sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

PROCURANDO BOTIJA NA FORTALEZA DOS REIS MAGOS


         A história a seguir vem a tona bem na época em que a Fortaleza dos Reis Magos está passando por um processo de restauração (obra interminável que promete ficar pronta antes do ano 2.500).Parece que já virou um jargão meu, mas, a história apresenta um roteiro cinematográfico misturando drama, terror e comédia. Ei-la segundo publicada no jornal A Ordem:
     De antemão cumpre dizer aos mais jovens que botija eram como se chamava os artefatos onde se guardavam objetos valiosos e dinheiros que eram enterrados para serem protegidos de roubos, os precursores dos cofres.
      O ano era 1937 e há tempos os pescadores que moravam na vizinhança da Fortaleza dos Reis Magos vinham observando, de 5ª para 6ª feira, dentro do velho forte, fenômenos estranhos. Todas as noites, entrando pela madrugada, apareciam fachos luminosos que andavam para um lado e para o outro.
      Ora, todos sabiam que ninguém morava na Fortaleza nem mesmo o guarda que para lá foi destacado. Dai ter o estranho acontecimento despertado a atenção da vizinhança.
      O investigador Paulo Vieira foi cientificado disso e resolveu perder uma noite, na tocaia. Escondeu-se na praia, por detrás de um rochedo e alta noite, viu também os fachos errantes. Mas, com a maré estava cheia, não pode chegar logo a Fortaleza, como pretendia, por cima dos arrecifes. Foi preciso deixar a maré vazar.
      Afinal, às 2 horas da madrugada, pé ante pé, penetrou meio assombrado, na Fortaleza dos Reis Magos. De ser vivo não viu ninguém, apenas uma pequena fogueira ardia no centro. Munido de uma lâmpada, o investigador Paulo Vieira virou e mexeu tudo, encontrando a cada passo, profundas escavações. Na laje do piso foi aberto um quadro e aprofundado a dois metros até dar na água.
       Nas grandes paredes abriram-se rasgões profundos, blocos enormes foram levantados. Dir-se-ia ter sido trabalho de ciclope, pois, os blocos removidos pesavam várias toneladas.
     Não foi poupado nem o quarto escuro (quem visitou a Fortaleza sabe do que se trata o quarto escuro) em tão pouco a capelinha.
     Depois dessa verificação, o investigador subiu para lançar a vista pelos arredores da Fortaleza. Perto, nenhum vestígio, mas ao longe, uma pequena embarcação de vela deslizava sobre as águas. Aqueles momentos antes da chegada do investigador a embarcação deixara o forte, mais uma vez desiludido de suas inúmeras tentativas...

Fonte: A ordem, 01/09/1937, p.4.

       A baixo a Fortaleza dos Reis Magos em 1938, um ano após o episódio descrito a cima.

Fonte: João Alves publicada em Revista da Semana, 1938,p.22.


Apêndice
         Ano vai, ano vem, entra governo e sai governo e a Fortaleza dos Reis Magos está lá mal conservada, em reformas intermináveis, sendo jogado feito uma batata quente nas mãos do governo estadual e federal, onde ninguém quer assumir o ônus da conservação do maior e mais antigo monumento histórico do Rio Grande do Norte.
     Foi iniciada pelo IPHAN uma reforma que esculhambou mais do que ajeitou o monumento (será que estavam procurando as botijas que tratamos a cima?), depois que nada ou quase nada fez, o IPHAN devolveu a Fortaleza ao governo do Estado que a cargo da Fundação José Augusto retomou a reforma, Deus sabe quando e como terminará.
        O fato é que a Fortaleza dos Reis Magos resiste estoicamente as agressões sofridas ao longo de seus 520 anos de existência. Resite as investidas do mar onde se acha erguido sobre os arrecifes, só não resistiu a ganância e a falta de respeito do ser humano.

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