segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Impressões sobre Taipu



O olhar de fora revela a face da cidade
As pequenas cidades, na sua dimensão socioespacial, pouco tem sido estudado no âmbito da história e da geografia. Apesar de que na maior parte destas pequenas cidades elas se apresentem como núcleos urbanos capazes tão somente de satisfazer às necessidades mínimas, reais de seus habitantes, elas têm um significado importante no contexto da sociedade ampliada, pois são nas pequenas cidades que as territorialidades se tornam mais evidentes. A territorialidade aqui pode ser entendida como a relação do individuo com o espaço vivencial.
Sobre Taipu existem numerosos relatos feitos pelos padres ou bispos que passaram pela cidade, todos registrados no Livro Tombo da paróquia Nossa Senhora do Livramento da qual fazemos aqui a transcrição de alguns destes relatos que fazem referencias ao povo e a cidade de Taipu.

            Um dos registros mais interessantes sobre o povo e a vida na cidade de Taipu nos é fornecido pelo padre João Correia de Aquino, que assim escreveu em 05 de agosto de 1948 no livro tombo (LT, p.26-27):
Taipu é um município de gente pacata e laboriosa. A população é constituída principalmente por três famílias: Leite, Soares e Miranda. Somente no interior vive-se à margem da civilização, na rotina dos métodos agrícolas rudimentares. Raro é despertar do gosto pelos estudos dos filhos da terra. A cidade é pequena e pobre, seus edifícios são mal arrumados [...].

                Deste relato etnográfico realizado pelo sacerdote, podemos traçar um esboço antropológico do povo taipuense.Era uma cidade pequena, porém de população pacata e devotada ao trabalho. A matriz genealógica da população, segundo o padre, era composta basicamente de três famílias.    O padre ainda observou em suas visitas as comunidades rurais que lá se “vivia a margem da civilização”, devemos entender que o padre se referia a extrema pobreza que havia nestas comunidades.   Sobre a educação dos jovens o sacerdote salienta a escassez de vontade dos mesmos aos estudos.
            Já em relação à vida religiosa do povo o padre João Correia de Aquino destacou que no espírito do povo estava bem viva a devoção a Nossa Senhora do Livramento, orago da matriz, e segundo ele (LT, p.26-27):
Consolou-me sobremaneira o fervor com que se celebra o mês mariano. Cada família empenha o melhor de seus esforços por fazer realçar as homenagens de sua noite [...] O povo se orgulha de não mancharem aqui as ervas daninhas de outras religiões. Entretanto a paganizarão das festas religiosas é aqui um sintoma das deficiências que enfermam a formação do nosso povo. A casa paroquial é um insistente convite a uma permanência mais longa na sede da paróquia. As necessidades, porém das capelas desta e da paróquia de Touros que possui vinte e duas capelas e está sobre minha responsabilidade faz-me um eterno missionário vivendo mais na cela do cavalo e na boléia do caminhão [...].


                          Aqui o sacerdote ressalta a grande devoção que o povo taipuense devota a sua padroeira, lembra as festividades do mês de maio, quando se faz latente o empenho das famílias em demonstrar seu carinho a Mãe de Jesus. Destaca que naquela época não havia na cidade nenhuma igreja evangélica ou “outras religiões”. De fato, a primeira igreja evangélica só viria a ser aberta na década de 1980.
            Observa ainda ele que é costume da cidade a propensão do povo ao gosto pelas festas populares “paganização das festas religiosas”, destaca a necessidade de descanso (na casa paroquial) devido ao intenso trabalho pastoral exercido tanto na paróquia de Taipu como na paróquia de Touros “em lombos de cavalo e boléia de caminhão”. Em sua despedida do padre João Correia de Aquino no dia 04 de julho de 1951 assim se expressou (LT, p.26.27):
Agradeço a generosa colaboração que sempre encontrei da parte de todos para as obras da paróquia. Para todos em geral e particularmente para os que se excederam em dedicação cooperando ao meu lado na dilatação do reinado de Cristo nesta feliz terra de Nossa Senhora do Livramento invoco as mais escolhidas bênçãos de Deus.

                O padre João Correia de Aquino voltaria a paróquia de Taipu ainda outras 3 vezes na década de 1970 e 1990.

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