A
história a seguir vem a tona bem na época em que a Fortaleza dos Reis Magos
está passando por um processo de restauração (obra interminável que promete
ficar pronta antes do ano 2.500).Parece
que já virou um jargão meu, mas, a história apresenta um roteiro cinematográfico
misturando drama, terror e comédia. Ei-la segundo publicada no jornal A Ordem:
De antemão cumpre dizer aos mais jovens que botija eram como se chamava os artefatos onde se guardavam objetos valiosos e dinheiros que eram enterrados para serem protegidos de roubos, os precursores dos cofres.
O ano era 1937 e há tempos
os pescadores que moravam na vizinhança da Fortaleza dos Reis Magos vinham
observando, de 5ª para 6ª feira, dentro do velho forte, fenômenos estranhos. Todas
as noites, entrando pela madrugada, apareciam fachos luminosos que andavam para um lado e para o outro.
Ora,
todos sabiam que ninguém morava na Fortaleza nem mesmo o guarda que para lá foi
destacado. Dai ter o estranho acontecimento despertado a atenção da vizinhança.
O
investigador Paulo Vieira foi cientificado disso e resolveu perder uma noite,
na tocaia. Escondeu-se na praia, por detrás de um rochedo e alta noite, viu
também os fachos errantes. Mas, com a maré estava cheia, não pode chegar logo a
Fortaleza, como pretendia, por cima dos arrecifes. Foi preciso deixar a maré
vazar.
Afinal,
às 2 horas da madrugada, pé ante pé, penetrou meio assombrado, na Fortaleza dos
Reis Magos. De ser vivo não viu ninguém, apenas uma pequena fogueira ardia no
centro. Munido de uma lâmpada, o investigador Paulo Vieira virou e mexeu tudo,
encontrando a cada passo, profundas escavações. Na laje do piso foi aberto um
quadro e aprofundado a dois metros até dar na água.
Nas
grandes paredes abriram-se rasgões profundos, blocos enormes foram levantados. Dir-se-ia
ter sido trabalho de ciclope, pois, os blocos removidos pesavam várias
toneladas.
Não
foi poupado nem o quarto escuro (quem visitou a Fortaleza sabe do que se trata o
quarto escuro) em tão pouco a capelinha.
Depois
dessa verificação, o investigador subiu para lançar a vista pelos arredores da
Fortaleza. Perto, nenhum vestígio, mas ao longe, uma pequena embarcação de vela
deslizava sobre as águas. Aqueles momentos antes da chegada do investigador a
embarcação deixara o forte, mais uma vez desiludido de suas inúmeras tentativas...
Fonte: A ordem, 01/09/1937, p.4.
A baixo a Fortaleza dos Reis Magos em 1938, um ano após o episódio descrito a cima.
Fonte: João Alves publicada em Revista da Semana, 1938,p.22. |
Apêndice
Ano
vai, ano vem, entra governo e sai governo e a Fortaleza dos Reis Magos está lá
mal conservada, em reformas intermináveis, sendo jogado feito uma batata quente
nas mãos do governo estadual e federal, onde ninguém quer assumir o ônus da conservação
do maior e mais antigo monumento histórico do Rio Grande do Norte.
Foi
iniciada pelo IPHAN uma reforma que esculhambou mais do que ajeitou o monumento
(será que estavam procurando as botijas que tratamos a cima?), depois que nada
ou quase nada fez, o IPHAN devolveu a Fortaleza ao governo do Estado que a
cargo da Fundação José Augusto retomou a reforma, Deus sabe quando e como
terminará.
O
fato é que a Fortaleza dos Reis Magos resiste estoicamente as agressões
sofridas ao longo de seus 520 anos de existência. Resite as investidas do mar
onde se acha erguido sobre os arrecifes, só não resistiu a ganância e a falta de
respeito do ser humano.
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