segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MEMÓRIA FERROVIÁRIA DE TAIPU VI


Com a chegada do trem a vida da pequena vila foi completamente modificada passando-se de tranquila à movimentada e dinâmica cidade. A população passou a contar com um novo meio de transporte que possibilitou a mobilidade entre a cidade e a capital e outras cidades da região:
O trem fazia a linha Natal-São Rafael, transportando passageiros, sal, gado, colheita etc. O trem de passageiros era conhecido como “horário”. Este passava às 9h e servia como ponto de referencia no tempo. As coisas deveriam ser feitas antes ou depois do horário. Havia também o motriz. Este fazia seu itinerário pela manhã, a noite e ainda pela madrugada.
O trem que passava pela cidade de Taipu modificou radicalmente o cotidiano da mesma, as pessoas pautavam suas atividades a partir da passagem do trem (às 9 h), também utilizavam o trem como ponto de referencia ou orientação temporal (manha, noite e madrugada). O transporte de passageiros durou até a década de 1980 depois os trens passaram a ser utilizado só no transporte de cargas, basicamente para servir de escoamento da produção de sal da cidade de Macau.
Ainda segundo Saldanha (1995) havia uma significativa rotatividade comercial na estação ferroviária que fica no centro[1] da cidade:
À hora da passagem deste meio de transporte, a estação ferroviária tornava-se ponto de encontro obrigatório, com muita gente na plataforma, numa espécie de confraternização momentânea. Havia também os vendedores ambulantes gritando para quem quisesse comprar cocada, sequilho, bolos de várias cores. E a meninada vendendo água doce, com suas quartinhas a tiracolo e uma canequinha de alumínio na mão.
            Como verificado a cima, era a estação ferroviária ponto de encontro dos habitantes que se juntavam em seu entorno para “assistir a passagem do trem” criando-se uma confraternização social. Outro motivo do aglomerado humano era o comércio que havia no local onde eram comercializadas comidas típicas da cidade.

A ferrovia possibilitou o escoamento eficiente da produção agrícola da cidade e região. Sobre o trem de carga somos informados ainda por Saldanha (1995) da grande atividade comercial que havia na cidade além de saber quais eram os produtos comercializados e transportados pelo trem
O trem de carga não causava tanto alvoroço. Dirigia-se à estação apenas quem ia trabalhar no carrego e descarrego de mercadorias, por sinal muito variada. Em Taipu ele [o trem] abastecia-se, principalmente de algodão, milho e feijão. O algodão provinha da localidade de Boa Vista e uns dos seus maiores produtores foram os senhores Gabriel Campos e Manoel Santiago[2].
            Além de produtos agrícolas (feijão e milho na maioria) o grande volume de abastecimento de carga na estação ferroviária dava-se pelo algodão, produzidos as margens do rio Ceará Mirim na qual eram destinados à capital para lá serem comercializados.

O “Trem de água”

Outra finalidade dos trens da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte era socorrer as cidades que sofriam com a falta de água para suas respectivas populações alem dos efeitos da seca. Conforme Sena (1972, p. 248):
Durante a seca, todos os trens que se destinavam ao sertão, conduzem tanques da preciosa linfa de Extremoz.Nunca menos de cinco municípios se abastecem dos depósitos da Central: Taipu, Baixa Verde, parte de Touros, Lages e Angicos.
O transporte d’água começou a ser realizado a partir do ano de 1910, pois a Estrada de Ferro atingiu o sertão em 1909 vindo a suprir as necessidades de água das cidades por onde passava a estrada de ferro, desse ano em diante afirma Sena (op cit, p. 248):
A vila de Taipu, cuja água é grossa, baixa Verde que não tem água e Lages, cuja as fontes são exiguas, passaram a ter  água para o consumo da população.Levada a água para as estações do interior, é exposta a venda ao preço módico de $100 a lata de querosene (22 litros).
Durante a seca que durou 3 anos (1931-1933), a EFCRN conduziu diariamente, 160.000 litros de água para o sertão, perfazendo só nesse período 172.800,000 de litros, o trem d’água como era conhecido, rodava dia e noite para suprir a demanda por água nestas cidade atingidas pela estiagem.



[1] O centro aqui é referenciado como meio físico e não comercial.De fato o traçado da ferrovia divide a sede municipal em duas partes equidistantes de modo que a estação ferroviária localiza-se justamente no meio.N do A.
[2] Grifo nosso.

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