O texto a seguir foi extraído do livro 'Além dos
Jardins' de João Evangelista Romão
publicado em 2006.O livro trata da formação histórica da cidade de Jardim de
Angicos-RN, uma pesquisa muito bem feita pelo autor reconta a trajetória dessa
antiga cidade da região central do estado potiguar.Leitura recomendada.
O enxerto por mim escolhido trata
dos princípios da ocupação do território onde se situa a atual cidade
de Jardim de Angicos a partir das doações das sesmarias.O autor faz uma
acurada pesquisa sobre as sesmarias doadas na região e como não poderia deixar
de ser faz referências a Taipu, que como é sabido na historiografia potiguar
era considerada o limite da capitania do Rio Grande [do Norte], como o passar
do tempo as terras além Taipu foram sendo ocupadas 'subindo' o rio Ceará
Mirim,importante rota de penetração do sertão potiguar, é o que explica o autor
do texto a seguir.Boa leitura.
Em fins do século XVII, quando os índios Cariri,
também chamados de Tapuia, foram derrotados, se inicia a povoação do interior
do Rio Grande do Norte. A área sertaneja do Ceará - Mirim (rio) foi um dos
principais ponto estratégico para a ocupação da região central. Os
colonizadores tiveram os primeiros contatos naquelas imediações por volta de
1666, quando o governador da Paraíba, João Fernandes Vieira, requer dez léguas
de terra em quadra, do Taipu acima pelo rio Ceará - Mirim. Em 1682, os irmãos
Paulo e José Coelho de Souza, moradores em Pernambuco, pedem as terras nas
imediações do Cabugi correndo para o lado do rio Salgado. Nem um dos três
conseguiram fixar posse na região. Na primeira década de 1700 é que firmam-se
as posses definitivas de terras.
Os relatos em Cartas de Sesmaria (Carta: documento
da doação de terra; Sesmaria: lotes de terra, mais conhecida como Data de
terra) do Sertão do Ceará - Mirim informa que, já por volta de 1700, o Coronel
Antonio da Rocha Bezerra possuía uma Caiçara (curral para gado) a meia légua da
barra do rio Cururu. O Cururu faz barra (deságua) no rio Ceará - Mirim, a menos
de dois km da cidade de Jardim de Angicos, em terras da fazenda Primavera, hoje
do Sr. Hercules Barbalho. Quase todas as Datas de terras doadas na região faz
referência a barra do Cururu. O Coronel Antonio Bezerra é o primeiro posseiro
que possuiu terras por ali. Ele é encontrado como peticionário de várias
sesmarias pelo interior, como no rio Pataxó, em Angicos, Açu e Alexandria.
Segue informações sobre os requerente e sesmarias do Sertão do Ceará - Mirim:
No litoral as Datas de terras eram medidas em
quadra e no interior em largura, isso para concentrar as águas das lagoas
naquele e neste os leitos dos rios. Medidas em léguas (uma légua= 6600 metros
ou 6,6 km) a sesmaria podia chegar até três léguas de comprido, meia para cada
lado dos rios ou ruachos, ou légua e meia em quadra, estas com objetivos de
enquadrar as lagoas e terras fertes. Terras como as dos municípios João Câmara
e Bento Fernandes foram requeridas e povoadas (com gado solto) em fins do
século XVIII e início do seguinte, por causa da escacez de água nessas áreas. Depois
das Datas do rio Ceará - Mirim, a de 1709, dos irmãos Rodrigues Coelho e
Maurício Brochado Ribeiro, são dois os requerimentos mais significativos nestes
municípios: uma em 1793, hoje no território de Bento Fernandes, e outra em
1814, no de João Câmara.
Em 19 de julho de 1793, Manoel Muniz de Bragança e
Salvador de Araújo Correia requerm uma sesmaria que limitava-se nas divisas da
Data da Boágua, em sua meia légua sul, correndo para os lados do distrito de
Belo Horizonte e Serra da Cruz, hoje território de Bento Fernandes. Naquele
documento encontra-se informações sobre o Sítio Cururu, então pertencente ao
Capitão Antonio José Santos, do Sítio Boágua, etão do Capitão Manoel Soares,
com quem as terras avizinhava-se, pegando sobras a nascente do Tanque do Felix,
hoje área divisório dos municípios Bento Fernandes, Caiçara do Rio do Vento e
Jardim de Angicos.
Como já informado, as terras que do leito do
rio Ceará - Mirim até meia légua e légua e meia para Taipu, em 1709, fora
requeridaspor Manoel Rodrigues Coelho. As que corriam para cima, pegando da
testada de Manoel Coelho, nas primeiras décadas de 1700, pertenciam a Francisco
Rodrigues Coelho, irmão de Manoel, e Maurício Brochado Ribeiro. Era a conhecida
por Data da Boágua.
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