O livro tombo da paróquia contém os
registros dos acontecimentos mais significativos da vida da paróquia, desde sua
criação. Nele está escrito o ato de criação da paróquia, além de registrar a
posse de todos os padres que por aqui passaram.Mas neste capitulo transcreverei os registros
contidos no livro tombo da paróquia e que dizem respeito ao povo ou algum
aspecto da cidade de Taipu feitas pelas pessoas que aqui vieram e deixaram sua
s impressões sobre a cidade ou a paróquia. Estes registros têm uma importância
vital para compreender expressão a cultural do povo taipuense bem como sua
religiosidade.
Um desses primeiros registros foi
feito por dom Marcolino Dantas durante a visita pastoral realizada em
06/01/1934, onde ele assim se expressou (LT,
p.15):
Levo grata impressão da paróquia de Nossa Senhora do Livramento e aqui
registro meu agradecimento ao Pe. Fortunato [...] e ao bom povo em geral pelas
provas de muita estima e elevada consideração que todos se dignaram
dispensar-me, durante os abençoados dias da visita diocesana a sede da paróquia.
Dom Marcolino Dantas “Levo grata impressão da paróquia de Nossa Senhora do Livramento”, 1934. Foto: www.arquidiocesedenatal.org. |
Um dos registros mais interessantes
sobre o povo e a vida na cidade de Taipu nos é fornecido pelo padre João
Correia de Aquino, que assim escreveu em 05 de agosto de 1948 no livro tombo (LT, p.26-27):
Taipu é um município de gente pacata e laboriosa. A população é
constituída principalmente por três famílias: Leite, Soares e Miranda. Somente
no interior vive-se à margem da civilização, na rotina dos métodos agrícolas
rudimentares. Raro é despertar do gosto pelos estudos dos filhos da terra. A
cidade é pequena e pobre, seus edifícios são mal arrumados [...].
“No espírito do povo está bem viva a devoção a Nossa Senhora do Livramento, orago da matriz” Pe. João Correia de Aquino. Foto: Arquivo PNSL. |
Era uma cidade pequena, porém de
população pacata e devotada ao trabalho. A matriz genealógica da população,
segundo o padre, era composta basicamente de três famílias. O padre ainda observou em suas visitas as
comunidades rurais que lá se “vivia a margem da civilização”, devemos entender
que o padre se referia a extrema pobreza que havia nestas comunidades. Sobre a educação dos jovens o sacerdote
salienta a escassez de vontade dos mesmos aos estudos.
Já em relação à vida religiosa do
povo o padre João Correia de Aquino destacou que no espírito do povo estava bem viva a devoção a Nossa Senhora do
Livramento, orago da matriz, e segundo ele (LT, p.26-27):
Consolou-me sobremaneira o fervor com que se celebra o mês mariano. Cada
família empenha o melhor de seus esforços por fazer realçar as homenagens de
sua noite [...] O povo se orgulha de não mancharem aqui as ervas daninhas de
outras religiões. Entretanto a paganizarão das festas religiosas é aqui um
sintoma das deficiências que enfermam a formação do nosso povo. A casa
paroquial é um insistente convite a uma permanência mais longa na sede da
paróquia. As necessidades, porém das capelas desta e da paróquia de Touros que
possui vinte e duas capelas e está sobre minha responsabilidade faz-me um
eterno missionário vivendo mais na cela do cavalo e na boléia do caminhão [...].
Aqui o
sacerdote ressalta a grande devoção que o povo taipuense devota a sua
padroeira, lembra as festividades do mês de maio, quando se faz latente o
empenho das famílias em demonstrar seu carinho a Mãe de Jesus. Destaca que
naquela época não havia na cidade nenhuma igreja evangélica ou “outras
religiões”. De fato, a primeira igreja evangélica só viria a ser aberta na
década de 1980.
Observa ainda ele que é costume da
cidade a propensão do povo ao gosto pelas festas populares “paganização das
festas religiosas”, destaca a necessidade de descanso (na casa paroquial)
devido ao intenso trabalho pastoral exercido tanto na paróquia de Taipu como na
paróquia de Touros “em lombos de cavalo e boléia de caminhão”. Em sua despedida
do padre João Correia de Aquino no dia 04 de julho de 1951 assim se expressou (LT, p.26.27):
Agradeço a generosa colaboração que sempre encontrei da parte de todos
para as obras da paróquia. Para todos em geral e particularmente para os que se
excederam em dedicação cooperando ao meu lado na dilatação do reinado de Cristo
nesta feliz terra de Nossa Senhora do Livramento invoco as mais escolhidas
bênçãos de Deus.
O padre faz menção a generosidade do
povo em ajudar as causas da paróquia e a atenção que o povo dispensa ao padre
em sua estada na paróquia.
Outras impressões
sobre Taipu são feitas sobre pelo padre Antônio Chacon em 01 de maio de 1955,
que segundo ele, há na cidade pessoas respeitadoras e que gostam de está em
contato com o padre (LT, p.34): "Minha primeira impressão sobre Taipu é bastante
agradável. O povo é bom, menos simples que a nossa gente do sertão. São, no
entanto muito respeitadores e gostam de dispensar ao vigário muita atenção.
Sinto que esse povo em contato com o vigário, isto é, são mais firmes à igreja
por que também são mais felizes em ter um pastor para dirigi-los".
Neste
relato fica evidente que o vigário enaltece a bondade e a solicitude do povo
para com o padre, além de salientar a simplicidade da população em relação ao
povo do sertão.
“Sinto que esse povo em contato com o vigário,
isto é, são mais firmes à igreja”.
Pe. Antônio Chacon. Foto: Arquivo PNSL.
Pe. Antônio Chacon. Foto: Arquivo PNSL.
Aqui
podemos entender que o referido padre advinha das terras do sertão do estado
onde fora também administrador paroquial.
“O povo tem demonstrado religiosidade e amor à Igreja”, D. Eugenio de Araújo Sales. Foto: www.arquidiocesedenatal.org |
Ao que tudo indica a visita pastoral demonstrou ser
proveitosa e acalentadora para o referido bispo, pois deixou gravado em sua
memória o fervor religioso da população.
Já
o padre Lucilo Alves Machado teve uma breve passagem pela paróquia de apenas 10
meses. Na posse do padre em 30/04/1955 segundo ele (LT, p.33):
Todos estavam alegres e satisfeitos com a presença do novo vigário,
porém no intimo do coração do padre procurava pesar em minha alma a alegria
destes que me recebiam, com a tristeza do rebanho querido de São Rafael, minha
primeira paróquia[1]
[...].
Ele
demonstra profunda tristeza em ter que deixar as cidades de Taipu e Touros ao
ser transferido destas duas paróquias (LT,
p.39):
Deixando estas duas cidades [Taipu e touros] sinto um novo golpe, não
igual é verdade, ao que sofri dez meses atrás quando deixava a cidade de São
Rafael, mas um golpe bem profundo em separar-me deste povo amigo e bom no qual
fui compreendido e para que sempre esperei fazer mais.
A
saída do padre Lucilo se deu em 05 de maio de 1956, permanecendo na cidade
apenas 11 meses, evidente que não deu muito tempo para que o padre realizasse o
que desejava fazer pela paróquia e pelo povo, mas que em breve tempo já nutria
pela gente de Taipu e Touros um carinho todo especial.
“Sinto um golpe bem profundo em separar-me
deste povo amigo e bom no qual fui compreendido”.
Pe. Lucilo Alves Machado. Foto: www.arquidiocesedenatal.org.
Pe. Lucilo Alves Machado. Foto: www.arquidiocesedenatal.org.
A
irmã Natalina Rossetti, que administrou a paróquia pastoral e administrativamente
assim se expressou em relação ao povo de Taipu em 28 de fevereiro de 1964 logo
após sua chegada à cidade:
O povo é fervoroso, demonstra boa vontade em querer se aperfeiçoar na
sua vida espiritual, apesar de que alguns preferem ficar à margem de tudo e
continuar na sua ignorância religiosa, os que têm boa vontade assistem as
missas aos sábados e nas primeiras sextas-feiras (LT, p.47) [2].
“O povo é fervoroso, demonstra boa vontade em querer
se aperfeiçoar na sua vida espiritual” Ir. Natalina Rossetti, ICM. Foto:
Arquivo PNSL.
O
povo, segundo a irmã Natalina Rossetti, era assíduo na participação das missas,
que nessa época eram celebradas aos sábados e também tinha o costume de
participar das missas das primeiras sextas-feiras.
Em visita diocesana o missionário
carmelita frei José Maria Casanova, deixou uma sucinta impressão a respeito do
povo taipuense. “O povo é bom e essencialmente católico. Levamos, pois, ótima
impressão deste bom e hospitaleiro povo” (LT, p.18).
Breves e calorosas foram também as
palavras do padre Bianor Aranha em 09 de janeiro de 1942 na qual revela a falta
de coragem dele em se despedir dos paroquianos por motivo de sua transferência
da paróquia (LT, p.24):
O povo é ótimo, sincero e religioso. Não me despedi por me faltar
coragem. Faço votos a Virgem do Livramento pela felicidade do bom povo de Taipu,
rogando a todos que me perdoem, sinto grandes saudades de deixar esta terra.
“Sinto grandes saudades em
deixar esta terra” Pe. Bianor Aranha. Foto: arquivo PNSL.
Já dom Heitor de Araújo Sales, então
arcebispo metropolitano de Natal, em visita pastoral realizada entre 29/07 a
01/08/1999 fez a seguinte anotação (LT,
p.107):
Ao encerrar a Visita Pastoral a Paróquia de Nossa Senhora do Livramento
de Taipu quero pedir a Deus Todo-Poderoso que abençoe ao Pe.Cláudio e toda
população desta paróquia para que juntamente com as religiosas, todos possam
continuar os trabalhos pela extensão do Reino de Deus [...].
“Quero pedir a Deus Todo-Poderoso que abençoe [...] toda população desta
paróquia”,
D. Heitor de Araújo Sales. Foto: arquidiocese de Natal.
D. Heitor de Araújo Sales. Foto: arquidiocese de Natal.
Em todos os relatos se
sobressaem as qualidades da população de Taipu que se condensa na hospitalidade
que demonstram na acolhida carinhosa aos visitantes e a religiosidade devotada
a sua padroeira Nossa Senhora do Livramento.
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