Frei Aníbal foi um frade capuchinho
que visitou o nordeste do Brasil em meados do século XVIII, ao Rio Grande do
Norte empreendeu visita em 1761 na aldeia de Mipibu, atual município de São José de Mipibu que fora inicialmente uma missão dos frades capuchinhos.
O homem
Frei
Aníbal nasceu 1723, entrou para a ordem dos capuchinhos em 1740, faleceu em
Genova em 17 de maio de 1785.Na época da visita de frei Aníbal haviam sete
missões espalhadas pelo Nordeste, duas estavam no Rio Grande do Norte, a de
Mipibu e a de Apodi.
A viagem para Mipibu
Frei
Aníbal veio a Mipibu para substituir o pároco frei José Antônio de Mandvi. Para
Mipibu viajou no dia 09/04/1761 percorrendo 50 léguas para chegar até a missão,
feito segundo as crônicas da missão em caminho regular. A missão de Mipibu
distava 7 léguas de Natal, tendo sido edificada pela missão dos capuchinhos “
em formato de praça de armas com casas unidas como se servissem de
aquartelamento”, nessa configuração as casas dos oficiais ocupavam os vértices
da praça, com duas portas cada qual. A igreja possuía apenas uma nave e
mostrava-se bem fabricada e assaz decente.
Na Aldeia de Mipibu
Segundo
o relato de frei Aníbal haviam 250 famílias de índios vivendo na missão de m
Mipibu, sendo guiadas pelo pároco. Era
o pároco quem elegia o capitão-mor local e seus subalternos imediatos. As
patentes eram passadas pelo capitão-mor do Rio Grande do Norte, porem podiam
ser anuladas pelo missionário. Em Mipibu existiam duas companhias compostas por
140 homens “cada qual bem instruídos no serviço militar”.
Segundo
o relato do frei Aníbal foi preciso cassar as patentes dos oficiais de Mipibu,
exceto a do sargento-mor e de um capitão, como justificativa para tal, diz frei
Aníbal que os oficiais cassados não cumpriam com as obrigações do seu estado
[militar].
Frei
Aníbal fez uma descrição sui generis sobre a gente que havia na região. Segundo
ele os povos autóctone do Brasil eram de duas categorias, os caboclos e os
tapuios, sendo os primeiros “quase brancos, algo encardidos” já os segundos eram na descrição
do capuchinho “cor de tijolo, de ombros largos, rosto grande, nariz chato, tronco robusto, gente agigantada”. De
ambas as nações andavam nus, tanto homens como mulheres, só para entrar na
igreja colocavam uma espécie de fraldas e calções, entretanto a força de muita
ameaça e castigo.
Segundo
Frei Aníbal os tapuias se mostravam preguiçosos, supersticiosos, amigos do
alheio [roubavam], mentirosos, falsos, luxuriosos e infiéis. Já os caboclos se
mostravam mais civilizados e domesticados. A língua dos índios caboclos era
diferente da dos tapuias, no entanto, tanto um como o outro eram capazes de
falar o português.
Estavam
sujeitos a uma disciplina severa, deviam viver dentro dos limites do aldeamento
de onde não podiam sair sem a licença do missionário.
A
aldeia de Mipibu media uma légua em quadra onde podiam viver bastante bem,
afirmava frei Aníbal, mas eram os aldeados muito desorganizados. A maioria
morria de fome, num eterno nomadismo, furtando aqui e acolá, escreveu o
missionário. Era comum chegar ao missionário de Mipibu queixas dos índios da
missão o qual se via forçado a castigar os que eram denunciados.
As
autoridades usavam de meios coercitivos para obrigar os índios a plantar o roçado
de mandioca, eram a cada instante fiscalizados. Um dos trabalhos dos
missionários era vigiar para que os índios não furtassem uns aos outros a
produção do roçado. Nem a lavoura do roçado do frei Aníbal foi poupada dos
furtos dos índios. Onde num roçado que produziria 400 sacas de farinha só
conseguiu colher 50, precisando pedir ajuda a um vizinho branco da aldeia e aos
dois escravos africanos que o acompanhavam.
Era
costume dos fazendeiros brancos obrigar os índios das aldeias a servi-los com a
anuência dos missionários. Quando terminavam o serviço, os alugadores deviam
levar a té o pároco a importância dos jornais “por que de outro modo não
adquiririam o que lhes era essencial como pano para si e os seus, gastando num
dia, sobretudo em aguardente, o que havia ganho num mês “.
Os
aldeados deviam trabalhar um determinado tempo nas roças paroquiais para o
sustento do cura e seus fâmulos. Os de Mipibu pescavam no lago do mesmo nome
dando parte da pesca a paróquia.
Em
Mipibu faltavam 7 famílias que haviam desertado da aldeia segundo constava na
relação do frei Aníbal. O alferes mandou dois soldados os procurar com a
promessa de não os castigar e anistia-los, voltaram 48 pessoas, entre homens,
mulheres, adultos e crianças, estavam emagrecidos e maltrapilhos que “o seu
aspecto era de infundir a maior compaixão”.
No
primeiro domingo após esse fato, o frei Aníbal reuniu os aldeados par afazer uma
revista, onde os exortou vivamente ao trabalho e a obediência e mandou
suspender todas as penas em vigor. Aproveitou ainda para fazer o censo rigoroso
dos índios e os soldados das duas companhias de Mipibu.
O
missionário não recebia dinheiro algum dos paroquianos, o que lhe vinha moeda
era procedente dos serviços prestados, nas vizinhanças aos senhores de engenho
por ocasião de alguma grande festividade, onde os fazendeiros lhes davam uma
esmola, por vezes larga, que contribuía para melhorar a escassa renda do padre.
Infelizmente
frei Aníbal não fez nenhuma menção a essas festas que ocorriam nas vizinhanças
da missão de Mipibu, nos engenhos de açúcar, que seriam de grande importância
para se compreender os costumes dos tempos coloniais potiguar. Os relatos do
frei quase sempre se resumiam as suas atividades catequéticas.
Publicado na revista Excelsior, 1939, p. 70 -72, por Afonso de e. Taunay.
Nenhum comentário:
Postar um comentário