segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MEMÓRIA FERROVIÁRIA DE TAIPU I

“Todos os dias é um vai-e-vem,a vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar,tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar,tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar,tem gente a sorrir e a chorar...”

(Milton Nascimento / Fernando Brant, Encontros e Despedidas)


Estrada de ferro de penetração
            Os trabalhos da estrada de ferro de penetração do sertão potiguar prosseguiam no ano de 1906, estando concluído o trecho até Ceará Mirim. Na edição do dia 8 de abril de 1906 o jornal Diário do Natal noticiava a conclusão dos trabalhos da ferrovia em Ceará Mirim e o prosseguimento até Taipu.
Sabemos que quarta-feira próxima ficará defenitivamente concluída o assentamento dos trilhos dessa estrada até Ceará Mirim, ultimamente veio do sul o material rodante para a inauguração desse tráfico, que será logo depois que o ministro approvar as tarifas. Finda a construcção do trecho prosseguirão os trabalhos para a Villa de Taipu (Diário do Natal, 08.04.1906, p.1).

            Devido aos contratempos pelo qual passou a construção da ferrovia, que foi planejada desde 1870, mas que só agora já no inicio do século XX havia saído do papel e posta em construção qualquer noticia era recebida com grande entusiasmo posto que a EFCRN havia sido por muito tempo almejada e da qual agora se fazia uma realidade.

Estação telegráfica
            A primeira grande obra realizada em Taipu pela comissão de construção da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, foi a estação telegráfica, que foi inaugurada em 30 de setembro de 1906 pelo engenheiro chefe da comissão de construção da EFCRN Carneiro Rocha pela qual enviou um telegrama dando ciência do ocorrido à redação do jornal Diário do Natal que publicou o fato na edição do dia 02.Ei o texto do telegrama enviado de Taipu á redação do referido jornal:
S.P Taipu, 30-9-906
Redação –Diário do Natal-
Acabo [de] inaugurar [a] estação telegraphica [da]Villa [de] Taipú motivo pelo qual essa redação [de] congratulações por este melhoramento neste estado
Carneiro Rocha
Engenheiro chefe
(Diário do Natal, 02.10.1906, p. 2)[1].

            A redação do jornal agradeceu o telegrama enviado e saudava o engenheiro Carneiro Rocha por mais este melhoramento no estado do Rio Grande do Norte. A estação telegráfica fazia parte do projeto da Estrada de Ferro que além de facilitar a comunicação entre o corpo técnico da comissão de construção da Estrada atenderia também a população local.
            A pequena vila de Taipu, que desde 10\03\1891 tornara-se município, tendo sido desmembrado de Ceará Mirim, só conheceu o progresso econômico e social com a chegada da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte inaugurada no dia 15 de novembro de 1907[2]. Em seu traçado a ferrovia adentra na cidade de Taipu pela localidade de Boa Vista vindo da cidade de Ceará Mirim. A extensão da ferrovia de Natal a Taipu é de 59 km, já no território taipuense são 22 km de trilhos.
O traçado da ferrovia segue paralelo ao rio Ceará Mirim em sua margem direita. Quando a estrada de ferro chegou a Taipu, em 1907 a população do município era de 9.282 habitantes (Cf. IBGE, 1912, p. 342. Disponível em PDF).
Do distrito de Boa Vista até a sede municipal são 3 quilômetros, da sede até o distrito do Umari 4 quilômetros e deste  até alcançar o município de Poço Branco são 10 km até a cidade de João Câmara (que à época da chegada da ferrovia era distrito de Taipu) são 29 quilômetros.
Sobre a inauguração da estação de Taipu
O grande dia enfim chegou, após um ano e 7 meses de trabalho estava concluída as obras do prolongamento da EFCRN até Taipu na qual foi inaugurada no dia 15\11\1907.
Uma comitiva encabeçada pelo governado do estado, Pedro Velho, saiu de Natal em direção a Ceará Mirim e daí rumo a Taipu para a solenidade de inauguração da estação de Taipu. A comitiva chegou á vila depois do meio dia da tendo saído de Ceará Mirim as 11h e 30min depois de alguns atrasos.Conforme nos mostra o texto publicado no jornal Diário do Natal o acontecimento foi realizado em clima de grande festa , tanto pela população como pela equipe de construção da ferrovia:
À estação aguardava a chegada do tem, não só o pessoal technico da Estrada, como uma compacta multidão que prorrompeu em vivas e aclamações a commissão constructora, era immensa a alegria, a satisfação que se notava em todo aquele povo.As 12 1\2 foi servido um lanch a todos os convidados.Nessa occasião o ilustre Dr. José Luiz, engenheiro chefe da commissão, proferindo brilhante discurso, declarou inaugurada a estação do Taipú e agradeceu a presença do governador do estado e a dos demais convidados àquella festa do trabalho.O Exmo.Dr. Governador, em substancioso discurso mostrou-se satisfeito com o que vira e enalteceu os esforços e a competência da commissão constructora da estrada, cujos trabalhos honravam a engenharia brasileira[...]depois do lanch os convidados percorreram a Villa.O governador esteve na intendência onde foi recebido pelo presidente do governo municipal[...]As 2 1\2 da tarde dava o trem signal de partida.À saída o povo prorrompeu em vivas a commissão, à Taipú etc. ( Diário do Natal, p. 1, 17.11.1907)
               
            A estação de Taipu foi oficialmente inaugurada pelo Dr. José Luiz, engenheiro chefe da comissão de construção da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. O discurso do governador Pedro Velho enalteceu a construção do prolongamento da ferrovia e da estação na qual “honravam a engenharia brasileira” nas palavras do referido governador. Aliás, esta foi a primeira vez que a cidade de Taipu viria a receber uma visita oficial de um governador do estado e da qual se tem registro do ocorrido. O Intendente (prefeito) era o Cel. Manuel Eugênio, foi ele quem recebeu o governador na sede da intendência, na qual proferiu um discurso a comitiva presente, que segundo, o Jornal Diário do Natal dentre outras luminosas expressões do orador local, foi destacado uma que entusiasmou o povo e a comissão: “Senhores os reverendos serviços da commissão de engenheiros é uma cousa dita e feita, por cima de pao, por cima de pedras,do diabo enfim!muito que bem, gritou Manoel Eugenio” ( 19.11.1907, diário, p.1).

Sobre a estrada de ferro
O referido jornal fez uma análise sobre as impressões percebidas pela comitiva que veio participar da inauguração da estação de Taipu sobre o trecho entre Itapassaroca (Ceará Mirim) e Taipu:
Segundo o texto publicado no jornal no dia 19 de novembro de 1907, o trecho de Itapassaroca a Taipu foi trabalhoso, forma notados muitos cortes em pedras pura e grandes aterros, muitos boeiros e uma sólida ponte sobre o rio Gameleira, afluente do Ceará Mirim. Os trabalhos estavam prosseguindo e já iam além da vila de Taipu. ( Cf. Diário do Natal, 19.11.1907, p.1).
Sobre a seca
Sobre os efeitos devastadores da estiagem o jornal salientava a situação desoladora que foi observada na paisagem local pela comitiva que veio na inauguração da estação em Taipu:
É pena que aquella zona tão produtiva, uma das que mais manda algodão a nosso mercado, esteja completamente devastada pela secca,sem uma folha verde e o mato nas más condições.Uma perspectiva triste e desoladora para o visitante, mas que não esmorece aquella gente forte e acostumada a essa inclemência do tempo.Venha o inverno e aquillo se transformará em um verdadeiro oásis e então o algodão não faltará para a estrada conduzir (Diário do Natal,17.11.1907, p. 1).

            Apesar paisagem desoladora e dos efeitos climáticos causados pela seca que afetava a produção do algodão, havia a esperança de que com a chegada do inverno houvesse uma transformação na região, que segundo o texto a cima, era uma região promissora na cotonicultura. As chuvas chegaram em 1909 e foram recebidas com muito entusiasmo:
De Macahyba, S.Gonçalo, Ceará Mirim, Taipu, Jardim de Angicos, Assú, Mossoró e de todos os pontos servidos pela linha Great Western até Guarabira, tivemos noticias de boas chuvas de ante-hontem para hontem.O rio Ceará Mirim desceu com boa enchente.Consta que o Curimataú também correu.As chuvas parecem ter se estendido por todo estado. (31.12.1909).
            Ao que tudo indica as chuvas vieram com muita força e se espalharam por todas as regiões do estado em que se renovava a esperança de um ano de 1910 produtivo e auspicioso para os agricultores e produtores do estado.




[1] Como é sabido não se colocam  artigos e preposições  na redação de telegramas, por isso os grifos foram incluídos para facilitar a leitura do texto.
[2] Sua inauguração mereceu até uma nota do jornal O Estado de S. Paulo de 16/11/1907, da distante São Paulo. Cf. http://www.estacoesferroviarias.com.br/rgn/taipu.htm.Acesso em 15/08/2011.

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