Com a chegada do trem a vida da pequena vila foi
completamente modificada passando-se de tranquila à movimentada e dinâmica
cidade. A população passou a contar com um novo meio de transporte que possibilitou
a mobilidade entre a cidade e a capital e outras cidades da região:
O trem
fazia a linha Natal-São Rafael, transportando passageiros, sal, gado, colheita
etc. O trem de passageiros era conhecido como “horário”. Este passava às 9h e
servia como ponto de referencia no tempo. As coisas deveriam ser feitas antes
ou depois do horário. Havia também o motriz. Este fazia seu itinerário pela
manhã, a noite e ainda pela madrugada.
O trem que passava pela
cidade de Taipu modificou radicalmente o cotidiano da mesma, as pessoas
pautavam suas atividades a partir da passagem do trem (às 9 h), também
utilizavam o trem como ponto de referencia ou orientação temporal (manha, noite
e madrugada). O transporte de passageiros durou até a década de
1980 depois os trens passaram a ser utilizado só no transporte de cargas,
basicamente para servir de escoamento da produção de sal da cidade de Macau.
Ainda segundo Saldanha
(1995) havia uma significativa rotatividade comercial na estação ferroviária
que fica no centro[1] da
cidade:
À hora
da passagem deste meio de transporte, a estação ferroviária tornava-se ponto de
encontro obrigatório, com muita gente na plataforma, numa espécie de
confraternização momentânea. Havia também os vendedores ambulantes gritando
para quem quisesse comprar cocada, sequilho, bolos de várias cores. E a
meninada vendendo água doce, com suas quartinhas a tiracolo e uma canequinha de
alumínio na mão.
Como
verificado a cima, era a estação ferroviária ponto de encontro dos habitantes
que se juntavam em seu entorno para “assistir a passagem do trem” criando-se
uma confraternização social. Outro motivo do aglomerado humano era o comércio
que havia no local onde eram comercializadas comidas típicas da cidade.
A ferrovia possibilitou o escoamento eficiente da
produção agrícola da cidade e região.
Sobre o trem de carga somos informados ainda por Saldanha (1995) da grande
atividade comercial que havia na cidade além de saber quais eram os produtos
comercializados e transportados pelo trem
O trem
de carga não causava tanto alvoroço. Dirigia-se à estação apenas quem ia
trabalhar no carrego e descarrego de mercadorias, por sinal muito variada. Em
Taipu ele [o trem] abastecia-se, principalmente de algodão, milho e feijão. O
algodão provinha da localidade de Boa Vista e uns dos seus maiores produtores foram
os senhores Gabriel Campos e Manoel Santiago[2].
Além de produtos agrícolas (feijão e milho na maioria) o
grande volume de abastecimento de carga na estação ferroviária dava-se pelo
algodão, produzidos as margens do rio Ceará Mirim na qual eram destinados à
capital para lá serem comercializados.
O “Trem de água”
Outra
finalidade dos trens da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte era
socorrer as cidades que sofriam com a falta de água para suas respectivas
populações alem dos efeitos da seca. Conforme Sena (1972, p. 248):
Durante a seca, todos os trens
que se destinavam ao sertão, conduzem tanques da preciosa linfa de
Extremoz.Nunca menos de cinco municípios se abastecem dos depósitos da Central:
Taipu, Baixa Verde, parte de Touros, Lages e Angicos.
O
transporte d’água começou a ser realizado a partir do ano de 1910, pois a
Estrada de Ferro atingiu o sertão em 1909 vindo a suprir as necessidades de
água das cidades por onde passava a estrada de ferro, desse ano em diante
afirma Sena (op cit, p. 248):
A vila de Taipu, cuja água é
grossa, baixa Verde que não tem água e Lages, cuja as fontes são exiguas,
passaram a ter água para o consumo da
população.Levada a água para as estações do interior, é exposta a venda ao
preço módico de $100 a lata de querosene (22 litros).
Durante
a seca que durou 3 anos (1931-1933), a EFCRN conduziu diariamente, 160.000
litros de água para o sertão, perfazendo só nesse período 172.800,000 de litros,
o trem d’água como era conhecido, rodava dia e noite para suprir a demanda por
água nestas cidade atingidas pela estiagem.
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