terça-feira, 17 de outubro de 2017

CEARÁ-MIRIM EM 1885

            O município de Ceará-Mirim foi criado pela transferência da sede municipal de Extremoz para a povoação de Boca da Mata por meio da lei provincial Nº 321 de 18 de agosto de 1855, esta lei foi revogada e substituída pela de Nº 345 de 4 de setembro de 1856.A lei 321 foi restabelecida pela de Nº 370 de 30 de julho de 1858 que instalou o município[1].
            A seguir um apanhado histórico de como se caracterizava o município de Ceará-Mirim em 1885.

Sobre o vale do Ceará-Mirim
            O vale era considerado por sua espantosa fertilidade uma das maravilhas da então província do Rio Grande do Norte, digno de ser contemplado num majestoso panorama de extensíssima e incomparável verdura oferecida a vista do observador, era também digno da atenção protetora dos governantes por sua constante produção.
            Segundo o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro o vale se estendia sobre 4 léguas de comprimento no sentido Leste-Oeste e sobre 1 légua e meia no sentido Norte-Sul e estava quase todo ocupado sem interrupções por imensas plantações de cana-de-açúcar[2].
            Das primeiras horas da manhã até a tarde o vale era digno de ser apreciado do topo de qualquer ponto elevado das belas colinas que o circundava.  Havia, no entanto, três pontos onde o observado poderia fartar a vista contemplando o vale, eram eles os Engenho Ilha Bela, Bica e o Jericó.
            Haviam 44 engenhos que fabricavam açúcar além de outros pequenos sítios onde também se plantava a cana. Destes 44 engenhos, 23 eram a vapor, o que produziam anualmente de 6 mil e 10 mil sacos de açúcar[3].
            As casas dos engenhos eram no geral bem edificadas, cômodas, espaçosas, sendo alguma até providas de água encanada que era obtida por meio de elevadores de moinho de vento americanos automáticos. As casas dos engenhos eram geralmente edificadas sobre uma suave colina levemente inclinada ao longo do vale.

Sobre a cidade de Ceará-Mirim
            Situada a sul do vale, na margem direita do rio que lhe denomina, sobre o dorso de uma pequena colina, estava a cidade de Ceará-Mirim, predicativo adquirido em 1882, distante 8 léguas da capital[4] Ceará-Mirim despontava num florescente desenvolvimento econômico.
            Segundo Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro a cidade de Ceará-Mirim contava uma população de 4 mil pessoas, era sede de comarca, tinha uma agencia de rendas provinciais e gerais, uma agencia dos correios, três escolas públicas de primeiras letras, sendo uma para meninos e duas para meninas e duas escolas particulares.
            Entre os edifícios dignos de nota estava a igreja matriz, um templo bastante espaçoso em belíssima posição, naquele ano de 1885 ainda estava em fase de acabamento internamente, porem atestava o espirito religioso e o não pequeno esforço dos habitantes da cidade.
            A igreja tinha por dimensões 106 palmos de frente[5], um largo patamar guarnecia a base da vasta fachada. Deste patamar poder-se-ia contemplar o vale que ali se descortinava.
            Outro edifício existente em Ceará-Mirim digno de nota era o prédio da escola, edifico solido e cômodo construído pelo coronel Manoel Varela do Nascimento, o barão de Ceará-Mirim e doado a cidade para servir a população.
            O prédio do mercado edificado no lugar mais elevado da colina composto por 4 faces, sendo que em cada uma das duas faces norte-sul havia três largos portões de ferro que davam entrada para o interior do edifício.
            Havia uma caixa d’água construída sobre uma fonte a cerca de 200 passos da cidade do lado nascente que abastecia toda a cidade, era uma obra bem acabada segundo informava o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro.
            Já entre os edifícios particulares merecia atenção o palacete de J.S. Fernandes Barros, com um pequeno e arejado jardim ao lado.
            No edifício escolar funcionava em uma das salas a escola pública de instrução primaria para meninos e estava provida de sólida, suficiente e cômoda mobília de sistema americano. Numa outra sala funcionava a biblioteca pública que havia sido recentemente inaugurada e noutra sala funcionava uma escola noturna com cerca de 50 alunos matriculados.
            Havia em Ceará-Mirim um crescente número de loja de fazendas [tecidos] muitas das quais bem sortidas e luxuosamente ornadas. Tinha uma farmácia e outros estabelecimentos de natureza diversas, porém o movimento do comércio não correspondia a essa proporção de estabelecimentos.
            A causa par ao fraco movimento do comercio em Ceará-Mirim era por que o comércio do vale era feito diretamente na também florescente vila de Macaíba distante 7 léguas ao sul do porto dos Guarapes[6].
            Era opinião geral a na cidade que uma estrada de ferro partindo da capital até o vale com estação terminal em Ceará-Mirim fosse construída para atrair os compradores de açúcar e algodão onde a cidade se tornaria um empório de comércio com interior da província.
Fonte: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1885, p. 769-770.




[1] O município de Extremoz foi criado por alvará real de 06/06/1775 e instalado em maio de 1760 com sede na antiga vila de São Miguel do Guajiru, missão dos padres jesuítas, com a transferência da sede municipal para Ceará-Mirim o município de Extremoz foi suplantado e reduzido a distrito de Ceará-Mirim permanecendo nessa condição até ser recriado em 1963.

[2] 1 légua equivale a 6 km, assim o vale media segundo o referido almanaque 19,31 km de comprimento por 9 km de largura.

[3] A época cada saco variava de 75 kg ou 5 arrobas.

[4] 38,62 km.

[5] 1 palmo equivale  a 22,86 cm assim a igreja matriz de Ceará-Mirim possui 24,23m de frente.
[6] 33 km.

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