quarta-feira, 29 de novembro de 2017

NÃO HÁ PERIGO DE VULCÃO NEM TERREMOTO EM BAIXA VERDE: MAIS UMA EXPLICAÇÃO PARA OS ABALOS


      Os estrondos continuaram a serem sentido em Baixa Verde no ano de 1952. Conforme se lia no jornal A Ordem “nos últimos dias [...] fortes estrondos têm sido ouvidos em todos os recantos da cidade de Baixa Verde, fazendo com que as casas estremeçam caindo barro das paredes” (A ORDEM, 04/03/ 1952, p. 4).     A população ficou inquieta registrando-se novamente a saída de várias famílias da cidade. Os técnicos que examinaram os casos de abalos sísmicos registrados anteriormente afirmaram que a ocorrência não deveria causar preocupações na população porque eram fenômenos explicados cientificamente (A ORDEM, 04/03/ 1952, p. 4). Em agosto novas repetições de estrondos no Torreão.

Não há perigo de vulcão nem terremoto em baixa verde: mais uma explicação para os abalos
    eis a seguir o relatório apresentado pelo Dr. Wilhem Kegel sobre os fenômenos de Baixa Verde dizia:
    É claro que os estrondos que neste município por vezes acontecem, assustam o povo que não conhece as causas do fenômeno.
    Sem duvidas são produzidos por movimentos no subsolo. Não existindo, aqui galerias e poços de minas, nem grandes pedreiras, estes movimentos devem ser causas naturais.
  Pode-se absolutamente excluir a possiblidade, que os estrondos sejam causados por atividades vulcânicas, agora subterrânea, mas talvez no futuro, seguidos por extrusões superficiais em maior escala. Os vulcões são localizados em todo o mundo, nas regiões da crosta da terra é fraca, como nos Andes, no México, no Japão e em outros lugares. Por isso não existe nenhum vulcão no território do país e não há motivos nenhum que no futuro esta situação possa mudar, sendo pois, qualquer medo neste sentido de maneira alguma admitido.
   A situação é semelhante com respeito aos grandes terremotos. São muito raros nesse país, mesmo os de pequena intensidade ao passo que nos estados dos Andes acontecem de vez em quando de maneira catastrófica. A estrutura interna da crosta terrestre nesta região do nordeste, a firmeza e estabilidade até grande profundidade, excluem inteiramente a probabilidade de um terremoto catastrófico.

Explicação
     A única solução do problema é a seguinte: ao norte de Baixa Verde estende-se a vasta região onde o subsolo até mais de 200 metros de profundidade, consiste em calcário. Ele é depositado em camadas horizontais e cortado por fendas mais ou menos verticais.
   A substancia do calcário é solúvel na água, motivo por que a água desta região em geral é dura e pesada e não sempre potável. A permeabilidade das camadas calcaria a água é maior que das demais pedras e rochas, por isso a água meteórica inflltra-se rapidamente no subsolo, um fenômeno bem conhecido, por exemplo, no curso do Riacho Seco. A água continua seu caminho no calcário até um lugar muito baixo onde reaparece uma fonte. Para a região norte de Baixa Verde, esta fonte é a de Pureza. Tal regime de água é bem conhecido em todo mundo.
  No seu caminho através das camadas calcarias, a água dissolve muita substancia delas, processo este observável, por exemplo, na Casa de Pedra ou na própria fonte de Pureza. Esta perda de substancia leva à formação de buracos, de fendas abertas, de cavernas e grutas. Em outras regiões são conhecidas cavernas e vazios de um comprimento de muitos quilômetros.
     Aqui, a formação de grandes cavidades torna-se difícil, por causa do grande numero de fendas verticais que cortam as camadas.
    Sendo assim, a situação subterrânea, o teto de uma cavidade não mais trazendo o peso das camadas sobrepostas cai. Este processo é acompanhado por um barulho e as vezes por um ligeiro abalo do subsolo.
   Este fenômeno causa os estrondos, que mostram certas diferenças da intensidade, naturalmente, segundo a quantidade de pedras desmoronada.
   Sendo aqui as condições pouco favorável para a formação de grandes cavernas, este processo não pode se tornar se tornar demais extenso. Entretanto é possível que um abalo desata outro o que parece ter sido realizado no passado.
      Destarte, na superfície podem formar-se pequenas cavidades, em geral não imediatamente depois do estrondo, mas de pouco em pouco, é o grande numero dos sumidouros, existindo no areal calcário, deve resultar pelo menos parcialmente, deste processo.

Não há perigo
      Não se tem notícia alguma, que por este processo qualquer homem sofreu um dano. No futuro também não se dará. Em resumo, é inteiramente excluído, que nesta região formar-se-á um vulcão ou que acontecerá um terremoto catastrófico. Os estrondos continuarão; podem interromper-se por anos, mas devem repetir-se. Entretanto, é totalmente improvável que se tornem bem mais intenso que no passado.
      Por isso, o povo pode tranquilizar-se. Não há motivo nenhum de medo ou de desconfiança no futuro.ao contrário, parece que o município, sendo as condições favoráveis, está marchando para uma grande prosperidade”. Baixa Verde, 28 de março de 1952. Wilhem Kegel, geólogo da divisão do Departamento Nacional de Produção Mineral.



 Fonte: A Ordem, 03/03/1952, p. 4.

A EXPLICAÇÃO DE ROBERT GREENWOOD PARA OS ABALOS DE BAIXA VERDE


   Após o prefeito de Baixa Verde solicitar ao governo do estado um estudo acerca dos abalos sísmicos no município, o governo do estado por sua vez entrou em contato com o DNPM que enviou o engenheiro Robert Greenwood para a cidade de Baixa Verde a fim de estudar o fenômeno. Eis abaixo na integra o teor do relatório do citado engenheiro.
    O engenheiro do Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM Robert Greenwood apresentou o seguinte relatório para explicar os abalos sísmicos da cidade de Baixa Verde e que estavam causando pânico na população daquela cidade.

Relatório
Tremores de terras - Baixa Verde – Rio Grande do Norte

     Por ordem do Sr. Diretor do DPNM eu fiz uma viagem para estudar tremores de terra na cidade de Baixa Verde, Rio Grande do Norte, cheguei ao local as 16 horas do dia 27.12.50, fiquei até as 7 horas do dia 29. As 18 horas do dia 27 eu ouvi um estrondo parecido com trovão distante, de duração dum segundo, entretanto sem sentir tremor de terra. Houve outro estrondo segundo informações, as 23 horas dessa noite, o que não me acordou.
   Segundo o Sr. Prefeito da cidade, e outras pessoas, esses estrondos são conhecidos em Baixa Verde por quarenta anos, porem nos últimos meses tornaram-se mais fortes e mais frequentes, até 14 por dia, acompanhados as vezes por tremores ligeiros da terra.
    A historia de gases vindo da terra não se confirmou. Algumas casas da cidade sofreram fendaduras nas paredes por causa dos choques, mas não apareceu nenhum deslocamento na superfície da terra, nem na estrada de ferro que passa pelo meio da cidade. A população do local ficou alarmada por causa  desses fenômenos desconhecidos, e o Sr. Prefeito quis conseguir um estudo sismográfico para o localizar a fonte dos estrondos.

Geologia
      A cidade de Baixa Verde acha-se numa planície ondulada, interrompida a 2 km ao oeste por uma pequena serra de rochas graníticas. Algum afloramento na cidade propriamente dita, e outras nas vizinhanças, mostram que a cidade fica numa base segura de rochas. Arqueanas, duras e antigas, de modo que não há nenhum perigo de a terra afundar.
    2 ou 3 km ao norte da cidade aparecem as rochas sedimentares da faixa litoral vão dai até o mar com 60 km de extensão. Eu atravessei esta faixa até 12 km ao norte da cidade onde eu vi somente calcário, em camadas de mergulho suave ou horizontais. Num dos afloramentos vistos apareceram buracos dissolvidos por água.

Explicação dos tremores
     A grande camada de sedimentos calcários, que se encontra ao norte de Baixa Verde, estende-se em cima da superfície erodida das rochas Arquenas. A água das chuvas em vez de correr em riachos, entra nas fendas do calcário, o qual é facilmente dissolvido. Dessa maneira abre-se um sistema de buracos e canais nas partes profundas do calcário, e de vez em quando as camadas devem ajustar-se a essa condição fazendo deslocamentos pequenos. Tais deslocamentos são suficientes para dar estrondos e os tremores de terra sentidos no local.
      Outra explicação, menos provável, é a possibilidade duma falha antiga nas rochas Arqueanas, também fazendo ajustamentos pequenos, de alguns centímetros talvez. Em qualquer caso não há perigo da terra afundar em Baixa Verde, ou de acontecer coisa pior do que os tremores do tipo conhecido.
            Robert Greenwood – Engenheiro de minas da DNPM.


Fonte: A Ordem, 18/01/ 1951, p. 4.


PRIMEIRAS EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS PARA OS ABALOS SÍSMICOS DE BAIXA VERDE


     Os abalos sísmicos que estavam ocorrendo em na Serra do Torreão em Baixa Verde, não eram inéditos, segundo o jornal a Ordem.
      No município de Surubim, no estado de Pernambuco, na Serra da Pá Virada, havia também estrondos, abalos sísmicos, fendas que eram abertas nos cimos das serras, trincaduras nas paredes dos edifícios. Em São Paulo os mesmos ruídos eram ouvidos e causavam mal-estar na população, mesmo que não fossem abalos sísmicos, a impressão que dava era que fossem de fato tremores de terra, Em Natal, havia o Morro do Estrondo e tal alcunha não tinha por explicação outra gênese.
     Segundo o jornal A Ordem “em Baixa Verde tive a oportunidade de ouvir os ruídos pela madrugada de 16 do corrente e os pouco segundos que duraram, me fizeram mal-estar, a mim como a toda gente. Imagino o que sejam os mais fortes e de maior duração” (A ORDEM, 28/12/ 1950, p. 4 ).
     A hipótese de que um vulcão estaria entrando em erupção na qual espalharia lavas por toda parte, foi imediatamente refutada, pois no Brasil não há vulcões, mesmo que tivessem havido há milênios passados, estariam extintos.
     Os relatos históricos davam conta de registros de abalos sísmicos também na região sul do Brasil com poucos prejuízos materiais.
      As explicações para os abalos em Baixa Verde ainda não haviam sido dadas oficialmente pela Ciência. No entanto, uma possível causa seria que camadas terrestres estavam em desajustes pela infiltração das águas pluviais e o movimento continuo do planeta explicariam os ruídos ou estrondos causados pelas tentativas de reajustamento.
      Os sismos, eram naquela época, classificados em dois grupos: cliptogênicos ou geológicos e dinâmicos externos. Os cliptogênicos são tremores de terra cuja a origem é profunda e cujos abalos se propagam a grandes distâncias. Os dinâmicos externos são devidos principalmente aos deslocamentos das rochas que formas a crosta da terra nas camadas do solo ou do subsolo, mas sempre próxima a superfície.
   Os abalos de Baixa Verde foram classificados aquela época como sendo dinâmicos externos, e até aquele momento considerados inofensivos e de todo inócuos, os quais não deveriam causar pânico na população, pois, “o povo progressista de Baixa Verde tem em Nossa Senhora Mãe dos Homens a mesma Nossa Senhora do Estrondos que há de defende-lo contra todos os perigos e ameaças do futuro” (A ORDEM, 28/12/ 1950, p. 4).




Fonte: A ORDEM, 28/12/ 1950, p. 4.

ABALOS EM BAIXA VERDE EM 1950


    Estranhos fenômenos foram registrados em Baixa Verde no ano de 1950, entre eles, 8 tremores de terra em poucas horas. Os abalos estavam enchendo a população de preocupação. Segundo publicado no jornal A Ordem: “Ontem ao meio dia surgiu formidável estrondo, resultando ficarem rachados diversos muros, bem como quebrando telhas de várias residências” (A ORDEM, 01/12/1950, p. 4).
    O agente da estrada de ferro Sampaio Correia, Aurélio Soares de Góis, informava que a população de Baixa Verde estava em verdadeiro sobressalto, com mulheres dando ataque na via pública. Ainda segundo o funcionário da EFSC, não era pequeno o numero de pessoas que estavam abandonando a cidade em direção a capital.
      Entre 12h e 13h novos estampidos foram ouvidos, ao total foram 8 abalos ouvidos pela população, sendo o primeiro o de maior intensidade.

Em outras épocas
      Em diversas épocas do ano, antes do inverno, os habitantes ouviam ruídos, como se fossem paredes caindo. Diziam os mais antigos moradores da cidade que já em 1919 os abalos sísmicos eram ouvidos e sentidos em Baixa Verde.

Em Lajes
      Por um longo período os abalos não foram sentidos mais em Baixa Verde, no entanto, o fenômeno passou a ser sentido em Lajes, a época denominada Itaretama. O prefeito de Lajes, comunicou o fato as autoridades em Natal.
     O então governador José Varela, levando a sério os fenômenos sentidos naquela região do estado, entrou em contato com autoridades do assunto para se fazer estudos indispensáveis, a fim de tranquilizar a população de Lajes.Os estampidos e pequenos tremores não foram mais ouvidos pela população, justamente quando o inverno começou a cair naquela região, na qual o fenômeno dos tremores parecia ser ponto de origem.

De volta a Baixa Verde
      Quando tudo estava esquecido pelo povo, eis que os tremores voltaram a serem ouvidos e sentidos em Baixa Verde, na qual volta a população a ter intenso nervosismo perante o fenômeno dos abalos sísmicos.
    Segundo o jornal a Ordem “dezenas de pessoas estão apelando as autoridades competentes, no sentido de tomar as providencias indispensáveis, a fim de que aquele povo volte de novo a paz de espirito” (A ORDEM, 01/12/1950, p. 4).
        A população ouviu o primeiro abalo as 11h45, a qual ficou alarmada com o forte estrondo acompanhado de forte tremor de terra causando graves crises nervosas em diversas senhoras. Inúmeras famílias estavam procurando transporte para se retirarem do município. O clima era de sobressalto na cidade.
      Mais de cinco abalos continuaram a serem sentido durante a noite, até o meio dia do outro dia, sendo o ultimo o mais forte sentido durante aquela noite.
       Segundo o funcionário da EFSC Raimundo Fernandes, cerca de 17 famílias saíram da cidade, esperando o trem motriz M-2 que fazia aquela linha as terças, quintas e sábados e esperava-se que mais famílias tomassem o trem com destino a Natal (A ORDEM, 01/12/1950, p. 4).

Continuam os abalos
      Os abalos continuaram a serem sentidos pela população de Baixa Verde. Segundo o jornal a Ordem “os mesmos estrondos continuam sendo ouvidos em número sempre crescente” (A ordem, 13/12/1950, p. 4). Foram registrados nada menos que 10 abalos em Baixa Verde naquele dia, estando grande parte da população abandonando-a, enquanto outras famílias permaneciam no mesmo local sem poderem deixar a cidade propriamente dita, conforme seu desejo.
    Apelava-se as autoridades do estado para que o fenômeno dos abalos sísmicos fosse levado a sério e que junto ao ministério da agricultura fosse se providenciassem a vinda de técnicos para se fazer os estudos que a população julgava indispensável.


Fonte: A ORDEM, 01/12/1950, p. 4; 13/12/1950, p. 4.

EXTREMOZ A ÉPOCA DA CHEGADA DA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO RIO GRANDE DO NORTE

       A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, antiga reivindicação dos produtores e donos de engenhos do vale do Ceará-Mirim, foi inaugurada em 13 de junho de 1906, no trecho entre Natal e a cidade de Ceará-Mirim.
        Eis como estava caracterizado Extremoz a época da chegada da ferrovia.
    A época Extremoz era distrito de Ceará-Mirim, embora sua edificação remontasse ao século XVII, quando ali foi criada uma aldeia missionária pelos padres da Companhia de Jesus, os jesuítas, com o intuito de catequizar os índios que tinha ali suas tabas.
     Os seus habitantes mantinham-se de pequenas lavouras cultivadas a margem da lagoa que lhe dava nome. Já havia alcançado a condição de vila e sede do município, na época da chegada da ferrovia, achava-se em decadência.
      Por meio da resolução provincial de Nº 321 de 18 de agosto de 1855 foi transferida a sede municipal para a povoação de Ceará-Mirim, sendo esta elevada a categoria de vila.
       A lagoa de Extremoz, era o principal atrativo do então distrito de mesmo nome, com seus 18 km de extensão. As construções antigas do século XVII, como  a igreja e o antigo convento dos jesuítas estavam em ruínas, causado pelo a abandono, fruto da transferência da sede municipal e da paróquia.
       O distrito de Extremoz tinha em 1906 cerca de 60 casas e 300 habitantes.

A estação 
     A estação de Extremoz foi construída no km 21 da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte tendo sido inaugurada em 13/06/1906. Extremoz alcançou autonomia politica e administrativa somente em 1963, de modo que a estação passa a ser efetivamente deste município a partir desse ano, antes disso era pertencente ao município de Ceará-Mirim.  
     O edifício ainda em sua configuração arquitetônica original, foi adaptada para servir atualmente como parada dos trens metropolitanos da CBTU.




Fonte: Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia (RN), 1906, p. 63-64.