Projeto do Palácio Arquiepiscopal de Natal
| Em cima imagem recriada por IA, em baixo o projeto do Palácio Arquiespiscopal de Natal publicada no jornal A Noite, 24/12/1930, p.2. |
Taipu é uma terra pequena, onde, dos devaneios de nossos avós, amores dos nossos pais e sonhos enluarados da infância, fazem dela o relicário da nossa meninice, tão longe e tão perto do coração. Dir-se-ia que naquele rincão descansava a felicidade no meio da carência de tudo. Luís Viana, poeta taipuense.
Projeto do Palácio Arquiepiscopal de Natal
| Em cima imagem recriada por IA, em baixo o projeto do Palácio Arquiespiscopal de Natal publicada no jornal A Noite, 24/12/1930, p.2. |
Na década de 1930 Estremoz era descrita
ainda como uma decadente povoação, onde não havia ruas, existindo apenas uma
grande praça em torno da qual viam-se quase todas as casas da localidade.
Entretanto, após a Revolução de 1930 (Estado
Novo) já se começava a ver certa diferença na vida de Estremoz.
A prefeitura de Ceará-Mirim havia
construindo um pequeno mercado e estava dando inicio a edificação de um grupo
escolar em frente a estação da EFCRGN.
Logo que assumiu a direção do
Departamento de Educação, Anfilóquio Câmara expôs detalhadamente a situação no
setor da educação ao interventor federal no Rio Grande do Norte, o qual se
mostrou disposto a encarar todas as dificuldades de ordem financeira para
atender as despesas que, naturalmente, decorreriam de tantas obras.
De comum acordo com o interventor, o
Departamento de Educação resolveu encetar as construções que se projetavam
criando três tipos de edifícios:
As Escolas Isoladas, para os povoados do interior, cuja freqüência não exigisse acomodações muito vastas; as Escolas Reunidas, para as cidades do interior, ou para vilas, onde já havia um número regular de alunos; e os Grupos Escolares, cujo número de salas de aula também variavam segundo a localidade em seriam construídos.
| Fonte: A Noite, 19/01/1935, p.19. |
| Imagem colorizada por Inteligência Artificial, 2025. |
| Imagem recriada por Inteligência Artificial. |
Até o final do ano de 1934 o governo do
Estado havia construído 12 Escolas Isoladas, 10 Escolas Reunidas e 4 Grupos Escolares,
estando em construção mais 12 isoladas, 11 reunidas e 3 grupos.[1]
Foram reparados 15 Grupos Escolares, 8
Escolas Reunidas e 2 Escolas Isoladas.
Assim foi que pelo Departamento de
Educação do governo do Estado foi criado em 1933 na povoação de Estremoz, duas
Escolas Reunidas ficando nelas absorvidas a escola rudimentar já existente.
Em dezembro de 1933 as obras das
Escolas Reunidas de Estremoz estavam em andamento e se esperava em breve sua
inauguração.
O interventor federal, acompanhado de
sua esposa, do dr. Oto Guerra, secretário particular, o engenheiro Miguel Bilro, prefeito de Natal,
coronel Jorge Câmara, proprietário e usineiro no municipio de Ceará-Mirim, dr.
Teixeira Brandão, e outras pessoas, fizeram visita ao aterro do engenho
Carnaubal, no municipio de Ceará-Mirim em abril de 1934.
A passar os excursionistas pela
povoação de Estremoz, tiveram a oportunidade de visitar o novo edifício em
construção, para o funcionamento de uma escola, cuja direção dos trabalhos
estava a cargo do coronel Pignataro, proprietário na povoação.[2]
A Inauguração
A inauguração das Escolas Reunidas de
Estremoz ocorreu em junho de 24/06/1934, contando com a presença do interventor
Mário Câmara e assistido o ato inaugural por várias pessoas gradas da capital
Durante a inauguração tocou a banda de
música da Policia Militar.[3]
Sobre a gestão do interventor Mário
Câmara na área da educação escreveu Câmara Cascudo, então diretor da Escola
Normal de Natal, em 1935:
A escola de Estremoz, há trinta
minutos da capital, tinha uma mesa da recebedoria e três bancos de aroeira da
Igreja.Hoje tem um grupo esplêndido, claro e amplo com salões acolhedores e
material idôneo [...].
Esse foi assim um grande melhoramento da Interventoria
Mário Câmara, por meio do secretário de Educação, Anfilóquio Câmara na povoação
de Estremoz, a o qual viria a contribuir significativamente para o
desenvolvimento da instrução pública em Estremoz.
Mudança de
denominação
Pela lei nº 111, de 27 de outubro de
1937 foi mudado a denominação do Grupo Escolar da cidade de Ceará-Mirim para
Barão do Ceará-Mirim e denominada de Felipe Camarão as Escolas Reunidas da
povoação de Estremoz.[4]
A lei foi assinada pelo interventor
federal Rafael Fernandes.
| Fonte: A Noite, 19/01/1935, p.19. |
Na legenda da foto estava escrito: “Escolas Reunidas da povoação de Estremoz, no municipio de Ceará-Mirim, inauguradas em 24-06-934, vendo-se parte da assistência que compareceu ao ato, inclusive o interventor Mário Câmara e sua Exma esposa”.
Na imagem a cima aspecto da sessão inaugural das Escolas
Reunidas de Estremoz, vendo-se na presidência o interventor Mário Câmara.
Situação atual
As antigas Escolas Reunidas de Estremoz
denomina-se presentemente de Escola Estadual Felipe Camarão.
Localiza-se no mesmo local onde fora construído o prédio em 1934, porém, ao passar dos anos passou por várias reformas que descaracterizou a sua feição original. Em 1982 o prédio da Escola Estadual Felipe Camarão de Estremoz passou por ampliações e restaurações, tendo sido estas obras inauguradas em 16/07/1982 pelo governador Lavoisier Maia.[5]
| Fonte: João Santos, 2025. |
Em
1956 a Estrada de Ferro Sampaio Correia-EFSC construiu na vila de Montanhas uma
caixa d’água para abastecimento da vila que era bastante escassa de água.
A
água viria do rio Pirarí, já estando pronta uma barragem no mesmo, e em franco
andamento o serviço de encanamento da barragem para a vila.
A
caixa d’água foi erguida em cimento armado tendo dois depositos, um
subeterraneo e outro no alto, tendo capacidade de 300.000 litros, sendo 200.000
no reservatório de baixo e 100.000 no do alto.
A
obra custou Cr$ 200.000,00.
Segundo
o jornal O Poti em breves dias seria inaugurado este melhoramento de real valor
para a vila de Montanhas que em épocas de seca sofria o terrível flagelo da
falta de água.
Presentemente
a caixa d’água é a única coisa que remete a memória ferroviária da cidade de
Montanhas, visto que a estação foi demolida.
Fonte: O Poti, 10/06/1956, p.3.
Pesqusia: João Santos, 11/08/12025.
A estação do Baldum foi construída no km 53 da Estrada de
Ferro de Natal a Nova, tendo sido inaugurada em 31/10/1881, na segunda seção de
construção da referida ferrovia.
Em 1882 o bispo de Olinda, José Pereira da Silva Barros,
esteve em visita ao Rio Grande do Norte passando freguesia de Arez para onde se
dirigiu em no trem da Estraada de Ferro de Natal a Nova Cruz.
Na sua comitiva estava o médica Luiz Carlos Lins Wanderley o
qual fez o registro de toda a visita pastoral e compilou posteriormente em
livro.
Segundo ele:” o Baldum fica á 12 quilômetros da estação de
S. José, e é o lugar de parada do trem. Não é uma vila, nem uma aldeia, nem uma
pousada sequer. É um ponto convencionado entre a companhia inglesa e os
Srs.-Hermino Pegado e João Pegado, que, tendo os seus engenhos de açúcar ali
perto, este ao poente e aquele ao nascente da via férrea, para ali mandam os
seus produtos para serem transportados ao Natal. (Wanderley, 1882, p.126).
Ao finalizar a visita a
paróquia de Arez o bispo retornou a estação do Baldum par aeseprar o trem e
retornar para Natal.
“O trem ainda lá não
estava, e S. Exc, abrigado á uma sombra, conversava alegremente com os seus
companheiros. Quinze minutos depois chega o trem. Não havia tempo a perder.
Feita uma despedida geral, S. Exc. mete-se em o seu carro com os seus padres.O
trem partiu”. (Op.Cit., p.130).
Presentemente as ruínas da antiga estação do Baldum podem ser vistas a margem da estrada de rodagem que se dirige ao municipio de Arez.Alguns trechos ainda estão com os trilhos.
| Ruínas da estação do Baldum |
Fonte:
Visita Episcopal do exm. E Revm Sr. D. José Pereira da
Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley.
Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.
Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.
Em 1882 o bispo de Olinda, dom José Pereira da Silva Barros,
esteve em visita pastoral ao Rio Grande do Norte.
Partindo
de Natal para realizar a visita pastoral a freguesia do Ceará-Mirim em
14/08/1882 o referido bispo passou pela povoação de Estremoz.
De acordo
com o relato da visita pastoral feita por Luis Carlos Lins Wanderley as 09h00
da manhã “chegava a pequena comitiva à passagem da vila de Estremoz, ai o foguete
do ar anunciou aos habitantes da pequena vila a aproximação de S. Exc. Ryma, e
dentro em pouco sucediam-se os cavaleiros que vinham ao obsequioso encontro do
viajante querido”. (Wanderley,1882,p. 24).
Já próximo da vila, o bispo desceu do seu
cavalo e, rodeado de povo, seguiu a pé e em direção a Igreja de São Miguel, que
fazia parte do antigo convento dos jesuítas.
Segundo
o citado cronista :”A antiga vila de Guagiru, hoje Estremoz, que foi sede da
freguesia e que por lei provincial passou a pertencer paróquia do Ceará-Mirim, pode ser considerada
uma ruína, como é o seu convento, a sua Igreja, a sua casa de câmera e tudo
mais”.(Op.Cit).
E continuou
: “O povo ali é pobre e indolente. Vive da pequena lavoura que lhe facilita um
terreno ubérrimo e fertilíssimo. Ali não há nenhum comércio, nenhuma indústria,
nenhuma arte, Um professor de 1ª letras, um subdelegado e um inspetor de
quarteirão são as potestades do lugar. Nem sequer um capelão!” (Op. Cit).
Apesar
da extrema pobreza e insignificância da povoação de Estremoz o bispo, perspicaz e atilado, compreendeu logo que se
achava no meio de um povo, feliz pela crença religiosa e desditoso pelo
abandono à própria inércia.
Em
atos sucessivos, o bispo percorreu a
Igreja, revistou os altares e examinou o estado do convento; e depois de um
substancial almoço que lhe ofereceu o vigário José Alexandre, cedeu às instancias
do povo e administrou o sacramento do crisma á 285 fiéis que de momento se
apresentaram
Por fim o bispo dirigiu-lhes a palavra
sagrada, animando-os em sua fé, aconselhando-os em suas práticas, no amor ao
trabalho e na devoção sincera ao Deus verdadeiro, Filho da Virgem Maria. Era
como um pai extremoso a conduzir pela mão um filho cego. “E que prazer tão
santo, que consolação tão doce, que expansão tão de dentro da alma não se
difundia por todo aquele povo !.” (Op.Cit).
Sobre
os momentos vividos pela população de Estremoz Luiz Carlos Lins Wanderley anotou:
“Os seus benditos, as suas ladainhas, as suas jaculatórias, cantadas em coro
pelas mulheres; os seus arcos de parágrafos brancos, enfeitados de flores
campesinas, o seu embevecimento em contemplar a face do seu Bispo, o seu afã em
beijar lhe o anel do pescador, eram as provas que lhe podia dar do seu muito
amor e respeito. Dava quanto tinha, e em retribuição S, Exc. lhe prodigalizava
a mais terna condescendência, o mais doce carinho. Oh! só a religião do Crucificado
sabe dispensar esses momentos de celestial ventura para aqueles que sofrem e crêem”.(Op.Cit.,
p.25).
Aproximando-se
a hora da partida e os cavaleiros iam chegando e agrupavam-se ao lado do
convento, onde o bispo passara as horas caniculares.
O
sino repicava e as mulheres cantavam seus benditos em coro pleno. As 140h30 o
bispo montou á cavalo e partiu, lançando sua benção ao povo.
Na viagem
de Estremoz a Ceará-Mirim registrou Luiz Carlos Lins Wanderley: “O caminho que
vai de Estremoz ao Ceará-Mirim é um deserto, em todo o rigor da expressão. Nem
uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. São 24 kilometros de
fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão grande
número de cavaleiros em uma hora dada”. (Op. Cit).
As
turmas sucediam-se umas as outras, sem interrupção. Eram como vagas oceânicas:
não chegava uma sem à sequencia de outra. 33 cavaleiros partiram de Estremoz, e
ao chegar a vila de Ceará-Mirim contavam-se mais de 250.
De acordo
com o Diário de Pernambuco o bispo de Olinda em sua passagem pela povoação de
Estremoz recebeu e ouviu com toda a atenção a queixa de suas ovelhas, pela
falta de sacramentos em que muito esperavam, viu e conheceu a necessidade que
havia da criação de uma nova freguesia tirada do Ceará-Mirim. Constava que o
bispo tomou providências para que cessassem a falta de sacramentos entre suas
ovelhas.( Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2).
| Convento e igreja de São Miguel Arcanjo em Estremoz, onde o referido bispo fez visita pastoral em 14/08/1882. |
A última
visita de um bispo em Estremoz ocorrera em 1839, a época Estremoz era a sede da
paróquia, passados 43 anos, nessa nova visita a povoação de Estremoz se
apresentava reduzida a ruínas e constando com capela sufragânia da paróquia de
Ceará-Mirim.
A nova paróquia sugerida pelo bispo no relato a cima seria criada na povoação do Taipu cuja capela era a de Nossa Senhora do Livramento, porém, essa só viria a ser criada em 18/04/1913.
Sobre
o bispo Dom José Pereira da Silva Barros
Dom José Pereira da Silva
Barros, primeiro e único conde de Santo Agostinho (Taubaté, 24 de novembro de
1835 em Taubaté-SP, foi um religioso católico;
bispo de Olinda e do Rio de Janeiro. Foi o último bispo de S. Sebastião do Rio
de Janeiro. Nomeado bispo em 13/05/1881. Foi Bispo de Olinda de 1881-1891 quando foi transferido para a
então Diocese do Rio de Janeiro, onde morreu em 15/04/1888 aos 62 anos.
| Dom José Pereira da Silva Barros |
Sobre
Luiz Carlos Lins Wanderley
Luiz Carlos Lins Wanderley era médico e foi ele encarregado
de cuidar das pessoas desvalidas acometidas pela varíola na povoação de
Estremoz no ano de 1881.
De acordo
com o jornal Reforma em resposta ao oficio de 12/09/1881 em que transmitiu por
cópia o delegado de policia do distrito de Estremoz pedindo providências no
sentido de serem tratados os indivíduos da cariola que ali se tinha
desenvolvido com intensidade, o presidente da província declarava-lhe que naquela
data havia nomeado o médico Luiz Carlos Lins Wanderley em comissão par
encarregar-se do tratamento dos referidos indivíduos. (Reforma, 24/09/1881, p.2).
O médico Luiz Carlos Lins Wanderley deu por encerrada a sua
comissão na povoação de Estremoz em 21/09/1881, por haver extinta a varíola na
povoação de Estremoz e outros pontos da região. (Reforma, 28/11/1881, p.3).
No ano seguinte ele se faria presente na comitiva que
acompanhou o bispo de Olinda em visita pastoral a freguesia de Ceará-Mirim
passando pela povoação de Estremoz como visto a cima.
Fonte:
Visita Episcopal do exm. e Revm Sr. D. José Pereira da
Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley.Natal:
Tipografia do Correio do Natal, 1882.
Reforma, 24/11/1881, p.2 e 28/11/188, p.3.
Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2.
Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.