O olhar de fora revela a face da cidade
As pequenas
cidades, na sua dimensão socioespacial, pouco tem sido estudado no âmbito da
história e da geografia. Apesar de que na maior parte destas pequenas cidades
elas se apresentem como núcleos urbanos capazes tão somente de satisfazer às
necessidades mínimas, reais de seus habitantes, elas têm um significado
importante no contexto da sociedade ampliada, pois são nas pequenas cidades que
as territorialidades se tornam mais evidentes. A territorialidade aqui pode ser
entendida como a relação do individuo com o espaço vivencial.
Sobre Taipu existem
numerosos relatos feitos pelos padres ou bispos que passaram pela cidade, todos
registrados no Livro Tombo da paróquia Nossa Senhora do Livramento da qual
fazemos aqui a transcrição de alguns destes relatos que fazem referencias ao
povo e a cidade de Taipu.
Um dos registros mais interessantes
sobre o povo e a vida na cidade de Taipu nos é fornecido pelo padre João
Correia de Aquino, que assim escreveu em 05 de agosto de 1948 no livro tombo (LT, p.26-27):
Taipu é um município de gente pacata e laboriosa. A população é
constituída principalmente por três famílias: Leite, Soares e Miranda. Somente
no interior vive-se à margem da civilização, na rotina dos métodos agrícolas
rudimentares. Raro é despertar do gosto pelos estudos dos filhos da terra. A
cidade é pequena e pobre, seus edifícios são mal arrumados [...].
Deste
relato etnográfico realizado pelo sacerdote, podemos traçar um esboço
antropológico do povo taipuense.Era uma cidade pequena, porém de
população pacata e devotada ao trabalho. A matriz genealógica da população, segundo
o padre, era composta basicamente de três famílias. O padre ainda observou em suas visitas as comunidades rurais que
lá se “vivia a margem da civilização”, devemos entender que o padre se referia
a extrema pobreza que havia nestas comunidades. Sobre a educação dos jovens o sacerdote salienta a escassez de
vontade dos mesmos aos estudos.
Já em relação à vida religiosa do
povo o padre João Correia de Aquino destacou que no espírito do povo estava bem viva a devoção a Nossa Senhora do
Livramento, orago da matriz, e segundo ele (LT, p.26-27):
Consolou-me sobremaneira o fervor com que se celebra o mês mariano. Cada
família empenha o melhor de seus esforços por fazer realçar as homenagens de
sua noite [...] O povo se orgulha de não mancharem aqui as ervas daninhas de
outras religiões. Entretanto a paganizarão das festas religiosas é aqui um
sintoma das deficiências que enfermam a formação do nosso povo. A casa
paroquial é um insistente convite a uma permanência mais longa na sede da
paróquia. As necessidades, porém das capelas desta e da paróquia de Touros que
possui vinte e duas capelas e está sobre minha responsabilidade faz-me um
eterno missionário vivendo mais na cela do cavalo e na boléia do caminhão
[...].
Aqui
o sacerdote ressalta a grande devoção que o povo taipuense devota a sua
padroeira, lembra as festividades do mês de maio, quando se faz latente o
empenho das famílias em demonstrar seu carinho a Mãe de Jesus. Destaca que
naquela época não havia na cidade nenhuma igreja evangélica ou “outras
religiões”. De fato, a primeira igreja evangélica só viria a ser aberta na
década de 1980.
Observa ainda ele que é costume da
cidade a propensão do povo ao gosto pelas festas populares “paganização das
festas religiosas”, destaca a necessidade de descanso (na casa paroquial)
devido ao intenso trabalho pastoral exercido tanto na paróquia de Taipu como na
paróquia de Touros “em lombos de cavalo e boléia de caminhão”. Em sua despedida
do padre João Correia de Aquino no dia 04 de julho de 1951 assim se expressou (LT, p.26.27):
Agradeço a generosa
colaboração que sempre encontrei da parte de todos para as obras da paróquia.
Para todos em geral e particularmente para os que se excederam em dedicação
cooperando ao meu lado na dilatação do reinado de Cristo nesta feliz terra de
Nossa Senhora do Livramento invoco as mais escolhidas bênçãos de Deus.
O
padre João Correia de Aquino voltaria a paróquia de Taipu ainda outras 3 vezes
na década de 1970 e 1990.
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