora como dentro da vila. Nesse dia crismou 300 pessoas e confessou 80,
participaram dos atos nesse dia cerca de 400 pessoas.
Segundo
o bispo foi observado por ele nesta povoação muita religiosidade, probidade e
docilidade do povo, principalmente na freguesia de Extremoz bispo notou que
muitas pessoas iam ao seu encontro nos aposentos do convento para lhe beijar a
mão, entrando e saindo sem cerimonias, deixando o bispo sem nenhuma
privacidade.
As
10 horas procedeu a inspeção da matriz cujo o orago era São Miguel e Nossa
Senhora do Prazeres. Conduzido em procissão sob o palio o bispo adentrou a
matriz onde foi cantado o oficio. O sacrário, a pia batismal e custodia estavam
muito decentes segundo o bispo, o mesmo não podia se dizer dos paramentos. A
igreja possuía apenas m altar lateral, o piso ainda era de terra batida, o
altar mor estava grande deterioramento, era segundo o bispo uma igreja grande.
Exortou o povo a zelar pela matriz e contribuísse para seu melhoramento. A
tarde crismou cerca de 1.000 pessoas com presença de mais de 2.000 a celebração
onde o bispo dirigiu-se a exortação no púlpito da igreja.
No
dia 15 foi a vez do bispo ouvir a comunidade. Alguns vinha apenas para lhe
beijar as mãos, outros para expor suas queixas. Alguns fugiam até a jurisdição
pastoral do bispo, como a violação de mulheres solteiras com promessas falsas
de casamento, as quais sofriam por serem enganadas pelos rapazes, elas pediam
ao bispo que os obrigassem a casar com elas. Embora estranhasse que tais moças
pudessem se deixar se iludir com os rapazes remeteu elas ao juiz de paz a quem
competia apurar os casos de violação de mulheres. Compareceram neste dia mais
de 300 pessoas.
A
noite crismou mais de 1000 pessoas com o dobro dos presentes a celebração.
Anulou um casamento a quem o padre da freguesia havia feito contra a vontade do
noivo. No dia 16 ouviu a confissão de alguns homens, convidou as pessoas
principais da freguesia para ali instalar a irmandade do santíssimo. Crismou
quase 400 pessoas neste dia, assistindo a missa mais de 600 pessoas. A visita a
paróquia de Extremoz terminou no dia 18/11 as 7h quando o bispo se dirigiu a
capital da província onde chagou as 9h.
Em
1841 houve eleições no colégio eleitoral da vila de Extremoz (O Diário Novo, 1842,
p.2). Em 1842 achava-se a vaga a paróquia de Extremoz tendo sido aberto um
concurso para preencher a vaga da dita paróquia entre outras do bispado de Pernambuco
(Diário de Pernambuco, 1842, p.1).
Em
1844 havia um juiz municipal e de órfãos no termo da comarca de Extremoz (O Diário
Novo, 1844, p.1).
Em
1847 distúrbios entre brancos e índios foram subdelegados do distrito de Muriú
ao chefe de polícia. Segundo o relato encontrado no jornal Diário de Pernambuco
os índios eram assaz insubordinados e desordeiros, já tinham outras vezes
alterado o sossego público cometendo graves atentados além de prejuízos aos proprietários
que ali residiam ( Diário de Pernambuco, 1847, p.1).
Em
1848 houve nova eleição na mesa paroquial da vila de Extremoz, dessa vez bem
tumultuada, segundo o jornal o Diário Novo “nunca se tanto escândalo se viu
praticar em eleição alguma nesta província, como na que teve ultimamente lugar
nas vilas de Extremoz e São Gonçalo”, segundo o jornal , o presidente Siqueira
quis impor a sua vontade ao povo daquelas duas freguesias.
o
tumulto se deu por que a facção nortista estaria consciente da derrota nas
eleições, tendo tomado em armas para prevalecer em sua vontade e com a ajuda do juiz de paz fizeram uma eleição clandestina.
Os ânimos se exaltaram a tal ponto que a vila teve que ser evacuada e muitas
pessoas buscaram refúgio em Natal para escapar da violência que ali se
verificara (O Diário Novo, 1848, p.1).
Em
1854 crimes foram registrados na Picada do Ceará-Mirim, na Alagoa do Xavier e
no Jaçanaizinha no termo de Extremoz. O termo de Extremoz era considerado um
dos mais pacíficos da província, porem estava as voltas com uma onde violência o
qual se mostrava injustificada pois as autoridades estavam constantemente
realizando diligencias (Diário de Pernambuco, 1854, p. 2).
O
jornal Diário de Pernambuco também estampou em suas páginas uma denúncia ao vigário
de Extremoz, acusado de ser o responsável pela decadência da igreja matriz.
Segundo o jornal, o padre “tomou conta da matriz, que é um bispado, achando uma
ótima matriz, e teve a habilidade de convertê-la em ruinas, apesar de quando em
vez receber não pequenas somas da tesouraria para reparos” (Diário de
Pernambuco, 1855 , p. 2).A explicação para a ruina da igreja de Extremoz
residia no fato de a vila de Extremoz sofrer uma espantosa decadência causada pelo crescimento da povoação de Boca
da Mata distante 4 léguas e por esse fato não havia logica em acabar a vila e
ficar a matriz, era o que se lia no referido jornal.
Sobre
a mudança da sede municipal em 1855 se lia no diário de Pernambuco “está em segunda discussão outro projeto
mudando a sede da vila de Extremoz para a povoação da Boca da Mata; isto é um
dos objetivos de grande necessidade, porque aquela vila hoje só tem o nome” (Diário de Pernambuco, 1855, p. 2),
o requerimento passou a despeito da grande maioria dos deputados provinciais.
Em
1865 se
lia no jornal de Recife um oficio do bispado de Pernambuco estanhando por que o
padre de Extremoz não está residindo na matriz “ estranhando que V. Revma tendo
sido colado vigário de Extremoz em o mês de dezembro, ainda até hoje não tenha
ido residir junto a sua matriz, como é do seu dever, e como ordenam as
constituições diocesanas, conservando-se no lugar denominado boca da Mata,
distante da igreja matriz três léguas e isto com grave prejuízo da regular administração
do pasto espiritual”, assim a secretaria do bispado ordenava que o dito vigário
mudasse para a residência junto da matriz e comunicasse ao bispado assim que o
fizesse (Diário de
Pernambuco, 1865 , p. 2),
Apogeu
O
município de Extremoz foi extinto em 1855 quando uma lei provincial transferiu
a sede do município para a então povoação de Boca da Mata, atual Ceará-Mirim
tendo sido Extremoz reduzida a condição de povoação. O distrito foi criado em 1892
anexando-o Extremoz ao município de Ceará-Mirim condição esta que permanecerá por
108 anos até ser restaurado como município.
Nesse
período Extremoz entra em seu apogeu. A antiga vila com seus monumentos
históricos cai numa letargia cujo final foi a completa ruina de tais
monumentos. A igreja, o convento, a casa de Câmara, o hospício, todos prédios
do período colônia e barroco ruíram pelo abandono que deles se fizeram.
As
ruínas do convento onde viveram os jesuítas e da igreja podiam ser vistas até a
década de 40.A igreja caiu por 3 vezes, na 4, foi totalmente derrubada por
caçadores de tesouros. Os escombros ficaram cobrindo a imensa praça que tinha
ao lado esquerdo o cruzeiro e pelourinho feito de pedra e tijolos contendo as
armas reais de Portugal atestando ali a justiça do Reino de Portugal. Todas as
vilas do Rio Grande do Norte tiveram pelourinhos. O de Extremoz era o mais
antigo.
Ruínas do paço municipal de Extremoz |
Localização do atual município de Extremoz.Wikipedia. |
Município de Extremoz.Wikipédia. |
Após 108 anos de letargia Extremoz
ressurgiu como município restaurado em 1963 sendo assim o terceiro período
histórico de Extremoz, período este vigente presentemente. Através da Lei n° 2.876, de 4 de
abril de 1963, desmembrou-se de Ceará-Mirim tornando-se município do Rio Grande
do Norte.
O aldeamento jesuíta em Estremoz
As terras da região de Estremoz foram
doadas aos padres da Companhia de Jesus em 1607 onde os mesmos criaram o aldeamento
de São Miguel do Guajiru. A aldeia indígena Estremoz (Guajiru) foi notificada
já em 1641, por um emissário holandês que viajava pela capitania do Rio Grande.
Nesse
período houve desavenças entre os administradores coloniais e os missionários
da Companhia de Jesus ali estabelecidos. O padre João de Gouveia era acusado
pelos colonos de amotinar os índios.
Apesar
de haver testemunhos da existência do aldeamento desde 1641, ela só foi
registrada no catálogo da Companhia de Jesus em 1683,
o que muito provavelmente determina que a mesma pertencia ao movimento operado
em 1678 para que os Jesuítas retomassem algumas aldeias de Índios.
A
finalidade dos aldeamentos jesuítas eram de catequizar os índios fazendo-os
converterem-se a fé católica com a intenção de que estes pudessem viver em paz
com os brancos.
Na
aldeia Guajiru foram construídos um hospício (a época tinha a função de hospital) e uma cadeia. Havia o pelourinho
junto ao Cruzeiro na esplanada da enorme praça que havia na povoação. O
pelourinho era o símbolo da autoridade e da justiça do Reino português.
A
freguesia foi criada cujos padroeiros eram São Miguel e Nossa
Senhora dos Prazeres. Além da igreja, os jesuítas ergueram também um convento
anexo a igreja onde residiam.
Segundo Câmara Cascudo era a mais bela igreja do
período colonial do Rio Grande do Norte. É atribuída ao padre Gaspar de
Sampers, arquiteto que projetou a Fortaleza dos Reis Magos em Natal, a
construção da igreja de Estremoz.
O Vigário padre Antônio de Souza Magalhães, era o diretor da missão, auxliado por Antonio de Barros Passos e mestre Antônio de Barros Passos.
No
final do século XVIII, a paz e a fartura reinavam na aldeia de São Miguel do
Guajiru e seus habitantes, os índios Tupis e Paiacu, mantinham um bom
relacionamento com o trabalho catequético desenvolvido pelos padres jesuítas.
Quando os jesuítas foram expulsos pela ordem do marquês de Pombal deixaram na aldeia 1.429 pessoas, ampla fartura de
gado e víveres, e a mais linda igreja da capitania.A
presença dos jesuítas durou até 03/09/1759 quando por força de um
alvará real os jesuítas foram expulsos do local. Terminando assim esse primeiro
período da história de Estremoz.
A antiga missão jesuitica em Estremoz foi transformada em vila instalada em 03/05/1763.
A planta tipica de uma missão jesuitica nos dá a ideia de como seria a aldeia do Guajiru em Extremoz.
Nas missões jesuíticas os padres se dedicavam a catequizar os índios ensinando-lhes a doutrina católica, também faziam trabalhos manuais de vários tipos.Para se adequar a cultura dos índios, os padres da Companhia de Jesus compilaram a gramatica tupi.
Antiga igreja de Estremoz |
Ruínas da antiga igreja de Estremoz. |
PS. Estremoz no Rio Grande do Norte deve ser grafada com S e não com X como atualmente se verifica na atual cidade, ocorre pois, que por ter recebido esse nome em homenagem a vila de Estremoz em Portugal a mesma deve ser grafada tal e qual.
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