Em Angicos durante o dia o calor era asfixiante.
As noites, porém, erma agradáveis proporcionando um sono reparador. O vento
soprava fortemente nos telhados das casas. Eram belas as noites enluaradas
permitindo-se contemplar as alvas pedras espalhadas pelos amplos tabuleiros ao
redor da cidade.
A
distância de Angicos a Natal de trem é de 194 km. Em 1954 haviam trens horários
correndo três vezes por semana no trecho entre Angicos e Natal pela Estrada de
Ferro Sampaio Correia, o percurso era realizado em 8 horas. A época a ferrovia a
estava sendo estendida em direção aos Seridó porem em passo lentos, havia
apenas uma estação inaugurada além de Angicos.
Os
sertanejos aguardavam que um dia que a locomotiva apitando, entrasse em Caicó. Mas
a julgar pela marcha dos trabalhos naquela época, verificar-se-ia que não
teriam essa satisfação”.
O
trem partia as 5 horas da manhã, quando a pequena cidade ainda estava em volta
da escuridão. A primeira parada era Fernando Pedroza, antiga São Romão, onde
era servido aos passageiros um leite saboroso e puro [...], a medida que o trem
avançava ia se erguendo bizarro e imponente o Cabugi com sua forma cônica
prendia a atenção dos passageiros, as 6 horas o trem passava pelo sopé do Pico
do Cabugi [...].
As
7 horas o trem chegava em Lajes, na época denominada Itaretama, belíssima
topografia apresentava essa cidade, o qual se erguia num planalto varrido pelas
brisas sertanejas. Ao longe se formava um semicírculo de montanhas azuladas. A
gare enorme estava repleta de pessoas aguardando o trem. Ali perto havia o Café
Getúlio anunciado num enorme letreiro.
De
Lajes partia o ramal para Pedro Avelino rumo a Macau, naquele ano, ninguém sabia
quando os trilhos alcançariam aquela cidade [...].
Os
terrenos nessa região eram pedregosos, cobertos por vegetação rasteira e cardos
silvestres, tudo era muito seco.
A
demora nas pequenas estações intermediárias – Pedra Preta, Jardim de Angicos- era
para alguns passageiros enervantes. Havia falta de água em toda essa região, o
trem conduzia um carro-tanque que ia distribuindo o liquido precioso aos
habitantes dessas cidades que sofriam com a falta de água.
Quando
o trem parava, uma multidão constituída de velhos, homens, mulheres e crianças,
com latas, potes e baldes avançava em direção a locomotiva procurando abastecer
seus utensílios com a agua trazida no carro-tanque. Era uma providencia louvável
que era adotada pela EFSC praticando verdadeira obra de misericórdia dando de
beber a quem tinha sede.
As
09h15 o trem chegava a Baixa Verde onde ficava o carro restaurante que tinha
sofrido um desarranjo, um funcionário avisava que quem tivesse fome que
aguardasse para comer em Natal. Em seguida passava-se por Taipu e depois
Ceará-Mirim “velha cidade engastada no pergaminho verde do vale imenso”, era um
alivio para os olhos fatigados somente terrenos e plantas esturricadas [...].
Em
Extremoz se chegava as 12h, ali os passageiros saciavam a sede com agua de coco
vendida ao preço de Cr$ 2,00. Meninos na plataforma da estação vendiam os
saborosos grudes que ocupavam lugar de destaque entre as demais guloseimas as
quais os passageiros experimentavam durante o percurso. O trem passava pela
pitoresca lagoa pontilhadas por ilhas e enfeitadas de coqueiros. Ouvia-se a
lenda do sino da lagoa de Extremoz segundo a qual um carro com o sino que caíra
nas aguas da lagoa, cujo o som se ouvia ao longe a certas horas da noite. Alguém
apontava para um ponto da lagoa dizendo ser ali que o carro havia caído com o
sino destinado a igreja de Extremoz, onde os passageiros se debruçavam nas
janelas para ver tal lugar, onde jaziam o sino, o carro de boi e o proprio
condutor do carro.
As
13h o trem chegava a Igapó de onde o panorama de Natal começava a se esboçar na
direção leste. O rio Potengi quando transposto pela ponte, oferecia ao viajante
uma vista deslumbrante. As brisas vindas do oceano sopravam fortemente,
constituindo um refrigério para quem vinha do sertão causticante e sedento. A
ferrovia margeava o poético rio potiguar. As 13h20 o trem estava em Natal. Ouvia-se
dos passageiros expressões de alivio.
Publicado no Diário de Pernambuco em
12/12/1954, p.22.Adaptado.
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